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Trocando em miúdos

05 de Julho de 2008, por Regina Coelho

Sempre me despertaram a atenção os chamados ditados populares. Penso mesmo que todos nós, numa ou noutra situação da vida, deles já lançamos mão. Sábios, engraçados ou mesmo preconceituosos são eles, como por exemplo: NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO / JACARÉ QUE FICA PARADO VIRA BOLSA / JUNTAM-SE AS COMADRES, DESCOBREM-SE AS VERDADES. Quem nunca experimentou ilustrar ou reforçar uma idéia ou opinião com essas construções lingüísticas consagradas pelo uso? Exatamente por isso, viram clichês, chavões, frases desgastadas, daí a recomendação dos especialistas para que não sejam utilizados provérbios ou ditos populares nos textos dissertativos. A razão? Mal usados, eles podem empobrecer a redação, fazendo parecer que seu autor não tem criatividade, pois faz uso de formas de expressão muito batidas.

Deixando de lado esse aspecto, vamos dirigir o nosso olhar para as famosas e bem-humoradas frases de pára-choques de caminhão, verdadeiros painéis de publicidade onde reinam absolutas as mais variadas demonstrações de protesto, de religiosidade, de sentimentos de amor à vida e à família, enfim, uma autêntica filosofia das estradas. Obviamente, um dos temas mais recorrentes dessas frases diz respeito à rotina dos caminhoneiros nas estradas: SAIBA IR PARA PODER VOLTAR. EM CASA ALGUÉM REZA POR MIM. O CARINHO É O ÓLEO QUE LUBRIFICA AS ENGRENAGENS DA VIDA. ABAIXE O FAROL, EU NÃO PRECISO VER O CAMINHO PARA O CÉU. Há também aquelas que possuem boa dose de humor: POBRE É IGUAL PNEU VELHO, SÓ ANDA NA LONA. NÃO SOU DETETIVE, MAS ANDO NA PISTA. E outras que revelam uma certa descrença quanto aos nobres sentimentos da humanidade: AMOR, SÓ DE MÃE. AMIGO É COMO SOL, SÓ APARECE EM DIA BONITO. E ainda, não podem faltar referências à mulher, às vezes, na condição nada elogiosa de sogra. Veja: GOSTAR DE MULHER BONITA É HERANÇA DE MEU PAI. NÃO JULGUE UM LIVRO PELA CAPA NEM UMA MULHER PELO SORRISO. NO DIA QUE CHOVER MULHER QUERO UMA GOTEIRA NA MINHA CAMA. FELIZ FOI ADÃO QUE NÃO TEVE SOGRA NEM CAMINHÃO. Numa outra categoria, estão frases que são pura reflexão. Observe: DEUS DEU A VIDA PARA CADA UM CUIDAR DA SUA. NA BOCA DE QUEM É RUIM NINGUÉM PRESTA. NÃO ME INVEJE, TRABALHE.

Haja inspiração para a escolha da frase que o pára-choque de caminhão leva pelas estradas. Ela deve combinar com o condutor do veículo. E que se danem os eventuais erros de português: SE FERRADURA DESSE SORTE, BURRO NÃO PUCHAVA CARROÇA.

Haja inspiração também para a brincadeira nem sempre politicamente correta de inverter com outros termos o sentido de certos provérbios. Assim, QUEM RI POR ÚLTIMO É RETARDADO; QUEM CEDO MADRUGA FICA COM SONO O DIA TODO; QUEM ESPERA SEMPRE CANSA; OS ÚLTIMOS SERÃO DESCLASSIFICADOS OU NÃO DEIXE PARA FAZER AMANHÃ O QUE VOCÊ PODE FAZER DEPOIS DE AMANHÃ. E viva a nossa cultura popular!


O TEMPO COMO ALIADO
Nunca é tarde para aprender, certo? Depende. Se acreditarmos que “Papagaio velho não aprende a falar”, às vezes pensamos ser tarde para aprender ou fazer certas coisas. Dessa forma, deixamos de experimentar a sensação gostosa de andar de bicicleta ou de nadar, por exemplo; ou então deixamos de tentar um novo trabalho ou mesmo uma outra vida. Culpa da idade.

Felizmente, é possível, em muitas situações, contrariar a lógica do tempo na realização de um sonho ou na revelação de um talento. Desde a decisão corajosa e nunca tardia da volta aos bancos da escola até o reconhecimento público ao artista que surge na fase madura, os exemplos saltam aos olhos.

Nascido em Monte Carmelo, no Triangulo Mineiro, já maduro e deputado federal, Mário Palmério estreou na literatura aos 40 anos, com o seu “Vila dos Confins”, um marco do romance político brasileiro. Caso semelhante é o de Pedro Nava, que surgiu para o grande público aos 69 anos, com a publicação de “Baú de Ossos”, importante obra memorialística. E como não citar Cora Coralina, doceira de profissão e cuja poesia encantou Carlos Drummond de Andrade? A publicação de “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, seu primeiro livro, ocorreu quando a autora vivia seus 75 anos.

Na música, caso emblemático é o de Cartola, que só produziu seu primeiro álbum aos 65 anos, época em que já contabilizava diversas participações em gravações de outros artistas. Também Clementina de Jesus, que trabalhava como doméstica, só foi estrear nos palcos aos 62 anos. Impossível não mencionar também Helena Meirelles, violeira, cantora e compositora do Pantanal. Tendo sido lavadeira e benzedeira, Helena passou boa parte da vida tocando em bordéis, no Mato Grosso do Sul, mas sua primeira apresentação profissional se deu quando ela já contava 68 anos. A artista foi eleita em 1993 pela conceituada revista norte-americana “Guitar Player” uma das melhores instrumentistas do mundo.

Como se pode ver, a vida pode ser agradavelmente surpreendente, fato que por si mesmo mantém sempre aberta a possibilidade de belas realizações, em qualquer idade.


TORNEIO DE FUTEBOL X FESTIVAL DE INVERNO
Chega julho. A cidade se agita com a realização de mais um Torneio de Futebol de Salão, atualmente ocorrendo no Ginásio Poliesportivo Monsenhor Nélson. Evento tradicional do pobre calendário esportivo de Resende Costa, equipes da terra e de cidades vizinhas, na década de 80, já atraíam muita gente até a sede do Lajes Clube, local das primeiras edições do torneio.

Era a época dos Festivais de Inverno, promoção cultural do Movimento Raízes. O que muita gente não sabe é que havia uma certa incompatibilidade de horários (ou seria uma certa indiferença de alguns?) para que só os jogos tivessem público. E nem era necessário aquilo porque simplesmente competir com o futebol sempre foi impossível, visto ser ele verdadeira paixão popular no Brasil.

É lógico que os Festivais de Inverno não acontecem mais em Resende Costa por causa disso. Fico muito à vontade para dizer essas coisas porque já gostava de futebol naquela época e ainda hoje, quando posso, acompanho as competições aqui realizadas. Isso não me impede, porém, de lamentar a ausência de uma programação cultural mais consistente para a nossa cidade.

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