Voltar a todos os posts

Rota do Queijo Vertentes: relato de um produtor participante

16 de Junho de 2021, por Cláudio Ruas

Amana e Cláudio Ruas. O Casal Gastrô produz em Resende Costa o autêntico queijo minas artesanal (Foto arquivo pessoal)

Desde a criação do projeto, fomos agraciados com o convite de participar desse roteiro como produtores do Queijo Minas Artesanal Casal Gastrô, do município de Resende Costa. Iniciativa importantíssima para nossa região, uma vez que traz uma série de benefícios não só aos produtores, mas a toda a cadeia turística e econômica do município e do Campo das Vertentes como um todo.

Vivemos numa cidade, região e estado onde o turismo é de extrema importância e de relevância nacional, inclusive o turismo gastronômico. O visitante que vem para Minas Gerais ou, mais especificamente, para a nossa região não quer só visitar as cidades históricas e aproveitar os artesanatos e as belezas naturais. Ele quer ter experiências gastronômicas. Afinal de contas, Minas é o estado onde a gastronomia pulsa mais forte no Brasil. O turista quer comer bem. Ele quer levar alguma lembrança alimentícia para sua casa ou para presentear. E ele também quer se aprofundar nessa cultura, conhecendo de perto os processos e aqueles que produzem essas iguarias que tanto fazem sucesso no país afora. E dentre as dezenas de alimentos produzidos por aqui há séculos, qual deles é o carro chefe do estado? A resposta é fácil: o queijo.

Minas Gerais é o principal produtor de queijos do Brasil, em suas mais variadas receitas e formas, tanto em escala industrial quanto artesanal. Mas uma receita, em especial, é a que mais se destaca: a do chamado “Queijo Minas Artesanal” (QMA). Nome, aliás, muito confundido com o do “Queijo Canastra”, que nada mais é do que o Queijo Minas Artesanal produzido na microrregião da Serra da Canastra. Tal e qual o nosso Queijo Minas Artesanal do Campo das Vertentes, ou do Serro, de Araxá, enfim, de uma das oito regiões reconhecidas oficialmente como produtoras dessa receita. Tal receita foi trazida pelos colonizadores portugueses vindos das Ilhas dos Açores, justamente para a nossa região do Campo das Vertentes. Daqui, posteriormente, partiram para outros lugares, inclusive para a Serra da Canastra, onde ganhou força e fama a produção, ao contrário do Campo das Vertentes, que viu sua produção artesanal dar lugar aos grandes laticínios, perdendo até mesmo o próprio “saber fazer” dessa receita.

Porém, também é bom lembrar que os tantos queijos brancos (frescos e resfriados) produzidos na região, embora feitos de leite cru em muitos casos, não são considerados como QMA, pois, dentre outras coisas, não levam o “pingo” (fermento lácteo natural extraído da produção do dia anterior) e também não são maturados/curados em prateleiras de madeira e à temperatura ambiente (por 22 dias), como determina a legislação. Essa receita vem sendo resgatada por uma nova geração de produtores ao longo dos últimos anos, inclusive por enxergarem o grande benefício do potencial turístico da região para esse tipo de atividade.

E é aí que entra o importante trabalho desenvolvido pelo Circuito Trilhas dos Inconfidentes, através dessa Rota do Queijo (que abrange, inclusive, produtores que trabalham com outras receitas), na medida em que se encurta o caminho entre o turista (e também locais, empresários etc.) e o pequeno produtor. São importantes a catalogação, o mapeamento, a instalação de placas, a operação com agências de turismo, a divulgação midiática e até mesmo os trabalhos de capacitação.

Muitas vezes falta ao produtor apenas um pequeno (mas importante) detalhe para que ele feche bem o ciclo do seu negócio. Ele faz um ótimo produto, ele preserva as tradições, ele está num lugar bonito e numa região turística, ele é hospitaleiro e tem muita história para contar – e tem até outros produtos e serviços para oferecer. Mas ele não consegue “pescar” o turista que está passando ali pertinho. Ele não consegue dar a visibilidade e o valor comercial à altura da sua produção. Ele tem a faca e o queijo na mão, literalmente, mas acaba não conseguindo cortar esse queijo. E é por isso que nós produtores rurais (não só de queijo) precisamos de reconhecimento e apoio como esse, pelo lindo e duro trabalho e por tudo que ele representa na história do nosso povo e da nossa nação.

LINK RELACIONADO: 

https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/projeto-rota-do-queijo-terroir-com-foco-na-agricultura-familiar/3361

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário