Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França completa 175 anos de criação


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André Eustáquio0

Fotografia do início do século 20 mostrando a antiga matriz de Nossa Senhora da Penha.

A Semana Santa deste ano em Resende Costa terá um motivo a mais para ser celebrada com muito fervor. No dia 3 de abril, Sexta-Feira da Paixão, a Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França completará 175 anos de criação. No dia 3 abril de 1840, o presidente da Província de Minas Gerais, doutor Bernardo Jacinto da Veiga, assinou a lei nº 184, que, em seu artigo 1º, parágrafo 3º elevava o Curato da Lage à Paróquia. Uma verdadeira história de fé e trabalho (ora et labora) começou a ser edificada no alto de um penhasco, que ganhou como protetora Maria, a Senhora da Penha.

Uma visita ao memorial Monsenhor Nélson Rodrigues Ferreira, no Museu Paroquial de Arte Sacra, permite conhecer um pouco mais da história da Paróquia de Nossa Senhora da Penha. Contemplar a galeria de fotos dos vigários (hoje conhecidos como párocos) que trabalharam em Resende Costa significa revisitar o passado. Ainda não existia Resende Costa. Tudo se resumia num pequeno aglomerado de casas de pedras e taipas, no alto de um morro, ao redor de uma capela devotada a Nossa Senhora da Penha. Ali, nos dias de preceito e festas, se dirigia o reverendíssimo padre Joaquim Carlos de Resende Alvim, neto do capitão José de Resende Costa, para celebrar o Santo Sacrifício da Missa.

Padre Joaquim Carlos foi o primeiro pároco de Resende Costa. As poucas informações que temos sobre ele revelam um sacerdote piedoso que sempre residiu na fazenda dos Campos Gerais, ao lado de sua mãe dona Francisca Cândida de Resende, irmã do conselheiro José de Resende Costa. Padre Joaquim Carlos tomou posse solenemente como vigário da recém-criada Paróquia de Nossa Senhora da Penha no dia 7 de junho de 1840, data da instalação da paróquia. A ereção canônica ocorreu no dia 20 de maio do mesmo ano. “Lageano” de nascimento, padre Joaquim Carlos geriu a paróquia de sua terra natal até o dia 13 de novembro de 1879, quando faleceu aos 82 anos de idade.

Desde o padre Joaquim Carlos, dezesseis párocos administraram a paróquia de Nossa Senhora da Penha. Padre Eder Sebastião Santos, atual pároco, é o 17º. Alguns com breve passagem, outros aqui permaneceram por longos anos e deixaram grandes legados. Quando vemos hoje o Hospital Nossa Senhora do Rosário, tão bem administrado pelas Irmãs Filhas de São Camilo (camilianas), é bom que voltemos ao passado para conhecer o embrião de toda essa obra que se tornou referência em toda a região.

Uma pequena carta, arquivada no arquivo histórico da Arquidiocese de Mariana, redigida por um sacerdote que já se encontrava com a saúde fragilizada, revela como tudo começou. Cônego Antônio Cardoso Damasceno, natural de Resende Costa, vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de 5 de fevereiro de 1916 a 16 de abril de 1921, assim escreve humildemente ao seu superior, o arcebispo de Mariana dom Silvério Gomes Pimenta, no dia 28 de novembro de 1920: “Exmo. e revmo. Sr. Arcebispo D. Silvério. Muito respeitosamente beijo o vosso anel. Graças ao Senhor Bom Jesus, vou indo muito melhor com muita fé, que brevemente ficarei curado e forte para concluir a minha Santa Casa. Tenho muita fé em Nossa Senhora do Rosário, que vossa reverendíssima pessoalmente irá benzer o meu hospitalzinho e celebrar a primeira missa. Venho por esta lançar-me aos pés de vossa reverendíssima, pedindo o ato de caridade, de arranjar uma congregação religiosa, para eu confiar a direção do meu hospital colégio. Sempre pensei que hospital sem religiosas é tempo perdido. Consta-me que na cidade de Diamantina há uma congregação de religiosas, que não está satisfeita lá e quer mudar. Peço a vossa reverendíssima que se digne mandar informar se é verdade, se for do agrado de vossa reverendíssima; para se darem as providências. Se são as irmãs da Serra da Piedade. Estou aflito, porque ando doente e posso morrer de uma hora para outra. Antes de minha morte, desejo ver terminada minha obra de caridade. Tenho sido muito feliz e já tenho dois prédios prontos com todas as comodidades precisas e outro para ser reconstruído para o colégio. Vossa reverendíssima podia mandar um padre de vossa confiança examinar os prédios, as comodidades, as vantagens e necessidades de um hospital nesta vila, principalmente em matéria de religião. Termino esta pedindo vossa bênção para mim e meus paroquianos e uma especial para o meu hospital. Vosso humilde súdito e amigo muito dedicado em Jesus. Cônego Antônio Cardoso Damasceno. Resende Costa, 28 de novembro de 1920”.

Os anos se passaram e o sonho do cônego Cardoso se fez realidade. Na década de 50, as irmãs Filhas de São Camilo assumem a Santa Casa, ainda propriedade da paróquia, e começam a desenvolver um magnífico trabalho, inspirado no evangelho e no carisma de São Camilo, em favor dos doentes de Resende Costa. Já na década de 80, após muito labor do querido e venerado pároco monsenhor Nélson Rodrigues Ferreira, enfim as irmãs camilianas assumem definitivamente o hospital, que passa a ser oficialmente uma obra das Filhas de São Camilo.

Padre Joaquim Carlos, Cônego Cardoso, Padre Heitor de Assis, Monsenhor Nélson e tantos outros sacerdotes que se dedicaram pela construção da paróquia, deixaram um grande legado. Mais do que um patrimônio material, a paróquia de Nossa Senhora da Penha constitui-se hoje num patrimônio de fé e cultura de uma comunidade. Quantas obras sociais foram criadas e geridas pela paróquia através da dedicação das irmandades e dos leigos engajados nos trabalhos pastorais?! Atualmente, a paróquia conta com 23 movimentos e pastorais que auxiliam o pároco nos trabalhos pastorais (Apostolado da Oração, Catequese, Coroinhas, Congregação Mariana, Equipe de Liturgia, Encontro de Casais com Cristo – ECC -, Irmandade do Rosário, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Irmandade do Perpétuo Socorro, Ministros da Eucaristia, Movimento Familiar Cristão – MFC -, Movimento de Cursilho, Movimento Mãe Rainha, Pastoral do Dízimo, Pastoral da Saúde, Pastoral da Esperança, Pastoral Carcerária, Pastoral Vocacional, Renovação Carismática, Grupo de Jovens Shalom, Sociedade São Vicente de Paulo – SSVP – e Terço dos Homens).

A pequenina capela de Nossa Senhora da Penha de França, testemunha do evento marcante que elevou o Curato da “Lage” em Paróquia em 1840, ao longo dos anos sofreu ampliações, foi quase totalmente demolida, mas ainda conserva as pedras fundamentais. A capela-mor onde a Senhora da Penha abençoa cotidianamente os “lageanos”, desde os tempos primitivos do Arraial da Lage, conserva-se intacta. Em seu interior ainda pode-se ouvir os ecos do passado que ainda se revela latente e piedoso nas gerações atuais, que a cada dia de preceito e de festa se reúnem aos pés da Virgem da Penha.

 

 

Fontes: Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage – José Maria da Conceição Chaves (Juca Chaves); Arquivo Histórico da Arquidiocese de Mariana.

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