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Uma grande família

17 de Dezembro de 2014, por Regina Coelho

Uma característica muito interessante observada no interior, principalmente nas cidades menores, é a identificação das pessoas seja pela profissão que exercem, pelo lugar onde trabalham ou pela relação de parentesco com alguém, digamos, teoricamente mais conhecido. Com interesse principal da presente matéria voltado para as ligações familiares, o “ponto” de referência em questão atende pelo nome de Pedro Olímpio, que congrega em torno de si os membros de uma numerosa família constituída originalmente em Resende Costa.

O começo de tudo pode ser registrado por volta de 1920 com o casamento entre Tarcília Maria de Jesus e Pedro Olímpio de Resende. Ela, nascida no Sítio da Tapera (na Restinga). Ele, no Sítio do Curtume (no povoado dos Pintos), onde o casal deu início a uma vida comum repleta de desafios ao longo dos anos. Dos dezenove filhos, frutos do mesmo pai e da mesma mãe, dois (Murilo e Sebastião) morreram ainda recém-nascidos. Vieram então Maria Conceição, José Vitorino, as gêmeas Antonieta e Marcilieta (esta última, viva), Antônio Raimundo, Laudinor, Anésio, Pedro (já falecidos). E Elói, David, Tarcísio, Gabriel, Guilhermina (falecida), Vantuil, Francisco, João Bosco e Lauro (este último, falecido).

No comando de tudo, o pai lavrador e a mãe dona de casa, com a ajuda dos filhos, enfrentavam a lida difícil da roça. Em época de plantação de mandioca, faziam mutirão. Construíam um rancho na lavoura e lá permaneciam a semana toda, só voltando para casa no sábado, quando o pai, do alpendre, contava os filhos para ver se não faltava ninguém. Eram dez os que trabalhavam no roçado, sendo Gabriel e Francisco os cozinheiros da turma. Em casa, Guilhermina e Marcilieta ajudavam nos afazeres. Os outros, já casados, não mais moravam com os pais. Em outras funções, quatro filhos trabalhavam nos dois carros de boi da casa, enquanto outros dois ralavam mandioca e os demais iam para a roça arrancar o tubérculo que era usado também na produção de polvilho. E havia ainda o açúcar mascavo produzido por eles.

Entre as situações envolvendo o cotidiano dessa grande família, há doces lembranças, como as épocas de frio, quando era colocado na cozinha, sobre uma pedra, fogo para aquecer o ambiente. Era o momento em que contavam os casos da semana. Em seguida, todos rezavam juntos o terço e iam dormir. Com tanta gente em casa, natural que dormissem dois em cada cama sobre colchões de palha. Uma outra necessidade era providenciar as vestes usadas pela prole. Para fazer as roupas, que eram confeccionadas pela própria mãe, o pai comprava uma peça de pano e era tudo feito igual para todos. Em cada camisa, ela colocava apenas três botões. E como era comum na época, apesar de trabalharem duro, os filhos não tinham dinheiro no bolso, por isso sempre que iam a festas nas capelas, levavam a “matula” (lanche) de casa. De novo, a mãe é lembrada, desta vez pela presteza ao fazer colchão e travesseiro de taboa como parte do enxoval que eles levavam para a nova casa, assim que se casavam.

Nessa história de tantas lembranças, uma delas é especialmente triste. No final da década de 20, estando Tarcília e Pedro em visita aos pais dela, eles foram surpreendidos pela notícia de um incêndio na casa onde moravam. Foi um tempo difícil de reconstrução para eles. E a vida seguia seu rumo com momentos de muita alegria também. Pedro Olímpio gostava de tocar sanfona quando o tempo estava bom e no casamento dos filhos, ocasião em que fazia quadrilha para comemorar cada enlace. E havia festa com almoço ou jantar que se estendia por toda a noite.

Quando o senhor Pedro Olímpio morreu, em novembro de 1962, os filhos mais velhos já estavam casados. Os mais novos passaram a tomar as decisões necessárias relacionadas à família juntamente com dona Tarcília, que faleceu em junho de 1991. As novas famílias que se formaram a partir dos dois compreendem hoje uma descendência direta que apresenta números impressionantes. Aos filhos do casal juntam-se hoje 108 netos, 198 bisnetos e 58 trinetos. Isso sim é uma grande família, algo impensável para os novos tempos que vêm chegando.

Mesmo tendo transcorrido tanto tempo sem a presença física do homem cujo populoso clã leva seu nome, é costume em Resende Costa, por qualquer razão que seja, as pessoas situarem alguém dessa família pelo contexto familiar (como de praxe) dizendo: “É gente do Pedro Olímpio”.

E como já é Natal, que o espírito dessa data seja uma boa oportunidade para que nossos vínculos de afeto possam ser fortalecidos em família, aqui entendida com todos os seus significados. Boas Festas! Até 2015!

 

NOTA: Na produção desse texto, contei com a colaboração fundamental da Marli (filha do Lauro do Pedro Olímpio) e do Francisco (do Pedro Olímpio), a quem agradeço as informações a mim repassadas.

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