O Estado Islâmico - Parte 2
17 de Marco de 2016, por João Magalhães 0
Quem vem acompanhando a situação do Oriente Médio nos últimos tempos, nos países de maioria islâmica, vê constantemente os desentendimentos, até violentos, entre sunitas e xiitas. Afinal, quem e que significam ser sunita ou xiita?
Após a morte de Maomé (570-632, d.C), o supremo profeta de Alá, ou o fundador do Islamismo para os não muçulmanos, aconteceu um cisma religioso entre seus seguidores. Separaram-se pelo desacordo sobre quem deveria suceder Maomé, como califa do Islã. Os sunitas achavam (e acham) que a sucessão cabia a Abu Bakr, pai da mulher de Maomé e amigo pessoal dele. Para os xiitas, o califa deveria ser Ali Ibn Abi Talib, primo e cunhado de Maomé.
Explicando um pouco os nomes: sunita vem de Ahl al Sunnah: o Povo do Caminho”; xiita provém de Shi’at Ali, que significa Partido de Ali e Califa vem de khalifâ: lugar-tenente, sucessor, título de soberano muçulmano. Portanto, califado, termo usado hodiernamente por causa dos territórios conquistados pelo dito Estado Islâmico, é um território governado por um califa.
Hoje, os sunitas são maioria: aproximadamente 87 a 90% da população muçulmana. Os xiitas, em torno de 10 a 13%. São maioria apenas no Irã; 95% da população iraniana é xiita.
Mas demografia não significa controle político. Por exemplo, na Síria, ainda em trágica guerra civil, a maioria é sunita, mas o poder está, há anos, com os Al Assad que são alauítas, uma corrente do islamismo xiita. No Bahrein, a maioria é xiita, mas a liderança é sunita. O Iraque, de maioria xiita, foi governado por anos pelo ditador sunita Saddam Hussein.
Convém observar que esses movimentos não são monolíticos. Entre os xiitas há ramificações com diferentes interpretações quanto à sucessão de Ali. Há um ramo que acredita que houve 12 líderes, chamados imãs, após Maomé. Entre os Sunitas há, também, várias escolas de pensamento, com interpretações diferentes da lei islâmica.
E outros, como o Sufismo, com sua ênfase nos elementos espirituais e místicos da fé, que tem vínculos tanto no sunismo quanto no xiismo e um grupo predominante em Omã, que se sente predecessor das escolas sunita e xiita. E há mais.
Acho importante considerar o comentário de Adam Taylor, jornalista do Washington Post (in Oesp,7/7/15 A10): “O cisma entre os movimentos sunita e xiita começou de modo sangrento, com Ali Ibn Abi Talib assassinado e seu sucessor morto e degolado em batalha. No decorrer dos anos, a minoria xiita às vezes foi perseguida por autoridades sunitas e vice versa. Posteriormente, quando a dinastia Safávida estabeleceu o islamismo xiita como religião de Estado da Pérsia, entrou em conflito com o califado sunita que tinha sua base no império Otomano (Império turco). Mas representar a rivalidade entre os dois grupos como um choque constante é totalmente equivocado. Sunitas e xiitas viveram muito felizes juntos, casando-se entre si e compartilhando locais de oração. E além disso, onde havia confronto entre eles, ocorriam também choques com outras religiões nesses períodos. E como alguns observaram, jamais houve uma guerra entre sunitas e xiitas com a ferocidade da Guerra dos Trinta anos, que envolveu diferentes movimentos cristãos - e que segundo estimativas deixou 8 milhões de mortos. A divisão entre sunita e xiita também diminuiu no início do século 20 com o aumento dos movimentos nacionalistas árabes. O movimento Baath, que chegou a dominar o Iraque e a Síria, mesmo com partidos políticos separados, enfatizava o nacionalismo e o socialismo acima de divisões religiosas”.
Infelizmente não é o que acontece hoje. O mundo muçulmano está dividido em seitas, cujas forças se contrapõem. É o caso da guerra civil na Síria, dos combates no Iêmen, das profundas tensões no Paquistão e no Afeganistão, do emperramento político do Iraque etc.
Os grupos de países liderados pelas grandes potências: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, China etc. não são neutros a estas situações sócio-políticas. Pior, não são unidos. Há apoio para sunitas e apoio para xiitas, o que torna muito difícil a solução dos conflitos.
É dentro desses campos rivais que brotam os grupos fanáticos, radicais, fundamentalistas, cada um a seu modo, que adotam o terrorismo como estratégia de luta e apavora, sobretudo nosso mundo ocidental, cujo exemplo mais em evidência é o Estado Islâmico.
Loas e lástimas
*Loas para Janaina Resende e Beatriz Resende pela indicação e comentário que fizeram, respectivamente, na coluna “Vc no JL” sobre “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago e “Rangers: Ordem dos arqueiros – Ruínas de Gorlan” de John Flanagan.
*Lástimas para a Agência do Banco do Brasil de Resende Costa que no final de semana, sábado e domingo, 27 e 28 de fevereiro, deixou alguns clientes sem dinheiro (inclusive eu). Numa cidade em que muitos estabelecimentos não aceitam cartão, isto não pode acontecer.
O Estado Islâmico (Parte 1)
16 de Fevereiro de 2016, por João Magalhães 0
Se o filósofo Emmanuel Mounier (1905-1950) - nosso grande apóstolo do Personalismo Humanista - escrevesse hoje seu livro, em vez de intitulá-lo “Sombras de medo no século XX”, quiçá escrevesse “Nuvens de pavor no século XXI”, tais as barbaridadesque estão acontecendo por obra do terrorismo, que sempre existiu, mas que agora universalizou, pois tem todos os fantásticos avanços tecnocientíficos a seu dispor.
O mundo moderno ainda tem áreas bem amplas de governo teocrático. Ou seja, organizações políticas dominadas por organizações religiosas. Teocracias diretas com dirigentes religiosos sendo também chefes políticos, ou indiretas, com a doutrina, os dogmas, os princípios e até as leis religiosas sustentando a ideologia e os procederes políticos de nações. É o caso de alguns países do mundo islâmico.
Nas teocracias, quem diverge é herege, é infiel, é inimigo do deus de sua crença, o único verdadeiro. Há que discriminá-lo, combatê-lo, eliminá-lo fisicamente, se preciso for.
Na propagação e sustento das teocracias, o papel do fanatismo é fundamental. Ele é o instrumento de ação. Quem arregaça as mangas, puxa o gatilho, maneja a adaga que corta o pescoço, veste o cinturão de bombas e se explode junto, é quase sempre o fanático. Mas, o que é o fanatismo?
O mais famoso escritor israelense atual, Amós Oz, cujo livro mais recente: “Como curar um fanático” a Companhia das Letras publica agora, ele próprio detestado pelo fundamentalismo do partido rabínico de Israel, favorável que é à criação do Estado Palestino, diz: “O crescimento do fanatismo pode ter uma relação com o fato de que quanto mais complexas as questões se tornam, mais as pessoas anseiam por respostas simples. Fanatismo e fundamentalismo muitas vezes têm uma resposta com uma só sentença para todo sofrimento humano. O fanático acredita que se alguma coisa for ruim, ela deve ser extinta, às vezes junto com seus vizinhos. O fanatismo é muito antigo. É mais antigo que o Islã, o Cristianismo e o Judaísmo. Mais velho que todas as ideologias”.
Assim, praticamente, toda religião tem seus fanáticos, sobretudo as chamadas religiões do livro, por exemplo, Cristianismo, Judaísmo, Mórmons, Islamismo, Espiritismo e muitas outras. Aqueles que seguem e defendem a letra de seus livros sagrados como valor absoluto: a verdade está na letra, na forma do escrito.
E cito o jornalista e escritor Flávio Tavares (“A fanática visão única” OESP, 18/11/15 A2), ao comentar as barbaridades que estão acontecendo: “Todo fanatismo tem fundo religioso (A meu ver, no sentido de adesão a uma força maior em que se acredita, seja um partido, um time, um líder etc.). O fanatismo político que criou os campos de extermínio de Hitler, Stalin ou Pol-Pot, ou o fanatismo no futebol, que mata o desconhecido torcedor adversário, têm seu nascedouro na visão da ‘verdade única’”.
“A religião em si não é culpada. A culpa vem da religiosidade fanática, sem amor nem ternura”. São José Maria Escrivá (santo do século 20) a interpretava como extensão do fetichismo e da superstição. Sim, pois o ventre do fanatismo é místico-religioso. A visão fanática provém do pensamento único de seita. “Deus fala e age somente por nós, que somos a verdade única”.
José Maria Escrivá foi um padre espanhol, canonizado pelo papa João Paulo II, que fundou a instituição católica “Opus Dei” que também, como todo movimento, deve ter os seus fanáticos.
Por falar em livro “Mein Kampf” (Minha Luta) de Adolf Hitler voltou aos noticiários por cair no domínio público. Qualquer pessoa pode publicá-lo. Publicado em 1925, contém o programa político do líder Adolf Hitler, responsável pela morte de milhões de pessoas, assassinato programático dos judeus, desolação da Europa e tudo mais.
Escreve o jornalista e intelectual francês Gilles Lapouge: “Em 1930, o livro encontrou seu público e, após 1933, tornou-se a bíblia do regime (nazista). Edições de luxo eram feitas. Jovens casais recebiam um exemplar do Mein Kampf de presente de casamento. Como Hitler era um homem sensível, exigiu que sua obra fosse publicada em braile, para que os cegos também pudessem usufruir dela. Ficaram assim sabendo que, em 1925, o jovem Hitler previa que, no futuro Grande Reich, os ‘deficientes’ seriam eliminados e os ‘povos inferiores’ seriam escravizados pelos ‘superiores’”!
Um soneto a São João Del Rei
19 de Novembro de 2015, por João Magalhães 0

Ilustração (Lucas Lara)
Desta vez abandono o espírito da coluna, que é o de abordar assuntos polêmicos requisitando a opinião do leitor. Desta vez, apenas uma curiosidade.
Mexendo, por este meio tempo, na bibliografia de apoio, acumulada por anos para o ensino da literatura infanto-juvenil, no Colégio Stella Maris, São Paulo, capital - textos teóricos e obras, que retenho até hoje - dei com um livro da professora Carolina Rennò Ribeiro de Oliveira: “Leituras Escolhidas”. Ainda na capa: “Como escrever sem erros. 5º ano e admissão”.
Carolina Rennò merece mais que esta ligeira apresentação. Mineira de Paraisópolis, nascida em 1902 e falecida em 1975. Estudou contra a vontade do pai (renunciou por isso até a própria herança). Fez carreira em São Paulo, onde é nome de escola. No começo, lecionava em escolas da periferia. Vocação de educadora e grande talento, cria um nome pela inovação na metodologia do ensino, no pioneirismo em livros didáticos, fundando até uma editora (Editora do Mestre Ltda).
O “admissão” levou minhas lembranças para a época em que fazer o curso ginasial (atual 5ª a 8ª séries) era difícil e o postulante era submetido a uma espécie de vestibular para conseguir uma vaga. Eram comuns, então, os cursinhos preparatórios, chamados de “Cursos de Admissão”.
O seminário menor dos padres camilianos em Santa Catarina (Iomerê, distrito da cidade de Videira, hoje município) exigia, conforme o estado do ingressante, o curso de admissão que era oferecido pelas Irmãs Marcelinas, aí vizinhas.
Cito isso para elogio do nosso respeitável “Assis Resende”: a formação intelectual que recebíamos de nosso Grupo Escolar era de primeira. Para se ter uma ideia, tirávamos o diploma de grupo dominando a análise sintática (antigamente análise lógica!).
Chegando com as aulas já iniciadas no seminário, fui convocado pelo diretor (padre Jorge Davanzo, camiliano) para um teste. Ficou impressionado pelo ensino recebido no Assis Resende e dispensou-me de imediato do curso “Admissão”.
De novo o “Assis Resende” me tirou de grande aflição. Aulas de latim iniciadas havia mais de um mês, fiquei à deriva, confuso, entendendo pouco. O caminho se abriu quando percebi que o latim é estruturalmente ligado à análise sintática. Sem sabê-la, ninguém aprende latim e graças ao nosso Grupo Escolar eu a sabia e muito bem. Daí pra diante foi um pulo.
Mas voltemos ao título: “Um soneto a São João”. Folheando o livro citado eis que vejo o soneto abaixo, ipsis litteris:
SÃO JOÃO D´EL-REI
Pereira da Silva
São João d`EL-REI. Gente de paz e amiga.
Igrejas seculares. Clima são.
Serenidade que não há quem diga
Tal como a sente, ao vivo, o coração.
Relíquias reais. Siga por onde siga
Encontra, a cada passo, o homem cristão
Um motivo de culto ou admiração
Pelos heróis da nossa história antiga.
Rio das Mortes. Tiradentes. Quanta
Venera imorredoura nesta santa
Jerusalém da nossa liberdade!
Cidade a um tempo augusta e merencória
Mas, por igual, padrão de orgulho e glória
Do sangue fértil da brasilidade.
Pereira da Silva? Quem seria? Com este sobrenome só conhecia Oscar Pereira da Silva, pintor, de quem aprecio muitos quadros.
O Google me respondeu: Antônio Joaquim Pereira da Silva, advogado, poeta, crítico literário e jornalista paraibano, atuando no Rio de Janeiro (*Araruna/PB 1876 - +Rio de Janeiro 1944). Foi o primeiro paraibano a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Uma inquietante afirmação do papa Francisco
17 de Outubro de 2015, por João Magalhães 0
A meu ver, o papa Francisco colhe um respeito e admiração, quase unânime, ao menos em nosso mundo ocidental, devido à autoridade moral que conquistou por suas atitudes, seu profundo senso do humano, seu profícuo desempenho no campo diplomático, sua pregação muito ecumênica, sua preocupação com os problemas fundamentais da Terra e de seus habitantes. Sua encíclica “Laudato Sì” é um dos exemplos.
Restringindo-se ao catolicismo, mais que Pontífice é pastor, mais que “Sua Santidade”, é a simplicidade de Francisco de Assis. Quem, como eu, vibrou com a alvorada iluminante do Concílio Vaticano II e entristeceu-se com névoas opacas vindas depois do papa Paulo VI, o Papa Francisco cria, com seu pontificado, uma nova esperança. Tem assumido corajosas posições, usadas quando necessário palavras duras e, até mesmo, impondo punições. Sobretudo, de seus comportamentos transcende um profundo humanismo.
Quando vi e ouvi pela TV e li sua declaração, no avião, voltando de sua exitosa visita a Cuba e Estados Unidos: “A objeção de consciência deve estar em toda estrutura jurídica porque é um direito”, achei oportuno pensar um pouco com os leitores sobre esta afirmação.
Segundo a mídia, foi a resposta que deu à pergunta que lhe foi feita sobre se ele apoiava indivíduos que se recusam a acatar algumas leis, como a da emissão de licenças para casamentos gays. Sua resposta foi que o direito à recusa é uma questão de "direitos humanos"
Segundo o “Estado de S. Paulo” (29/9/15 A13): “As declarações de Francisco foram dadas horas depois de o prefeito de Filadélfia, Michael Nutter, defender os direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LBGT) em discurso após a visita de Francisco à cidade. “Nos Estados Unidos, todos têm direitos”, disse o prefeito, católico e ex-coroinha na infância. “A nossa comunidade LBGT tem o direito de continuar a luta pelos seus direitos”.
O fato que motivou a pergunta sobre a opinião do papa certamente foi a prisão da funcionária municipal do Estado de Kentuchy (EUA), Kim Davis, por se recusar a emitir uma certidão matrimonial para um casal gay, desobedecendo à decisão da Suprema Corte dos EUA, que legalizou casamentos de pessoas do mesmo sexo.
Ressalvando que a frase do papa possa ter sido descontextualizada ou até muito simplificada, como foi apresentada, acho que comporta objeções. Tratando-se de funcionários públicos ou de quem trabalha em órgãos públicos, num conflito entre dois direitos, o direito de objeção de consciência não deve prevalecer. Não prevalece a pessoa do funcionário que é um trabalhador do Estado, vale o direito da pessoa que necessita de seu serviço.
Nos anos de capelania religiosa no Hospital dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo (IAMSPE), por várias vezes fui chamado para tentar convencer os pais, ou responsáveis legais, a permitir a transfusão de sangue a seus filhos menores, prática, na época, proibida pelas “Testemunhas de Jeová”. Hoje, não sei se ainda permanece.
Lembro-me de casos de exsanguineotransfusão (troca do sangue), alguns na pediatria. Ou se fazia, ou se morria. Negavam a permissão pelo argumento de consciência: pecado, Deus não permitia. Direito de objeção de consciência?! Preferiam a morte do filho ou incapaz! E o direito deles à vida?
Entre o direito à vida e o direito à objeção de consciência, o que prevalece? Uma coisa é desobedecer a uma lei, invocando a própria consciência e arcando com as consequências.
O caso é outro, quando você, sendo responsável por função, descumpre um preceito, ferindo direitos do outro. Nesse caso, acho que não se pode invocar o direito de objeção de consciência. Um médico, por exemplo, seguidor de uma religião que proíbe transfusão de sangue, atendendo num hospital público, sendo único, portanto não tendo possibilidade de transferir o trabalho para um companheiro, pode se recusar, invocando direito de consciência?
E os que se recusam a servir o exército, outro exemplo, invocando a objeção de consciência por serem fiéis de uma religião que proíbe?
É o que penso. E você?
Uso de droga é crime?
17 de Setembro de 2015, por João Magalhães 0
No Brasil é. Não é sujeito a prisão, mas é crime. Correm no país dois assuntos polêmicos: a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, projeto já aprovado pela Câmera Federal em 2º turno e a descriminalização do uso e porte de droga para consumo próprio em processo de julgamento pelo STF e já com voto favorável do relator, ministro Gilmar Mendes.
Restrinjo-me ao problema da descriminalização. Assunto candente, porque o uso de drogas, por ora proibido, se estende a todos os rincões da nação.
Trata-se de decidir sobre a constitucionalidade ou não do art.28 da lei 11.343 de 2006 que criminaliza “quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal” e “quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica” (§1º) Penas: “I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III- medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Argumenta-se que a lei fere o art. 5º da Constituição Federal, no qual se prevê que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Há, porém opiniões desfavoráveis à modificação da lei. Por exemplo: pesquisa da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) mostra que 60% dos juízes são a favor da proibição; a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil); o próprio atual procurador geral da República, Rodrigo Janot. Descriminalizando, segundo ele, o tráfico se fortificará, dando origem a um “exército de formigas”, espalhando mais facilmente as drogas aos lugares mais inacessíveis.
Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes apresenta a postura legal de 18 países; destes: 12 são nossos irmãos de Continente (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Costa Rica, Honduras, Jamaica, México).
Nenhum dos 18 criminaliza. Mais da metade (11) nem medidas administrativas apresenta, mas a grande maioria concretiza medidas quantitativas para distinguir o usuário do traficante, que acho muito sensato.
Por exemplo: Peru: 10g de cannabis (maconha), 5g de pasta de cocaína, heroína e derivados de opiáceos. Espanha: 25g de haxixe, 100g de cannabis, 3g de heroína,7,5g de cocaína.
Conforme o ministro, em seu extenso voto, a lei fere o livre desenvolvimento da personalidade e autodeterminação; afigura-se excessivamente agressiva à privacidade e à intimidade; o usuário, frequentemente em estado de fragilidade, é pechado como criminoso e discriminado; a penalização pode atrapalhar e até impedir medidas mais eficazes quanto ao consumo e sua regulamentação... entre outros argumentos.
Sustenta, em síntese, que o dispositivo constitucional em destaque (art.5º) protege as escolhas dos indivíduos no âmbito privado, desde que não ofensivas a terceiros. Decorreria dessa proteção, portanto, que determinado fato, para que possa ser definido como crime, há de lesionar bens jurídicos alheios.
Para o procurador-geral de São Paulo, Márcio Rosa, a proposta fortalece a atenção ao usuário de drogas, ao mesmo tempo em que não afasta o caráter nocivo do consumo.
Estou com o ministro Gilmar Mendes. Estamos vivenciando um processo de absurdo de zerificação da pessoa humana. Época de atitudes subanimais. Degolas, afogamentos ou cremações de vivos em gaiolas de ferro, raptos, estupros coletivos, pessoas em decomposição em caminhões-baú à beira de estradas, contrabando de seres humanos, trabalhos forçados... são mostrados pela mídia e curtidos por milhares nas redes sociais. Crianças assistindo ao vivo e até fuzilando. População apoiando, vibrando e até se divertindo.
Ética, direitos humanos e dos animais, justiça, misericórdia etc., onde encontrá-los? É a absoluta desumanização.
Deve-se fazer legislação, em benefício da pessoa e de todo ser vivente. Protegê-los, ampará-los. Solidificar seus direitos é função primordial de qualquer lei. Criminalizar uma pessoa, só quando alguma atitude sua prejudicar o outro. É o que penso. E você?