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Que a saúde se difunda sobre a terra. (Cf. Eclo 38, 8)

13 de Marco de 2012, por Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros

Quaresma é tempo de metanoia - expressão grega que quer dizer mudança de mentalidade e de atitudes. Para nos ajudar a viver o tempo quaresmal, a Igreja no Brasil nos propõe a Campanha da Fraternidade, que chama a nossa atenção para temas atuais, que tocam nossa existência e de nossos irmãos e irmãs mais sofridos. No corrente ano a Igreja nos leva a refletir sobre a problemática da saúde no Brasil, com o tema "Fraternidade e Saúde Pública" e o lema "Que a saúde se difunda sobre a terra". Passo a abordar alguns pontos que julgo relevantes para nossa reflexão.
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) nos ensina que saúde é "um estado de completo bem-estar, físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças". Gostaria de acrescentar também o aspecto espiritual. O texto base da CF 2012 tem uma compreensão antropológica unitária, ou seja, entende o ser humano como um todo e como possuidor de muitas dimensões: física, espiritual, psicológica etc. Na relação com a doença, o cuidado espiritual é imprescindível.  Em outras palavras, o ser humano não pode ser considerado somente em seu aspecto físico ou mental ou mesmo espiritual, mas sim como um ser multidimensional e cada dimensão é importante. Não descartemos o aspecto espiritual e lembremo-nos que visitar os enfermos é uma obra de misericórdia! (Mt 25, 35-36).
 
A Constituição Federal entende a saúde como "Direito de todos e dever do Estado". Nesse contexto nasceu o SUS (Sistema Único de Saúde). O texto base da CF 2012 reconhece o avanço que significou a criação do SUS, porém, pondera que esse sistema está longe do ideal, principalmente se comparado com os de outros países que, verdadeiramente, priorizam a saúde pública. Nessa perspectiva, não podemos tratar a saúde como um negócio lucrativo ou mesmo um favor, mas um direito. Infelizmente uma mentalidade mercantilista, que transforma tudo em negócio, também está infectando o nosso sistema de saúde. Brota daí a necessidade de sermos cidadãos,"fermento na massa, sal da terra, luz do mundo". A CF 2012 nos conclama a participar das conferências e dos conselhos de saúde, enfim a exercer nossa cidadania.
 
Desejo realçar aqui a relevante contribuição dada pela Igreja na área da saúde. Podemos dividi-la em dois momentos: a contribuição de ontem, do passado, e a de hoje, ambas valiosas. No passado, através de suas confrarias e outras entidades congêneres, a Igreja deu relevante colaboração à sociedade com a construção das Santas Casas e dos Hospitais Religiosos. Ordens Religiosas foram criadas, sob a inspiração do Espírito Santo, com o carisma exclusivo de promover a saúde! Se fizermos uma análise, em nossa região, verificaremos: a maioria das instituições de saúde que temos nasceu dentro da Igreja. Será que tais instituições contam com o apoio necessário do poder público?
 
Em nossos dias, porém, a Igreja se empenha na promoção da vida e da saúde de todos. O texto base da CF 2012 nos apresenta dados concretos. Lembremo-nos do trabalho silencioso e generoso das pastorais da saúde e da criança. A pastoral da criança, movida pelo amor aos pequenos e liderada pela saudosa doutora Zilda Arns, foi peça chave na redução da mortalidade infantil em nosso país. Essas pastorais foram e são um verdadeiro exército do bem que trabalha pelo projeto de Jesus, a fim de que todos tenham vida e a tenham em abundância! (Jo 10, 10).
 
Concretamente, convido você a aprofundar o tema da CF 2012. E poderá fazê-lo participando dos grupos de reflexão em sua comunidade, conhecendo a realidade da saúde em seu bairro e seu município, participando da Coleta da Solidariedade no Domingo de Ramos. Os recursos obtidos com essa coleta serão aplicados em projetos sociais relacionados com o tema da campanha, em âmbito nacional e diocesano. Você poderá ainda ingressar na pastoral da saúde de sua paróquia e se interessar pela situação dos enfermos de sua comunidade.
 
Finalmente, para iluminar nossa reflexão, sirvo-me de um trecho da mensagem quaresmal do Papa Bento XVI: "por conseguinte (...) vos convido a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Com frequência prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse,que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela ‘esfera privada’.”Espero que esse texto seja provocativo e desperte interesse em todos!

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