Resende Costa chora o falecimento da maestrina Maria Aleluia de Mendonça Chaves


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André Eustáquio0

fotoAleluia (em baixo, segunda da dir. para esquerda) com o Coro e Orquestra Mater Dei. Foto (Divulgação)

 

“A música a serviço da Igreja, para a glória de Deus”

No dia 03 de novembro de 2015, a música sacra de Resende Costa perdeu uma grande e talentosa liderança. A maestrina do Coro e Orquestra Mater Dei e organista da igreja matriz de Nossa Senhora da Penha, Maria Aleluia de Mendonça Chaves, faleceu aos 76 anos. Nascida no dia 9 de abril de 1939, filha de Francisco de Sousa Neto e Nair de Mendonça Chaves, desde criança Aleluia revelou sua vocação para o ensino e para a música. Duas paixões que a acompanhariam durante toda a sua vida. “Desde os 10 anos, a máquina de costura era o seu harmônio”, disse sua irmã Marilene.

Aleluia formou-se professora em 1966 e lecionou na Escola Assis Resende durante 28 anos - 13 anos como professora de canto e música. A aptidão para a música e o desejo palpável de “brincar” com as notas musicais não tinham limites. Na ausência de papel, a menina Aleluia transformava cédulas de propaganda política em pautas musicais. Aos 20 anos de idade ela iniciou sozinha o aprendizado da música, tendo como mestre o harmônio da igreja matriz de Nossa Senhora da Penha. O “velho” harmônio seria seu mestre por toda a vida.

O estudo da música foi aprimorado em São João del-Rei no Conservatório Padre José Maria Xavier. No tradicional conservatório são-joanense, Aleluia fez curso técnico de piano e canto lírico. Posteriormente, fez também um curso técnico de música em Belo Horizonte com a maestrina do Coral Júlia Pardini, Elza do Val Gomes. Mas foi em Resende Costa, no coro da igreja matriz, que a música tornou-se elemento fundamental na vida de Aleluia Chaves.


Maestrina

Durante 60 anos, Aleluia dedicou-se à música na igreja, como organista, cantora e regente do Coro e Orquestra Mater Dei. O ofício da música se misturou aos preceitos da fé e da espiritualidade no cotidiano da vida de Aleluia. A música a serviço da Igreja, para a glória de Deus. Poderíamos assim resumir o lema de sua vida.

Permita-me o leitor compartilhar algumas lembranças que tenho da Aleluia, as quais guardarei com muito carinho. Convivi com ela durante longos anos, cantando no coral e tendo o privilégio de contar com sua amizade. Ela era dedicada aos ensaios e meticulosamente preocupada com o modo como a música seria executada nas solenidades da paróquia, especialmente na Semana Santa. Quando iniciei minha participação no coral Mater Dei, em 1996, na companhia do André Augusto, o André do Lulu e da Tina, Aleluia se dispôs a ensinar-nos o repertório da Semana Santa (motetos, missas etc.). Durante a semana, à tarde, ela nos recebia em sua casa para as aulas. No quarto do piano, ela passava linha por linha os motetos de Antônio de Pádua Falcão, as Visitações de Passos e Dores, entre outras peças que compõem o nosso rico repertório sacro. Paciência e dedicação de professora.

Enquanto teve saúde e força, Aleluia dirigiu a orquestra e o coro Mater Dei. Nem o frio das noites de inverno de Resende Costa a impedia de ir à igreja para os ensaios das segundas e quintas-feiras. Andando devagar, Aleluia atravessava a Praça Cônego Cardoso com as mãos ocupadas pelos cadernos e partituras. Chegando ao adro da igreja, onde os cantores do Mater Dei já a esperavam, Aleluia nos convidava para entrar e rezar pedindo a intercessão da Virgem da Penha e de Santa Cecília, para que o ensaio fosse exitoso. Não raro ela parava para conversar um pouco, geralmente sobre algum tema ligado ao religioso e à música. Admirava a bela música e os grandes compositores. Tive longas e deliciosas conversas com ela sobre Beethoven, Mozart, Bach, padre José Maria Xavier, entre outros gênios da música erudita. Aleluia era uma pessoa simples, bondosa, e que cultivava bom gosto artístico.

Os tempos em que ela fora a rigorosa e dedicada regente do Mater Dei tornaram-se inesquecíveis, especialmente quando nos lembramos de outras pessoas, que já partiram para a eternidade, com quem tivemos a grata oportunidade de compartilhar a convivência, a amizade e a arte de fazer música: Penha Sousa, Dativo, Alcides Lara, Lilia Lara, dona Terezinha, Lurdes, Maria Praxedes, Daniel (Né)...

Nos últimos anos, a enfermidade tristemente impediu que Aleluia desempenhasse a função que mais gostava: fazer música na igreja, tocando e regendo. Mas de longe, da janela da sua casa, ela estava próxima da Virgem da Penha, a quem tanto venerava. Aleluia, do cantinho da sua janela, acompanhava as procissões que subiam a rua Gonçalves Pinto. O cansaço e a enfermidade, porém, não abalaram a forte espiritualidade dessa mulher piedosa. No dia 1º de setembro, festa da padroeira de Resende Costa, Aleluia prestou sua última homenagem a Nossa Senhora da Penha, cantando, na varanda de sua casa, ao lado de Magali e Anderson.

Maria Aleluia de Mendonça Chaves foi um personagem de destaque na vida cultural de Resende Costa. Alfabetizada na batuta de inesquecíveis mestres da música resende-costense, como o maestro e compositor Joaquim Pinto Lara (sr. Quinzinho) e o professor e maestro Geraldo Sebastião Chaves, Aleluia soube manter o legado deles. Essa foi sua missão.

 

Resende Costa e mais ainda a Paróquia de Nossa Senhora da Penha choram a morte de Aleluia, que ficará para sempre eternizada na memória e na saudade de todos que conviveram com ela: músicos, cantores, alunos de piano, familiares e amigos. A cultura resende-costense perde mais um de seus baluartes. Que o seu amor devotado à cultura, à fé e às artes inspire novas gerações de resende-costenses. Requiescat in pace!

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