Pandemia de coronavírus: Voluntários portugueses desenvolvem respirador “low cost”, em código aberto

Pesquisadores da Poli-USP também projetaram ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que poderá servir para o atendimento de pacientes de covid-19.


Saúde

José Venâncio de Resende0

Paulo Fonte, da UC, junto da prova de conceito do ventilador de emergência.

Equipe do Project Open Air, composta por voluntários portugueses de várias instituições, desenvolveu um ventilador (respirador) de emergência para cuidados intensivos, com materiais e componentes industriais comuns. O respirador está em fase de prova de conceito, disponível em código aberto e com valor de produção inferior ao padrão.

A equipe reúne médicos e engenheiros, no mesmo projeto, com o objetivo comum de produção de um ventilador de emergência de baixo custo. Tudo começou por tentar “perceber mutuamente quais as dificuldades e requisitos e (primeiro) procurar algo aceitável clinicamente numa emergência e simples de implementar”, explica Paulo Fonte, investigador (pesquisador) da Universidade de Coimbra (UC), fundada em 1290.

“Não é um dispositivo médico”, alerta Fonte que é investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP) e do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da Universidade de Coimbra (ICNAS) da UC. O ventilador de emergência desenvolvido pela equipa “é feito com componentes industriais e terá sempre de ser visto como algo de último recurso”.

Vantagens

“Os componentes técnicos são muito comuns”, explica Fonte. Dada a sua simplicidade, pode ser construído de forma “rápida e em quantidade”, com um valor abaixo do padrão de mercado de um ventilador médico. Em pouco tempo, é possível construir milhares de exemplares, afirma o pesquisador da UC.

A equipe multidisciplinar, que trabalhou neste projeto dentro do Project Open Air, é integrada por pesquisadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA, da NOVA Medical School, da Harvard University e ainda “dois engenheiros portugueses que trabalham para equipas de Fórmula 1”, diz a nota de divulgação do projeto.

Em fase de prova de conceito, os ventiladores de emergência para cuidados intensivos apresentados têm agora o desenho em domínio público, o que significa que “qualquer um no mundo pode utilizar sem qualquer restrição”, de acordo com Paulo Fonte.

USP

Uma equipe multidisciplinar da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) também projetou um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que poderá servir para o atendimento de pacientes de covid-19. Batizado de Inspire, o protótipo tem duas outras vantagens: pode ficar pronto em menos de duas horas e é feito de peças que podem ser encontradas no país, ou seja, não necessita de componentes importados.

O valor do Inspire é de R$ 1 mil, aproximadamente, enquanto os respiradores disponíveis no mercado custam, em média, R$ 15 mil. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores da Poli-USP foi registrado com uma licença open source, o que significa que qualquer pessoa interessada pode acessar o passo a passo de manufatura e fabricá-lo. A exigência é de que se obtenha autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O protótipo foi concebido para ser usado “em eventual condição catastrófica”, causada pela falta de ventiladores pulmonares comerciais, explica o professor Marcelo Knorich Zuffo, da Poli-USP. “Nosso projeto é de um ventilador de emergência.” Ele divide a coordenação do projeto com o docente Raúl Gonzalez Lima, especialista em engenharia biomédica.

O projeto está, atualmente, em fase de “integração e homologação”, com o sistema de inspiração e expiração já sendo testado, explica Zuffo. Agora a equipe também avança na validação química do padrão respiratório e mantém interlocução com o governo federal, para tentar emplacar parcerias que permitam a produção do ventilador em maior escala. Reuniões já foram realizadas com representantes dos Ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e da Saúde, bem como da Anvisa.

No total, cerca de 40 pessoas compõem a equipe do projeto. Os pesquisadores têm passado até 18 horas do seu dia desenvolvendo as atividades, iniciadas no dia 20 de março.

A iniciativa foi possível porque os membros da equipe já detinham conhecimento sobre a montagem de ventiladores pulmonares industriais, conta Zuffo. “Como nós tínhamos esse know-how à disposição na universidade, resolvemos criar meios para que esse conhecimento dos professores fosse disponibilizado à sociedade.”

“A gente resolveu se mobilizar quando percebeu a dramaticidade dessa situação nos outros países. Temos relatos de que em Nova York não há ventiladores e, então, voluntários ficam apertando a bombinha para o paciente não morrer durante a noite”, acrescenta o pesquisador.

Fonte: Marta Costa-UC e Agência Brasil

 

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