Em novembro do ano passado, foi realizado o Encontro Nacional de Gêmeos no Espaço Unibanco de Cinema (centro de São Paulo). Organizado pelo Sindicato dos Gêmeos e tendo como mote o adequadíssimo dito popular “cara de um, focinho do outro”, o evento recebeu o que os promotores chamam de GPS – gêmeos, parentes e simpatizantes.
Não participei do encontro paulista, até porque não tenho irmã gêmea, mas tenho toda simpatia por iniciativas dessa natureza. Em se tratando da reunião dos gêmeos, não pude deixar de lembrar as várias duplas de alunos que tive nessa condição. Havia aquelas que, por serem constituídas de irmã e irmão ou de irmãos fraternos ou bivitelinos (diferentes entre si) não chamavam tanto a atenção das pessoas na escola. A situação se complicava, pelo menos para mim, quando encontrava pela frente gêmeos idênticos. Por mais que os coitados ou os colegas mais familiarizados com eles tentassem me mostrar alguma mínima diferença entre um(a) e outro(a), na hora de me dirigir a eles nunca sabia com quem estava falando. Acho que alguns deles se divertiam com isso. Outros, provavelmente, deviam se irritar com trocas indevidas de nomes ou eventuais xingamentos. E acho ainda que havia os que, às vezes, por uma razão ou outra, se passavam pelos seus respectivos clones e disso se aproveitavam. Como desmascará-los?
Lembranças escolares à parte, o fato é que os gêmeos univitelinos destacam-se na multidão. Quando são famosos como Paulo (cinco minutos mais velho) e Chico Caruso, talentosos chargistas e caricaturistas, isso é um mero detalhe ou inclinação familiar, como queiram. O mesmo se pode dizer dos jovens profissionais da gastronomia já citados pelo meu colega Cacau (Cláudio Ruas) na edição 101 deste jornal – Fernando e Juliano Basile. E Giselle Bündchen, quem diria!, tem uma irmã gêmea. Patrícia é a versão anônima da irmã. Outra dupla interessante é formada por Bia e Branca Feres, atletas do nado sincronizado para o qual a semelhança física é fundamental. Igualdade ou quase isso então, melhor ainda.
Entre meus ex-alunos gêmeos, busquei a colaboração de Luciana e Luciene Cardoso, 36, respectivamente, professora e pequena empresária, para o depoimento abaixo.
“Somos gêmeas univitelinas (geradas na mesma placenta) Ciene nasceu primeiro. Eram 6h30 da manhã do dia 31 de outubro de 1975. E após 15 minutos, nasceu Ciana. Nossa mãe não sabia que eram duas meninas!!! E o parto foi feito por nossa avó paterna e uma parteira na Boa Vista, zona rural de Resende Costa.
Crescemos e aprendemos juntas muitas coisas boas e ruins da vida. Temos uma pessoa com quem podemos contar a qualquer hora e em qualquer momento da vida. Compreendemos uma à outra e temos uma relação de amizade, confiança e respeito.
Temos como desvantagens as comparações: comparação física (Quem é a mais gorda? Quem é mais bonita? Quem é mais alta? Fica pertinho uma da outra pra gente ver as diferenças?! Isso é muito chato!!!); comparação de personalidade (Qual é a Rute e qual é a Raquel? Ou seja, quem é boa e quem é ruim? Quem é mais séria?); comparação intelectual (Quem é mais inteligente?)
Na verdade, somos pessoas muito parecidas, porém diferentes. Cada uma tem o seu jeito de ser. Mas, há momentos em que isso acontece: quando trocamos roupas, em fotos, em vídeos e então temos a sensação estranha de nos vermos uma na outra.
Quando éramos crianças, nossos pais nos confundiam muito. Lembramos que uma vez nossa mãe deu umas palmadas na Luciana achando que era na Luciene; nosso pai também deu umas chineladas na “pobre” da Luciana achando que era a Luciene.
Quando éramos adolescentes nos interessávamos pelos mesmos rapazes. Resultado: uma se fez passar pela outra para roubar uns beijinhos do namorado da outra!!! Uma vez pedi a Ciana para terminar com um namoradinho que eu não queria mais. Ela fingiu ser Eu, mas o menino tentou beijá-la e no mesmo instante ela gritou: __ Cieneeee!!! Vem aqui???? O fulano está te chamando!!!
Outra situação foi quando eu, Ciana, entrei na faculdade e a Ciene havia terminado seu curso. As amigas dela acharam que eu era ela. Vieram correndo me abraçar e dar as boas vindas. E eu, que não as conhecia, fiquei sem saber o que fazer: se abraçava ou falava que eu não era a Ciene e sim a Ciana. “Foi muito engraçado!!!” Na realidade, somos sempre confundidas tanto por adultos como por crianças e acabamos passando por situações engraçadas e às vezes constrangedoras.
A ligação entre nós é mesmo muito especial. É muito maior que a ligação entre os outros irmãos e até mesmo entre a nossa mãe. A nossa relação é tão intensa e tão bonita que não conseguimos ficar longe uma da outra por muito tempo. Temos que nos falar todos os dias nem que seja por telefone. Sentimos falta uma da outra. Tudo o que sentimos e vivemos é compartilhado, somos cúmplices. Enfim, é uma ligação de amor, afeto, carinho, compreensão, dedicação, amizade e respeito”.
Nota: por absoluta afinidade, minhas entrevistadas optaram por produzir um só texto.
Você é qual?
10 de Janeiro de 2012, por Regina Coelho