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Católico?

17 de Outubro de 2018, por João Bosco Teixeira

Na edição passada, falei do encontro com um amigo de quem, depois de uma troca de ideias, indaguei se acreditava em Deus. Naquela ocasião, após responder à minha indagação, fiz-lhe outra pergunta: Você é católico?

O relato da resposta é o que segue.

Eis uma pergunta difícil de ser respondida. Acho que sou. Aliás, mais que nunca. Ou, mais que nunca sou cristão, seguidor de Jesus. Mas, vamos lá. Uma das exigências para que alguém se considere católico é seguir a doutrina da Igreja. E, primordial na doutrina, a crença e a profissão de fé nos dogmas. Será, no entanto, que é preciso aceitar todos os dogmas da Igreja, na forma, na linguagem em que eles foram declarados? Será que a Igreja não deve rever a linguagem dos dogmas, dado que em todos eles o fator “história” é fundamental? Isto é, os dogmas foram declarados num tempo histórico, em condições determinadas. Será que a Igreja, diante do avanço das ciências e da própria teologia, baseada em estudos sérios, pode continuar a exigir adesão aos dogmas como exigia por ocasião de sua proclamação? Então, não refuto nenhum dogma da Igreja Católica, mas também não aceito nenhum na forma, na linguagem como foram proclamados há anos e, até mesmo, há séculos atrás. Faço a leitura dos dogmas de maneira bem diversa daquela em que eles foram expressos.  Posso dar um exemplo? O dogma da Assunção de Maria. Não cabe na minha cabeça, e acredito que na cabeça de pessoas do século vinte e um, que Nossa Senhora esteja no céu com seu corpo humano, material. Mas aceito e proclamo que ela foi elevada à plenitude da vida e, como dizia São Paulo, “transformada”, assim como aconteceu com o mesmo Jesus. Entendo que, ao fazer uma releitura das verdades da fé, não significa que alguém deixe de ser católico, mesmo porque a própria teologia católica faz isso. Em linguagem singela, pois, acho, sim, que continuo católico. E muito presente na instituição, que frequento regularmente. Sabe, não vejo chance alguma, hoje, de convencer quem quer que seja a aceitar os dogmas católicos na linguagem em que foram declarados. Aceitá-los como tais parece-me absoluta infantilidade, pois eles foram proclamados numa linguagem oportuna, consoante com o tempo. É preciso revê-los. Chamar Nossa Senhora de Mãe de Deus, do “Deus criador do céu e da terra”, como professamos no Credo, seria preciso ter de Deus uma noção bem precária. Não seria o Deus em quem acreditamos.

Tenho o amigo em plena consonância com minha visão teológica. A conversa, por isso, não se prolongou muito. Algumas considerações e partimos para outros temas, estes, sim, cheios de opiniões contrastantes, devidas, quase todas, ao fator idade. Falamos de política. E também de partidos políticos.

Nada mais natural que ter uma visão esquerda da vida, quando se pleiteia resposta imediata para os problemas. Do alto, porém, de certa idade, sabe-se que o tempo é fundamental para a sedimentação de projetos transformadores.

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