Brasileira é sócia de escola de português para adultos na Irlanda


Imigrantes & Empreendedores

José Venâncio de Resende0

Vanessa (esquerda) com a sócia Clarissa na BPS.

Antes de mudar-se para a Irlanda em 2013, a carioca e filha de nordestinos Vanessa Pacheco morou em diferentes regiões do Brasil. Esta andança tem a ver com a profissão de seu pai, o pernambucano Ricardo Dantas Pacheco, militar da Marinha, agora reformado.

Quando criança, Vanessa morou três anos em Salvador (BA), terra de sua mãe Leny Kate. Depois, viveu 12 anos no Rio de Janeiro e sete anos em Manaus (AM).

As mudanças acabaram por interferir em seus estudos. Ingressou na Faculdade de Letras e Literatura de Língua Portuguesa, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), onde estudou quatro anos. Teve de cursar um ano a mais na Universidade Federal Fluminense (UFF), devido à necessidade de fazer matérias para compatibilizar currículos.

Na UFF, Vanessa teve o primeiro contato com Literaturas Africanas, passando a se interressar pelo tema. Foi quando decidiu fazer pós-graduação em História da África e do Negro no Brasil pela Universidade Cândido Mendes (UCAM).

Nesse meio tempo, porém, Vanessa decidiu partir para um intercâmbio de um ano na Irlanda com o propósito de aprender inglês. No primeiro mês em Dublin, conheceu Andrew Kennedy e os seus planos mudaram.

Depois de um ano de namoro com Andrew, Vanessa decidiu que ia continuar na Irlanda e explorar novos caminhos na carreira. Assim, optou por não dar continuidade aos estudos de Literaturas Africanas, possivelmente em nível de mestrado, que era seu plano inicial.

Vanessa concluiu o curso de pós-graduação à distância em história, em nível de especialização, na própria UCAM, com foco em literatura. “Apesar de o curso ser de história, abordei o fato de a literatura fazer parte das lutas de libertação das colônias na África, juntando assim duas paixões: literatura e história.”

Duas semanas depois do casamento, em abril de 2015, Vanessa estava de volta ao Brasil para apresentar o seu TCC.

Professora

Vanessa conheceu a professora Clarissa Oliveira num encontro, em 2014, da Associação de Famílias Brasileiras na Irlanda (AMBI). Era a reunião da entidade, na ocasião sob a presidência de Haryanna Alencar, para implantar o projeto de Português como Língua de Herança (POHL).

Então, Vanessa começou a dar aulas semanais para a AMBI, no projeto de POHL que era coordenado por Clarissa. “Foi uma experiência muito enriquecedora, meu primeiro contato com crianças bilíngues. Como o POHL é relativamente novo, foi preciso bastante pesquisa para produzir e adaptar material didático específico, condizente com a necessidade das crianças filhas de imigrantes brasileiros.”

Desse convívio surgiu uma amizade entre Vanessa e Clarissa. “Eu tinha ideia de abrir uma escola para ensinar língua portuguesa para adultos. Descobri que a Clarissa tinha o mesmo desejo.”

Negócio próprio

Era outubro de 2014 quando as duas começaram a planejar a abertura da empresa. “Fizemos várias reuniões para pensar a marca. A Clarissa e eu não temos experiência em administrar empresa e em fazer marketing. Aprendemos – e continuamos a aprender – o que é ter o próprio negócio.”

A empresa foi batizada com o nome de Brazilian Portuguese School, com a logomarca BPS que Vanessa mesma criou. “A logomarca é a figura da bandeira do Brasil em um formato de um livro. E representa o conhecimento de Brasil que queremos passar para os nossos alunos, não só a língua portuguesa, mas também cultura, literatura, estética e gastronomia. O nosso curso tem como foco oferecer uma experiência que envolva essas nuances aos nossos alunos estrangeiros.”

A sala de aula é equipada, por exemplo, com cozinha para se fazer pratos típicos brasileiros, como tapioca e pão de queijo, conta Vanessa. “Sempre, com a participação ativa dos alunos.

O diferencial do curso é que tentamos fazer bastante aulas práticas, de maneira que os alunos possam vivenciar nossa cultura por meio de gastronomia, teatro e música.”

A primeira turma – uma sala de aproximadamente 12 alunos adultos – teve a aula inicial no começo de 2015. “No aniversário de primeiro ano, já contávamos com três turmas de 8 a 10 alunos”, comemora Vanessa. “O nosso público é na maioria formado de homens irlandeses, casados ou que tem algum relacionamento com brasileiras, mas também temos um grupo de mulheres irlandesas cujos maridos são brasileiros.”

No primeiro ano do curso, Vanessa e Clarissa davam aulas e cuidavam da parte administrativa. “Um modelo que não era tão eficiente.”

Por isso, decidiram dividir as atribuições. “Eu fiquei com a administração e marketing e a Clarissa, com as aulas. Quando é preciso, estou à disposição para ajudar nas aulas.”

Foi a maneira encontrada para melhorar a eficiência do trabalho, resume Vanessa. “Agora, em setembro, vou começar um curso de especialização, com ênfase na legislação irlandesa.” O curso será na Dublin Business School e terá a duração de um ano.

Tranquilidade

Vanessa gosta muito da Irlanda, principalmente por causa da “liberdade de ir e vir, sem medo, principalmente para alguém que morava no Rio de Janeiro. Também gosto muito do ritmo de vida daqui, que é mais tranquilo. Aprendi a primar pela minha qualidade de vida e o meu bem-estar. Essa paz de viver em um lugar tranquilo eu não troco mais”. 

 

 

  

      

 

   

    

 

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