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Ética em nossos dias

14 de Novembro de 2017, por João Bosco Teixeira

Impossível para um educador não tecer considerações sobre a ética, num momento como este que vamos vivendo em nosso país. Temos tido um empobrecimento extraordinário em muitas manifestações de nossa vida nacional: pobreza econômica, pobreza educacional, pobreza científica, pobreza judicial, mas, especialmente, uma enorme pobreza na atividade política. Que coisa! Que desastre este nosso Congresso Nacional! Que desastre este nosso Executivo! Que desastre até mesmo o poder judiciário!

A ética é aquela parte da filosofia cujo objeto é a conduta humana e os meios dos quais se serve para conduzi-la. Acontece que somos seres essencialmente sociais, possuímos uma natureza social, uma disposição social, uma expectativa social e necessidades sociais. Por conseguinte, a ética tem tudo a ver com o bem social, com o bem comum. Se alguma vez se fala de ética pessoal, ainda assim se estará falando do comportamento de determinada pessoa em relação às demais. Não se pode, pois, viver sem ética, a não ser que se queira contrariar a natureza. Sabe-se: o ato humano mais decisivo é o da interação de uns com os outros. Não por nada, Carlos Drummond, num de seus lindos poemas, diz: “O ser busca o outro ser e, ao conhecê-lo, acha a razão de ser, já dividido”.

Os dias que vamos vivendo no campo político lembram aqueles denunciados pelo Riobaldo de Guimarães Rosa: “O senhor sabe: há coisas de medonha demais, tem...” Coisas medonhas mesmo. Nosso Congresso não tem tido tempo para trabalhar, porque as atrapalhadas são demais. O Executivo a mesma coisa, com o acréscimo de ter se tornado o maior “comprador” do Brasil. E o Judiciário não consegue entrar num acordo na leitura do mais linear princípio constitucional.

O Brasil, no entanto, graças aos trabalhadores, ainda que em dores de parto, continua existindo. Os muitos e variados profissionais vão dando sua contribuição para a sociedade, no desempenho de seus misteres. E os políticos não fazendo Política, com P maiúsculo. Os vários partidos políticos opõem-se a teses pelas quais lutaram anteriormente, sem um argumento que motivasse a troca de opinião; todos emperram a tomada de posição necessária ao processo de desenvolvimento, sustentando a própria opinião como oportunidade de maior poder nas mãos; a reforma política só avança naquilo que não prejudicar a própria reeleição; Enfim, o bem comum longe das preocupações de quem assumiu o compromisso de buscá-lo, através da implantação de políticas públicas. A ética está longe de nosso Congresso Nacional, que insisto em escrever com letra maiúscula. Imerecidamente. Para o Executivo sequer cabem considerações éticas. O sentimento de poder sobre as circunstâncias e os prazos fez soberano o Supremo. E sabe-se que se se atribui tanto poder a uma organização, ela se torna necessariamente corrupta (Fischer).

Chego a pensar que, para quem não tem medo do ridículo, vivemos dias de menos esperança, dias que seriam “cômicos se não fossem trágicos”. Recuso-me a aceitar que estejamos dizendo adeus à ética, ao bem comum. Não somos aglomerado, massa consumível.

Sou educador. O destempero da vida política nacional não me faz pessimista. O povo é melhor que seus representantes, embora se ouça a todo momento: cada povo tem o governo que merece. Não! Somos mais. Somos melhores. Por isso, acredito num futuro melhor que “deixe amanhecer a alma pública”, como queria Machado de Assis. Sou otimista porque acredito que cada um de nós, em sua esfera de atividade, pequena ou grande, pode ser um artesão do bem comum. Um artesão ético.

 

*Professor aposentado da UFSJ, membro da Academia de Letras de São João del-Rei.

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