Meio Ambiente

Calçamentos das ruas de Resende Costa (continuação do artigo publicado na edição anterior)

28 de Junho de 2023, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Avenida Tiradentes, em Resende Costa, pavimentada com asfalto (foto Fernando Chaves)

No último texto, falamos que o primeiro revestimento a ser colocado nas ruas do centro da cidade era de pedras medianas irregulares e ligeiramente arredondadas. Em meados do século XX, na gestão do doutor Costa Pinto, ocorreu a substituição desse calçamento por paralelepípedos de granito. Nos anos 70 e início dos 80, algumas ruas do entorno do centro também foram calçadas com esse tipo de pavimento. É também da década de 70, especialmente nos dois mandatos de Ocacyr Alves, a colocação de bloquetes no entorno da igreja Matriz e na parte central, o que se mantém até hoje. No presente texto, abordaremos os outros dois tipos de pavimentos existentes: as pedras miúdas e o asfalto.

Com o crescimento da cidade e a necessidade de pavimentação das ruas, na administração de Gilberto Pinto, em meados dos anos 80, a prefeitura começa a utilizar as pedras miúdas (quebradas). Essas são feitas a partir da quebra de matacões (grandes blocos de rocha) de gnaisse, a rocha mais comum no município. As principais áreas de extração eram: Picada e Viegas (estrada para Coroas), Papagaio (estrada para São Tiago) e Morro do Mané Chico (Catimbau). O processo era simples: retirava o solo ao redor dos matacões, deslocava-os e daí fazia-se a quebra dos mesmos com uso de marretas.

O principal motivo para se utilizar esse material é o baixo custo, além da facilidade de extração, transporte e assentamento. No entanto, existem alguns inconvenientes: a irregularidade das arestas dessas pedras, quando não bem assentadas, gera um calçamento não contínuo, o que provoca uma certa trepidação nos veículos, e o crescimento de vegetação rasteira nos inúmeros espaços entre as mesmas. Nesse sentido, a capina ou o uso de herbicida devem ser periódicos. As vantagens são a infiltração e o escoamento lento da água da chuva, além do fato de que as reformas não deixam modificações significativas, desde que bem executadas a compactação e a recolocação. Isso vale também para o bloquete e o paralelepípedo.

Cronologicamente, as avenidas Alfredo Penido e Ministro Gabriel Passos foram as primeiras a serem asfaltadas, serviço realizado pela empresa que construiu a rodovia LMG-839, inaugurada em 1981. Mas foi na primeira década do século XXI, no terceiro mandato de Gilberto Pinto, que o pavimento asfáltico foi incorporado à estética da cidade, sendo atualmente o mais utilizado. Desde então, vários calçamentos de paralelepípedos e de pedras miúdas foram encobertos com esse material, sendo as primeiras ruas no bairro Nova Resende e a Moreira da Rocha.

Após pouco mais de duas décadas da utilização do asfalto na cidade, podemos fazer algumas reflexões. O recobrimento das pedras miúdas foi benéfico sobre o ponto de vista da melhoria da trafegabilidade e do não crescimento de vegetação rasteira. No entanto, há necessidade de sempre se fazer reparos nos buracos que surgem, especialmente pela ação da água da chuva. Acrescenta-se ainda que os cortes e os remendos (tapa-buraco) deformam muito esse tipo de pavimento.

Infelizmente, aconteceram dois erros crassos na cidade: o asfalto foi colocado em várias ruas antes de a Copasa fazer a instalação da rede de esgoto e, após a instalação da mesma, não se recolocaram as pedras. Assim, há bases e compactações diferentes (pedras e terra) no mesmo local, o que provoca deformações visíveis e recorrentes. Acrescenta-se ainda que a camada asfáltica colocada é fina, o que contribui para diminuir a sua vida útil.

O asfalto é recomendado para vias de tráfego intenso, como rodovias e avenidas. Em Resende Costa, foi construída recentemente a Avenida Tiradentes, visando desafogar o trânsito da Alfredo Penido. O seu pavimento asfáltico está visivelmente comprometido, provavelmente por problemas estruturais na base. Para se construir em área de solo mole (solo encharcado), como é o caso, é preciso fazer corretamente as estruturas internas de drenagem. Como o asfalto é um pavimento que precisa de uma base rígida e estável, o que parece não haver no local, as deformações e as manutenções serão permanentes.

Por fim, percebemos que não há uma continuidade estética nos calçamentos da cidade. E como Resende Costa está numa região turística e o artesanato é o motor econômico da cidade, a parte estética e ambiental das ruas e passeios deveria ser levada em consideração quando da execução de obras públicas.

Calçamentos das ruas de Resende Costa (continuação)

24 de Maio de 2023, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Fotografia antiga dos Quatro Cantos, atualmente travessa entre a rua Assis Resende e as avenidas Monsenhor Nelson e pref. Ocacyr Alves de Andrade

Vamos continuar nossa conversa sobre os calçamentos das ruas de Resende Costa. Falamos que as primeiras ruas a serem pavimentadas foram as da área central (os Quatro Cantos e ruas Gonçalves Pinto, Assis Resende e Padre Heitor) e alguns acessos ao centro. O material utilizado eram pedras medianas de granito/gnaisse, ligeiramente arredondadas, comuns na nossa região. Cabe aqui um destaque sobre esses acessos. A rua Dr. Gervásio era calçada apenas no lado esquerdo de quem está descendo e a Ministro Gabriel Passos possuía pedras miúdas no lado direito e pedras maiores na esquerda. Como esse tipo de calçamento era irregular, o tráfego de pessoas a pé ou a cavalo e principalmente de carros de boi era dificultado.

A mudança do calçamento irregular no centro da cidade aconteceu em meados do século XX, na gestão do ex-prefeito doutor Costa Pinto, quando foram colocados os paralelepípedos de granito. Esse tipo de material, assentado nos anos 70, está ainda visível nas ruas José Jacinto, Joaquim Leonel, Joaquim Pinto Lara, Paulo Silva e partes da Moreira da Rocha. Destaca-se que os paralelepípedos da Rua Maria Cândida de Andrade (a rua da Prefeitura) foram trocados recentemente por bloquetes devido às deformações no calçamento original após a instalação da rede de esgoto. Já em outras ruas (Rua Sete de Setembro e partes das ruas Moreira da Rocha e Padre Alfredo), o calçamento foi encoberto com asfalto há pouco tempo. Registra-se que esse tipo de pavimento deveria ser mantido inalterado em nossa cidade, pois, além da significativa beleza, ele é histórico, pois representa um estilo de calçamento bastante utilizado no século XX, especialmente nas cidades coloniais mineiras.

Os locais de extração de paralelepípedos e de pedras para meio fio foram vários. O primeiro foi nas proximidades da Picada, na beira da estrada de terra para Coroas, de onde provavelmente veio o material da parte central. A partir dos anos 70, a extração foi feita nos terrenos do Antônio Salomão (bairro Mendes), do Agostinho (perto do Viegas), do João Moreto (perto do antigo Aterro Sanitário) e do bairro Nova Resende. Já os paralelepípedos utilizados no calçamento das ruas do distrito de Jacarandira vieram de pedreiras do município de Passa Tempo. Deve-se mencionar que atualmente a produção de paralelepípedos a partir do granito está rara em nossa região, uma vez que para retirada do material exige-se licença ambiental e registro na Agência Nacional de Mineração. Acrescenta-se ainda que na maior parte dos afloramentos de granito existente em nosso município, a rocha está sofrendo um processo de metamorfismo para o gnaisse (pedra utilizada na construção civil) e isso impede o corte retilíneo do material e, consequentemente, a confecção de paralelepípedos.

No final dos anos 70, no segundo mandato do ex-prefeito Ocacyr Alves de Andrade, ocorreu a substituição dos paralelepípedos do centro por um pavimento intertravado feito de concreto, o bloquete, que, na época, era sinônimo de modernidade. Parte dos paralelepípedos retirados foi transferida para a Rua Sete de Setembro e seu entorno. O calçamento com bloquete continua sendo realizado até hoje. Inclusive, há uma parceria entre a prefeitura e a Secretaria de Segurança Pública para a produção do mesmo pelos detentos no presídio de Resende Costa. Cabe ressaltar que a qualidade do material usado na fabricação dos bloquetes é importante. A utilização de cascalho em substituição à brita como agregado no concreto não se mostrou eficiente, uma vez que os bloquetes feitos com esse material quebram mais rapidamente.

Outros dois tipos de calçamentos comuns em nossa cidade são as pedras miúdas (pedras quebradas de gnaisse, as mais comuns, ou de granito) e o asfalto. Esse último tem sido bastante utilizado recentemente, especialmente no recobrimento do calçamento de pedras (paralelepípedos ou pedras miúdas). O que aos olhos de alguns moradores é um benefício, ao longo do tempo não é tão vantajoso para a prefeitura. Ficamos com a frase do promotor Marcos Paulo Miranda sobre o asfalto: “(...) sob a ilusória sensação de modernidade e progresso, homogeneízam a paisagem primitivamente pitoresca de nossas urbes, descaracterizam a ambiência do sítio, violam as heranças do passado e agravam os problemas ambientais.”

 

(Falaremos mais sobre esses calçamentos na próxima edição).

Calçamentos das ruas de Resende Costa

26 de Abril de 2023, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Rua Assis Resende, fotografia do início do século 20 (foto arquivo Coleção Lajeana)

Adriano Valério Resende

 

Em nossa Resende Costa, coexistem quatro tipos de revestimentos nas ruas: paralelepípedos de granito, bloquetes de concreto, pedras quebradas de gnaisse e asfalto. Os calçamentos se misturam, não havendo uma continuidade estética na cidade. Vejamos um pouco de história sobre esse processo.

A pavimentação de estradas é um procedimento bem antigo, que visava a facilitar o tráfego de pessoas, animais e veículos motorizados ou não. Segundo consta, a primeira estrada pavimentada foi construída no Egito para melhorar o acesso às obras das Grandes Pirâmides. Os romanos se aperfeiçoaram na pavimentação de estradas para fins comerciais e militares e também no calçamento de ruas. Também é dos romanos o relato da existência das primeiras vias de mão única, de estacionamento para carroças e até proibições de tráfego de veículos na Roma antiga.

Na América do Sul, o povo Inca foi o primeiro a fazer a pavimentação de estradas, principalmente na parte montanhosa. No Brasil, a primeira via a ser pavimentada, por meio de concessão, foi a chamada Estrada União e Indústria, em 1861, que ligava o Rio de Janeiro, então capital, até Juiz de Fora. Esse também foi o primeiro trecho a ser asfaltado, já em 1928.

As vias urbanas brasileiras no período colonial eram de terra batida. Assim, os calçamentos foram feitos para evitar poeira, barro e buracos. Destaca-se que o material utilizado para o calçamento de algumas vilas litorâneas importantes era proveniente de Portugal. No entanto, o seu transporte para o interior de Minas Gerais ficava inviável.

Os primeiros calçamentos nas vilas mineiras aconteceram na segunda metade do século XVIII. Os materiais utilizados eram, na maioria, pedras arredondadas, que variavam de tamanho: pequenas e médias. Provinham, principalmente, de fundos e margens de rios, os seixos rolados, ou de alguma pedreira local. A técnica era simples, as pedras maiores eram assentadas no solo aplainado e aparelhadas na medida do possível. Os seixos rolados menores, chamados de pé de moleque ou cabeça de negro, eram colocados de forma contígua. Além dos mestres pedreiros, a mão de obra operacional era predominantemente escrava e as ferramentas utilizadas eram picaretas, enxadas e pás. O transporte das pedras era feito em carros de boi.

Em algumas ruas, o destaque era a existência de uma área mais baixa ou uma canaleta calçada na parte central, cuja função era fazer o escoamento da água da chuva, como vemos hoje em Paraty. Em Resende Costa do início do século XX, a rua Assis Resende tinha calçamento apenas na parte central, para escoamento da água da chuva (foto abaixo).

Na segunda metade do século XIX, aconteceram mudanças nos calçamentos. Nas cidades mais movimentadas, como Diamantina e Ouro Preto, foram colocadas lajotas de pedras planas e regulares (geralmente de quartzito) no centro das ruas para facilitar a circulação de pessoas, as chamadas capistranas. Outro fato foi que o calçamento colonial começou a ser substituído por paralelepípedos, que eram pedras cortadas, planas e lisas. Esses eram considerados mais modernos e estavam na moda na Europa. Eram chamadas de “pedras casadas”, pois eram mais regulares e davam um visual melhor para as ruas. Isso aconteceu principalmente em Ouro Preto, Mariana e São João del-Rei, cidades onde esse calçamento perdura até hoje.

Como em toda pequena cidade, as primeiras vias calçadas de Resende Costa estavam na parte central: rua Gonçalves Pinto, os Quatro Cantos, rua Assis Resende, rua Padre Heitor e partes dos acessos ao centro, como a avenida Ministro Gabriel Passos e a rua Dr. Gervásio. O material utilizado eram pedras medianas de granito/gnaisse, ligeiramente arredondadas, comuns em nossa região. O calçamento era irregular, o que dificultava o tráfego de pessoas e carros de boi. Provavelmente, em meados do século XX, o pavimento da parte central da cidade começou a ser substituído para paralelepípedos de granito. Alguns exemplares ainda estão visíveis na cidade: partes das ruas Moreira da Rocha e José Jacinto.

 

(continua na próxima edição)

O pavimento asfáltico e a questão ambiental

29 de Marco de 2023, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Adriano Valério Resende

 

A pavimentação mais utilizada no Brasil é o asfalto, principalmente em vias de tráfego intenso, que são as rodovias e as avenidas. Nas áreas urbanas tem aumentado o seu uso, até mesmo no recobrimento de pavimentos já existentes, sejam eles de pedras, paralelepípedos ou pisos intertravados (bloquetes), como é o caso de Resende Costa. Mas, o que parece ser uma solução rápida para as prefeituras, ao longo do tempo pode se tornar um problema, tanto no quesito durabilidade quanto no ambiental.

A utilização do asfalto remonta ao período antes de Cristo, por exemplo, com os babilônios e os gregos. Na América, no início do período colonial, ele foi encontrado in natura pelos europeus na Venezuela, mais especificamente na Ilha de Trindade. Era utilizado inicialmente como impermeabilizante, selando reservatórios, aquedutos e cascos de navios. As primeiras pavimentações asfálticas foram realizadas ainda na Antiguidade, no Oriente Médio.

O asfalto tem origem no petróleo, podendo ser obtido naturalmente em lagos pastosos (lagos de asfalto) ou artificialmente, em escala industrial, através do aquecimento do óleo bruto nas refinarias, passando por processos físicos e químicos (destilação fracionada). Os subprodutos asfálticos são os materiais que permanecem no fundo da torre de destilação, que são os asfaltenos, resinas e hidrocarbonetos pesados (em especial os betumes).

Sobre a questão ambiental, o asfalto, por ser um subproduto do petróleo, é um combustível fóssil não renovável e sua utilização causa danos ambientais, tanto na extração quanto no beneficiamento. O componente asfalteno faz parte de uma das classes de compostos químicos mais poluentes. Alguns tipos de asfalto utilizam o querosene como solvente, que pode contaminar o solo quando aplicado em excesso e sua evaporação pode causar danos aos trabalhadores. Já existem pesquisas mostrando que, mesmo depois de implantado, o asfalto continua a liberar misturas complexas poluentes, em especial para as águas. Outra questão a ser mencionada é a emissão de material particulado fino em dias muito quentes.

No que se relaciona à pavimentação, a sua utilização tem pontos negativos e positivos. As desvantagens são: o pavimento asfáltico é impermeabilizante, o que não permite a infiltração da água da chuva, favorecendo o escoamento rápido e, consequentemente, as enchentes; o custo-benefício do asfalto depois de instalado é mais elevado, uma vez que é necessário fazer manutenções periódicas; esse pavimento é o que mais absorve calor por causa, principalmente, do albedo, o que gera desconforto para os pedestres nas grandes cidades; ele é menos resistente às variações diurnas de temperatura e de umidade (o que é comum em clima tropical como o nosso), causando maior incidência de trincas, rachaduras e até a desintegração total.

As vantagens são: é um pavimento silencioso para o trânsito de veículos e flexível, visto que sua estruturação feita em múltiplas camadas permite boa resistência às tensões sobre a faixa de rolamento; seu tempo de aplicação é menor do que o pavimento de concreto e a execução é feita por máquinas automatizadas; é um piso impermeável, quando bem feito, protege todo o pavimento contra infiltração, ferrugem e outros fenômenos; os veículos geralmente transitam com maior rapidez e segurança, já que a aderência dos pneus nesse material é maior.

É notório que a pavimentação de ruas melhora a mobilidade de veículos e de pessoas e evita transtornos como poeira e lama. O asfalto é uma das várias opções para calçamento de ruas e muitas vezes é tido como sinônimo de progresso. Inicialmente, sua utilização parece ser vantajosa, mas, em curto prazo, há sérias desvantagens. Por isso, a utilização de pavimentos mais ecológicos deve ser valorizada e mantida em ruas de baixo tráfego, a exemplo do piso intertravado e do paralelepípedo.

Em Resende Costa, existem basicamente quatro tipos de revestimentos nas ruas: pedras quebradas de gnaisse, paralelepípedos de granito, bloquetes de concreto e asfalto. Recentemente, quase todas as ruas de pedras foram cobertas com asfalto, o que é bem visto pela maioria dos moradores. No entanto, precisamos ter um olhar mais crítico sobre a questão.

 

(Falaremos sobre os calçamentos de Resende Costa na próxima edição)

Trinta anos da ECO-92

19 de Marco de 2023, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Entre os dias 3 e 14 de junho de 1992 foi realizado no Rio de Janeiro um evento ambiental que ficaria na história: a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Cúpula da Terra, Rio-92 ou ECO-92. Reuniram-se representantes de 179 países, sendo 108 líderes políticos e milhares de representantes de associações ambientais. O grande desafio até então era conciliar desenvolvimento econômico e social com a preservação dos ecossistemas terrestres.

Os antecedentes e as bases da ECO-92 foram a primeira Conferência sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo na Suécia em 1972, e o Relatório Brundtland, também conhecido como Nosso Futuro Comum, publicado em 1987 pela ONU. Esse Relatório apresentou o contraste existente entre alta produção/consumo exagerado de bens com a ideia de sustentabilidade, enfatizou a questão da destruição ambiental e apontou a melhor forma para combatê-la. Nesse sentido, foi introduzida a ideia do desenvolvimento sustentável, que é utilizada até os dias atuais. Eis a definição original: “Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas” (CMMAD, 1987).

Além de verificar a execução dos princípios da Declaração de Estocolmo, a ECO-92 oficializou o conceito de desenvolvimento sustentável. Assim, foi trazido para debate uma proposta até então inovadora, que relacionava questões ambientais, econômicas e sociais. Na Conferência, os líderes mundiais assumiram compromisso pela defesa do desenvolvimento sustentável, ressaltando sua importância para a redução dos impactos ambientais causados pelo homem, que se mostravam cada vez mais intensos. Outros assuntos abordados foram as mudanças climáticas, a necessidade de se preservar a biodiversidade e diminuir os desmatamentos.

Os participantes da ECO-92 chegaram ao consenso de que os países ricos possuíam um padrão de desenvolvimento que se fosse atingido pelos países em desenvolvimento poderia causar impactos irreversíveis ambientalmente. Ressalta-se que, por ter sido sediada no Brasil, o país se tornou um grande protagonista e defensor da questão ambiental.

A participação da sociedade civil foi muito importante no evento. Além das reuniões oficiais, vários encontros, abordando as temáticas discutidas na ECO-92, foram promovidos pela sociedade civil. Para se ter uma ideia, participaram do evento cerca de 1.400 organizações não-governamentais de diversas nacionalidades, representando interesses variados. Tal participação deixava claro que a questão ambiental não é responsabilidade só dos chefes de Estado, os cidadãos também estão envolvidos e possuem um papel importantíssimo nessa temática.

A Conferência resultou na elaboração dos seguintes documentos oficiais: Carta da Terra; Convenções sobre Biodiversidade Biológica, Desertificação e Mudanças climáticas; Declaração de Princípios sobre Florestas; Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento e Agenda 21. Os dois últimos foram considerados os mais importantes.

A Agenda 21 foi um plano de ações com o objetivo de elaborar e implementar medidas voltadas ao desenvolvimento sustentável e assim criar soluções para os problemas socioambientais em cada localidade do globo. Já a Declaração do Rio foi um documento contendo 27 princípios universais com o intuito de estabelecer um acordo internacional capaz de respeitar o direito de todos os povos e comunidades de estabelecer uma vida produtiva e harmônica com a natureza e reconhecer a importância da cooperação internacional para implementação do desenvolvimento sustentável.

Após a ECO-92, foram realizadas mais 3 Conferências Mundiais: Rio+10, Rio+20 e Estocolmo+50.Todas elas convergem para as mesmas questões fundamentais: limitar o poder do homem de alterar a natureza e a necessidade de preservá-la garantindo a continuidade da vida na Terra. No entanto, as metas e as ações continuam sendo postergadas. Por fim, a pergunta é: até quando?

 

Luíza Barbosa Guimarães – aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG.

Adriano Valério Resende – Professor CEFET/MG.