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Florestal

10 de Agosto de 2017, por Cláudio Ruas

Já ouviu falar numa pequenina cidade chamada Florestal? Pois é, sô. É um lugar não muito conhecido, mesmo fazendo parte da região metropolitana da nossa capital. Saindo de Belzonte pros rumos do centro-oeste mineiro, fica depois de Juatuba, antes de Pará de Minas. Tem um pouco mais de 6.000 habitantes, mas abriga um campus de uma grande e importante universidade brasileira, a UFV – Universidades Federal de Viçosa. É ela que movimenta mesmo a cidade, inclusive no período de férias de julho, quando ocorre a tradicional “Semana do Produtor Rural”.

Confesso que inicialmente ouvi falar da cidade não pela universidade, ou pela proximidade de Beagá, mas sim pelo curso de defumados e embutidos que lá é ministrado, uma referência em nosso estado. Depois é que fui me informar e acabei descobrindo que a universidade oferece diversos cursos de extensão ao longo do ano, mas, sobretudo, durante a Semana do Produtor Rural. Obviamente, voltados para o homem do campo, oferecendo qualificação e objetivando melhoria de qualidade de vida e produtividade através de mais de trinta cursos, como de apicultura, fruticultura, inseminação artificial, operação de tratores, etc. E também cursos de indústrias rurais, como o de defumados e embutidos, derivados do leite, processamento de legumes e vegetais, doces e compotas e panificação. Esses cursos, por sua vez, acabam atraindo também quem não é do campo, mas pretende trabalhar (ou já trabalha), com gastronomia.

Os cursos chegam a ter carga horária de 40 horas/aula, ou seja, duram toda a semana, o que praticamente obriga o participante de fora a se hospedar na cidade ou na própria universidade, pois vai passar o dia todo por lá. São disponibilizados alojamentos e refeitório, tudo a um custo muito baixo, incluindo os cursos. Ao longo da semana também ocorrem outras atividades interessantes, como exposições, feiras e mini cursos ministrados pelos alunos da universidade. Além de shows e barraquinhas com comidas e bebidas durante as noites, tudo muito bem organizado, de forma que o produtor participante aproveite ao máximo seus dias por lá. Inclusive quanto à interação com outros produtores, professores, alunos e simpáticos funcionários da universidade e com o ambiente estudantil em geral, algo muito enriquecedor e proveitoso. E tem outra: a universidade é linda, muito arrumada e com ótima estrutura. Parece até uma cidadezinha de primeiro mundo, com ruas, praças arborizadas e belas lagoas.

No próximo ano será a 49ª edição do evento, que se iniciou antes do lugar fazer parte da universidade, quando ainda era o CEDAF – Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário de Florestal, escola agrícola tradicional com 76 anos, que em 2006 veio a se tornar um campus da UFV. Mas ainda continua sendo chamada assim. Boa parte dos cursos de extensão são oferecidos em parceria com o SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que, aliás, presta um grande serviço à sociedade através de seus cursos de capacitação aos homens e mulheres do campo. Pena que muitos produtores parecem nem ter conhecimento, acesso ou até interesse a esse tipo de serviço, embora os sindicatos e associações rurais locais façam essa intermediação.

Além da satisfação que tive com todo aprendizado do curso de defumação e embutidos, com as trocas de conhecimento e com a vivência universitária, voltei para a roça feliz em saber que existe, sim, um movimento de pessoas e entidades agindo em prol do homem do campo. As exposições agropecuárias infelizmente se tornaram grandes “baladas universitárias”, deixando de fora os verdadeiros protagonistas: os produtores rurais e seus produtos. Vivemos ainda em um mundo capitalista cada vez mais industrializado e globalizado, em que os pequenos produtores são massacrados pelos grandes. Daí a importância de eventos como a Semana do Produtor Rural. Daí a necessidade do poder público e da sociedade de valorizar o pequeno produtor ao seu redor, o que sempre ocorreu em países desenvolvidos. Se quisermos um mundo melhor para viver, precisamos cuidar da roça.

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