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O menino indefeso

13 de Dezembro de 2011, por Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros

Mais uma vez nos preparamos para a celebração do santo Natal. O nascimento daquele menino frágil e indefeso e que já nasce marginalizado representou um facho de esperança para a humanidade. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” (Is. 9,1). Em junho de 2010 tive o privilégio de visitar a terra santa e a Basílica da Natividade onde está o altar da manjedoura, onde, segundo a tradição, nasceu o Deus menino. Confesso que senti algo inenarrável quando, juntamente com outros amigos, me curvei diante daquela estrela de Davi. Ficamos emocionados igualmente quando os frades franciscanos, em procissão, ao meio dia foram ao altar da manjedoura prestar homenagens ao Deus menino. Vale lembrar que os filhos de São Francisco estão ali há 800 anos de modo ininterrupto e que foi o pobrezinho de Assis que idealizou o primeiro presépio. Foi um momento de graça. Mas não nos esqueçamos, Belém é todo lugar e todo coração que se abre para o amor, que se dispõe a acolher o Deus menino frágil e indefeso que deseja nascer em nós e em nossos lares!
 
Falemos da preparação. A preparação para uma festa é tão importante quanto a festa propriamente dita. A Igreja nos oferece o tempo do advento: tempo de preparação, de arrumar a casa da nossa vida para acolher o salvador da humanidade. Como nos preparar? Há duas maneiras de nos prepararmos: a preparação exterior e a interior. A exterior deve ajudar a interior, pois do contrário, ela se esvazia e perde seu sentido. Faz parte da preparação externa a montagem do presépio, da árvore de natal, os presentes para os amigos e familiares, a colocação das luzes do Natal. Tudo isso pode ajudar se não se ficar somente no aspecto exterior, se nos entregarmos ao consumismo desmedido e à ostentação.
 
A preparação interior nos leva a vislumbrar o grande mistério da condescendência - delicadeza (sinkatábasin) de Deus, na do seu Verbo:“O Verbo se fez carne e habitou entre nós”! (Jo, 1,14). Para atualizar este mistério nos perguntamos com Santo Anselmo: Cur Deus homo, porque Deus se fez homem? Para se tornar próximo a nós e para que Ele fizesse de nós Filhos de Deus. Este é o diferencial do cristianismo, não é o homem que vai ao encontro de Deus, mas é Deus que vem ao encontro da humanidade. Poeticamente dizemos que o nosso Deus é “um Deus carente” que “mendiga” o nosso amor e a nossa atenção! Vem a nós em forma de criança, pois uma criança não intimida ninguém, pelo contrário, ela atrai e fascina. É como se Deus estivesse nos dizendo: podem se aproximar de mim! Não tenham medo! Assim se manifesta a pedagogia, a delicadeza divina (sinkatábasin).
 
Convém nos perguntarmos: como contemplar este mistério, profundo e simples, em meio a tanto consumismo, corrupção e violência? Pequenos gestos podem manter a esperança e conservar o verdadeiro sentido do Natal. A novena de Natal, a reunião em família, os gestos de partilha e solidariedade, a contemplação do presépio, dentre outros, podem nos conduzir a uma autêntica espiritualidade natalina. Esta espiritualidade nos leva a perceber a luz verdadeira que vence as sombras e os sinais de morte que nos rodeiam.
 
Finalmente, cabe-nos uma séria reflexão. Nos primórdios da era cristã o Natal era uma festa pagã, a festa do deus sol, que pouco a pouco foi cristianizada. Não deixemos, porém, que suceda o contrário em nossos dias: a paganização do natal. A mentalidade consumista reinante vem transformando a festa do Natal do Senhor numa festa do desperdício e do consumo, numa festa de luzes artificiais que ofuscam a luz do menino que vem de Belém. Convidamos você, seus familiares, de modo especial as crianças, a olhar com atenção o presépio e beber dessa verdadeira catequese sobre a humildade, a generosidade, e o despojamento do nosso Deus que “sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua pobreza”. (2 Cor, 8,9). Um Feliz e Santo Natal a todos!

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