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Visitas em casa

15 de Outubro de 2019, por Regina Coelho

as pessoas não se visitam mais como antes. Isso é fato. O tempo, ou melhor, a falta dele é a justificativa mais comum usada por quase todos para explicar essa mudança num hábito culturalmente cultivado pelo brasileiro. E mais. Há um certo temor por parte do visitante (o sem-noção não conta) de chegar à casa de alguém numa hora imprópria para o visitado. Hoje, dado o número enorme de atividades que cada um pratica diariamente, nunca se sabe o que a pessoa a ser visitada está fazendo justamente no momento tido como oportuno para visitá-la. E, sinceramente, há quem simplesmente não goste de fazer ou receber visitas, quaisquer visitas. Transformações de costumes e radicalismos à parte, visitar amigos e familiares pode ser um momento realmente bom desde que sejam observadas certas atitudes, no caso presente, por quem visita.

Parece bobagem dizer isso, mas certas regras de etiqueta fazem todo sentido. Por ora, apenas um exemplo. Quem nunca passou pela situação de ter uma visita em casa, estar visivelmente morrendo de sono, e a pessoa ali há horas, firme e forte, sem se preocupar com o relógio? “Visita tarraxa essa”, diria minha mãe.

Andei pesquisando sobre o assunto. Como já é sabido, tudo se resume a uma palavra: educação. E agir educadamente para ser uma boa visita implica seguir alguns mandamentos, além do citado acima. Sem muita frescura, vamos aos principais:

*Não apareça sem combinar com a pessoa ou sem ter sido convidado por ela. *Não se atrase. *Leve um agrado. Para visitas rápidas e costumeiras não é necessário se preocupar com esse item. *Avise antes se for levar alguém com você. *Quanto à presença de crianças, o ideal é certificar-se se não há problema em levá-las. O mesmo deve valer para os bichinhos de estimação. *Evite assuntos polêmicos. *Não fume. Nem coma e beba com exagero. *Não leve ao pé da letra a frase “sinta-se em casa”. *Recebeu um convite para almoçar, jantar ou fazer um lanche? Pergunte se convém levar alguma coisa, a sobremesa, por exemplo. *Mantenha tudo em ordem, inclusive e principalmente o banheiro.

Há visitas feitas apenas para rever pessoas queridas, uma forma presencial de estreitar laços mútuos de afeto, o que é ótimo. Situação delicada costuma ocorrer quando o propósito é visitar alguém doente. Aí, recomenda o bom senso que não se comente sobre a possível debilitada aparência da pessoa em questão ou a gravidade do seu quadro de saúde. Visita de pêsames também pode ser coisa complicada. Faltam as palavras às vezes. Ou sobram os clichês sempre. Isso quando não sai alguma besteira: “Beleza?”, “Oi, tudo bem?”, “Meus parabéns!”.

Visita que se acomoda em casa alheia vira hóspede. Nessa condição, “a primeira coisa que o hóspede deve deixar claro é até quando vai ficar. Esse detalhe deve ser esclarecido antes da chegada, de preferência”, aconselha a escritora Danuza Leão no capítulo “Hospedar”, do seu livro Na sala com Danuza (1992), um grande sucesso editorial, no qual ela lembra uma “Historinha ótima”. “Contam que (os escritores americanos) Zelda (1900-1948) e Scott Fitzgerald (1896-1940) moravam no campo, perto de Nova York e costumavam receber muitos amigos para o weekend. Do lado interno da porta de cada quarto havia um providencial quadrinho com o seguinte texto: ‘Se no pileque de sábado nós insistirmos para vocês ficarem até segunda-feira, pelo amor de Deus, não fiquem!’” Das palavras deixadas por Benjamin Franklin (1706-1790) vem um alerta sem floreios sobre o tema. “Peixes e visitas cheiram mal depois de três dias”. Para os que não se mancam e não dão o fora a tempo, uma vassoura atrás da porta com o cabo para baixo é uma tentativa de resolver o incômodo. Outra superstição com o mesmo fim: dar um nó em um pano de prato e jogá-lo dentro do forno (desligado, óbvio).

Visitas vão, visitas vêm. De quem veio buscar fogo (visita rápida, de beija-flor), de quem veio podendo se demorar, sem necessariamente ser inconveniente ou indesejável. Mais do que um cômodo da casa, que a sala de visita seja o lugar da hospitaleira acolhida e da boa conversa, valendo a promessa de novos encontros.

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