Agro e meio ambiente: desenvolvimento e preservação precisam caminhar juntos


Editorial

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A infame polarização política em vigor no Brasil criou mais uma divisão perigosa que vai além do embate eleitoral do “nós contra eles”. Nos últimos anos, vem-se consolidando no país uma disputa político-ideológica que opõe defensores do agronegócio e ambientalistas. Representantes mais radicais do primeiro grupo argumentam que o país precisa crescer e, para isso, é necessário abrir mais e mais campos de pastagem e áreas para plantio, não importando o impacto que tais medidas possam causar ao meio ambiente. Já os ambientalistas ortodoxos exigem políticas de tolerância zero contra o desmatamento e outras atividades que causam danos à natureza. Com discursos divergentes e interesses políticos específicos, os dois lados não dialogam. Perdem com isso o Brasil, a economia e a pauta ambiental.

O Jornal das Lajes traz como destaque desta edição os números mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes ao agro nos municípios da região do Campo das Vertentes. As estatísticas confirmam a pujança da pecuária leiteira, do cultivo de grãos e o fortalecimento de outras culturas, como a apicultura e a criação de tilápias. O desenvolvimento do setor é reflexo do protagonismo do agronegócio como principal indutor da economia brasileira, responsável por grande parte dos produtos que o país exporta. Não é pouca coisa. O setor gera emprego, renda e fomenta outras áreas de grande importância para a economia e a educação, com destaque para a criação e o desenvolvimento de novas tecnologias presentes em máquinas, implementos agrícolas e pesquisas.

É inquestionável a importância do agro para a economia brasileira. O desafio do setor, no entanto, é agregar suas atividades à preservação do meio ambiente por meio da sustentabilidade. De dimensões continentais, clima favorável ao cultivo de diversos produtos nas diferentes regiões, o Brasil é território perfeito para o desenvolvimento do agronegócio. Mas a que preço?

Num passado não tanto remoto, em nome do chamado “desenvolvimento” e da “urbanização”, o homem foi alterando os ambientes naturais (a Mata Atlântica no Brasil foi um dos biomas mais afetados) com o intuito de construir cidades e abrir clareiras para pastagens e áreas de plantio. Ignorou-se com isso o curso de rios e nascentes; florestas essenciais para a manutenção do sistema de chuvas foram devastadas, ameaçando também diversas espécies de extinção, o que causou desequilíbrio na fauna. O resultado dessa agressão desenfreada do homem à natureza, no mundo todo, mostra hoje seus efeitos catastróficos num planeta doente, cujos sintomas são secas prolongadas, tempestades devastadoras, como a que vimos nas últimas semanas no Rio Grande do Sul, e o surgimento de doenças epidêmicas, como a Covid-19, transmitidas ao homem por animais com os quais começamos a dividir o mesmo habitat.

Mirando o cenário futuro, urge uma necessária mudança de conduta e de olhares em relação ao agro e à preservação ambiental. Se continuarmos destruindo a natureza indiscriminadamente, não há dúvidas de que o agronegócio será o setor que mais sofrerá os efeitos dos fenômenos climáticos extremos que já nos atingem, frutos do aquecimento global. Será cada vez mais frequente vermos plantações perdidas embaixo das águas, gado morrendo de fome em pastos secos e sem vida.

Para o Brasil continuar sendo potência do agro, é premente, antes de tudo, sermos modelo de preservação ambiental. Começaremos bem se atingirmos o que foi proposto pelo governo Lula como meta do seu terceiro mandato: zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.

Enfim, o agro não pode ser o algoz do meio ambiente, tampouco a agenda ambiental ser vista como entrave para o desenvolvimento da economia brasileira, que tem o agronegócio como a principal locomotiva. Mais do que garantir a pujança da economia global, a natureza está nos mostrando, com sinais apocalípticos, que o que está em jogo é a sobrevivência da humanidade num planeta que se encontra doente. Porém, ainda há tempo de reverter o jogo Mas para isso é necessário priorizar o debate de conciliação, afastando dele os oportunistas que alimentam a perversa e atrasada polarização político-ideológica.

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