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As lagartixas, dedetizadoras de nossas casas

28 de Abril de 2017, por Maria de Fátima Albuquerque

Imagem: internet

No livro “Memorial do Amor”, a escritora Zélia Gattai se despede de sua casa, em que morou por quarenta anos com o marido Jorge Amado, rememorando histórias de gente e de bichos que nela viveram.  

Duas lagartixas que viviam atrás de um quadro de Di Cavalcanti não passaram despercebidas das lembranças da escritora que, em companhia do marido, passou muitas noites naquela casa observando o quanto que esses bichinhos devoravam mosquitos e outros insetos que eram atraídos pela lâmpada acesa no alto do quadro.   

Sempre adotei a prática de não espantar nenhuma lagartixa de minha casa, talvez seja por isso que nunca tenha me deparado com nenhuma barata ou outro inseto indesejável. Baseando-me nestas observações, por que não falar delas?

As lagartixas são lagartos do reino Animalia, classe Reptilia, gênero Hemidactylus, e foram introduzidas no Brasil por volta do Século XVIII por meio dos navios negreiros vindos da África, sendo hoje encontradas em quase toda a América. São sempre vistas em habitats rurais e urbanos e também em ambientes naturais de vários biomas brasileiros.

É uma espécie de hábitos noturnos que pode ser facilmente encontrada perto de fontes de luz, alimentando-se de vários artrópodes como aranhas, gafanhotos, cupins, baratas, grilos, mariposas, mosquitos, pequenos escorpiões, moscas e formigas, passando boa parte do tempo esperando pelas suas presas e aproximando delas lentamente para depois capturá-las com uma rápida mordida. Estudos demonstram que as lagartixas são uma ótima parceira no combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e da febre amarela.

A lagartixa doméstica é uma espécie de pequenas dimensões (de 20 mm a 110 mm), que anda nas paredes das casas, graças a uma força intermolecular presente nas cerdas existentes em suas patas. Também se costuma vê-las andando nas pedras e no chão das casas e são capazes, assim como o camaleão, de alterar a coloração da pele, estratégia de camuflagem para caçar e se defender.

Dependendo da região onde as lagartixas aparecem, são conhecidas como Lapixa, no Ceará, Lambiôia, no Rio Grande do Norte, Taruíra, no Espírito Santo e Itabira-MG, Labigó, no Piauí, e Osga, no Maranhão.  

No Xamanismo, prática ancestral que remonta ao período em que os homens viviam nas cavernas, a lagartixa representa otimismo, adaptabilidade, regeneração, sonhos, renovação e transformação - vale lembrar que quando esse réptil perde sua calda ela se regenera rapidamente. Devido a isso, as lagartixas são tratadas como animais de estimação em alguns países, sendo que no Brasil ainda não temos este costume, talvez porque a população não saiba da importância delas para o nosso meio ambiente. Com isso, são discriminadas e eliminadas.

 Nós resende-costenses somos carinhosamente chamados de LAGARTIXAS, pelo fato de morarmos nas lajes, habitat natural deste réptil tão esperto. Coincidência ou não, nosso povo se assemelha a elas também pela sua capacidade artística de criação, transformação, regeneração e adaptação às exigências sociais e econômicas. 

Diante disto, não precisamos ficar constrangidos quando nos chamarem por este apelido.

LAGARTIXAS sim, com muito orgulho!

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