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A importância dos rios voadores e da Amazônia

22 de Junho de 2022, por Instituto Rio Santo Antônio

Pedro Henrique Elias da Silva*

Adriano Valério Resende**

 

Todos nós sabemos da importância da Amazônia, enquanto maior floresta tropical do mundo e reguladora do clima, além de possuir uma elevada biodiversidade e ter a mais significativa reserva de água doce. No entanto, aqui queremos destacar a importância da região como a fornecedora de umidade para as chuvas que acontecem na maior parte do Brasil.

Curiosamente, se você olhar um mapa que contenha as regiões áridas ou semiáridas no planeta, vai perceber que há uma concentração dessas áreas nas proximidades dos trópicos. No hemisfério sul, temos o Trópico de Capricórnio, que passa pela “altura” da cidade de São Paulo. Pode-se destacar que a parte central da América do Sul, mais especificamente o centro-sul do Brasil, não está incluída nessa faixa de aridez. Vejamos alguns fatores que contribuem para isso: a corrente marítima (Corrente do Brasil) que banha o litoral brasileiro é quente, o que provoca muita evaporação e, consequentemente, gera bastante umidade; os ventos alísios se deslocam em sentido oeste, ou seja, para o litoral do continente americano (isso também acontece no litoral do sudeste africano e do leste australiano); inexistência de zona de refluxo de água fria ou ressurgência (como acontece no litoral do Chile). Dessa forma, a umidade formada na costa brasileira é jogada para o continente, fazendo chover praticamente o ano inteiro em todo o litoral. Isso explica, por exemplo, a existência da Mata Atlântica nesse local.

No entanto, existe um limite para a entrada dessa umidade oceânica no território brasileiro, que seriam as serras e terras altas do litoral leste: serras Geral, do Mar, da Mantiqueira, do Espinhaço, Chapada Diamantina e Planalto da Borborema. O que isso quer dizer? A umidade vinda do oceano tem dificuldades para atravessar essas serras. Assim, com a elevação e o resfriamento dessa umidade, ocorrem chuvas orográficas na vertente virada para o litoral. E para o interior, vertente oeste dessas serras, chega menos umidade e, consequentemente, ocorrem poucas chuvas. Então, por que chove muito no interior da América do Sul (e do Brasil) no verão? A resposta é simples: é por causa dos rios voadores que provêm da Amazônia.

Os rios voadores, que nascem no coração da Amazônia, são verdadeiros “cursos de água atmosféricos”, ou seja, correspondem “(...) à enorme quantidade de água liberada pela Floresta Amazônica em forma de vapor d’água para a atmosfera, sendo transportada pelas correntes de ar.” (Brasil Escola). Funciona assim: a floresta bombeia água do solo e lança na atmosfera em forma de vapor (processo de evapotranspiração); parte desse vapor se transforma em chuva na própria Amazônia e outra parte é direcionada para oeste pelos ventos alísios, esbarrando na Cordilheira dos Andes. Com isso, um pouco da umidade se precipita (vira chuva e neve) na borda dos Andes e o restante é direcionado para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Essa umidade se transforma em chuva, especialmente no verão.

Diante do exposto, percebe-se que a Amazônia é extremamente importante para todo o país, influenciando no clima da maior parte do Brasil. Por exemplo, as abundantes chuvas que acontecem no verão em nossa região são controladas pelos rios voadores. Portanto, são importantes o monitoramento e o combate ao desmatamento na floresta Amazônica. Infelizmente, o que presenciamos nos últimos anos foi o aumento do desflorestamento e de outras atividades ilegais, como o garimpo. Tais fatos se deram principalmente após a eleição de Jair Bolsonaro, devido à sua política de apoio aos ruralistas. Mesmo com a deflagração da pandemia, as intervenções ilegais na Amazônia não diminuíram. Pelo contrário, intensificaram-se, especialmente com o desmonte da estrutura federal de fiscalização.

Por fim, é muito importante intensificar as fiscalizações na Amazônia, conscientizar e dar alternativas econômicas sustentáveis para a população local, pois só assim a taxa de desmatamento será reduzida e, consequentemente, serão mantidas a rica biodiversidade e a fonte dos rios voadores, tão importantes para as chuvas que caem na maior parte do território brasileiro.

 

*Aluno do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG

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