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O novo já nasce velho

13 de Agosto de 2014, por Bruno R. B. Florentino

Com o fim da Copa do Mundo e a vergonhosa eliminação do Brasil, aos poucos, as eleições de 2014 começam a tomar o centro das atenções. Se há um ano a Presidenta Dilma Rousseff estava tranquila, segura, surfando em uma grande onda e com projeções de vencer a disputa no primeiro turno, hoje ela se depara com um cenário, no mínimo, incômodo e temido. Embora líder nas pesquisas (com 36% das intenções de voto), a possibilidade do segundo turno é cada vez mais concreta, pois Aécio Neves possui 20% e Eduardo Campos 8%, segundo a pesquisa Datafolha.

Caso o segundo turno se concretize, a conjuntura é bastante complexa para o PT que pode ver sua estrela ser apagada por ambos os candidatos. A mesma pesquisa indica que, nesta situação, Dilma e Aécio estão em posição de empate técnico, com 44% e 40%, respectivamente. Mesmo um segundo turno contra Eduardo Campos seria delicado, pois Dilma tem 45% das intenções de voto contra 38% de Eduardo, uma diferença de apenas 7%.

Dilma ainda enfrentará o desafio de reverter sua alta taxa de rejeição, que atualmente encontra-se na casa dos 35%. Trata-se de uma cifra nociva, pois, em 2010, ela era uma figura desconhecida e acabou embalada pelos altos índices de aprovação e popularidade do governo Lula. Hoje a situação é diferente. Dilma já é conhecida por 99% dos eleitores, o prestígio não se encontra mais no Planalto e a descrença no sistema político parece cada vez maior.

De modo geral, os três candidatos terão que enfrentar a desconfiança que tomou conta dos eleitores: 74% desejam mudanças nos rumos do país. Este indicador, obviamente, irá atravessar toda a disputa eleitoral. Na verdade, já está presente nas estratégias de marketing e no discurso dos candidatos. Não é por acaso que o programa de governo de Dilma Rousseff adotou o slogan “Mais mudanças, mais futuro”; Aécio Neves está a frente da coligação “Muda Brasil”; e Eduardo Campos, além de intitular-se como a “novidade” desta disputa, divide com Marina Silva o slogan “Coragem pra mudar o Brasil”.

Contudo, para além dos slogans e dos discursos, a pergunta é: algum deles, efetivamente, trará novos ventos? Podemos confiar nisto? A conjuntura mostra que, para todos, esta será uma tarefa extensa, árdua, e, quiçá, impossível.

Dilma Rousseff, que terá exatos 11 minutos e 48 segundos da propaganda eleitoral, aparenta não se incomodar de ter conseguido tanto tempo à custa de um verdadeiro loteamento de cargos e ministérios.

Aécio Neves, que vê o seu precioso “choque de gestão” ser corroído pelas denúncias do caso apelidado de “Aécioporto”, terá que empenhar-se para convencer os eleitores que, apesar de ser o político mais “tradicional” de Minas Gerais, é capaz de responder aos anseios por algo “novo”, diferente. 

Eduardo Campos, que até ontem era um apoiador do governo federal, também é considerado um dos políticos mais tradicionais do nordeste. No passado, esforçou-se para evitar a CPI dos Correios (que resultou no escândalo do mensalão); apresentou uma lei contra o nepotismo, no entanto, além de empregar mais de 20 parentes, empenhou-se pessoalmente para conseguir nomear sua mãe, Ana Arraes, para o cargo de Ministra do Tribunal de Contas da União (TCU).

Esta eleição, que tem tudo para ser uma das mais disputadas dos últimos anos, já apresenta contornos ocultos e controversos. Por um lado, os candidatos deverão resgatar a confiança dos brasileiros, admitir que compreenderam o recado das manifestações do ano passado, ter disposição para empreender as reformas necessárias e provar que são capazes de (re)colocar o Brasil na rota da ascensão ética e política. Do outro lado, os eleitores têm motivos de sobra para padecer na descrença, pois estão do outro lado do abismo que separa “eles” de “nós”.

 

Isso porque quando se observa os três candidatos, com a intenção de aferir qual deles representa a mudança almejada, muitos se perguntam: algum deles, de fato, nos representa? É importante, neste momento, rompermos com a visão messiânica de que o “escolhido”, sozinho, será capaz de transformar o país, afinal, todos descendem de um “velho” sistema político – patrimonialista, verticalizado e contaminado.

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