Posse e início do paroquiato em Resende Costa


Especial centenário de nascimento do monsenhor Nélson

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fotoIgreja matriz praticamente concluída no início dos anos 50

Um longo e profícuo paroquiato iniciou-se em Resende Costa no dia 15 de março de 1944. Após nove meses como vigário-coadjutor em Visconde do Rio Branco e seis anos também como coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei, padre Nélson Rodrigues Ferreira é designado pároco de Nossa Senhora da Penha de França de Resende Costa, aos 30 anos de idade.

A posse do novo pároco de Resende Costa, que substituiu o padre Heitor de Assis, não aconteceu em meio a pompas e não contou também com grande número de pessoas da cidade. Toninha Lara, amiga de muitos anos do padre Nélson, se recorda de ouvir o amigo e diretor espiritual se lembrar do dia da sua posse: “Ele falava sorrindo que quando chegou aqui dormiu a primeira noite na casa do Sr. Nico de Souza, conhecida hoje como “Pensão do Boqueirão”, e que naquela ocasião recebia as pessoas importantes que vinham à cidade. Padre Nélson contou que tinha pouca gente durante a sua posse e que, por isso, foi preciso buscar os alunos do Grupo Escolar Assis Resende para recebê-lo na igreja”.

Antes de receber a ordenação presbiteral, padre Nélson já sonhava em trabalhar em um lugar que preservasse as tradições religiosas e cultivasse a piedade do povo: “Ao terminar os meus estudos, já nas vésperas da minha ordenação sacerdotal, eu dizia para meus colegas: desejo trabalhar em uma paróquia, onde muito posso aprender com um vigário culto, piedoso e zeloso; em uma paróquia onde haja muitas irmandades, onde eu possa aprender a lidar com as irmandades”.  O desejo do jovem sacerdote se realizou rapidamente: “Deus, pelas mãos do meu então arcebispo, me manda para a cidade de Visconde do Rio Branco, para trabalhar com o culto e zeloso monsenhor Solindo José da Cunha e daí nove meses sou enviado para a cidade de São João del-Rei, onde, sob a orientação dos virtuosos monsenhor Sylvestre de Castro, cônego  Antônio Carlos Rodrigues, monsenhor Modesto de Paiva, padre Osvaldo Torga e cônego Mário Quintão, trabalhei durante 6 anos completos”, disse padre Nélson em discurso realizado em Resende Costa no dia 4 de abril de 1962, durante as comemorações dos seus 25 anos de sacerdócio.

A Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, hoje Catedral Basílica da Diocese de São João del-Rei, ofereceu ao padre Nélson, no início do seu ministério sacerdotal, tudo aquilo com que ele sonhava ainda no seminário, ou seja, a orientação de cultos e zelosos sacerdotes e muitas irmandades. Até hoje a paróquia do Pilar mantém a existência de diversas irmandades e vem sendo administrada por virtuosos sacerdotes, como o monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, falecido no dia 3 de março deste ano, e que foi pároco durante 60 anos na Catedral do Pilar.

Já com pouco mais de seis anos de sacerdócio e 30 anos de idade, chegou o momento em que padre Nélson receberia a sua primeira paróquia. Em Visconde do Rio Branco e São João del-Rei, o jovem padre adquirira conhecimento e experiência pastoral necessários para administrar a sua própria paróquia, agora como pároco. Resende Costa foi a escolhida pelo arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, para ser a primeira paróquia do padre Nélson. Criada em 1840, a paróquia de Nossa Senhora da Penha de França teve doze párocos antes de 1944. Padre Nélson sucedeu ao padre Heitor de Assis, que ficou famoso na cidade, entre outras obras pastorais e administrativas, por demolir a antiga igreja Matriz no final da década de 1930. Padre Heitor iniciou a construção da atual Matriz de Nossa Senhora da Penha.

 

As primeiras obras

A continuidade da construção da igreja Matriz foi uma das primeiras realizações do padre Nélson em Resende Costa. Mas antes disso, ele teve que reformar a Casa Paroquial, conforme relatou no Livro do Tombo da paróquia, em 1944: “Não convém ficar em silêncio. Tendo chegado a esta paróquia foi esta a nossa primeira preocupação, reformar, ou melhor, ‘retocar’ a Casa Paroquial. Mau grado nossa inexperiência em qualquer espécie de consertos, mau grado alguns insucessos  com oficiais, obras e materiais, graças à boa vontade de todos, conseguimos, depois de quatro meses, terminar os serviços da reforma. Fizemos também nessa ocasião, julho de 1944, muitas compras de objetos e roupas para a Casa Paroquial. Tudo ficou em seis mil cruzeiros, aproximadamente”.

Também em 1944, padre Nélson comprou uma nova cômoda para guardar os paramentos da igreja matriz e “retocou o cemitério, que se encontrava já bastante estragado, com as paredes denegridas e esburacadas”. Mas a obra de grande envergadura foi mesmo a construção da igreja matriz. Quando aqui chegou, padre Nélson encontrou a igreja cercada por andaimes, ou seja, tudo estava para ser construído.

Transcrevemos do Livro do Tombo a síntese que padre Nélson fez, em 1955, de todo o processo de reedificação da igreja matriz.

“Como coroamento dos esforços de todos os que nos últimos 16 anos vêm trabalhando na reforma ou reedificação da matriz pudemos ver neste fim de ano a realização de nossos sonhos e nossos anseios, na bênção litúrgica de 11 de dezembro. Iniciadas as obras a 10 de maio de 1939, depois de tantos imprevistos pudemos terminá-la anteontem, com a última mão de tinta no serviço de pintura (9/12/1955).

Houve grandes interrupções nas obras. Em 1944, a matriz já estava em função, mas faltava o piso da capela-mor e coro, os altares todos. As obras estavam paralisadas, já havia uns dois anos. Reiniciamos as obras dia 18 de julho de 1945 com a recolocação do altar-mor, reforma do engradamento, colocação de novas telhas e limpeza externa. Em julho de 1947, colocamos os primeiros vitrais, em agosto colocamos o piso da capela-mor, degraus de mármore, mesa da comunhão e piso do coro. Em fevereiro de 1948, colocamos dois altares laterais que, no ano passado, foram para a igreja do Rosário. De setembro de 1948 até 1951 nada se fez porque estávamos trabalhando no pagamento das casas que compramos do Dr. Costa Pinto para que os protestantes não as comprassem.

Até 1952, nada fizemos por causa das obras do salão paroquial. Até 1953, as obras do Rosário se tornaram mais urgentes. Em 14 de julho de 1954, reiniciamos o serviço com a pintura, decorações, capitéis, instalação de água na sacristia, colocação de calhas, limpeza externa. Com a aproximação do fim do ano, começamos a pensar na bênção da matriz. Veio-nos a ideia de inaugurá-la com as ordenações sacerdotais.

Escrevemos ao Sr. Arcebispo que, com grande pesar nosso, nos respondeu não ser possível sua vinda. O fato de um dos ordenandos ter se incardinado na Diocese de Juiz de Fora nos fez lembrar do Sr. Bispo de Juiz de Fora. Escrevemos nova carta ao Sr. Arcebispo que mui generosamente nos deu todas as licenças autorizando o Sr. Bispo de Juiz de Fora e ao seu auxiliar a fazer a bênção, ordenações sacerdotais e crismas.

Entramos em contato com o Sr. Dom  Othon Mota. Contato pessoal em duas viagens a Juiz de Fora, e tudo se arrumou. Os diáconos José Hugo de Resende Maia e Antônio Gomes seriam ordenados. Sua Excia. foi festivamente recepcionado na tarde do dia 10 de dezembro, tendo sido saudado pelo Dr. José da Costa Lôures, promotor de justiça.

Às 09h30min do dia 11 deu-se início a procissão da Casa Paroquial à matriz; todas as irmandades estavam paradas nesta procissão. À porta da matriz o coro dos seminaristas salesianos de São João del-Rei entoou o Ecce Sacerdos. Terminada a cerimônia da bênção (da igreja) iniciaram-se as cerimônias das ordenações”.

No livro do Tombo padre Nélson descreve passo a passo as obras de reedificação da matriz. O texto que transcrevemos acima é apenas a síntese que ele faz da obra. Ele descreve, por exemplo, a colocação dos vitrais e a pintura da capela-mor, ficando esta última a cargo do pintor Weber Lacerda. Recebe destaque o cuidado do pároco com a montagem do altar-mor de Nossa Senhora da Penha: “Atendendo às ordens de Sua Excia. Revma. Sr. Dom Helvécio Gomes de Oliveira, quando em visita pastoral em 1944, satisfazendo  também os anseios do povo, demos  início, dia 8 de julho de 1946, à colocação do altar-mor em seu atual lugar, com a colaboração do “Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, o SPHAN, que nos enviou seu arquiteto Dr. Edgard Jacinto da Silva”.

Outras obras importantes foram realizadas na paróquia pelo padre Nélson no início do seu paroquiato. Entre tantas podemos destacar a construção do salão paroquial, atual CPP, que contou com a valiosa colaboração do padre Adelmo Ferreira da Silva, seu vigário-coadjutor, e a ampla reforma da igreja do Rosário. Escreveremos sobre a reforma da igreja do Rosário na edição de outubro, quando se completarão os 60 anos da sua ampliação. A “ampla reforma”, conforme disse padre Nélson, deixou a igreja tal como a vemos hoje.

 

Monsenhor José Hugo de Resende Maia, ordenado sacerdote em 1955, se recorda da fé viva e do zelo “pelas coisas de Deus”, que marcaram o ministério sacerdotal do padre Nélson: “Convivi com ele durante 5 anos, 2 meses e 17 dias, como coadjutor. Edificou-me pelo espírito de uma fé viva, inabalável nas verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. Pela firmeza em viver essas verdades e em passá-las para os seus paroquianos. O que ele ensinou, ele viveu na prática. Edificou-me também pelo seu zelo pelas coisas de Deus, como pela igreja matriz, construída pelo padre Heitor de Assis, e por ele, carinhosamente, terminada, com inauguração e bênção por Dom Othon Mota, na ocasião bispo de Juiz de Fora, no dia 11 de dezembro de 1955. Dia em que padre Antônio das Mercês Gomes e eu fomos ordenados padres, os primeiros padres ordenados em Resende Costa”.

Comentários

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    Há uns quarenta anos atrás, quando eu ainda não conhecia Resende Costa pessoalmente, as pessoas me diziam que era a cidade do Padre Nélson. Sinceramente eu achava que ele era um resende-costense. Monsenhor Nélson muito fez pelo Município, mas que isso: entregou-se, literalmente, de corpo e alma à cidade de seu coração. Foi muito louvável a iniciativa de se registrar a passagem deste pároco no Arraial das Lajes. Parabéns!


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