Com as mãos na massa
19 de Janeiro de 2022, por Regina Coelho 0

Eni de Sousa Resende, a dona Eni do Curinga (foto arquivo pessoal)
a inauguração da agência do Banco do Planalto em meados dos anos 1960 foi um fato relevante na história de Resende Costa e, particularmente, na vida de Eni de Sousa Resende, que, como salgadeira, marcou sua estreia num evento público de grande porte para a época. Dali em diante, impulsionada pelo êxito daquele dia e pela procura crescente por seus serviços profissionais, Eni, conhecida entre nós por Eni “do Curinga”, foi acumulando um número impressionante de entregas de salgados para festas de casamento, formatura, aniversário, batizado, festejos cívicos (na Prefeitura, Câmara e no Fórum) e religiosos e o que mais surgisse.
Por boas décadas, seu nome foi sinônimo de alta qualidade pela competência de suas mãos trabalhadoras na produçãode delícias ansiosamente aguardadas por sua clientela e chegadas às nossas casas ainda quentinhas, quando era o caso, aguçando o nosso paladar. Por trás de tudo isso, muito esforço é o que sempre existiu bem antes desse empreendimento vitorioso.
“Comecei com 12 anos. Uma filha do Lindolfo (a Luísa) me ensinou a fazer pastel, isto é, fiquei observando e aprendi. Ela fazia pra vender no bar do seu irmão Bié. Nos resguardos dela, eu assumia o serviço. Isso por uns três anos. Morava com meus pais, o Euclides, sobrinho do Lindolfo, e Conceição, que morreu quando eu tinha 14. Aí fiquei cuidando dos irmãos menores”, lembra ela.
Aos 18 anos, casada com o Geraldo “Curinga”, Eni passou a fazer sonho (na verdade, bolinho de chuva) para ser vendido no bar do Geraldo Monteiro. Depois, no do Zé do “Buquerão”. E em outros bares: do Chichico e o Coelhão, entre eles. Em antigas e sucessivas edições do Rodeio (assim chamamos a nossa Exposição Agropecuária), as expressivas vendas do pastel da Eni, o campeão na preferência popular, seguido da coxinha, fizeram também a festa de muita gente e a alegria pessoal dessa mulher de muitas lutas. E trabalhando sempre com a família. Como quando o Geraldo, contando com a ajuda dos filhos – naquele tempo, o Maurício, o Marquinhos (já falecidos), a Marília e a Marly -, levava um fogareiro para a rua com a intenção de aproveitar o movimento das pessoas perto de parques e circos instalados costumeira e temporariamente na cidade. Ali então, ele fritava os pastéis servidos com café ou quentão. Canudo, pé de moleque e pipoca, às vezes, faziam parte do cardápio. Em outra frente de atuação, havia ainda o fornecimento de salgados vendidos nos recreios do antigo Colégio Nossa Senhora da Penha.
Quanto ao processo específico de criação e comercialização dos produtos, Eni ressalta os tempos de grandes dificuldades. Inicialmente, sem geladeira (costumava usar a da vizinha Ninica), muito menos freezer, não tinha como guardar certos ingredientes, como a carne, vinda do açougue do Duque uma vez por semana, que era quando se matava vaca. Assim, não dava para adiantar muita coisa e reservar. Fogão industrial, nem pensar! No começo, a massa do pastel era aberta com garrafa, já que ela não tinha cilindro. Depois, teve o manual e mais tarde, o elétrico. Em suma, dias e noites de total labuta. Um dado: quando gastava menos farinha de trigo por dia, nunca era menos que 12 kg. Por isso, com a ajuda do Hugo do Antônio Honório (seu compadre), passou a comprá-la com o Lino, atacadista em São João del-Rei.
Hoje, sem a carga pesada dos afazeres da profissão, com a saúde exigindo cuidados, mas com a energia que nunca lhe faltou, agora para passear pelo Brasil, essa resende-costense bonita, vaidosa, prestes a completar 82 anos neste 28 de janeiro, que gosta de roupas alegres e que, segundo a Marília, construiu com os braços tudo o que eles têm, fala com orgulho do caminho que trilhou:
“Ganhei meu dinheirinho, graças a Deus! Nunca fiquei devendo nenhum centavo a ninguém. Contei muito com a ajuda do Geraldo, que ganhava pouco, trabalhava na Prefeitura. Criei a família. Meu trabalho representa tudo para mim.”
Missão cumprida com louvor, Eni! Vivas a você!
O perfil na foto
16 de Dezembro de 2021, por Regina Coelho 0
No meu escritório, em casa, tendo como fundo parte de uma estante onde se veem alguns livros e vídeos, posiciono-me para tirar algumas fotos com a missão de escolher uma entre tantas parecidas. Opto por aquela que me parece melhor. Mesmo assim, nela apareço séria e pouco à vontade pela pose. Hoje já avancei nesse aspecto. Feito pela Lívia, sobrinha e afilhada, esse registro corresponde à minha foto de perfil no WhatsApp.
Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Certo. Mas, em relação a essas fotos de identificação pessoal expostas nas redes sociais, é preciso considerar que elas mostram como queremos nos ver propriamente e como queremos que nos vejam. Por outro lado, mostram ainda como somos vistos pelos outros. Acompanhando nossas mensagens virtuais, na maioria das vezes, nossas carinhas é que dão as caras e podem até ganhar este vasto mundo cibernético para além do imaginado.
E será que quem vê cara vê coração também? Não à toa que essas imagens são chamadas de fotos de perfil. Sendo assim, descrevem visualmente as pessoas em traços breves que destacam o que parecem ser. De qualquer forma, revelam muita coisa em variações infinitas ligadas à vida de todos nós.
Mais comum é ver a pessoa retratada sozinha. Nesse caso, o “ensaio” fotográfico costuma ser caprichado com a escolha do ângulo de rosto (ou de corpo) mais favorável, a busca por um cenário perfeito, talvez em meio à natureza, ou o resgate de um momento particularmente feliz da infância, da escola ou do trabalho. Sendo o espaço dividido com alguém, isso é sinal de importância para quem aparece junto: pais, filhos, avós, netos, tios ou irmãos fotografados em significativas cenas familiares. Há ainda as poses dos casais. Muitas, eternas; outras, nem tanto. Em se falando de companhia, há ainda aqueles que querem homenagear seus animais de estimação trazendo-os ao conhecimento público.
É natural que a escolha da foto de perfil de cada usuário leve em conta seu estilo de vida na reafirmação de crenças, valores e preferências. Nesse sentido, há aqueles que escolhem um perfil religioso mostrando-se diante do Santuário de Aparecida (SP), por exemplo, ou mesmo abrindo mão de aparecer na foto (ou não querendo) para destacar um símbolo religioso que seja. Ou que pode ser político também. Quem opta por aparecer em práticas esportivas e recreativas ao ar livre ou deixando somente em destaque uma inspiradora paisagem sinaliza afinidade com o meio ambiente. Viagens marcantes, todo mundo sabe, rendem muitas fotografias. E sempre há aquela que elegemos como a mais bonita para estar ao lado do nosso nome nas conversações virtuais de todo dia. Se for tirada de um ponto turístico bacana ou famoso, é opção feliz por fazer lembrar um passeio inesquecível e contar pontos no nosso currículo de turista.
Dignos de presença nessa relação, os registros fotográficos ligados a festas, baladas e shows chamam a nossa atenção, voltada principalmente às mulheres. Com o visual impecável – maquiagem especial, roupa e acessórios de arrasar –, em momento de grande alegria, a pessoa se transforma e chega a ficar até irreconhecível, dependendo do grau de produção empreendido. Mas que a foto fica maravilhosa, isso fica. Sem transformações são as imagens dos que preferem exibir algum objeto ou emblema ligado ao trabalho que fazem ou que se mostram em atividade profissional: de uniforme ou no local onde atuam.
Entre as pessoas mais jovens são típicas as fotos de meninas fazendo biquinho e/ou se vendo no celular. Ou então tomadas em situações casuais ou enigmáticas, quando se mostram pouco, deixando-se fotografar de costas ou em posições inusitadas e divertidas.
Entre cada um de nós, ao que parece, na definição do que desejamos para essa linguagem não verbal que nos representa, imprimimos marcas pessoais do que somos ou julgamos ser também internamente. Fiéis à foto de anos ou camaleônicos, mudando de foto como quem muda de roupa, revelamos uns aos outros nossa melhor versão visual via internet.
O preto no branco
17 de Novembro de 2021, por Regina Coelho 0
A reprodução de certas expressões em nosso meio, entre sutilezas, supostas brincadeiras e aparentes elogios, é sinal do quanto o preconceito racial ainda está incorporado à visão de mundo das pessoas. Naturalizados por longo uso, esses termos nem sempre são percebidos como racistas, nem por isso cabem no vocabulário dos nossos dias.
“Mas que programa de índio!” é uma dessas falas. É provável que eu mesma já tenha me expressado assim em algum momento e por isso faço aqui um mea-culpa. Antes usada para se referir a atividades ao ar livre, como fazer trilha, caminhada pela cidade ou tomar banho de cachoeira, com o tempo virou sinônimo de coisa chata, estranha. Expressar-se assim é enfatizar a discriminação contra a cultura indígena (muito rica, diga-se de passagem), postura fundamentada no falso pressuposto de uma superioridade cultural atribuída aos colonizadores europeus e seus descendentes, herança de um Brasil que não existe mais.
Verdade é que todo cuidado com as palavras é pouco. Recentemente, no início de outubro, Luís Roberto Barroso, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foi infeliz ao cumprimentar em entrevista para a GloboNews as jornalistas Aline Midlej e Flávia Oliveira, que são negras. “Inveja branca de vocês, que estão aí no Rio (ele nasceu em Vassouras - RJ). Aliás, essa frase já é politicamente incorreta. Antigamente se dizia isso”, corrigiu Barroso. Ao se desculpar novamente, afirmou que “a gente, na vida, deve saber pedir desculpas” e refez o cumprimento às entrevistadoras. Aline afirmou que estava tudo certo e que “a gente está em constante aprendizado”, acrescentando: “Ministro, eu ia falar isso. Olhei para a Flávia meio assim, de canto de olho. Um ministro tão elegante, tão carinhoso”.
“Inveja branca” é considerada uma expressão racista porque associa a ideia de algo positivo com o que é branco. Sendo assim, a inveja, que é algo ruim, deixa de ter caráter negativo por ser “branca”. Ao mesmo tempo, o termo reforça ainda a associação racista do preto com atitudes negativas, isso em um país marcado por um longo passado escravagista.
Com foco restrito agora ao uso dos termos “preto”“negro” e “branco” (e suas variações de gênero), impossível não lembrar (para esquecer depois), um clássico exemplo, no fundo, uma espécie de “bondosa” concessão a quem, apesar de negro, tem a alma de branco, “boa”. Trata-se do indesculpável “preto de alma branca”. Inadmissível dizer ou ouvir isso. Pior ainda é ter esse tipo de pensamento. É como canta Jorge Aragão, em Identidade: “Se preto de alma branca pra você / É o exemplo da dignidade. / Não nos ajuda, só nos faz sofrer. / Nem resgata nossa identidade”. Também para ser esquecida me vem à lembrança uma outra fala deplorável, ou seja, “serviço de preto”.
Há quem defenda que certas construções linguísticas não são preconceituosas simplesmente pelo uso de termos que necessariamente não remetem às comunidades negras. Algumas delas: “a coisa tá preta”, “lista negra”, “magia negra”, “mercado negro”, “ovelha negra” (em sentido figurado, alguém que destoa negativamente de um grupo). Inquestionável, porém, é considerar que, nos casos citados, a conotação é depreciativa. Uma exceção a registrar: “grana preta” (valor muito alto em dinheiro), o que é visto geralmente como coisa agradável.
De outra forma, em se tratando do termo “branco” (e variações), de forte associação ao que é tido como positivo, há também exceções. “Deu branco” é uma delas (= esquecimento momentâneo de algo que se sabe). “Elefante branco” é outra (= em sentido figurado, algo valioso ou no qual se gastou muito dinheiro, muitas vezes uma grande obra, mas que não possui utilidade ou importância prática). Como se pode ver por aí, a conotação é negativa para “branco”.
Pondo literalmente “o preto no branco” ao escrever essas breves considerações, que fique aqui firmado o nosso empenho coletivo de desconstrução de todos esses discursos ofensivos de cunho racista. Respeito é tudo!
De mal com a escola
14 de Outubro de 2021, por Regina Coelho 0
guardo comigo a cena de um acontecimento, certamente uma das primeiras lembranças de minha existência. Ainda não tinha entrado na escola e, vendo a criançada passar pela rua Gonçalves Pinto rumo ao então Grupo Escolar Assis Resende (hoje Escola Estadual), costumava ouvir de alguns adultos uma mesma palavra dirigida ora individual, ora coletivamente àqueles meninos e meninas levando consigo seus pertences escolares e os sonhos de toda infância. “Gaiola! Gaiola!”, ouviam os pequenos. Pelo tom amistoso das vozes, imaginava ser aquilo uma brincadeira, com certa intenção de um bem feito! para quem seguia em direção a um “lugar ruim”.
Havia (e ainda há) no entendimento desse termo de zoação aos estudantes em aula, embora não pareça ser ele usado mais com tal significado, a ideia angustiante desse espaço como “clausura onde se encerram aves” (Aurélio) ou prisão. Eis aí a triste metáfora da escola vista como gaiola.
De natureza parecida, um outro episódio do passado e bastante conhecido na cidade envolve a figura simpática do Bebeto da dona Olga e do Iracy Freitas. Chegando em casa o Bebeto, vindo do seu primeiro dia de aula, quis a mãe saber dele:
– E aí, José Alberto, como foi lá na escola? Gostou?
E ele, prontamente, para decepção da dona Olga, disse a ela com toda a sua sinceridade infantil:
– Iihh, mãe! É muito pior do que missa!
Como professora, no convívio com alunos dos mais variados perfis, ouvia muitas vezes daqueles que diziam odiar a escola e/ou os estudos, coisas que também me decepcionavam. “Tenho vontade de matar quem inventou a escola.” “Detesto estudar.” “Tô aqui só porque meu pai me obriga.” “Ah, Fulano de tal tá bem de vida e não estudou.” Essas foram algumas declarações (ou seriam desabafos?) mais frequentes com que lidei, ao mesmo tempo tentando intervir como mediadora nessa relação de conflito de parte do alunato com o ambiente escolar, que era visto como indesejável, e tudo o que isso implicava.
Temática relacionada à educação formal é explorada no belíssimo Sociedade dos poetas mortos (Dead poets society – 1989), dirigido por Peter Weir e estrelado por Robin Willians (John Keating, um professor nada convencional que busca valorizar a expressão artística e a liberdade de seus alunos). O tema central do filme é o constante embate entre as vontades e as necessidades dos jovens de viverem intensamente diante de um sistema de ensino rígido e autoritário que lhes tolhe a busca por outras visões de mundo.
Meses atrás, com a pandemia do novo coronavírus em alta e a vacinação em baixa, o fechamento total das escolas no Brasil, passada a euforia dos primeiros momentos sem aulas, provocou em muitos dos novos haters da escola (sempre haverá) reações como esta, por exemplo: “Nunca pensei que fosse falar isso, mas tô sentindo muita falta da minha escola”.
Ainda bem. Mesmo que seja apenas pela saudade da diária rotina com os colegas/amigos interrompida por longo tempo. Mesmo que seja também, em delicados e inúmeros casos, pela necessidade urgente da comida certa e gostosa servida em nossas cantinas escolares. Sim. Já é alguma coisa. Pensando bem, não pode ser ruim um lugar onde muitas amizades se formam e onde uma acolhida positiva pode representar o início de um bom caminho a trilhar. Permanece, porém, o grande desafio da integração plena desses alunos e dos demais ao processo educativo de forma a permitir o êxito no bonito salto que é o aprendizado, ponto crucial nessa questão.
Importa muito para tanto que a realidade escolar faça sentido no dia a dia dos estudantes, decisivo passo adiante para que se sintam fora da gaiola, mas dentro da escola de fato. Não podendo ser um parque de diversões, a escola pode e deve ser o local de incontáveis e prazerosas atividades e experiências de construção de futuros mais promissores.
Em que pese toda essa sensação de aprisionamento, é oportuno lembrar que, na verdade, a educação liberta, pois é estímulo de peso para a realização de novas e interessantes jornadas de vida.
Irmã Maria Geralda – dez anos depois
15 de Setembro de 2021, por Regina Coelho 0

A resende-costense Irmã Maria Geralda celebrou 60 anos de vida religiosa (foto arquivo pessoal)
“Caminhar com humildade, amar com ternura, agir com justiça (Miqueias 6:8). Isso é o que eu tenho tentado viver”. Com essas belas e definitivas palavras de inspiração bíblica e uma singela declaração sobre seu plano de vida, Irmã Maria Geralda Resende, 82 anos, iniciou seu discurso durante a celebração de uma missa festiva em 15 de agosto último pelos seus 60 anos de uma existência dedicada ao serviço religioso. Presidida pelo bispo diocesano de Caraguatatuba (SP), Dom José Carlos Chacorowski, a cerimônia foi realizada na Matriz de São Sebastião, cidade onde Irmã Geralda, como é conhecida por lá, desenvolve importante trabalho de assistência às pessoas mais sofridas e marginalizadas.
Com voz firme e semblante tranquilo e diante de um público formado por familiares, representantes da comunidade sebastianense, amigos e religiosos (entre eles, Padre Alessandro Coelho, pároco da Matriz local, e irmãs do Bom Pastor), a religiosa resumiu desta forma os caminhos que trilhou no cumprimento do que ainda abraça como sua missão neste mundo.
“Muitos me ajudaram nessa caminhada. Meus irmãos, minha família, muitas irmãs nas comunidades por onde eu passei. No Rio de Janeiro (Ilha do Governador), Juiz de Fora, Ipiranga (em São Paulo), Penitenciária do Carandiru, Penitenciária Feminina de Tremembé, Zona de prostituição de Campinas, São Sebastião, Prelazia de São Félix do Araguaia, Alto da Poeira (em Goiânia) e novamente em São Sebastiao, onde os pobres foram e são meus amigos e meus mestres.”
Ainda naquele dia, em todas as merecidas homenagens prestadas à Irmã Geralda e vindas de tanta gente, alegria é o que não faltou por saberem todos da presença forte da homenageada na história de cada um. Declarações de muito carinho pela Irmã, também por vídeo, disseram muito sobre a mulher especial que ela é. Entre tantos testemunhos bonitos, destaco o do Padre Zezinho, conhecido sacerdote, autor e cantor de grandes sucessos religiosos. “O valor que Irmã Geralda atribui aos outros, esquecendo-se de si mesma, é qualquer coisa de franciscano, de... como é que eu vou dizer, de... Evangelho. Cada vez que penso na Irmã, eu penso no Evangelho. Gente que assumiu e não abre mão de cuidar dos mais abandonados (...)”, afirma ele sobre a amiga.
Há exatos dez anos, fiz para esta coluna uma matéria sobre as Bodas de Ouro religiosas da Maria Geralda, que é como costumamos chamar em família a filha da minha tia Vera (e do tio Alcindo) e primogênita neta do nosso avô, Alcides Lara. Hoje, quis trazer de volta aqui a figura incomparável dessa filha de Resende Costa. Em contato com a prima, solicitei-lhe um depoimento de vida, ao que ela me sugeriu que eu lhe fizesse perguntas, aqui subentendidas em razão da limitação física deste espaço.
- “Depois de morar em Goiânia, novamente estou aqui (em São Sebastião) com os moradores de rua e mulheres da zona de prostituição do cais do porto (a morada atual).
- Levanto, tomo café, faço meditação, rezo o ‘Ofício’, atendo as pessoas, rezo o terço, rezo ‘Vésperas’, vou para o trabalho na comunidade dos pobres, participo da missa, rezo ‘Completas’ e faço oração da noite (a rotina).
- Minha maior realização é conviver com os mais pobres e fazer parte da comunidade com eles.
- Que consigamos ter na cidade uma Casa de Passagem para os pobres e andarilhos (maior sonho).
- Representa tudo. Aí nasci, cresci, aprendi. Aí estão minhas raízes, que são a base da minha vida (Resende Costa).
- Quero dar graças a Deus por tudo o que d’Ele recebi. Da minha terra, da minha família e de todas as pessoas que fizeram de mim o que sou hoje. São Sebastião é o lugar para o qual Deus me chamou para exercer minha missão junto às pessoas mais sofridas e marginalizadas (palavras finais)”.
E ela se lembra ainda de dizer que participa do GEV (Grupo de Esperança Viva), que encaminha dependentes químicos para a Fazenda Esperança, em Guaratinguetá, perto de Aparecida.
“Caminhar com humildade, amar com ternura, agir com justiça”. Isso é o que Irmã Geralda tem feito por uma vida inteira.