Depois de ficar pra trás, energia solar deve recuperar terreno em Portugal


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José Venâncio de Resende0

Painel solar do LNEG: como uma flor que fecha ao por do sol.

A eletricidade a partir da energia solar é o segmento com maior possibilidade para crescer nos próximos anos em Portugal, por partir de um patamar bastante baixo (apenas 1,5% da matriz energética do país). A opinião é do presidente da APREN (Associação de Energias Renováveis), Antônio Sá da Costa. “Os governos nunca apostaram na energia solar”, diz.

Na Europa, a Alemanha tem menos da metade do sol de Portugal e uma população apenas oito vezes maior, mas gera oitenta vezes mais energia solar, lembra Sá da Costa. “Um painel solar na Alemanha produz menos da metade do mesmo painel em Portugal.” Já o Reino Unido tem vinte vezes mais potência instalada do que Portugal apesar de menos da metade do sol.

De fato, em termos de potência instalada, apenas 429 megawatts, de um total de 18533 MW, tem origem na energia solar (sistemas fotovoltaicos), de acordo com dados da REN (Redes Energérticas Nacionais) relativos ao final de 2015. Para que a energia solar cresça, a rede tem de ter capacidade de receber esta energia, observa a professora Teresa Ponce de Leão, diretora do LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia).

Para fazer face a este desafio, o governo encomendou ao LNEG um estudo para o desenvolvimento do potencial solar sustentável para Portugal. A ideia é identificar locais onde é possível instalar centrais solares, levando-se em conta restrições técnicas e ambientais como capacidade da rede e orografia ou relevo do território.

Matriz

Em 31 de dezembro de 2015, 65% da potência instalada em Portugal (cerca de 12 mil MW) eram formados por energias renováveis, estima a professora Teresa Leão, com base nos dados da REN. Desse total, 6146 MW tinham origem hídrica; 4826 MW, eólica; e 429 MW, solar. O restante (cerca de 6,5 mil MW) era fóssil (carvão e gás).

Essa potência instalada de energia solar é constituida por 50 MW de sistemas concentrados na região de Moura (Alentejo). O restante está distribuído por parques menores e telhados de edifícios (não inclui a instalação de sistemas térmicos destinado ao aquecimento de água).

Em termos de paineis solares instalados, cerca de 35 mil unidades tem menos de 250 kilowatts (comerciais e residenciais), em torno de 10 unidades para sistemas industriais (até 1 MW) e aproximadamente 59 unidades para sistemas superiores 1 MW (venda de energia para a rede de distribuição).

Segundo Sá da Costa, em ano úmido a energia hídrica é a primeira fonte de eletricidade, seguida da eólica e do carvão. Já em ano seco, o carvão troca de posição com a hídrica, permanecendo a eólica na segunda posição.

Meta 2020

O "pacote clima-energia" da União Europeia, aprovado Parlamente Europeu, prevê redução de 20% nas emissões de gases com efeito de estufa, elevação para 20% da quota-parte das energias renováveis no consumo de energia e aumento em 20% da eficiência energética até 2020. O pacote fixa também uma meta de 10% de energias renováveis no setor dos transportes até essa data.

Para cada país europeu, foi fixada meta diferente de participação das energias renováveis no consumo de energia final, que, no caso de Portugal, é de 31%. O problema é que são metas indicativas, observa Sá da Costa, da APREN. "Se não forem cumpridas, não há penalidades."

O governo português definiu que esses 31% seriam distribuídos entre eletricidade, 60%; transporte, 10%; e aquecimento/arrefecimento (processos térmicos da indústria, gás de cozinha, lenha para lareira, etc.), 34%. "Estou convencido que vamos ficar entre 27 e 29% em 2020", afirma Sá da Costa. "Na eletricidade, não vamos chegar aos 56 a 57%."

Mais otimista, o governo tem reiteradamente dito que vai cumprir a meta, como assinala Teresa Leão, do LNEG, que também é professora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Tecnologia

A presidente do LNEG lembra que, em Portugal, a ordem de mérito é que a energia seja renovável. Em primeirto lugar, entra na rede o vento que não é despachável (não há controle da forma como a energia dos parques eólicos é injetada na rede). O mesmo deve ocorrer em maior intensidade com o sol, que também não é despachável, na medida em que a instalação de centrais solares vai sendo ampliada.

Há pesquisas em andamento no sentido de controlar esta entrada na rede, para que o consumo se adapte à imprevisibilidade dos recursos naturais vento e sol, explica Teresa Leão. Por enquanto, outras fontes de energia como gás natural e carvão ainda representam importante papel complementar às renováveis por causa dos caprichos do vento e do sol.

O armazenamento da energia do vento e do sol, que entra direto na rede, é inviabilizado pelo alto custo das baterias (acumuladores de redox e supercondensadores) que ainda não está em paridade correta. O que já existem são baterias de lítio - com custo decrescente e autonomia de até 500 quilômetros - que alimentam os carros elétricos e podem também acumular energia.

O LNEG, que participa de consórcios de investigação com instituições de outros países europeus, trabalha atualmente em colaboração com Espanha, Itália e Alemanha em projetos de energia solar (fotovoltaica), financiados pela Comissão Europeia. O objetivo é identificar soluções economicamente viáveis e úteis para o investimento europeu neste segmento.

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