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É Natal...

14 de Dezembro de 2010, por Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros

 

 
 
 
O que celebramos no Natal?Natal é a celebração do mistério da encarnação do Filho de Deus. O Verbo eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade que estava com o Pai no ato da criação, “no princípio era a palavra”, agora assume a nossa condição humana, exceto o pecado. Assim, “o verbo se fez carne e habitou entre nós” ou como os especialistas em sagrada escritura traduzem e de modo mais adequado“o verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós”. A palavra tenda, em hebraico Shekinah, faz referência à tenda da reunião que era armada no centro do acampamento pelos hebreus quando estes caminhavam no deserto. A tenda portátil ou o tabernáculo era sinal da presença de Javé. Ex. 25-30 O Verbo de Deus armou a sua tenda entre nós e o seu nome é Emanuel, o Deus conosco. De tão próximo Deus se fez um de nós. Na noite santa do Natal podemos vê-lo, tocá-lo, senti-lo. Celebramos no Natal o cumprimento de uma promessa. Deus é fiel cumpriu o que disse:“..eis que a virgem conceberá e dará a luz um Filho e lhe chamará Emanuel”. Is. 7, 14  E “..o povo que andava nas trevas viu surgiu uma grande luz”. Is. 9, 2 Esta luz é o Messias, o enviado de Deus que veio ao nosso encontro trazer, vida, esperança e salvação.
 
Qual a origem da festa do Natal? No séc. III da era cristã existia, no império romano, uma festa pagã, a festa do deus invicto ou invencível, a festa do deus sol. Era celebrada no dia 25 de dezembro quando, no meio do inverno, o sol voltava a aparecer. A luz vencia as trevas. O sol era invencível. A Igreja deu  um sentido novo a essa festa pagã, pois para nós cristãos o verdadeiro sol invencível é Jesus, o sol que nunca se põe, que não conhece ocaso. Assim nasceu o natal cristão, uma festa pagã que foi cristianizada. Não estaria hoje ocorrendo um processo inverso? A festa cristã do Natal, não estaria gradativamente sendo paganizada? O que fazer para vivermos o verdadeiro, o genuíno sentido do natal? Santificar o Natal participando da Santa Missa, daquele mistério que é o “cume e ápice” da vida cristã. Como entender um católico que diz celebrar o natal do Senhor, mas não o santifica participando da Santa Missa?
 
O mistério da Encarnaçãoé o grande diferencial do Cristianismo! O que diferencia o cristianismo das demais religiões? Encontraremos resposta para essa indagação no mistério da encarnação do Filho de Deus. Nas demais religiões o homem sai à procura de Deus, no cristianismo o caminho é inverso. Deus sai à procura do ser humano para fazer comunhão com ele, estabelecer com ele uma relação de amizade. Já no antigo testamento Javése revelava um Deus próximo. O povo de Israel se orgulhava disso:“.. De fato! Qual a grande nação cujos deuses lhe estejam tão próximos como Javé, o nosso Deus, todas vezes que nós o invocamos? Dt. 4,7. O nosso Deus se revelou, já desde o antigo testamento um Deus próximo. Ele sai ao encalço da criatura humana. Essa proximidade, contudo é radicalizada com a encarnação do verbo no seio puríssimo da Virgem Maria. Não só quis se fazer próximo, mas quis se fazer um de nós!
 
Deus vem a nós em forma de criança! “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”. Lc. 2,12 Uma criança é a dádiva do alto. O Dom de Deus é uma criança, envolta em faixas e deitada numa manjedoura. Por que uma criança? Um ser que inspira cuidados, que chora, um ser indefeso e dependente?  Porque uma criança? É simples, Ninguém tem medo de uma criança: é como se Deus estivesse nos dizendo: não tenham medo de mim, aproximem-se! É o mistério da pedagogia e da simplicidade de Deus! Na simplicidade e na pobreza de uma estrebaria a luz visita a pobreza!Deus é simples, sendo rico se fez pobre para nos salvar. É o que nos diz o apóstolo Paulo “...Com efeito conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” 2Cor. 8, 9
 
A contemplação do presépio! Há um lugar, dentre outros, privilegiado para se vislumbrar o mistério da encarnação: o presépio. Ele traz uma mensagem de simplicidade e de despojamento. Permita-me convidá-los: vamos à Belém de novo, com os pastores! Lá encontraremos o recém nascido, indefeso e pobre, a esperança da humanidade! Lá, seguramente, encontraremos a resposta cabal para nossos anseios, o verdadeiro sentido para nossa vida! Numa criança, numa simples e indefesa criança encontramos a chave que abre o complexo mistério da vida. Permanece uma pergunta: Onde é Belém? Belém hoje é o nosso coração, é a nossa casa! O menino Deus procura um lugar para nascer.
 
Ainda hoje somos desafiados pelo presépio a ter um estilo de vida mais simples, despojado, baseado no ser e não no ter, a renunciar ao consumismo, ao desperdício, à ostentação, às bebedeiras que roubam de nós o verdadeiro espírito do natal! São Paulo escrevendo à comunidade de Filipos, se referindo aos inimigos da cruz de Cristo, diz que “o deus deles é o estômago”. Fl 3, 19 Quanta coisa ainda rouba e mata o verdadeiro sentido do natal. Muitos sinais de morte querem derrotar a luz do natal: violência, drogas, ambição, contudo, nesta noite afirmamos que o menino-luz-esperança vence as trevas!
 
A simplicidade do presépio nos conclama a ser mais solidários e não só no período do Natal. Mesmo em meio a tantos sinais de morte, o Natal continua a ser a festa da esperança. A contemplação do presépio constitui uma profunda catequese mistagógica, que nos introduz no mistério da encarnação. O amor de Deus manifestado naquela criança, a disponibilidade de Maria e José que disseram sim ao projeto de Deus, a solidariedade dos pastores e dos magos tudo constitui uma catequese. Da contemplação do presépio afirmamos, em alto e bom som, a luz brilhou e vence as trevas! Quer vencer as trevas que envolvem nosso coração, nossos lares, a sociedade em que vivemos. Quantos sinais de vida acontecendo em nossas comunidades, o engajamento dos leigos, as pastorais atuando, os gestos de generosidade.
 
Queremos celebrar bem o natal do Senhor! Celebra bem o Natal quem se faz solidário com os pequenos e não só no tempo do Natal, quem perdoa, de coração o seu irmão. Celebra bem o Natal quem entendeu que o personagem principal desta festa é o Deus menino e não papai Noel, símbolo maior do consumismo! Celebra bem o Natal quem não se deixa levar pelo consumismo, pelo desperdício, quem aposta no diálogo como caminho para superação dos conflitos, quem renuncia à mesquinharia, ao revanchismo, a vingança! Celebra bem o Natal quem faz de seu coração um verdadeiro presépio capaz de acolher o menino Deus e canta com e como os anjos naquela noite santa “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens de boa vontade”. Lc. 2, 13

Feliz e Santo Natal a todos!
 

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