Equipe do Project Open Air, composta por voluntários portugueses de várias instituições, desenvolveu um ventilador (respirador) de emergência para cuidados intensivos, com materiais e componentes industriais comuns. O respirador está em fase de prova de conceito, disponível em código aberto e com valor de produção inferior ao padrão.
A equipe reúne médicos e engenheiros, no mesmo projeto, com o objetivo comum de produção de um ventilador de emergência de baixo custo. Tudo começou por tentar “perceber mutuamente quais as dificuldades e requisitos e (primeiro) procurar algo aceitável clinicamente numa emergência e simples de implementar”, explica Paulo Fonte, investigador (pesquisador) da Universidade de Coimbra (UC), fundada em 1290.
“Não é um dispositivo médico”, alerta Fonte que é investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP) e do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da Universidade de Coimbra (ICNAS) da UC. O ventilador de emergência desenvolvido pela equipa “é feito com componentes industriais e terá sempre de ser visto como algo de último recurso”.
Vantagens
“Os componentes técnicos são muito comuns”, explica Fonte. Dada a sua simplicidade, pode ser construído de forma “rápida e em quantidade”, com um valor abaixo do padrão de mercado de um ventilador médico. Em pouco tempo, é possível construir milhares de exemplares, afirma o pesquisador da UC.
A equipe multidisciplinar, que trabalhou neste projeto dentro do Project Open Air, é integrada por pesquisadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA, da NOVA Medical School, da Harvard University e ainda “dois engenheiros portugueses que trabalham para equipas de Fórmula 1”, diz a nota de divulgação do projeto.
Em fase de prova de conceito, os ventiladores de emergência para cuidados intensivos apresentados têm agora o desenho em domínio público, o que significa que “qualquer um no mundo pode utilizar sem qualquer restrição”, de acordo com Paulo Fonte.
USP
Uma equipe multidisciplinar da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) também projetou um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que poderá servir para o atendimento de pacientes de covid-19. Batizado de Inspire, o protótipo tem duas outras vantagens: pode ficar pronto em menos de duas horas e é feito de peças que podem ser encontradas no país, ou seja, não necessita de componentes importados.
O valor do Inspire é de R$ 1 mil, aproximadamente, enquanto os respiradores disponíveis no mercado custam, em média, R$ 15 mil. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores da Poli-USP foi registrado com uma licença open source, o que significa que qualquer pessoa interessada pode acessar o passo a passo de manufatura e fabricá-lo. A exigência é de que se obtenha autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O protótipo foi concebido para ser usado “em eventual condição catastrófica”, causada pela falta de ventiladores pulmonares comerciais, explica o professor Marcelo Knorich Zuffo, da Poli-USP. “Nosso projeto é de um ventilador de emergência.” Ele divide a coordenação do projeto com o docente Raúl Gonzalez Lima, especialista em engenharia biomédica.
O projeto está, atualmente, em fase de “integração e homologação”, com o sistema de inspiração e expiração já sendo testado, explica Zuffo. Agora a equipe também avança na validação química do padrão respiratório e mantém interlocução com o governo federal, para tentar emplacar parcerias que permitam a produção do ventilador em maior escala. Reuniões já foram realizadas com representantes dos Ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e da Saúde, bem como da Anvisa.
No total, cerca de 40 pessoas compõem a equipe do projeto. Os pesquisadores têm passado até 18 horas do seu dia desenvolvendo as atividades, iniciadas no dia 20 de março.
A iniciativa foi possível porque os membros da equipe já detinham conhecimento sobre a montagem de ventiladores pulmonares industriais, conta Zuffo. “Como nós tínhamos esse know-how à disposição na universidade, resolvemos criar meios para que esse conhecimento dos professores fosse disponibilizado à sociedade.”
“A gente resolveu se mobilizar quando percebeu a dramaticidade dessa situação nos outros países. Temos relatos de que em Nova York não há ventiladores e, então, voluntários ficam apertando a bombinha para o paciente não morrer durante a noite”, acrescenta o pesquisador.
Fonte: Marta Costa-UC e Agência Brasil