Causos & Cousas

A Avenida e suas casas

16 de Fevereiro de 2016, por Rosalvo Pinto 0

“Casa”. Palavra simples, talvez uma das mais pronunciadas ao longo de nossas vidas. Desde um simples barracão até a mais sofisticada mansão. Faz parte de nossa vida, pois sem ela não podemos viver. Tal como nós, nossas casas nascem, vivem, tornam-se adultas, cumprem sua missão e morrem. Mesmo quem mora em um alto apartamento diz: “Vou pra minha casa”. Por vezes, as casas embelezam a cidade, por outras, as enfeiam.

Vamos dar um passeio pelas casas de Resende Costa, tomando, por ora, a rua Gonçalves Pinto, uma das mais antigas e mais importantes da cidade. Vamos mostrar os atuais moradores e, se possível, nos lembrar de alguns antigos. Começamos pela primeira casa da rua, à esquerda de quem está entrando para o centro e depois voltaremos à primeira casa à direita. A avenida engloba a praça Doutor Costa Pinto.

Casas à esquerda - A primeira, onde moravam o Álvaro de Melo e a Zita, já não existe mais. Segue-se a casa do Adenor Coelho ● Sá Inacinha/Zé Ezequiel ● Os irmãos Ézio, Geraldo Reinaldo, Jesus Hilton e Pedro Hildeu (antes, do Antônio Damasceno) ● Herdeiros do Neném do Chico Augusto (antes, Ziquinha de Lourdes) ● Saturnino Chaves, depois Chico Avelino, depois familiares do sô Ananias: Lico e Dinho  ● Herdeiros do Adenor Coelho (antes, Tonico Chalé)  ● Elza do Nonô e Chichico (Bar) (terreno originário do Tonico Chalé)  ● Imóvel da família do Barbosinha  ● Beco do Barbosinha  ● Imóvel da família do Jesus Barbeiro (antes, Nico de Souza e posteriormente Omar Teixeira) ● Imóvel da família do Boqueirão (idem, Nico de Souza e Omar Teixeira) ● Herdeiros do José Augusto de Melo, casa construída por João Lara, pai de Abel Lara; aí moraram Agripino Silva, o dr. Costa Pinto e foi, inclusive, pensão (atual: Lúcia do Zé Augusto) ● Agenorzinho Gomes (antes, de seu avô Agenor e de seu pai, Antônio Gomes)  ●  Herdeira do Hugo Resende (antes, família do Agenor Gomes).

Casas à direita: O carapina Alcides Maia/Zilá  ● Roberto do Sanico e família (antes, Sérgio Procópio)  ● Prédio da família do Adenor Coelho (antes, família do Zé Evaristo do Curralinho)  ● Colório e herdeiros  ● Zito Coelho (antes, Cadico)  ● Geraldo Melo (do Zé Augusto (antes, João Tatá)  ● Loja do Miguel Sapateiro e vizinha (antigo terreno do João Tatá) ● Bar do Miguel do Duque (antes, antiga Coletoria Estadual, propriedade do Nito do Saturnino)  ● Imóvel do Boanerges / Bar da Maura (antes, José Procópio e Iraci)  ● Imóvel do Quinca do Cici Delegado (antes, professora Nininha e Aurélio e sua padaria e depois, Antônio Resende)  ● Prédio dos herdeiros do Vicente do Açougue (idem, dona Nininha e Aurélio e Antônio Resende)  ● Casa da Sá Pumbica e João Fernandes (português), depois Nico Barbeiro (atual parte dos herdeiros do Vicente do Açougue e os irmãos acima citados)  ● Herdeiros do Antônio Góes (antes, Rosa Belo) ● Esquina do antigo “Beco”, atual rua Pedro Alves ●  Herdeiros do José Lara e Helena Lara (antes, donas Maroca e Aurora, filhas da Sá Custódia, cujo terreno chegava até as Lajes de baixo e os terrenos onde hoje estão a prefeitura e o Bairro das Flores)  ● Roberto Coelho e Lilia Lara (antes, família do Alcides Lara) ● Herdeiros do Antônio Porcino (antes, propriedade do Chico da Costa).

Essas são as casas da avenida Gonçalves Pinto. Talvez seja a rua cujas casas foram mais sofridas. Veja-se a lista das casas que mantêm total ou parcial as características mais antigas: Adenor Coelho - Alcides Carapina - Sá Inacinha – Sérgio Procópio – Neném do Chico Augusto – Bar do Miguel do Duque – imóvel do Boanerges – Imóvel do Barbosinha – Imóvel do Boqueirão – Lúcia do José Augusto – Família do Zé Lara – Roberto e Lilia.

 

Infelizmente, os governantes da nossa cidade não souberam (ou não quiseram) preservar, através de leis (Código de Postura), a rua das mais antigas e, até hoje, a mais movimentada, “onde tudo acontece”... Já começam a aparecer os prédios de muitos andares. Daqui a algum tempo isso vai debandar. Esperamos que os poderes executivo e legislativo acordem (nos dois sentidos...) para criar um Código de Postura. Nos países mais desenvolvidos essas coisas não acontecem. No Brasil...

Por que nossa cidade se chama Resende Costa?

13 de Janeiro de 2016, por Rosalvo Pinto 0

Afinal, meu povo resende-costense, nossa terrinha se chama “Resende Costa” em homenagem ao inconfidente capitão José de Rezende Costa (o Pai), ou ao seu filho, o também inconfidente Conselheiro do Império José de Rezende Costa (o filho), ou, quem sabe, aos dois conjuntamente?

Está aí um problema que, com certeza, jamais passou pela cabeça da grande maioria dos “lagartixas” desta imensa laje e, também com certeza, já terá incomodado alguns estudiosos da nossa história. Adianto, para começo de conversa, algumas considerações para a solução do magno problema.

Começo pelo pai. Além de inconfidente, é tido como um dos fundadores do “Arraial da Lage”, talvez o único nome entre os demais fundadores, pelo prestígio de ter sido um homem rico e de prestígio, preocupado em fazer seu filho estudar no Rio de Janeiro (ou em São João del-Rei?), preparando-o para cursar Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. Além do capitão, pertencente à família Rezende Costa, há notícias dos fazendeiros João Francisco Malta, que comandou, em 1749, a construção da primeira capela (Capela de Nossa Senhora da Pena de França) e Antônio Marques Monteiro, bem como as famílias Alves Preto, Pedrosa de Morais e Pinto de Góes e Lara.

Pouco sabemos sobre o Rezende (Pai), desde seu nascimento em 1730 (data presumida) até o ano de 1789, quando eclodiu em Vila Rica o movimento conhecido como “Inconfidência Mineira”. Sabemos apenas que, pouco antes da eclosão, o capitão estava esperando, provavelmente muito aflito, o momento de encaminhar seu filho para Coimbra, aproveitando a companhia de seu amigo, o padre Carlos Correia de Toledo Melo, que se dirigia para Portugal, também provavelmente para articulações secretas referentes ao levante. Presume-se que o jovem filho (teria 24 anos) não sabia do mesmo e seu pai queria garantir sua ida e tirá-lo de um eventual fracasso da conjuração. O capitão Rezende foi preso em 1791 e condenado, em 1792, a um degredo de 10 anos na África (com a proibição de voltar para a América) e por lá morreu em 1796, aos 66 anos.

O filho do capitão teria sido um dos primeiros a nascer no arraial, em 1765, ou seja, um dos primeiros resende-costenses. E sua vida teve um rumo completamente diferente de seu pai. Preso e julgado como o pai (degredo de 10 anos e proibição de voltar para o Brasil), foi também para a África (Cabo Verde). Cumprida sua pena em 1802, ele conseguiu autorização para ir para Portugal, onde conseguiu trabalho no Erário Real por seis anos. Para sua sorte, recebeu convite para voltar para o Brasil, lá chegando em 1809, requisitado pela Família Real. Trabalhou por muito tempo com as questões da política e do comércio do diamante. Recebeu honrarias importantes, sendo a maior a nomeação para Conselheiro do Império. Em 1839 foi eleito sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Faleceu em 1841, aos 76 anos.

Bem, voltemos aos dois Rezende Costa: qual deles deu seu nome ao Arraial da Lage?

Vamos consultar o autor da mais completa história de Resende Costa até então, o nosso Juca Chaves (Memórias do Antigo Arraial ... de Resende Costa, amiRCo, 2014, p. 61). “Em 1º de julho de 1911, dirigiram os habitantes da Lage uma representação àquela Assembléia [Legislativa, em Belo Horizonte], pedindo a elevação do Distrito à Vila sem foro, (...) cuja criação se cogitava, e que ao novo Município fosse dado o nome de “Resende Costa” em imperecível homenagem ao seu dileto filho e ilustre brasileiro Conselheiro José de Rezende Costa”. E, em nota (4), completa o autor que “A ideia dessa homenagem ao Conselheiro Rezende Costa partiu do respeitável patriota e lageano major Joaquim Leonel de Resende Lara, descendente da família daquele conjurado mineiro” (p.65).

Por fim vale lembrar aqui que, na comemoração dos 100 anos da emancipação do município (2012) um dos pontos altos da comemoração consistiu na colocação da estátua do Inconfidente José de Rezende Costa (Pai). E agora? Não deveria ser a estátua do José de Rezende Costa (Filho)? Ou devíamos homenagear os dois?

 

Brevemente voltaremos a esse assunto. O site do JL está à disposição para um debate.

Paris: santos detalhes, perversos paradoxos

17 de Dezembro de 2015, por Rosalvo Pinto 0

Não é gratuitamente que Paris é a cidade mais visitada do mundo: há motivos de sobra para isso. Chegando por Orly, lá do alto parece que a cidade se derrama diante dos olhos, a partir da Torre Eiffel. O impacto na pista e uma curiosa sensação: bem, você está em Paris! Agora basta começar a andar. Não é preciso andar muito. Um bom giro, despreocupadamente, sem pressa e sem meta, a partir de qualquer ponto. Ou, de preferência, do Quartier Latin e adjacências, estendendo-se até as imediações do Sena, daquele ponto onde você, de repente, leva um susto, ao ver a Île de la Cité e, dentro dela, a silhueta daquela catedral das torres cortadas, cuja representação mental, tal como a da Torre Eiffel, estão há anos esquecidas na memória de qualquer cidadão do mundo.

Andar pelas ruas, devagar, curtindo e degustando tudo, as inúmeras e vetustas igrejas, os imponentes monumentos, os elegantes e grandiosos palácios e edifícios públicos, as tradicionais créperies servindo seus deliciosos crepes, as estações do metrô, os nomes das ruas, que dão a sensação de que você está abrindo as páginas de um interminável hagiológio, desde as famosas boulevards até as estreitas e antigas ruelas, os célebres cafés, os sofisticados e aconchegantes restaurantes, as grandes livrarias, olha ali, na Boulevard St-Germain, a estátua do Danton, aquele dos livros de História! Logo mais adiante, o café frequentado pelo Sartre e por sua inseparável Simone de Beauvoir, e o giro continua, vale a pena parar bons minutos diante de pequenos e grandes detalhes, como a monumental e detalhada portada de Notre Dame ou o impressionante edifício-monumento, dedicado ao arcanjo São Miguel, construído por Napoleão III em 1860, que fecha com chave de ouro e de cascatas a boulevard St-Michel e a praça do mesmo nome, à beira do Sena, ah!, o Sena, com suas magníficas pontes, passar sobre ele, continuar andando, o dia inteiro, sempre, sem rumo e, de repente, as pernas doendo, sentir-se no meio da Pont Neuf, vendo o sol se pôr pelos lados da Torre Eiffel e sobre as águas limpas e brilhantes do rio, as luzes se acendendo por todos os lados, os últimos bateaux-mouches deslizando por baixo de você, iluminados e cheios de turistas, de volta aos seus cais, olha de cá, olha de lá e a sensação de não se saber pra onde olhar ... chega, agora falta apenas escolher a mesa de um café, e, da calçada, curtir o vai-e-vem dos últimos transeuntes de um dia parisiense e, quem sabe, até mesmo tomar dali um táxi para o aeroporto e voltar para casa. Com uma certeza: Paris, realmente, tem que ser a cidade mais visitada do mundo. O resto são algumas fotos e gostosas lembranças no futuro.

Detalhes, contrastes e paradoxos? Como imaginar que a Paris das tantas igrejas e ruas ligadas aos seus santos virou a Paris de tantos pecados e de tanta perdição? Onde estão St-Michel, St-. Germain, St-Sulpice, St-Denis, St-Eustâche, St-Placide, St-Lazare, St-Severin, St-Jacques, St- Étienne, St-Benoît, St-Louis, St-Remi, St-André, St-Gervais, St-Antoine, St-Paul, St-Martin, St-Honoré, Ste-Geneviève, Ste-Madeleine? E as pobres lavadeiras das margens do Sena, que deixaram seu nome numa ruela estreita e curiosa, a Rue des Lavandières, que começa ali na Boulevard St-Germain, estendendo-se até o rio, sob a gloriosa proteção de sua santa padroeira, a Ste-Opportune, onde estarão? Por onde andam os severos monges da Abadia de Cluny, a ordem beneditina que lutava para a moralização da Igreja na Idade Média, cujas monumentais ruínas do século 12 estão bem ali, escancaradas à visitação, na Boulevard St-Michel? Pois é, a Paris dos santos e das santas tornou-se a Paris da luxúria no Moulin Rouge, nos perfumes provocantes das Galeries Lafayette, nos filmes eróticos e heréticos, O último tango em Paris, o La belle de jour, o Je vous salue Marie, a Paris da gula, nos seus templos gastronômicos, da soberba, nos seus palácios monumentais, antes as vestes rudes de seus santos e santas, hoje a capital mundial da haute couture, desfilando seus modelos despudorados, com seus novos deuses e suas ninfetas sensuais, antes a simplicidade das lavadeiras de Ste-Opportune, hoje a modernidade dos narizes aduncos e ameaçadores dos TGV’s, estacionados na Gare de Montparnasse, como feras armando o bote pra saltar dos trilhos, onde a santidade e a sabedoria dos santos de outrora, se hoje os discursos escandalosos de seus filósofos e cientistas agnósticos e ateus? E você, diante de tamanho paradoxo, tem vontade de ir acordando os santos de cada rua em que vai pisando, convocando as lavadeiras do Sena e desenterrando os monges de Cluny para verem sua Paris de hoje, que não é mais deles e muito menos dos parisienses e dos franceses, é de todos os cidadãos do mundo, dos milhares de imigrantes de todas as raças, cores e línguas que você vê pelas ruas e dos milhões de turistas, como você, perdidos naquele delicioso caos.

E, no entanto, Paris é sempre Paris. Desde o século 16, quando Montaigne, o rei dos aforismos, escreveu, não um simples aforismo a mais, mas uma verdadeira declaração de amor a sua cidade:

“Paris a mon coeur dès mon enfance. Je ne suis français que par cette grande cité. Grande sourtout et incomparable en varieté. La gloire de la France et l’un des plus nobles ornements du monde”.

 

Linguagem do amor, dispensa tradução... datada de 24.06.1533, como se lê no pedestal de sua sisuda figura, tranquilamente assentada bem em frente aos templos do saber de Paris, o Collège de France, a Sorbonne. Michel de Montaigne tinha razão. O pecado e a perdição fazem a beleza, o charme e o fascínio de sua cidade. Cidade-luz, como se dizia antigamente, cidade iluminada, você pensa, ninguém vai a Paris impunemente. Experimente perguntar a quem já andou por outras partes do mundo: você tem uma única chance de voltar à Europa, escolha a cidade. É bem provável que onze, entre dez, digam, e com razão: Paris!

Dom José Maria Parreira Lara, o primeiro bispo filho de Resende Costa

19 de Novembro de 2015, por Rosalvo Pinto 0

Dias atrás recebi um texto do amigo Luiz Fernando Reis (Luís do Sylla), trazendo-me a figura do primeiro bispo nascido em Resende Costa e um resumo de sua trajetória de pastor da Igreja Católica. A pequena fotografia e a rápida informação de suas ligações com seus parentes de Resende Costa me chamaram a atenção. Ao mesmo tempo, lembrei-me do precioso livro histórico do Juca Chaves (editado em 2014 pela amiRCo/Coleção Lageana). Pensei também no fato de que, dadas as distâncias e as dificuldades da época em que exerceu o seu bispado, ele teria convivido muito pouco com sua terra natal, seus conterrâneos e parentes. Assim, hoje, dom Lara é pouco conhecido (e lembrado) na comunidade resende-costense. Vou mostrar um resumo de suas atividades episcopais, baseando-me no texto do Luiz e no livro do Juca (p. 226/228).

Começo com as ligações familiares de dom Lara com seus parentes de Resende Costa, transcrevendo o que me passou o Luiz. “Para melhor identificação, Dom Lara era irmão de dona Dulce Lara, uma das primeiras professoras do Grupo Escolar Assis Resende, casada com Francisco Angélico Coelho, que tiveram como filhos Maria Auxiliadora Coelho, dona Marisica [mãe do Luiz, de saudosa memória], também professora no mesmo Grupo Escolar, dona Mirtes e senhor Chico Coelho, ainda vivos e que moram em Resende Costa, dona Meninha, que mora em São João del-Rei, além dos já falecidos Zeto, Miriam, Liá e Ilva.

Dom Lara nasceu em Resende Costa em 3 de junho de 1885. Começou a estudar em Resende Costa, no primeiro colégio da antiga “Villa da Lage”, o “Colégio Resende”, no início do século 20. Passou depois para a escola profissional dos Salesianos em Cachoeira do Campo, onde foi crismado por um cardeal salesiano, dom Giovanni Cagliero, de passagem por aquela comunidade salesiana. Daí passou para o seminário diocesano de Mariana, onde sagrou-se sacerdote pelas mãos do famoso arcebispo dom Silvério Gomes Pimenta.

Em 1915 foi designado para Ponte Nova, onde iniciou a construção da atual igreja matriz de São Sebastião, um dos mais belos templos então levantados em Minas Gerais.

Com a criação da diocese de Barra do Piraí, monsenhor Lara foi nomeado seu administrador apostólico pela Santa Sé, em 1923.

Em março de 1924 foi nomeado bispo de Manaus, no Amazonas. Não chegou a tomar posse, pois, em outubro, por decisão da Santa Sé, foi designado para assumir o recém-criado bispado de Santos, em São Paulo. Sua sagração como bispo foi realizada em São João del-Rei, em 1925, pelas mãos de dom Helvécio Gomes de Oliveira, arcebispo de Mariana.

Em Santos ficou de 1925 a 1934 e dedicou-se aos pobres, com importantes trabalhos pastorais, voltados sobretudo para os necessitados, que lhe deram o título de “Bispo da Caridade”.

Por problemas de saúde, dom Lara solicitou à Santa Sé a sua transferência para a sede vacante de Caratinga, MG, onde continuou exercendo suas atividades de caridade. Em 1936, com a saúde já agravada, ele ainda trabalhava. Em plena visita pastoral, no povoado da capela de São Francisco de Humaitá, paróquia de Mutum, ele veio a falecer. Seu sepultamento em Caratinga foi acompanhado por uma multidão calculada em cinco mil pessoas.

 

Quando foi sagrado bispo, dom Lara veio visitar Resende Costa, nos dias 30 de março a 2 de abril de 1925, por delegação de dom Helvécio, arcebispo de Mariana. Sua terra o recebeu com festas. Juca Chaves relata em seu livro que “reunindo-se, nesse ensejo, a Câmara Municipal em sessão extraordinária, para render a sua Excia. Revma. significativa homenagem que traduziu a grande estima que lhe votavam os seus conterrâneos e o imenso contentamento e justificado envaidecimento deles por vê-lo revestido de tão alta dignidade pelos seus méritos de sacerdote culto e inteiramente voltado à causa de Deus e da Igreja”.  

Resende Costa e os salesianos de Dom Bosco

17 de Outubro de 2015, por Rosalvo Pinto 0

Se todos os meninos que saíram de Resende Costa para os seminários dos salesianos, teríamos muitos sacerdotes resende-costenses. A vinda dos salesianos para São João del-Rei, na década de 1940, atraiu muitos meninos. Entretanto, antes mesmo de ser construído o seminário, alguns da cidade já foram mais longe, para os seminários de Lavrinhas e Lorena (SP). Alguns exemplos: o Joaquim do Quinzinho, que chegou a ser irmão salesiano (entre os salesianos diz-se “irmão coadjutor”), o Zé Aristeu (pai da Lulude e da Bia), o padre Josué, entre outros.

O seminário de São João del-Rei (“Aspirantado”) fazia parte de um projeto dos salesianos no Brasil para, a partir da década de 40, conseguirem chegar ao número de mil seminaristas. Para isso muitos padres salesianos andaram “catando” meninos por muitas cidades do Brasil. Esse projeto foi bastante longe em seu objetivo. Aqui mesmo em Resende Costa tivemos um exemplo: o nosso padre Wander (já falecido, irmão do padre Josué), por onde era designado a trabalhar tornou-se um apóstolo-caçador de vocações. Daqui ele levou para os salesianos o Abel do Quinca, o Dimas do Benedito Teixeira, o Venâncio do Orestes, o Lindomar do Antônio Damasceno,

A bem da verdade, muitos meninos ou moços eram encaminhados pelos pais, não para serem padres, mas apenas para estudar em um bom colégio. Alguns pais, alegando que seus filhos queriam ser padres, conseguiam inclusive a gratuidade nos estudos. Esses meninos, ou não se adaptavam aos rigores do seminário ou acabavam sendo devolvidos aos pais.

Preliminarmente, vale aqui lembrar que não eram somente os salesianos que “pescavam vocações sacerdotais” em Resende Costa. Daqui saíram os padres diocesanos Pedro Pinto, Sílvio Chaves (falecido), José Hugo de Resende Maia, Antônio das Mercês Gomes (falecido) e os três seminaristas filhos do Osório Chaves, o José Silvério Chaves (o Tiná), o Abel Chaves de Mendonça (falecido) e o Aquiles Ratti Chaves (Quilinho)*. Na década de 50 andou pela região, sobretudo em Resende Costa, o padre João Martelo, da congregação dos Camilianos. Ele levou os meninos João Magalhães (hoje ex-padre), o Francisco de Assis Resende (também ex-padre, filho da Sá Cristina), o Tonico do Cartório, o Zito do Zé Henrique e outros. Esses meninos foram para mais longe: Santa Catarina e São Paulo.

Na década de 1950 muitos meninos passaram pelo aspirantado salesiano de São João del-Rei. Um número aproximado de 30 resende-costenses, entre um total aproximado de 240 seminaristas. Passo a citar alguns desses, até aonde chega a minha memória, a começar por mim mesmo, que entrei em 1953:

● Antenor Gomes (irmão do Agenorzinho Gomes);

● Juscelino Resende Pinto e Lauro Resende Pinto (do meu tio, o Sô Alfredo Carcereiro);

● Antônio de Melo (filho do Ademar de Melo, o “Ademar Fon-Fon”);

● Alain Mendes (filho do Sô Francisquinho Mendes);

● Vicente, José e Manuel (Lico), (filhos do Sô Ananias);

● Juvenal (filho do Sô Antônio do Marisco);

● padre David (falecido), o Antônio Bosco e o Ênio (filhos do Sô Lulu Resende);

● Murilo Resende;

● Antônio Sousa Vale (Tonho da Santa);

● José do Rosário (do Sílvio Silva)

● José Lara (falecido), Alcides Lara (“Leda”, falecido) e Paulo Lara (filhos do Sô Alcides Lara);

● Benjamim Reis (filho da Donana do Zé Reis);

● João Bosco Reis (filho do Joãozinho do João Franklin);

● Odilon Resende (filho do Odilon Resende);

● José Antônio (ex-padre), Lauro, Antônio Resende (filhos do Sérgio Alexandre Mendonça);

● Geraldo Resende (filho da Sá Amelina);

● Tarcísio Assis Resende (filho da Sá Cristina);

● Hermínio Soares Resende (sobrinho da professora Judith, do Sô Amantino);**

● José Miguel Salomão (filho do Zé Turco, carpinteiro)**

● Geraldo Melo (Lalado, filho do Sô José Augusto);

● Hamilton Silva (ex-padre) e Geraldo Élson (filhos do Sô Zé Batista do Ciro);

● Francisco Ribeiro da Silva ( ex-padre):

● Padre Diniz da Silva (falecido)

● Padre Ézio de Melo Daher (falecido, filho do João Daher);

● Fábio Ony de Resende e José Victor Resende (filhos do Sô Ramiro e de dona Ninfa);

● Geraldo, Antônio (foi irmão leigo) e José Roman (filhos do Sebastião Nagib);

● Geraldo Délcio Monteiro de Resende;

● Geraldo Maia de Oliveira (Pimpa), João Severino de Oliveira (Poti, falecido) e Nelson Severino de Oliveira) e

● Zito da Lilica.

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* Curiosidade: O Osório Chaves de ter colocado em seu filho mais novo o nome do Papa da época do seu nascimento, o Papa Pio XI. O nome civil do Papa era “Ambrogio Damiano Achille Ratti” e o nome do Quilinho ficou sendo “Aquiles Ratti Chaves.

 

** O Hermínio e o José Miguel, por terem belas vozes (o primeiro, tenor e o segundo, soprano), participaram das famosas “operetas” que se exibiam nas festas principais do seminário.