Do inacabado e abandonado prédio do Cardiominas em Belo Horizonte, surgiu o moderno e imponente Centro de Especialidades Médicas, cenário de muitas histórias de vida que envolvem aqueles que para lá se dirigem em busca do mesmo objetivo: a recuperação da saúde ou parte dela.
O nosso destino agora é o setor de ortopedia, especificando melhor, o de joelho. Os corredores são amplos e funcionam como sala de espera. E que espera! Claro, há cadeiras para todos, inclusive para acompanhantes, minha situação naquele dia. Aliás, pela própria condição de quem aguarda pelo médico, é quase impossível chegar ao consultório sem a ajuda de alguém, o que faz crescer bastante o número de pessoas no local.
Iniciado o atendimento médico, cada um trata de se ajeitar em seu lugar da melhor maneira possível, enquanto aguarda sua vez de ser chamado pelo próprio especialista. Ao anunciar o nome da pessoa a ser contemplada com a consulta, ele surge à porta munido de uma lista e, verdade seja dita, de um sorriso e uma paciência constantes para todos. Isso e, evidentemente, sua competência profissional provavelmente expliquem os fartos elogios de muitos àquele médico que parece atender seus clientes por atacado, pelo menos ali, tal a quantidade de pacientes (alguns impacientes) padecendo de males tão parecidos.
Paciência é a palavra de ordem para um dia como aquele. E o que fazer para passar o tempo? Conversar é uma boa pedida, mesmo que não se conheça quem está sentado por perto. Fala-se de tudo, mas quase sempre a prosa é iniciada com o motivo de estarem ali aquelas pessoas. Aí ocorre, de lado a lado, uma série de informações sobre exames médicos, cirurgias, tratamentos e remédios do dia a dia. De repente, aquela estranha do começo da manhã virou uma velha conhecida em questão de horas. Confidências e números de celulares podem ser trocados. As pessoas mais cautelosas trocam singelas receitas culinárias. Há quem prefira contar para quem quiser ouvir os detalhes de um acidente, como o senhor que desmaiou dirigindo sua moto, que bateu no carro da frente. Os joelhos do pobre homem bateram numa boca de lobo e aí... Os prevenidos se distraem com a leitura de livros e jornais, que podem ser eventualmente emprestados. Há aqueles que simplesmente cochilam ou dormem mesmo e uma moça que faz bicos de crochê em panos de prato. A turma dos dependentes do celular marca presença. E tome falação! Lanches são trazidos da rua para os que não podem andar livremente. Um casal não se faz de rogado e reparte um almoço em marmitex que simplesmente eles abrem e pronto. Bom apetite!
Circulando entre as pessoas, as muletas e as cadeiras de rodas, uma mulher falante desfia também seus problemas ortopédicos. Espertinha, ela tira discretamente de uma sacola um creme que oferece como amostra e jura ser um alívio para dores no joelho, uma espécie do famoso “doutorzinho”. Não deu para saber se vendeu alguma coisa.
Finalmente dentro do consultório, após uma espera absurda de cinco horas e meia, eis o médico. Ainda sorridente, paciente e reservando o vocativo “minha princesa” para cada senhora atendida, ele mal consegue disfarçar um bocejo. Uma maratona que ainda não acabou. Para nós também não, porque o tratamento nem é para agora. É preciso aguardar um ano, talvez mais, o que é desumano.
A constatação parece óbvia. Nosso sistema público de saúde ainda é precário, de segunda categoria, resguardadas as devidas exceções. O cidadão brasileiro não espera um atendimento principesco, isso nem combina com a gente. Nobreza melhor é o respeito aos direitos básicos de todos nós. Saúde já!
Sobrenomes
A sociedade alemã sempre foi a mais estratificada do mundo. Desde a Idade Média, só tinham sobrenome as pessoas da nobreza, da classe militar, do clero e do alto escalão do governo. Os demais cidadãos adotavam sobrenomes indicativos das profissões que exerciam – costume passado de pai para filho. Atualmente, o exemplo mais conhecido é o de Michael Schumacher, ex-campeão mundial da Fórmula I, cujo nome quer dizer Miguel Sapateiro. Os sobrenomes alemães mais comuns são Schneider (alfaiate), Bauer (camponês), Schmidt (ferreiro), Mauer (pedreiro), Müller (moleiro) e Becker (padeiro). A referência, feita a título de curiosidade, foi provocada pelo sucesso da modelo brasileira Raquel Zimmermann, considerada a top model nº 1 ao lado de Gisele Bündchen. Zimmermann significa carpinteiro. Além de soar bem, a palavra ganha charme, força e encanto nas passarelas.
(Estado de Minas)
S.O.S. Saúde Pública
11 de Fevereiro de 2010, por Regina Coelho