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Macacos: maiores vítimas da febre amarela (e não propagadores)

20 de Marco de 2017, por Maria de Fátima Albuquerque

O Bugio, conhecido também como Macaco Barbado, tem sido a maior vítima (Foto Internet)

As maiores vítimas da febre amarela são os primatas. O surto, na verdade, quem está vivendo são os primatas, porque para os humanos não existe uma epidemia da doença, mas para os macacos barbados sim, deles estão morrendo milhares”. Assim concluiu o professor e doutor em ecologia Sérgio Lucena Mendes, em sua pesquisa realizada entre os dias 17 e 20 do mês de Janeiro, na reserva ecológica Feliciano Miguel Abdala, em Caratinga, Minas Gerais.  

Trabalhando em parceria com a pesquisadora americana Karen Strer, na expedição montada para monitorar os impactos do surto sobre a população desses animais e avaliar o choque ecológico que a biodiversidade brasileira está sofrendo com a morte dos mesmos, o professor relembrou que em 2009 o Rio Grande do Sul registrou um surto da doença, tendo sido mortos cerca de 80% dos primatas. Isso significa a mortandade de 2 mil macacos, sendo que, na ocasião, a população dos Bugio, conhecidos como barbados, foi a mais afetada.   

Atualmente, essa mortalidade tem preocupado os pesquisadores que estudam as espécies de primatas catalogadas nos trechos de Mata Atlântica no Leste do Estado de Minas Gerais.

Para complicar ainda mais a situação, pessoas totalmente desinformadas, acreditando estar se protegendo contra a febre amarela, estão sacrificando os animais, entendendo que isto pode ajudar a evitar a doença em humanos, o que é um equívoco, tendo em vista que os macacos, além de estarem sendo vítimas da doença, fazem o trabalho de sentinelas, ou seja, quando é detectado em uma determinada região que morreu um macaco vítima da febre amarela, esse fato vai ser um indicador que naquele local a doença está ocorrendo, possibilitando aos órgãos de saúde pública um rápido início de ações preventivas e de vacinação nos humanos antes que a doença se espalhe.  

Já, se forem mortos pelo homem, as autoridades só descobrirão que a doença chegou a determinada localidade somente quando as pessoas adoecerem, e ainda com a agravante que aquele que praticou a morte do animal poderá responder por Crime Ambiental, previsto na Lei nº 9.605/98, haja visto se tratar de espécie da fauna silvestre.

Infelizmente, nossos meios de comunicação somente agora estão se dando conta da gravidade dos fatos, vindo a informar, tardiamente, que os macacos estão sendo vítimas de violência por falta de informação da população. Ora, algum de nós já tinha visto a tão assistida Rede Globo dar destaque a essa matéria antes do dia 17 deste mês, em seu telejornal das 20h?

Acompanhando diariamente as notícias relacionadas ao Meio Ambiente, principalmente as do Mundo Animal, já estava me sentindo incomodada com esta falta de informação direcionada ao público que assiste TV, principalmente aquela advinda da rede mais assistida no país. Já paramos também para pensar que a febre amarela, por coincidência, ressurgiu logo após o desastre ambiental ocorrido em Mariana? Sabe-se que as mudanças climáticas e a degradação ambiental provocadas pelo homem são as principais responsáveis pelo recente aparecimento de inúmeras doenças infecciosas. E onde estão as nossas emissoras de TV para transmitirem algumas informações relacionadas a esta possibilidade?

Portanto, fiquem alertas. Caso seja encontrado algum macaco doente ou morto, primeiramente deverá ser acionada a Secretaria de Saúde do município, que através do seu setor de zoonoses, deverá tomar as devidas providências. Depois, deverá ser encaminhada a noticia da morte do animal à polícia e aos órgãos de proteção dos animais, caso seja comprovada que a morte ocorreu pela ação do homem, estando esse sujeito às disposições da Lei de Crimes Ambientais.

E atenção: a prevenção se dá através do combate ao mosquito causador da doença, que não deve parar. A doença é transmitida em áreas rurais e silvestres pelo mosquito Haemagogus. Em área urbana, ela pode ser transmitida pelo Aedes Aegypti, o mesmo da dengue, do vírus Zika e da febre chikungunya. Então devem ser redobrados os cuidados em nossas casas, locais de trabalho, ruas, lotes vagos, tanto na zona urbana quanto na rural, evitando-se água parada, entulhos de obras, lixos e objetos que podem servir de recipientes para as larvas dos mosquitos. 

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