As ruas e avenidas de Resende Costa - pequenas, em sua maioria - diferentes de muitas outras cidades, são identificadas com placas coloridas que substituíram as antigas de cor azul escuro com borda branca. São mais bonitas e trazem a logomarca da prefeitura municipal, responsável pela sinalização e identificação dos logradouros. Quer coisa pior do que procurar uma rua e não encontrar uma placa que a identifique? Esse problema não temos. Há aquelas que têm placa, porém possuem uma segunda denominação, criada espontaneamente pelo povo. Na edição passada desse jornal, citei o caso da Rua Matilde Rios, que também é conhecida por Beco do Barbosinha, no centro da cidade.
Não é incomum vermos uma pessoa perguntar para outra onde fica determinada rua, mesmo com a ajuda da internet, que, através de um aplicativo no celular, tal como Google Maps ou Waze, por exemplo, nos faz transitar de um lado para outro com segurança. Nomes de ruas servem mesmo para isso, ou seja, identificar lugares, orientar pessoas em seus deslocamentos, sejam eles feitos a pé ou usando algum veículo para locomoção. É assim em qualquer lugar.
Temos uma rua que poucos a conhecem pelo nome que tem. Trata-se da Rua Vereador Joaquim Coelho de Campos. Ela começa na Av. Expedicionários e finda na Rua Padre Joaquim Carlos. Porém, todos sabem onde fica o Morro da Nêga. As placas da rua indicam o nome do homenageado vereador, porém, para a comunidade, prevalece o “Morro da Nêga”. O nome tem a ver com o apelido dado a uma mulher que morou nessa rua. O nome dela: Marta José de Jesus Santos. Certamente, por ter-se destacado como uma pessoa importante, tornou-se referência para indicar o logradouro.
Marta, segundo Keila Santos, sua neta, não era uma negra retinta, isto é, de pele muito escura, carregada. Era magra e alta. Gostava de usar um lenço na cabeça, sem cobrir todo cabelo, que não era longo, e usava vestidos de linho reto que se estendiam até os joelhos. Keila não teve a oportunidade de conhecê-la; buscou com sua mãe informações sobre a avó. Era biscoiteira e lavadeira de roupas para muitas pessoas, em uma das duas “bicas d’água que havia na ponta do morrão”. Além disso, era sempre vista com feixe de lenha na cabeça e uma bolsinha de pano repleta de ervas que ela, cuidadosamente, utilizava para produzir remédios caseiros.
Marta, segundo Keila, gostava muito de cantar. Era muito religiosa, devota e, por isso, mesmo deu nome de santos e santas aos sete filhos que teve. Foi casada com Alício José da Silva e levou a vida cheia de muitas atividades, trabalhos e atenção dedicada à família. Era, segundo me disse a professora dona Eunice de Sousa Gomes, uma mulher prestativa e super alegre. Era “pau para toda obra”, isto é, mostrava-se sempre disposta, não negava serviços. Quando alguém precisava de seus serviços, sabia muito bem onde encontrá-la, lá na rua de aclive acentuado, para quem a percorre em direção ao Campo de Futebol do Expedicionários. O morro, portanto, passou a ser identificado como Morro da Nêga.
Da dona Marta (a Nêga), por enquanto, não restou uma fotografia. Talvez, nem documentos ou escritos deixados por ela. Seus netos, ao que parece, não têm uma imagem dela na memória. Vão construí-la através de relatos que surgem acerca da sua figura e da importância dela como uma pessoa do bem, do bom relacionamento com os outros e da dedicação dada aos filhos, alguns deles já falecidos. Na memória de algumas pessoas ela permanece viva. E, para mim, ela é merecedora de uma placa com seu nome na rua, ponto de referência importante para nós moradores da cidade e para quem nos visita. A Rua Vereador Joaquim Coelho de Campos permanecerá também como o Morro da Nêga. Isso não se apaga, é para sempre.