Abrindo novos caminhos

Resende Costa e os cenários das próximas eleições municipais

14 de Abril de 2016, por José Venâncio de Resende 0

Cenário político eleitoral de Resende Costa ainda está indefinido. Foto André Eustáquio.

Num sábado de Julho de 2012, um grupo de cinco pessoas saboreava uma pizza no La Fontana e conversava sobre vários assuntos, inclusive política, quando o Bacarini (Luiz Esequiel de Resende) perguntou: “Sabe quem vai ganhar a eleição em Resende Costa?” Para nossa surpresa – os outros eram este repórter, André Eustáquio, João Magalhães e uma outra pessoa que preferiu não ser identificada -, Bacarini afirmou que Aurélio Suenes venceria. Ao que reagimos: “Você está louco? Onde você arranjou isso?” Na época, já se falava no nome do atual prefeito, mas a candidatura nem registrada estava. E, além disso, os adversários eram dois “pesos-pesados” - o petista Adilson Resende (que buscava a reeleição) e o tucano Gilberto Pinto.

O atual prefeito, agora no PSD, sonha com o que parece quase impossível: uma coalisão de todas as forças políticas de Resende Costa em torno de um projeto para atravessar a atual crise. “O povo ganharia com isso. O próximo mandato vai ser mais difícil do que o atual por causa da incerteza decorrente desta crise política sem fim. O sensato seria juntar os interesses de todos os partidos em torno de um único projeto.”

Admitindo que esta é uma proposta utópica, Aurélio volta à realidade ao tentar juntar o máximo possível de partidos numa coligação. Acredita que a tendência é repetir a aliança com o PMDB e aguarda a decisão do PSDB; embora reconheça que todos os partidos que tenham algum tipo de liderança possam vir a lançar candidatos.

O fato é que os partidos devem jogar com os prazos definidos em instrução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por este calendário eleitoral, em 2 de Abril (seis meses antes) venceu o prazo para que candidatos a cargos eletivos estejam filiados a partidos. Entre 20 de Julho e 5 de Agosto, serão realizadas convenções partidárias para deliberar sobre coligações e escolha de candidatos (prefeito e vereador).

Nunca foi tão real a frase atribuída ao ex-governador mineiro Hélio Garcia - “candidatura, só depois da Semana Santa; e campanha só depois da Semana da Pátria” -, lembra o ex-secretário da Educação e militante do PT, Adriano Magalhães. Por isso, no partido, prevalecem as conversações à definição de nomes de candidatos. “Claro que temos nomes com história no município, como ex-prefeitos; e o partido tem legado pois já passou por duas administrações”.

Adriano acredita que se deve repetir a tradição de chegar à convenção partidária com um nome consensual. Mas existem algumas condições para essa escolha. “Primeiro, deve-se levar em conta se a pessoa tem interesse, tem vontade (vale para prefeito e vereadores). E, segundo, se consegue compor a maioria”. Dentro dos planos, estará a tentativa de ampliar a média histórica de três vereadores, que representa um terço da Câmara Municipal.

No PSDB, persiste no ar a dúvida sobre o caminho a ser trilhado pelo partido. Órfão de sua maior liderança, Gilberto Pinto, o PSDB local vai continuar a luta, fazendo valer a sua história, promete José Gouvêa Filho, Zinho. “Falta definir se o partido vai com chapa própria ou em coligação. Tradicionalmente as decisões são tomadas antes da convenção”.

Comentam-se nos bastidores que o PMDB poderá abrir mão da vaga de vice para facilitar a coligação com o PSDB. O presidente do partido, Francisco Abel de Assis, o Abel do Nenego, prefere transferir qualquer manifestação nesse sentido para a executiva municipal. Mas ele confirma a intenção do PMDB de não lançar candidato próprio, devendo assim continuar na coligação com o atual prefeito.

No PDT, o presidente da diretoria provisória, Galhardo D´Ângelo de Sousa, diz que o partido vai trabalhar com o calendário eleitoral antes de decidir que rumo a ser seguido. Ele garante que o partido quer ampliar a presença na Câmara (conta apenas com o vereador Marcos Chamel) e já foi procurado por outros partidos para discutir possível coligação. Mas não descarta o lançamento de candidatura própria.

 

Trunfos. Em busca da reeleição, Aurélio aponta, entre suas realizações, a Mostra de Artesanato – já na sua quarta edição – e a solução da questão do lixo. Nos dois primeiros anos, a prefeitura assumiu integralmente a mostra e, a partir do ano passado, garante a logística (estandes, palco, som etc.), enquanto o setor, por meio da ASSETURC (Associação das Empresas do Turismo e do Artesanato de Resende Costa), se responsabiliza pela produção do evento.

Quanto ao lixo, Resende Costa envia o resíduo não-reciclável (rejeito) para um aterro sanitário em Sabará (Centro de Tratamento de Resíduos Macaúbas). Com isso, o município (considerado exemplo no Estado) deixa de agredir o meio ambiente e atende à legislação, beneficiando-se com o resultado do ICMS Ecológico.

O prefeito está ciente das dificuldades e das incertezas geradas pelas crises política e econômica. Por isso, diz que tem procurado agir de forma preventiva, mantendo as contas públicas municipais em equilíbrio.

Apesar dos desafios, Aurélio quer terminar a obra da nova avenida (em andamento), para desafogar o trânsito na entrada da cidade, e transformar a Avenida Alfredo Penido em calçadão (projeto está pronto), com a circulação de veículos e facilidade de estacionamento, de maneira a facilitar a vida do turista – uma “porta de entrada da cidade”.

Aurélio cita, ainda, o projeto em execução de sinalização de rodovias, através do Circuito da Trilha dos Inconfidentes, no qual a prefeitura já investiu cerca de R$ 20 mil. “O nome de Resende Costa vai aparecer em pelo menos 20 placas nas principais rodovias.” Outra medida foi a criação em 2014 do “Encontro de motociclistas das Lajes”, com participantes de todo o Brasil.

O prefeito destaca o papel relevante das parcerias (verbas empenhadas ou já executadas) com deputados durante a sua administração (2013-2016). Entre os parlamentares federais, o deputado Diego Andrade viabilizou R$ 1,894 bilhão (aquisições de caminhões e de lixeiras, recapeamentos de ruas e construção da nova avenida); o deputado Domingos Sávio, R$340 mil (aquisições de VAN e equipamentos para saúde, trator agrícola e implementos); e o deputado Reginaldo Lopes, R$ 200 mil (calçamento de ruas).

No âmbito estadual, o deputado Wander Borges viabilizou R$ 1,033 bilhão (APAE, Associação dos Apicultores, construções da sede da AMAT - Associação dos Moradores e Amigos do Tejuco e de praça no Bela Vista e aquisições de VAN/veículo, ambulância e medicamentos para a Saúde e equipamentos para o hospital, além de retroescavadeira e material esportivo); o deputado Cristiano Silveira, R$ 100 mil (aquisição de equipamentos para o hospital), o deputado Ivair Nogueira, 70 mil (aquisição de veículos para saúde); e o deputado Rômulo Viegas, 30 mil (aquisição de veículo para assistência social).

Uma das aspirações de Aurélio é reduzir o deficit de infraestrutura (calçamento de ruas, iluminação, rede de água e esgoto etc.), a partir da regulamentação em vigor de novos loteamentos. Também gostaria de concluir a rede de esgoto, “princípio básico de uma civilização”, que tem apenas 35% prontos, mesmo assim ainda não ligados à estação de tratamento de esgoto (ETE). Considera a rede de esgoto um desafio à próxima administração, com custos estimados pela Copasa em cerca de R$ 7 milhões.

Por fim, defende que se invista mais no desenvolvimento local (artesanato, revitalização das lajes e de praças etc.), no bem-estar da população (pista de caminhada até o trevo do Bairro dos Palmares, cujo levantamento topográfico está pronto) e na promoção da cidade (por exemplo, projeto de “portal de entrada” no trevo).

Em seu projeto de poder, é inevitável que o PT inclua em seu programa de governo o saneamento básico, em especial a conclusão da rede urbana de esgoto (centro, Avenida Alfredo Penido, bairros novos etc.). “Esse deve ser um compromisso de campanha do partido”, assegura Adriano. Adriano explica que as propostas vão ser definidas ao longo dos debates e da escolha das candidaturas (prefeito e vereadores).

Adriano enaltece as parcerias da administração anterior com governos federal e estadual, por intermediação de deputados, principalmente Reginaldo Lopes. Assim, foram firmados convênios que resultaram em programas como Creche-Escola; Minha Casa, Minha Vida e PAC 2 (renovação da frota de veículos para o transporte escolar, caminhões e máquinas). Parte dos recursos direcionados à educação (via MEC) foi destinada à construção de quadra coberta e aquisição de móveis escolares, entre outros.

Essa linha de trabalho deve ter continuidade numa eventual administração petista, de acordo com Adriano Magalhães. Recursos de transferências voluntárias, por meio de parcerias com deputados e governos, são importantes porque se destinam basicamente a investimentos (calçamento de ruas, construção de pontes, aquisição de veículos, postos de saúde etc.).

 

Cenários. Três cenários, possíveis na próxima eleição, são analisados com a colaboração do ex-vereador Bacarini. No primeiro cenário, com quatro candidatos, as chances se igualam, mesmo com um PT enfraquecido no âmbito nacional. “Na pior das hipóteses, tira o favoritismo de um dos candidatos.”

Numa eleição com três candidatos, o quadro continuaria embolado, sem favoritismo, avalia Bacarini que não vê muita diferença entre os dois cenários “porque a quarta candidatura pegaria votos flutuantes”.

No cenário com dois candidatos, Bacarini vê o atual prefeito como favorito numa disputa com o PT. “O Aurélio é um candidato forte, tem certo favoritismo porque detém o poder, está bem na administração e é um bom articulador.”

Considera que a rivalidade entre PT e PSDB é reduzida pela presença de uma terceira força, o PSD do prefeito. Daí porque acha uma coligação entre PSD, PSDB, PMDB e talvez PDT tornaria Aurélio imbatível.

 

Mas, quase quatro anos depois da pizza no La Fontana, Bacarini faz uma aposta mais arrojada: Aurélio pode sair candidato único na próxima eleição. A conferir.

Disputa eleitoral em São Tiago será acirrada, entre correntes políticas tradicionais

17 de Marco de 2016, por José Venâncio de Resende 0

A campanha eleitoral deste ano em São Tiago promete ser acirrada, polarizada, embora o atual prefeito não confirme a sua candidatura à reeleição. Mas parece estratégia para ganhar tempo. Irimar Mendes diz que a decisão vai depender de contatos políticos, no interior do seu partido, o PMDB, e com os aliados, assim como de uma avaliação da administração. Na mesma linha, o presidente do PT, Alisson José de Sousa, também informa que vai consultar o partido sobre o futuro da coligação.

Já o ex-prefeito Denilson Reis (PSDB) assume publicamente que é pré-candidato, imbuído de uma missão “e também porque sinto que existe uma convocação popular para que eu assuma a prefeitura de novo”.

Os dois candidatos, adversários ferrenhos, são herdeiros políticos do capitão João Pereira Santiago (1849-1933), uma das mais marcantes personalidades do município em todos os tempos, segundo o boletim cultural Sabores & Saberes (Ano III – XXVII – Dezembro/2009).

A oposição tem discurso afiado nas críticas à atual administração. O presidente do PSDB, Marino da Assunção Coelho, é direto: “Eu não sou muito de criticar, mas tem que falar a realidade”. E desfia uma série de denúncias: “o prefeito criou a indústria das multas; na saúde, faltam remédios, transporte para pacientes e médicos; acabou com a usina de compostagem e reciclagem do lixo; interrompeu o programa de cultura e turismo da cidade e não colocou nada no lugar; não apoiou iniciativas no esporte e acabou com o campeonato municipal”.

E vai além: “Foi um grande erro ter perdido o casal de médicos Rodolfo e Ludmila”. Na área cultural e turística, reclama que o prefeito interrompeu a parceria com o Fórum Cultural de Empreendimentos de São Tiago (FOCEST) que mantém o forno da praça. No esporte, indaga: “O que esperar de uma administração que quer destruir o campo de futebol municipal de Mercês de Água Limpa?” E, na questão ambiental, informa que a usina de lixo foi implantada com apoio da Universidade Federal de Viçosa para durar 30 anos.

 

O prefeito refuta. No início da sua gestão, perdeu os três médicos, mas contratou quatro a cinco profissionais para atuar nos postos de saúde. Dos quatro médicos atuais, todos vinculados ao Mais Médicos, o profissional que atuava no bairro Cruzeiro acabou de ser desligado do programa.

O prefeito garante ainda que a usina está funcionando normalmente. Ou seja, o material reciclável é separado para a venda (licitação pública) e os resíduos não aproveitáveis são direcionados às valas na própria usina, de acordo com as regras ambientais. Esses resíduos serão transportados para uma empresa licitada pelo Consórcio Intermunicipal de Gestão e Desenvolvimento Ambiental Sustentável das Vertentes (CIGEDAS), do qual São Tiago faz parte, até que seja construído um aterro sanitário comum talvez em São João del-Rei. Irimar diz ter um projeto praticamente pronto para melhorar as condições de recepção, armazenagem e destinação do lixo, a ser encaminhado à aprovação do Legislativo.

Na cultura/turismo, o prefeito discordou de alguns procedimentos do FOCEST e por isso solicitou à Câmara Municipal retirar a subvenção de R$ 12 mil mensais. “Continuamos fazendo tudo o que o FOCEST fazia”, assegura, como aulas de música e arte, Festa do Café com Biscoito e outros eventos, inclusive dois novos (Enduro e Festa do Carro de Boi).

O campo de futebol, diz, é o único terreno que atende às exigências do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), como contrapartida à construção de uma escola pró-infância em Mercês de Água Limpa. “Se abrirmos mão dessa escola, será difícil conseguir outra.” Além disso, “o uso do atual campo não é recomendado por questão de segurança”. O prefeito tem compromisso de iniciar nesta gestão a construção de novo estádio de futebol (área em negociação), desde que a Câmara aprove por se tratar de permuta.

No início da gestão, o prefeito não deu apoio ao campeonato municipal porque alguns times queriam “importar” jogadores, com o que não concordava por ser esporte amador. “Sou contra buscar jogador fora com dinheiro público”. Nos esportes em geral, diz que as quadras da cidade e de Mercês de Água Limpa estão à disposição da comunidade.

“Dentro do que nos propusemos, na atual conjuntura econômica estamos fazendo milagre”, resume Irimar. “A prefeitura não deve a funcionários e fornecedores.” Para ele, “o governo nos ceifa na receita e nos onera nas despesas”. Em 2015, por exemplo, a receita municipal das transferências constitucionais (Fundo de Participação dos Municípios e ICMS) cresceu menos do que a inflação (entre 4 e 5%). Do lado das despesas, não sabe se poderá dar reposição salarial aos funcionários (exceção a quem recebe salário mínimo e piso do magistério) para não ultrapassar o limite de gastos com pessoal fixado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (54% da receita corrente do município).

Apesar das dificuldades, o prefeito enumera suas realizações: recapeamento de ruas; reforma da parte térrea da prefeitura, das escolas municipais e das quadras de esportes; conclusão da praça de esportes (“talvez uns 15% do total dela”); revitalização da praça em Mercês de Água Limpa; ampliação da frota de 32 para 50 veículos (saúde, educação e obras); e – “trunfo maior” – pagamento da folha salarial no último dia útil do mês). “Também estamos pagando dívida da administração anterior em relação ao Poliesportivo” (ginásio coberto).

O prefeito diz que pretende iniciar, ainda nesta gestão, calçamento de ruas, construção de escolas - na cidade (12 salas) e em Mercês de Água Limpa – (investimentos de R$ 4,6 milhões) e das sedes próprias do SAMU e da Secretaria Municipal da Saúde (cerca de R$ 950 mil); e reforma do estádio do Tupinambás F.C. (em parceria com os governos estadual e federal).

Para o presidente do PSDB, “a cidade tem de ser devolvida aos verdadeiros donos, o povo, e voltar a ser alegre”. Denilson aceita o desafio: “Eu tenho responsabilidade com a minha terra, em áreas como saúde, educação, cultura e turismo. E o principal: fazer o poder público local voltar a dialogar com a sociedade ”.

O ex-prefeito assume que quer colocar à disposição da população sua experiência em gestões anteriores e nos últimos anos na Gerência Regional de Saúde, onde trabalhou na “ampliação da capacidade de atendimento do SUS na região, em parceria com o CISVER (Consórcio Intermunicipal de Saúde das Vertentes)”.

Para Denilson, alguns fatores vão pesar na campanha eleitoral deste ano: as eleições obedecem a particularidades de cada município; existe o sentimento nacional de mudança; e haverá uma comparação entre o legado do grupo de Aécio Neves e os atuais mandatários.

 

Economia criativa. O presidente do conselho de administração do Sicoob Credivertentes, João Pinto de Oliveira, defende maior ousadia para alavancar a economia de São Tiago, com base na modernização administrativa e na sustentabilidade. A começar por um planejamento estratégico para o empreendedorismo, implantação de uma agência de desenvolvimento/fomento e um plano diretor.

A ideia é trabalhar a gastronomia e o artesanato, numa visão de economia criativa. Dar ênfase à “culinária de fogão” e outras tradições, resgatar modalidades artesanais do passado. São Tiago poderia ter, por exemplo, uma oficina culinária, desafia João Pinto. “Nós já temos um banco de dados culturais, com milhões de receitas”. Em resumo, “trabalhar as nossas raízes culturais (tradições, valores), que estão harmonizadas com as demandas de qualidade de vida (alimentação, natureza etc.).”

 

 

Lagoa Dourada

 

O secretário de Educação de Lagoa Dourada, Afonso de Campos Maia, esclarece que, quando ocupou o mesmo cargo na administração José Valter Vieira, já era filiado e militante do PT. “O que houve, no final do segundo governo tucano em Lagoa Dourada, foi o rompimento da coligação feita em 2004 com o PSDB.”  

Lagoa Dourada: cautela em falar de nomes para as próximas eleições

16 de Fevereiro de 2016, por José Venâncio de Resende 0

Pêgas x Braquiárias, de olho lá.

O município de Lagoa Dourada já é líder regional na produção agrícola. É também grande produtor de ovos e leite, as principais matérias-primas do famoso rocambole. 

Na política, não é diferente. A agropecuária está representada nas duas tradicionais correntes partidárias, oriundas dos tempos de PSD e UDN: os pêgas (PMDB) de um lado da trincheira e os braquiárias (PSDB), do outro. É um dos raros exemplos de município no Brasil onde o bipartidarismo é historicamente consolidado, e aguerrido.

Ainda está um pouco cedo para falar de eleições municipais - faltam cerca de oito meses – até porque a população anda meio arredia diante da exposição na mídia das vísceras do poder central e adjacências, contaminados pelo vil metal. E as lideranças políticas estão pisando em ovos, para continuarmos na linguagem agropecuária. 

Tanto é assim que se evitam falar de nomes para prefeito. O único possível candidato citado abertamente é o vice-prefeito João Costa – tocador de obras dos tempos ainda do prefeito Vicente Sebastião da Costa, o Vicentão, de quem é irmão – que tem a preferência do atual prefeito Antônio Mangá. “Ele acompanha de perto desde o conserto de um mata-burro até a construção de uma ponte”, resume o presidente do PMDB, Vinicius Cristiano Vieira de Resende. 

Vinicius admite que outros dois nomes estão sendo discutidos dentro do partido - são de gerações mais novas e não necessariamente ocuparam cargos públicos. Porém parece que João Costa só não será candidato se houver alguma restrição de ordem médica. Tanto que fontes próximas ao prefeito Mangá garantem que não existe “plano B” para esta eventualidade.

Tão certo quanto o nome é a garantia de que deverá ser mantida a parceria com o PT que emplacou o atual secretário de Educação, Afonso de Campos Maia, e assegurou o apoio político tanto na Câmara Municipal quanto nos âmbitos federal e estadual por meio dos deputados Reginaldo Lopes e Cristiano Silveira.

Aliás, é bom lembrar que Afonso foi secretário de Educação em boa parte das gestões do tucano José Valter Vieira, quando então mudou para o PT. É um dos raros casos em que um secretário de Educação dura tanto tempo no cargo.

O presidente do PT, Harley Magno Lima, confirma que a parceria com o PMDB tem tudo para continuar porque os resultados são altamente positivos. Ele garante que os dois partidos vão marchar juntos e sinaliza o apoio ao atual vice-prefeito. “Ele já foi vereador, é carismático, tem experiência na parte de obras e é um vice muito ativo.”

No PSDB, a situação ainda é indefinida, nem sequer um nome está na praça. Seu presidente, Mário Joaquim Vieira Filho, revela que existem sugestões de oito a 12 nomes, pessoas jovens entre 40 e 55 anos, cuja característica principal é a de serem pequenos empreendedores que se ascenderam pelo esforço próprio. Dessa forma, ele descarta a aposta em nomes de mais experiência como algum ex-prefeito.

A ideia básica seria formar uma nova geração de políticos, explica Marinho. “Eu sou cobrado constantemente por um nome. O pessoal do partido está ansioso por isso.” Outra ideia seria aglutinar o máximo de partidos numa coligação de oposição, entre os quais DEM e PR.

A atual administração vai focar a campanha em suas realizações, conta o secretário de Agropecuária, Antonio Barreto Pereira Neto. Ele cita as áreas de infraestrutura (melhores estradas vicinais, pavimentação de vias públicas, novo centro administrativo, etc.), de saúde (novos PSFs, moderno centro médico, convênio com Unimed para funcionários, esgotamento sanitário etc.) e de educação (aquisição de ônibus escolares, transporte facilitado para estudantes universitários etc), além de renovação geral da frota e construção de casas populares com infraestrutura. Mas Antonio Barreto está convencido de que a grande obra é a rede de coleta e tratamento de esgoto, no valor da ordem de R$ 4 milhões, entre 80 e 90% já prontos.     

Do lado da oposição, a visão é de que a atual administração herdou da gestão anterior uma prefeitura saneada e ainda recebeu apoio dos governos tucanos no âmbito do Estado. Mas a crença é de que a eleição será uma luta entre Davi e o gigante Golias. O receio é de que a estrutura financeira e o peso dos poderes federal e estadual desequilibrem a balança eleitoral.

Daí porque a tendência da oposição é de federalizar a campanha, tentando explorar o desgaste político principalmente do PT nacional. Na linha da verticalização, preocupa a situação o fato de que PSDB se poderá apresentar com uma campanha unificada na microrregião da Vertentes na tentativa de recuperar as prefeituras perdidas (atualmente, tucanos e aliados administram apenas duas prefeituras na região).

 

Segurança. A explosão da agência do Banco do Brasil em Lagoa Dourada, no apagar das luzes de 2015, acende o sinal amarelo da insegurança municipal. É uma questão que deveria ser tratada para além das divergências partidárias, mesmo em ano eleitoral. Conversas que tive com autoridades regionais ligadas à segurança pública e ao poder judiciário apontam o caminho da mobilização da sociedade civil local, acima das correntes políticas, para fortalecer o policiamento de Lagoa Dourada. Entre as sugestões, estariam a luta política pela volta da Comarca (o município já teve Comarca no passado) – que abriria possibilidade de reforço da logística e do pessoal das polícias Civil e Militar –, a nomeação imediata de um delegado fixo em Lagoa Dourada e - quem sabe! – a criação de uma guarda civil municipal.

SJDR e os primeiros movimentos da campanha eleitoral de 2016

13 de Janeiro de 2016, por José Venâncio de Resende 0

Os candidatos que estão de olho neste prédio...

As eleições municipais deste ano parecem distantes. Mas a movimentação entre partidos e candidatos a prefeito (e vereadores) já começou em São João del-Rei. Nada definitivo! É como uma nuvem que a cada instante está de um jeito, já dizia o velho político mineiro Magalhães Pinto.

Pelo panorama de hoje, o ex-reitor da UFSJ, Helvécio Reis, é candidatíssimo à reeleição pelo PT. Nivaldo Andrade e Jorge Hannas devem reeditar a dobradinha que já governou a cidade, desta vez pelo PDT. O professor do IPTAN Rômulo Viegas, numa ampla coligação liderada pelo PSDB, tentará emplacar a sua experiência administrativa e parlamentar. Outros nomes, como o de Adenor Simões (PSB), também postulam o cargo mas alguns estão propensos a participar de coligações.

Duas teorias estão na praça: a primeira é de que as candidaturas de Nivaldo Andrade e de Rômulo Viegas vão dividir votos e beneficiar o candidato do PT; a segunda é de que os dois principais candidatos de oposição vão “roubar” votos de Helvécio Reis.

A novidade é que o PMDB (protagonista nos governos federal e estadual do PT) acabou em São João del-Rei, com a migração do grupo de Jorge Hannas e Nivaldo Andrade para o PDT. Até mesmo o peemedebista histórico Roque Silva Filho abandonou o partido. Em Minas, o PDT é oposição e em Brasília está rachado, com parte inclusive defendendo o impedimento de Dilma Rousseff. Espera-se que, em Abril, os vereadores peemedebistas Stefânio, Gilberto e Rodrigues apaguem a luz e ingressem no PDT ou em alguma legenda aliada como o PSL.

O presidente do PT, Leonardo Silveira, está convicto da reeleição do professor Helvécio Reis. Confia no impacto da inclusão social e do acesso às políticas públicas e aos bens de consumo. Além disso, aposta nas “políticas estruturantes” nas áreas de saneamento, educação, segurança e saúde. Instado a dar exemplos, cita a licitação de três creches; processo (“em fase final”) do esgotamento e tratamento de esgoto da cidade; expansão da rede de iluminação pública; abertura de inscrição para o concurso da Guarda Municipal; aumento de médicos e de exames e consultas especializadas; e plano de cargos e salários.

Rômulo Viegas espera liderar uma ampla coligação com PSB, PTB, Solidariedade, PPS e PRTB, entre outras legendas. Pretende apresentar um projeto de “cidadania social” para São João del-Rei, com base na sua experiência de ex-prefeito, ex-deputado, ex-secretário de Governo, professor de engenharia e também no trabalho de uma equipe de especialistas. “Não quero simplesmente ser prefeito, não preciso disso no meu currículo. Quero ver a minha cidade evoluir.”

O PSB trabalha com a perspectiva de candidatura própria (Adenor Simões), mas não descarta a aliança histórica com os tucanos, segundo o vereador e presidente do partido Fábio da Silva. “Sempre estivemos próximos, como em Belo Horizonte, São Paulo e Pernambuco. Aqui em São João del-Rei, já houve apoio mútuo – o PSB apoiou o Sidinho (Sidney Antônio de Sousa) em 2004 e Adenor Simões recebeu o apoio do PSDB em 2008.”

Para Fábio, “o grande desafio será saber quem capta mais votos decorrentes do desgaste de quem está no poder”, no caso Helvécio Reis. Daí o vereador acreditar que o lançamento de dois candidatos fortes não prejudique a oposição na disputa pelos votos.

Já o professor Aluizio Barros acredita que as candidaturas de Rômulo e Nivaldo acabam favorecendo Helvécio Reis, mesmo com a alta rejeição do atual prefeito. “A decepção foi muito grande. Muitas reuniões e nenhum resultado.” Sem falar que até hoje não chegou a São João del-Rei o dinheiro do PAC das cidades históricas anunciado pela presidente Dilma. “O desgaste do prefeito já se consolidou, o que explica o entusiasmo de Nivaldo.” Aluizio não acredita em aliança entre Rômulo e Nivaldo – não existe “dívida política” entres eles - e aposta na experiência e sensibilidade do tucano.

Afinal, os dois candidatos da oposição, de maior densidade eleitoral, beneficiariam o (ou tirariam votos do) atual prefeito? Pessoas com quem conversei informalmente tem opiniões divergentes, o que reforça a dúvida. Um fator a ser considerado é que o desgaste do PT no âmbito nacional pode beneficiar os candidatos oposicionistas. A questão é saber qual deles! Como em política não dá pra fazer exercício de futurologia, resta aguardar a voz das urnas.
 
 

Que venha 2016! Sem a famigerada CPMF, por favor!

27 de Dezembro de 2015, por José Venâncio de Resende 0

Brasil entra em 2016 com a saúde em cacos (fonte: odia.ig.com.br)

Final de ano é época de desejar feliz ano novo. No apagar das luzes de 2015, vamos ter de fazer um esforço hercúleo para cumprir a tradição.

Se formos levar ao pé da letra o que dizem os especialistas em economia, não temos razões para comemorar com champanhe e fogos a entrada de um novo e promissor ano… Mas simplesmente despedir com um “já vai tarde” do velho e desastroso ano.

As previsões indicam que 2016 não será melhor do que ano que vai embora. Desemprego elevado, inflação nas alturas, cidadãos e famílias endividados, serviços públicos como o de saúde caindo pelas tabelas, contas do governo arrombadas etc. etc.

É aí que mora o perigo!

A substituição de Joaquim Levy – guardião da austeridade – pelo petista de carteirinha Nelson Barbosa – o homem das pedaladas – foi a senha dada pelo governo de que o populismo fiscal pode voltar à tona. A proposta de ajuste fiscal pelo corte de despesas nem entrou em vigor e já se pensa em, mais uma vez, usar o Estado para estimular a gastança. Pelo menos é isso que o ex-presidente Lula e seus aliados querem a todo custo.

Esquecem que a história só se repete como farsa!

O governo petista de Lula/Dilma é um saco sem fundo – quanto mais receita de impostos recebe, mais gasta. Em geral, são despesas com o aparelhamento do Estado – empreguismo de companheiros e de aliados, dinheiro barato para os amigos (empresários, artistas, movimentos sociais atrelados ao PT etc.), financiamento ao consumismo, obras públicas superfaturadas e desvio de dinheiro público para políticos e partidos etc.

Não resta opção ao Banco Central a manter os juros altos. Não será surpresa se a taxa básica de juros voltar a subir em 2016, para além dos atuais 14,25%.

Ao dar posse ao novo ministro da Fazenda, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso no mínimo contraditório. Disse que o governo pretende ao mesmo tempo manter a austeridade e estimular a volta do crescimento econômico. Equação difícil de fechar, considerando uma economia em recessão com inflação na casa dos dois dígitos.

As contas estão desequilibradas e o governo não consegue tapar o buraco pelo lado do enxugamento das despesas dados os compromissos assumidos. Mas não podemos engolir este discurso de que não há espaço para cortar despesas. O que existe é uma questão de prioridades equivocadas.

Vejam o caso da saúde pública. Estou de pleno acordo com o vereador paulistano Gilberto Natalini (PV), ao comentar no facebook o caos em que se encontra o SUS e os hospitais/unidades públicos Brasil afora. Para ele, jogaram a saúde no lixo para justificar a aprovação pelo Congresso Nacional da volta da famigerada CPMF (imposto sobre transações financeiras que pesa no bolso das pessoas e aumenta em cascata o custo das cadeias de produção).

Podem ter certeza de uma coisa. Se ressuscitarem a CPMF, a receita do imposto será desviada para outros setores (inclusive para cobrir o rombo das contas do governo), em geral ligados a interesses político partidários, e os problemas da saúde pública vão continuar como dantes no quartel de Abrantes.

É uma total falta de bom senso aumentar impostos quando a economia está em recessão e a inflação na casa dos dois dígitos. Vejam o caso de Minas Gerais que já tem uma das maiores alíquotas de ICMS e que, a partir de Janeiro de 2016, vai cobrar mais imposto de vários setores, inclusive o da energia elétrica. Um aumento aqui, outro ali, e a carga tributária brasileira – um desestímulo à produção – vai ficando insuportável.

O governo, de um lado, inibe os investimentos na produção com mais impostos e, de outro, não gera excedentes para investimentos públicos em infraestrutura na medida em que gasta toda a receita de impostos com a voracidade da máquina pública.

A maior dificuldade é que o Brasil vive duas crises – a política e a econômica – que estão imbricadas e se alimentam mutuamente. E mais: uma crise de duas faces, a estrutural (de longo prazo) e a conjuntural.

Em reportagem - de balanço de fim de ano e perspectivas do novo ano – que estou elaborando para o Jornal das Lajes (https://www.facebook.com/jornaldaslajes/?fref=ts), ouvi de vários empresários que, enquanto não se resolver o impasse político de governabilidade, não haverá solução para a crise política. Infelizmente, o buraco é mais embaixo.

O País virou uma nau desgovernada onde cada um dos seus responsáveis está cuidando de salvar a própria pele, não importa o que esteja acontecendo com os passageiros sob seu comando. Se o presente é um mar de dificuldades, imaginem o que se está plantado para colher no futuro!

Um feliz 2016! Dentro do possível…