O Carnaval e a Exposição Agropecuária, dois dos maiores eventos do calendário festivo da cidade, vêm apresentando de uns tempos para cá uma nova característica comum, ou seja, a formação de turmas organizadas, o que provoca uma saudável disputa em busca da maior animação possível. Chamadas de blocos no período carnavalesco, as inúmeras turmas que são vistas, principalmente na já famosa semana que antecede a folia oficial, capricham nas fantasias, nos nomes com que se “batizam” (“As Atrevidinhas”, “Turma da Vaquinha”, “As Inigualáveis”...). Ocorrem até mesmo coreografias e encenações mostradas em conjunto para os que preferem só ver o espetáculo. Em se tratando do nosso tradicional “rodeio”, é por ocasião da cavalgada que os grupos surgem de modo mais explícito. Geralmente, nesse caso, eles são constituídos por pessoas de uma mesma família ou por famílias amigas, por amigos de longa data ou por conhecidos que todo ano se juntam somente naquele momento especial. E há ainda os colegas de copo ou de azaração, melhor dizendo, da bebida e da paquera.
É evidente que esses festejos agregam um mundo de pessoas que se esbaldam, de preferência, cada qual na sua turma, o que é natural. Mas é claro também que existem os avulsos, o bloco do eu-sozinho. O que vale mesmo é a diversão.
Festas à parte, chamam a atenção especialmente os mais variados tipos de turma que se formam e se reúnem ao longo do ano, ou melhor, dos anos.
A turma do João Bosco (da Lúcia Melo), que não tem nome, é um bom exemplo disso. Conversando com ele, não pude deixar de me surpreender com a informação de que o futebol que eles praticam religiosamente de segunda a sexta-feira, entre 6h30m e 7h30m, acontece há exatos 25 anos. Do grupo que se reuniu em 84, constam nomes como os do padre Raimundo, do Sargento Lopes e do Dr. Paulo (médico), que não participam mais dessa hora esportiva. Como forma de garantir a atividade diária (leia-se problema com chuva), a transferência do Clube Lajes para o ginásio do Varginha foi uma das medidas adotadas por esses atletas matinais. Uma outra providência foi a adoção de regras próprias para o jogo, em que não há goleiro, por exemplo, e o gol só vale dentro da área. Uma curiosidade: algumas jogadas levam nomes de pessoas que já participaram do grupo. “Jogada Bacarini” e “jogada Chichico” são algumas delas. A explicação para isso? Perguntem ao atleticano João Bosco. E para completar, além do próprio João, são integrantes da turma as seguintes pessoas: Agenor, Guinho (da Elaine), Orozimbo, Dudu, Fernando Pacote e filhos, Antônio Gabriel Pacote, Leandro do Tomé, Leandro Pires, Gláucio, Fernando Mendes e sobrinhos (Diego e Danilo), “Oreia”, “Chamel”, Geraldo J.A. e filhos, João Barbantinho, o Carlos Augusto (filho do Carlinhos do Jair) e Elker.
Passo a bola agora, ou melhor, a palavra, para o meu primo Duda, fiel frequentador de uma outra tribo. Escalado por mim, ele revela “dados sobre a Turma do Baú colhidos em mais uma segunda-feira etílica”. Segundo o mesmo, as reuniões começaram em 95, sempre na noite de folga do Dr. Luiz (médico), que na época havia adquirido um sítio (local dos encontros) na localidade do Baú, perto do povoado dos Pintos. As intenções da turma: tomar uns goles, bater papo e comer um frango ensopado. Os pioneiros dessa iniciativa foram, além do anfitrião, o João Bosco do Zé Mendonça, o Edgar do Joel, o Tomás, o Mário da Pensão (o famoso Julinho) e o Nei da CEMIG. Vários foram os que já estiveram no Baú e que o frequentam até hoje, como o Rosalvo, João, Paulinho, Sávio e Chiquinho (todos irmãos do Dr. Luiz), o Ernane do Sô Ananias, o André do Pimpa, o Adriano e o João Magalhães e o filho deste, o Danilo, o João do Galo, o Guilherme da Ana, os sobrinhos do dono da casa, várias duplas de estagiários do Programa de Internato Rural da UFMG e muitos outros. E a Confraria do Baú conta também com a presença do Rei Roberto Carlos, o Iracy do Ivan, que comanda, de vez em quando, umas cantorias com a galera, tocando acordeon.
O companheiro João Magalhães desenvolveu uma teoria para tentar entender o que acontece nessas reuniões: a teoria dos três estágios. No primeiro, ao chegar, as pessoas começam a discutir temas sérios da cidade, do país e da vida: política, economia, filosofia e até mesmo religião. No segundo, fala-se de causos e coisas típicas de Resende Costa, de hoje e do passado não muito distante. Já no terceiro, com a gradação alcoólica exacerbada, parte-se para a esbórnia, quando não dá para escrever dada do que se fala, pois, na verdade, quem passa a falar é ela (a pinga) e não as pessoas.
Como se pode ver, as motivações para esses e outros encontros podem ser esportivas, etílicas e/ou gastronômicas, humanitárias, religiosas... Isso nem interessa muito. Se não houver um motivo, ele pode ser inventado. O importante é que a gente encontre pela vida aqueles de quem vamos querer estar próximos confirmando afinidades e criando preciosos laços de afeto.
Vá procurar a sua turma!
14 de Novembro de 2009, por Regina Coelho