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Tudo que é sólido se desmancha no ar

17 de Setembro de 2014, por Bruno R. B. Florentino

Sabe-se que todo processo eleitoral é um jogo estratégico, paradoxal e relativamente imprevisível. A disputa presidencial deste ano, a todo o momento, indicou a real possibilidade de um revés; porém, mesmo as especulações mais catastróficas, jamais imaginariam uma tragédia (ou drama) cabível em um roteiro hollywoodiano.

O acidente aéreo envolvendo o ex-candidato Eduardo Campos interrompeu, de modo súbito, a vida de um homem com legítima probabilidade de vir-a-ser Presidente do Brasil, seja nesta ou nas próximas eleições. Deste ou daquele modo, o infortúnio envolvendo o ex-candidato causou um amplo e inesperado impacto no quadro eleitoral.

Isto porque Marina Silva, que até o acidente era uma hóspede transitória do PSB, passou a ser o nome mais comentado em todos os cantos do país. Ao assumir a vaga deixada por Eduardo Campos, Marina imediatamente trouxe o PSB para a segunda posição, cresceu 14 pontos (de 20% para 34%) em apenas 11 dias (de 18 a 29 de agosto) e está tecnicamente empatada com Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Segundo a pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, em 29 de agosto, Dilma estacionou na casa dos 34% há mais de um mês.

Aécio Neves, candidato do PSDB, no momento, enfrenta o pior cenário para um candidato que era tido como certo no segundo turno e agora amarga a terceira posição. Sua candidatura foi a que mais perdeu musculatura nos últimos dias (de 20% para 15%) e agora, de fato, passará a enfrentar uma série de desafios para viabilizar seu projeto e não ver os tucanos desmotivados ou pousando em outros ninhos.

A equação de Aécio, nos estados, é bastante complexa. Em Minas Gerais, seu reduto eleitoral está realmente ameaçado com a candidatura de Fernando Pimentel, do PT, que disparou na corrida e está 14 pontos à frente de Pimenta da Veiga, do PSDB (37% a 14%). Vale relembrar que as principais lideranças políticas – Geraldo Alckmin e José Serra – do maior colégio eleitoral do país, outrora, acusaram Aécio de fazer “corpo mole” em suas respectivas disputas à Presidência da República. Caso a candidatura de Aécio não decole, nos próximos dias, é possível que ambos estudem uma aproximação com o PSB, partido de Marcio França, vice de Geraldo Alckmin e um dos coordenadores da campanha de Marina, que, por sua vez, ventilou a possibilidade de contar com José Serra, caso seja eleita.

A mesma pesquisa revela que, num provável segundo turno, Marina Silva efetivamente poderá retirar Dilma do Palácio da Alvorada e colocá-la no limbo da política com uma diferença de 10 pontos (50% a 40%). Nesta situação, observa-se que a maior parte dos eleitores do PSDB automaticamente migra para o PSB.

As atuais perspectivas, que provavelmente estão tirando o sono dos principais presidenciáveis, revelam que há algo por detrás dos números. Se comparado aos demais partidos, o PSB possui a menor estrutura partidária, não realizou uma coligação expressiva, detém pouquíssimo tempo de televisão e somente alguns palanques estaduais; no entanto, hoje, ameaça chegar à Presidência pela terceira via e romper a polarização entre PT e PSDB.

O cenário eleitoral, segundo alguns especialistas, está relativamente consolidado. O avanço de Marina Silva relaciona-se com a taxa recorde de eleitores sedentos por mudanças, afinal, 79% desejam que as ações do próximo presidente sejam diferentes das atuais. Trata-se de um sentimento extremamente semelhante ao que elegeu Lula, em 2002.

De todo modo, a disputa está na metade do curso. E, ainda que seja pouco provável, novos elementos poderão surgir, modificando novamente o cenário eleitoral, pois, conforme visto, o percurso de qualquer eleição pode ser incerto e inseguro, onde “tudo que é sólido se desmancha no ar”, a qualquer tempo.

 

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