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Coxinha

15 de Janeiro de 2019, por Cláudio Ruas

Estamos vivendo momentos sombrios na nossa política, mas não vamos falar dela agora não. A “coxinha” da vez não é a adversária da “mortadela”. É uma amiga de todos nós brasileiros, apaixonados e dependentes dessa iguaria nacional, democrática e cada vez mais valorizada para além das fronteiras das estufas de boteco.

Sim, a coxinha é uma comida típica brasileira, que faz parte da interessante família dos salgadinhos. Mas é bom lembrar que, assim como a feijoada, ela tem uma forte influência europeia na sua criação. Pras bandas de lá, existem preparos parecidos não só em Portugal, mas também na França (croquete de frango) e até na Itália, caso do delicioso arancini, uma espécie de bolinho frito feito com sobras de risoto.

Lendas e imprecisões históricas à parte, a coxinha teria nascido na cidade de São Paulo, como forma de baratear o custo das coxas de galinha fritas vendidas nas portas das fábricas. Ao invés de gastar um pedaço inteiro e único, aproveitaram-se as demais partes desfiadas e ainda adicionou-se massa por fora, colocando o osso da coxa na ponta. Mais um típico caso da história da gastronomia em que o improviso fez surgir algo para lá de especial.

O trem deu certo, espalhou-se e foi ganhando novas formas e receitas, como a de lombo de porco, da lanchonete “Charm Country”, entre São Brás do Suaçuí e Entre Rios de Minas. Já o consagrado acréscimo de requeijão catupiry surgiu em Belo Horizonte, lá pelos anos 1970, nas mãos da Sra. Thereza Cristina Pinto Coelho, na sua lanchonete e casa de chá “Doce D’ocê”. Que, aliás, foi reaberta em 2017, tendo mais uma vez a coxinha de catupiry como seu carro chefe. Até bares e restaurantes mais sofisticados trouxeram as coxinhas para o menu de petiscos, sempre pequenas e em versões alternativas, como de pato, rabada, com catupiry servido à parte e coisa e tale.

Outros pontos da nossa capital também têm chamado a atenção pelas suas coxinhas nos últimos tempos. Um deles é o “Empório Vila Árabe”, que, apesar de ser especializado em comidas das arábias (ótimas, por sinal), pegou fama com sua coxinha com catupiry. Enorme, bem feita, com bom requeijão, adequada proporção recheio/massa e sempre fresquinha na estufa. Mais recentemente, outro estabelecimento de Belzonte vem dando o que falar com sua coxinha, o que se imagina, dada a atenção dispensada a ela no preparo. É o “Roça Grande”, um espaço muito interessante, mistura de restaurante, café e empório, pautado na valorização da cozinha de roça. O salgado é preparado com autêntica galinha caipira cozida inteira e todas as partes são aproveitadas. O precioso caldo é incorporado na massa e ainda leva requeijão de raspa distribuído ao recheio. Outro diferencial: as coxinhas são sempre fritas na hora do pedido. Um verdadeiro resgate da coxinha raiz, que infelizmente se perdeu com a produção de alimento em maior escala. Um exemplo a ser seguido, mesmo diante de um natural aumento de custo do produto.

Aqui em Resende Costa também temos algumas boas coxinhas, como a do “Bar do Elmo”, por exemplo. Acompanhada de molho de pimenta e de um refrigerante de abacaxi geladinho, além da boa prosa do dono. Existem ainda duas que chamam bastante a minha atenção. A primeira delas é a da “Venda do Roberto”, no Povoado dos Pinto. Tamanho menor, tempero único e aquele jeito de coxinha de antigamente, cheia de sabor e personalidade. Mas é preciso ter sorte, pois a produção é limitada. Por isso, não há cena melhor do que ver Dona Marilene – a responsável pela iguaria – adentrando no recinto com uma bandejinha cheia delas. Muitas vezes, elas são interceptadas antes mesmo de entrar na estufa, e se acabam por ali no balcão, em meio a goladas de cervejas e talagadas de cachaça.

A outra coxinha especial de Resende Costa é a feita pelo pessoal da APAE e vendida em eventos para arrecadar fundos. D-e-l-i-c-i-o-s-a! Uma pena que não existe uma “Lanchonete da APAE” na cidade para podermos comer coxinha todo dia! Não saberia muito bem explicar tecnicamente o porquê dela ser tão boa. Prefiro dizer que talvez seja pelo amor envolvido no lindo trabalho que todos desempenham naquela instituição.

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