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Utilidades mil

15 de Outubro de 2013, por Regina Coelho

Anexos às revistas AVON, aquelas que anunciam tradicionais produtos de beleza, catálogos da mesma empresa intitulados “Moda e Casa”, da mesma forma, oferecem uma grande variedade de artigos a uma clientela presente em salões de beleza e também procurada em casa. Esse sistema de venda que dispensa loja, daí ser chamado de porta em porta e que tem as revendedoras ou consultoras como responsáveis pelo contato direto com o público consumidor, quase que totalmente feminino, movimenta cifras impressionantes. Ao mesmo tempo, garante o sustento de muita gente numa verdadeira ciranda de envolvidos com esse tipo de negócio.

Compartilho com minha amiga e comadre Moreira o gosto pelo manuseio dessas populares peças de propaganda que vendem quase tudo. Nada mais relaxante. Entregues a provas, trabalhos e leituras próprios do nosso ofício comum, líamos ou víamos aquelas alegres e sugestivas ofertas com prazer. Era uma boa pausa em meio a tanta correria por conta de nossos inúmeros compromissos profissionais. E continua sendo assim para nós duas.

Pois bem. Muito menos consumidora do que observadora, resolvi fazer uma seleção atual de produtos que me chamam a atenção por algum motivo qualquer. De cara, destaco o “Relógio Musical Pássaros”, segundo o anúncio da revista em questão, um “sucesso de vendas” no Brasil. O texto esclarece ainda que, a cada hora, uma linda melodia de diferentes pássaros, com duração de 7 a 10 segundos, poderá ser ouvida, lógico, do tal relógio. Educado, ele não soará entre 22 e 5 horas da manhã.

Pesquisando ainda no já citado “Moda e Casa” e em seus similares, descobri objetos protetores variados: para ombros (proteção feminina para alças de sutiã), de dedos (para o corte de legumes, carnes...), de canto (afixado em quinas de mesas, armários...), de porta (para não bater), de alimentos, (na verdade, uma tampa que, aberta, parece uma sombrinha). Na linha dos itens que portam coisas, há o porta-metades com “gancho para encaixar na grade da geladeira”, o porta-objetos (para variar a bolsa), o porta-fios (uma alça de elástico), o porta-trecos (deve abranger tudo) e o incrível porta-rolo de papel higiênico com revisteiro. Ao lado de produtos já consagrados como a chaleira ou a leiteira com apito e a lixeira com pedal, aparecem invencionices como a queijeira com canaleta coletora de líquidos, a almofada-bandeja para netbook, o cortador de unha com lupa, a cortina para box com visor e o avental divertido. Divertido? Nos dois modelos oferecidos, uma mulher e no outro um homem são reproduzidos em trajes sumários. No segmento infantil, é impossível não observar o troninho-elefante (o antigo peniquinho) e a joelheira-baby, “atoalhada, antiderrapante”. Que fofos!

Minha relação de artigos de utilidade doméstica compreende ainda o assento massageador, a escova de banho para as costas, a munhequeira (“espaço com fechamento em zíper para guardar dinheiro ou chave”), o descanso de talher e tampa, o separador de ovos (melhor seria se fosse o separador da clara e da gema), o aparador men (“apare pelos do nariz e da orelha”), o organizador de controle remoto e a sapatilha flex (dobrável).

Entre tantas opções de compra para isso ou para aquilo, algumas são uma roubada. Uma delas é um certo porta-notas e cartões que, minúsculo, só serve mesmo como porta-moedas. Outra coisa meio esquisita é o miniporta-foto 3x4 com ímã. E tem ainda o cortador de batata palito cujas lâminas se soltam facilmente impedindo que as batatas sejam cortadas devidamente. Deixando um pouco de lado as vendas de variedades por catálogos, é quase obrigatório citar também a alça para abrir certas latas de sardinha e, em algumas embalagens, o picotado que serviria para abri-las e não abre como exemplos de coisas que não funcionam direito. No caso do “abre fácil” mencionado na lata, pode até ser, mas quanta sujeira pode fazer! Uma boa ideia (não é a 51), em compensação, é a tampa-proteção na abertura das latas de cerveja Itaipava, ao que parece, uma exclusividade da marca.

De volta às simpáticas revistas, elas são mesmo um sucesso. E correm de mão em mão a cada nova campanha lançada no mercado. Ofertas úteis ou nem tanto, muitas vezes compradas por impulso, sempre apresentadas por alguém ou até ignoradas por quem torce o nariz para o que é popular, certo mesmo é que é quase impossível, principalmente para a mulherada, deixar de pelo menos “dar uma olhada” naquela quantidade absurda de produtos e de fazer um pedido de compra que seja, só pra não perder o costume. Pode-se dar a isso os nomes de leve terapia ou de inofensivo consumismo.

 

Falar em utilidades do lar me fez lembrar o “Da utilidade dos animais”, belo texto de Drummond, extraído da obra “De notícias e não notícias faz-se a crônica”. A lembrança não se justifica pelo tema do presente artigo, mas pela permanente e verdadeira utilidade da leitura de CDA, no mês em que nasceu nosso poeta maior. Fica a dica. E de graça! 

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