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O cozinheiro das multidões

13 de Julho de 2017, por Cláudio Ruas

Assim como muitas outras atividades da nossa vida, cozinhar pode ser, ao mesmo tempo, muito fácil, e também muito difícil. Existem preparos, receitas e situações na cozinha que são realmente fáceis, muito mais do que imaginamos. Aquele prato “chique” de um chef famoso, lindamente montado e enfeitado, às vezes é bem mais fácil de se executar do que parece. Por outro lado, aquele panelão enorme de uma receita mais “simples”, pode ser bem difícil de se preparar. Além do esforço, cozinhar para uma multidão envolve um grande risco e uma tremenda responsabilidade.

Por melhor e mais experiente que seja o cozinheiro, é comum algo dar errado na cozinha. E até necessário no eterno processo de aprendizado e amadurecimento. Cozinhar é uma ciência muitas vezes inexata. Mas vale lembrar que o “dar errado” não está só ligado à qualidade, mas também às terríveis questões sanitárias, de contaminação etc. Uma preparação para uma ou dez ou cinquenta pessoas dar errado é uma coisa. O cozinheiro conserta ou faz de novo ou então algumas poucas pessoas irão passar mal e pronto. Agora, imagine dando algo errado em uma comida para três mil pessoas? Como que faz? O estrago é enorme.

Muita gente não sabe ou percebe, mas o ato de cozinhar envolve, além de talento e paixão, muita técnica. Principalmente em se tratando de uma cozinha profissional ou de grandes preparações. Nesses casos a cozinha se transforma numa mistura de orquestra de música com uma linha de montagem de uma fábrica. O planejamento é importantíssimo, assim como o entrosamento da equipe, e muitos cuidados precisam ser tomados para que tudo dê certo.

Volta e meia ouço críticas às comidas de hospital em geral - à exceção do hospital da nossa cidade, diferenciado até nesse quesito. Mas imagine só a dificuldade de se cozinhar para um número grande de pessoas enfermas, que necessitam de uma dieta especial com poucos condimentos e fácil digestão. E que não podem nem pensar em passar mal com a refeição. O mesmo se aplica aos asilos e escolas, que muitas vezes ainda têm que lidar com as limitações orçamentárias na compra de bons ingredientes. As cantineiras e os cantineiros costumam operar milagres.

Outro dia tive o prazer de participar de um lindo e delicioso evento em Belo Horizonte, a “8ª Feijoada Beneficente – Casa de Caridade Mãe Tereza e Pai Jeremias”. Uma grande festa, regada à solidariedade, comida boa e música de primeira, com apresentações de violeiros da nata da viola caipira de Minas Gerais. Um dos organizadores é o resende-costense honorário Guilherme Cascão e teve até uma excursão saindo de ônibus de Resende Costa para aproveitar a festa. No comando das panelas, outro resende-costense, lá do Povoado dos Pinto, o “Marquinho Cozinheiro”.

Cozinheiro experiente, ele trabalha na capital há muitos anos em cozinhas profissionais de grandes indústrias, cozinhando para multidões todos os dias. Já chegou a cozinhar para 4.500 pessoas em um dia. Isso mesmo: quatro mil e quinhentas! Mas no dia dessa festa beneficente ele preparou comida “só” para mil pessoas (!). E que feijoada boa. A começar pelo fato de que os pertences vieram de porcos engordados lá no Povoado dos Pinto mesmo, e preparados no Retiro Velho, num grande mutirão solidário. Quilômetros de linguiças foram enchidos lá.

Ao todo foram sete panelões de feijoada, daqueles que cabem uma pessoa dentro. E o que mais impressionou foi a qualidade do preparo, em dois aspectos, mesmo em se tratando da enorme quantidade de comida. Primeiro, o tempero, marcante e pontual, como numa feijoada caseira. Segundo, o ponto perfeito dos ingredientes, tanto dos “trupicos” quanto do feijão. Até em pequenos preparos de feijoada os cozinheiros às vezes cometem o erro de perderem o ponto certo de cada ingrediente. Apesar de ser um prato único, cada coisa tem um ponto certo de cozimento. Se isso não for respeitado, a carne desfia, o pé desmancha, a linguiça desbeiça e o feijão vira tutu.

Bacana também foi ver que os panelões cheios de conhecimento do Chef Marquinho já vão sendo repassados para sua filha, a cozinheira Mariana, que também participou do preparo desse grande almoço. Sorte a nossa.

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