Período chuvoso 2014/2015
17 de Junho de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio 0
Adriano Valério Resende
Dias atrás, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM - divulgou o Relatório Hidrometeorológico (RHIDRO) para o estado de Minas Gerais. O estudo analisou as distribuições espaciais das chuvas de acordo com o período hidrológico para os anos de 2014/2015 e o comportamento da vazão dos principais rios e reservatórios. O período analisado vai de outubro/2014 a março/2015.
O município de Resende Costa está localizado no encontro de três áreas de estudo, as chamadas Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos – UPGRH: GD2 (sub-bacia do rio Santo Antônio pertencente à bacia do rio das Mortes, afluente do rio Grande), SF2 (sub-bacia do rio Pará, afluente do rio São Francisco) e SF3 (sub-bacia do rio Paraopeba, também afluente do rio São Francisco). A título de localização, a primeira abrange o centro-sul do município, a segunda o entorno do Cajuru e de Jacarandira (merece destaque a informação de que o rio Pará nasce em Resende Costa), e a terceira a região dos Curralinhos.
No mês de outubro/2014, para o município de Resende Costa, as chuvas ficaram abaixo de 60% da média climatológica. A Unidade de Planejamento mais crítica em relação às chuvas foi o GD2. Apenas o extremo leste de Minas (Vales do rio Doce e Mucuri) ficou na média. Já para o mês de novembro, a pluviosidade ficou aproximadamente 60% acima da média, com destaque para a regional SF2, onde a média ultrapassou os 100%.
Em dezembro voltou a chover menos que o esperado, para o município de Resende Costa as chuvas ficaram abaixo de 50% da média climatológica. Apenas partes do Triângulo e o extremo norte de Minas (região de Paracatu e Unaí) ficaram na média. Em janeiro a situação foi mais crítica, o município ficou de 45% (SF2 e SF3) a 50% (GD2) abaixo da média climatológica. A situação ficou realmente crítica no norte (Vale do São Francisco) e nordeste do estado (Vales do Jequitinhonha e Mucuri), onde foram registrados valores de até 5% da média climatológica.
Fevereiro já foi um mês mais chuvoso em praticamente toda Minas. Para Resende Costa as chuvas foram de 30% (GD2 e SF3) a 40% (SF2) acima da média. Em março, uma parte do centro-sul de Minas ultrapassou o dobro da média histórica (e estamos nela), chegando a até 300% nas proximidades da região de Divinópolis. Mas, numa parte dos extremos norte e nordeste a chuva ainda ficou abaixo da média.
As informações sobre os meses de abril e maio ainda não foram disponibilizadas em relatório, mas vimos que em nossa região a chuva ficou acima da média histórica. Felizmente, as águas de março não fecharam o verão para a região Sudeste. Se isso acontecesse ficaríamos em situação parecida com a do Sertão Nordestino. Aliás, em termos de disponibilidade de água (relação água/habitante) a Grande SP, por exemplo, está até pior.
Nossas nascentes, córregos, rios e reservatórios agradeceram as chuvas fora de época. No entanto, é bom ficarmos atentos, pois estamos apenas iniciando o período das secas e as vazões (a quantidade de água) nos cursos d’água estão reduzidas para o período. Já presenciamos relatos de que algumas nascentes, certamente aquelas que estão mais altas na paisagem, já secaram ou diminuíram drasticamente a vazão, se comparado a períodos anteriores.
Vejamos um exemplo: Semanas atrás foi publicada no jornal Estado de Minas uma reportagem sobre a estiagem no rio das Velhas, que passa na região metropolitana de Belo Horizonte. O título era: “Rio das Velhas entra em estado de atenção por causa da baixa vazão”. Segundo informado, o rio, de onde vêm 60% da água que chega às torneiras da capital, está com baixo volume, assim como os reservatórios administrados pela COPASA. Conforme Deliberação Normativa 49/2015, um corpo d’água entra em estado de atenção quando apresenta vazões inferiores a 200% do nível mais baixo medido nos últimos 10 anos, em sete dias consecutivos, o chamado índice Q7,10, que para o rio das Velhas é de 20,5 m³/s. No mês de maio foram registradas vazões abaixo disso, no dia 17 o rio chegou a 15,3 m³/s.
Já foi a época das chuvas preguiçosas dos meses de dezembro e janeiro, chovia o dia inteiro e o mês inteiro. Para as crianças era o terror, mas para a natureza uma benção.
Crescimento populacional na bacia do rio Santo Antônio
14 de Maio de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio 0
O rio Santo Antônio é um importante afluente da margem direita do rio das Mortes, que é um tributário integrante da vertente mineira da bacia hidrográfica do rio Grande. A área de drenagem do rio Santo Antônio é de aproximadamente 513 km², abrangendo quatro municípios: 15,0% (77,6 km²) estão no município de Coronel Xavier Chaves, 5,5% (28,0 km²) em Lagoa Dourada, 59,0% (302,9 km²) em Resende Costa e 20,5% (104,5 km²) em Ritápolis. As sedes municipais de Coronel Xavier Chaves, Resende Costa e dois bairros de Ritápolis encontram-se na bacia do rio Santo Antônio.
Para entendermos o comportamento demográfico dos municípios serão utilizadas informações dos três últimos Censos Demográficos do IBGE: 1991, 2000 e 2010. A população residente total dos quatro municípios passou de 28.565 habitantes em 1991 para 31.395 em 2010, um aumento de 9,9%. Percentual bem menor que o crescimento do conjunto dos 42 municípios que compõem a área de atuação do Comitê de Bacia Hidrográfica Vertentes do Rio Grande – CBH GD2 (que inclui São João del-Rei, Lavras e Barbacena), que foi de 19,64%, e que o de Minas Gerais, acumulado em 24,5%.
Mais detalhadamente, houve um acréscimo populacional em três dos quatro municípios: Coronel Xavier Chaves, Lagoa Dourada e Resende Costa, respectivamente 10,5%, 21,1% e 12,4%. A exceção foi Ritápolis, onde a população diminuiu -14,4% no período analisado. Em 2010, a população residente era a seguinte: Coronel Xavier Chaves com 3.301 habitantes, sendo 1.800 na cidade e 1.501 na zona rural; Lagoa Dourada com 12.256 habitantes, sendo 6.889 na cidade e 5.367 na zona rural; Resende Costa com 10.913 habitantes, sendo 8.776 na cidade e 2.137 na zona rural e Ritápolis com 4.925 habitantes, sendo 3.407 na cidade e 1.518 na zona rural.
O percentual de população urbana em Minas, em 2010, era de 85,3% e nos municípios que compõem o CBH GD2 era de 86,6%, acompanhando a realidade nacional, 84,4%. Embora em menor escala, o fenômeno da urbanização é verificado também nos quatro municípios da bacia do rio Santo Antônio, onde 66,5% da população era urbana em 2010. Se forem analisados separadamente os quatro municípios, dois extremos se destacam: Resende Costa e Ritápolis com um percentual de população urbana maior, respectivamente 80,4% e 69,7%; Lagoa Dourada e Coronel Xavier Chaves menos urbanizados, respectivamente 56,2% e 54,5%. Isto é, nos dois últimos municípios a população ainda se manteve na zona rural. Resende Costa merece destaque, onde menos de 1/5 da população vivia no meio rural, o que evidencia a importância das atividades urbanas, em especial o comércio e o artesanato.
No período 1991-2010, a população urbana mineira aumentou em 41,8% e a dos municípios do CBH GD2 em 35,2%. Na bacia do rio Santo Antônio o acréscimo foi de 35,3%, passando de 15.425 habitantes em 1991 para 20.872 em 2010, acompanhando a dinâmica estadual e regional. Na bacia destacam-se dois extremos: Ritápolis com um pequeno crescimento urbano, de 3,6% (mas, negativo em -2,7% no decênio 2000-2010); Coronel Xavier Chaves com crescimento de 31,0%; Lagoa Dourada e Resende Costa com um aumento da população urbana acima da média mineira e regional, respectivamente 45,8% e 45,6%. Ressalta-se que, em Resende Costa, o crescimento da população urbana (45,6%) praticamente acompanhou o decréscimo da população rural (-41,9%), o que não se verificou em Lagoa Dourada.
A redução do número de moradores na zona rural foi uma realidade mostrada pelos Censos. No Estado, a população rural reduziu em -27,2% e nos municípios da UPGRH GD2 em -31,6%. Nos quatro municípios a população rural diminuiu em -20,0%. Destacam-se dois extremos no período: Coronel Xavier Chaves e Lagoa Dourada com pequenos decréscimos, respectivamente -7,0% e -0,33%; Resende Costa e Ritápolis com decréscimos acima das médias estadual e regional, respectivamente -41,9% e -38,4%. Assim, entre 1991 e 2010, em Coronel Xavier e em Lagoa Dourada a população rural praticamente se manteve estável, em Resende Costa quase metade da população rural se mudou para a cidade e em Ritápolis quem saiu da zona rural foi morar em outra cidade.
Alfabetização Ecológica: um desafio para a educação no século XXI
15 de Abril de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio 0
(Uma reflexão para nós, educadores)
Fritjof Capra, físico e escritor austríaco, muito conhecido pelos seus livros O Tao da Física (1975) e O Ponto de Mutação (1982), trabalha com o termo alfabetização ecológica no livro A Teia da Vida (1996). Simplificadamente, seria a educação das crianças para um mundo sustentável.
É notório que o planeta passa por uma grave crise ambiental. Dessa forma, segundo o autor, para o século XXI, um dos nossos maiores desafios será o de se construir e manter comunidades humanas sustentáveis, isto é, comunidades que satisfaçam suas necessidades e aspirações sem diminuir as oportunidades das futuras gerações. E, certamente, essa mudança de mentalidade passa pelas escolas. Como isso seria possível?
A alfabetização ecológica se baseia na possibilidade de nutrir um sentimento de afinidade com o mundo natural, ou seja, despertar a biofilia (amor à vida, à conservação) nos educandos. Isto é, na compreensão do lugar ocupado pelo ser humano na história evolutiva da vida, e mais além, compreender que a saúde, o bem-estar e a própria sobrevivência humana dependem da convivência com e não contra a natureza. Uma pessoa ecologicamente alfabetizada, portanto, teria o conhecimento necessário para compreender a relação homem-natureza, além da competência prática necessária para agir baseado tanto no conhecimento quanto na intuição.
Uma condição essencial para a alfabetização ecológica de crianças é a necessidade da experiência direta com a natureza. O ensino não acontece de cima para baixo, mas exige uma troca cíclica de informações. O foco está na aprendizagem e todos integrantes do sistema educacional são ao mesmo tempo mestres e aprendizes. Nas escolas, a ecoalfabetização valoriza a aprendizagem baseada em projetos, como, por exemplo, em uma horta escolar ou um projeto de recuperação de um curso d’ água.
Por estar intelectualmente fundamentada no pensamento sistêmico, a alfabetização ecológica é muito mais que educação ambiental. Graças à interconectividade do cérebro, tudo que acontece a uma criança tem consequências diretas e indiretas. Corpo e mente se interagem profundamente. Por exemplo, tocar piano ou cantar em um coral melhora o raciocínio espacial. As artes (as artes visuais, a música, as artes cênicas) desenvolvem e refinam a capacidade natural de uma criança de reconhecer e expressar padrões. A leitura aumenta a capacidade de abstração do aluno e assim por diante. Toda aprendizagem é complexa e em cada encontro os professores estão lidando com o sistema inteiro envolvendo a criança.
O novo entendimento do processo de aprendizagem também envolve o reconhecimento de que toda aprendizagem é fundamentalmente social. Cada indivíduo está necessariamente inserido em um sistema social, em uma comunidade. Parte de nossa identidade depende dos laços que tentamos estabelecer na comunidade e boa parte de nossa aprendizagem depende das comunidades a que pertencemos.
Nessa direção, Capra aponta a necessidade de uma reforma escolar, que trate de desenvolver novos processos de se aprender e um novo processo de lideranças envolvendo crianças, professores, pais e funcionários da nova escola, pois o novo ensino será uma troca cíclica e não uma relação hierárquica. As crianças não são potes vazios à espera de serem preenchidos com informações, elas constroem ativamente seus conhecimentos, relacionando todas as novas informações com as experiências anteriores em uma busca constante de significados.
Capra enfatiza que à medida que nosso novo século se desdobra, a sobrevivência da humanidade dependerá da alfabetização ecológica: nossa capacidade de compreender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com eles. Este é um empreendimento que transcende todas as diferenças de raça, cultura ou classe social. A Terra é nosso lar comum e criar um mundo sustentável para nossas crianças e para as futuras gerações é uma tarefa para todos nós.
Alerta para a degradação do Cerrado
11 de Marco de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio 0
“Na prática, o Cerrado já está extinto como bioma... a devastação do Cerrado vai produzir também o desaparecimento dos reservatórios de água [...]”. Essas frases são de uma entrevista que o jornalista Elder Dias fez com o professor da PUC de Goiás, Altair Sales Barbosa, intitulada “O Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água”. Você certamente já deve saber que o município de Resende Costa possui basicamente dois tipos de formação vegetal: Mata Atlântica (Floresta estacional semidecidual) e Cerrado. A título de localização geográfica, a vegetação de Cerrado é visível nas localidades: Restinga, Pintos, Ribeirão, Cajuru e Jacarandira. A partir desses povoados, sentido oeste e norte, o Cerrado praticamente domina a paisagem.
O Cerrado é formado por árvores quase sempre baixas, retorcidas e espaçadas, com uma formação campestre, muitas vezes rala. Nos vales e grotas mais úmidos as árvores possuem porte maior. Infelizmente essa vegetação, que ocupava grande parte do Brasil Central está acabando, não restando mais que 30% dela. Já para a Mata Atlântica a situação é ainda pior, sobram menos de 8%. Em Resende Costa, grande parte da vegetação nativa de Cerrado se tornou plantação de eucalipto ou “brachiaria”.
Segundo o professor Altair Barbosa, dos ambientes vegetais do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. A história recente da Terra começou há 70 milhões de anos, quando foi extinta mais de 99% da vida e o planeta começou a se refazer. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgiram na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado. Isso é uma das justificativas para a afirmação de que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.
Esse bioma é um tipo de ambiente em que vários elementos vivem intimamente interligados uns aos outros, isto é, já chegou ao seu clímax evolutivo. Assim, uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. A título de comparação, a Amazônia terminou de ser formada há apenas 3 mil anos, um processo que começou há 11 mil anos, com o fim da glaciação no Hemisfério Norte. Assim, a configuração que tem hoje existe na plenitude só há 3 mil anos. A Mata Atlântica tem 7 mil anos. São ambientes que, se degradados, é possível recuperá-los, porque são novos, estão em formação ainda.
Continua o professor, o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação agrícola intensiva. A plantação de gramíneas exóticas (vindas da África e da Austrália) para o pastoreio modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas nativas não conseguirá brotar mais. Além disso, o Cerrado foi incluído na política de expansão da fronteira agrícola por ser fácil de trabalhar, visto que as áreas são planas e com duas estações bem definidas. A alteração na qualidade do solo afeta os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.
Mas o mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias brasileiras e drenam grande parte das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. É daqui que saem as nascentes dos rios São Francisco, Doce, Grande, Paranaíba etc. Os rios nascem de aquíferos. Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. O local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga. Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado. Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático. Outra questão, as plantas do Cerrado são de crescimento muito lento. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, os Buritis (palmeiras que crescem nas veredas) que vemos hoje estavam nascendo. Eles demoram 500 anos para ter de 25 a 30 metros.
Um dado nos assusta: em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo.
Adriano Valério Resende
Vegetação nativa na bacia do rio Santo Antônio
11 de Fevereiro de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio 0
Falamos na reportagem passada sobre a expansão das plantações de eucalipto nos municípios que drenam a bacia do rio Santo Antônio. Vejamos, por outro lado, alguns dados oficiais do remanescente de vegetação nativa em nossa região. Essas informações fazem parte do Monitoramento da Flora Nativa, realizado entre 2005 e 2007 no âmbito do Inventário Florestal de Minas Gerais, fruto da uma parceria entre o governo de Minas e a Universidade Federal de Lavras (Carvalho; Scolforo, 2008).
A bacia do rio Santo Antônio está localizada no bioma Mata Atlântica. A formação florestal nativa predominante faz parte da região fitoecológica Floresta Estacional Semidecidual. Destaca-se a existência de uma mancha (enclave) de Cerrado dentro da área da bacia. A título de localização geográfica local, essa mancha de Cerrado é visível entre os povoados dos Pintos, do Ribeirão e do Cajuru. Ressalta-se que, atualmente, o maior remanescente florestal nativo da bacia do rio Santo Antônio está na Serra das Vertentes, se estendendo do povoado do Ribeirão até o Barracão/Floresta. A preservação desta área é muito importante para a manutenção da biodiversidade em nosso município.
Conforme dados apresentados no estudo, em 2007, Minas Gerais possuía uma cobertura florestal nativa que cobria 33,51% de sua área, em especial no centro-norte do Estado. Na área de atuação do Comitê de Bacia Vertentes do Rio Grande (bacia do rio das Mortes) e na bacia do rio Santo Antônio (afluente do rio das Mortes) restavam, respectivamente, 14,37% e 8,90% da vegetação nativa original. Esses dados evidenciam o elevado grau de antropização/degradação em nossa região e em especial no rio Santo Antônio.
Em relação às fisionomias dessa vegetação nativa, o destaque também é para a floresta estacional semidecidual (Mata Atlântica), que cobriam 7,88% dos 8,9% de vegetação nativa da bacia do rio Santo Antônio. Analisando separadamente os municípios de Coronel Xavier Chaves, Lagoa Dourada, Resende Costa e Ritápolis, conservavam respectivamente 9,93%, 8,91%, 7,45% e 8,67% da vegetação nativa. Percebe-se que o destaque negativo é para Resende Costa, que possuía 92,5% de sua área já bastante alterada pelas intervenções antrópicas. Em Minas, apenas 96 dos 853 municípios possuíam percentual de vegetação nativa menor que o de Resende Costa.
Nos últimos meses estamos vivenciando a diminuição das chuvas e consequentemente da vazão das nascentes e dos cursos d’águas. Você já se perguntou qual a relação entre a água e a vegetação nativa? Eis algumas respostas: a vegetação diminui o escoamento superficial (a enxurrada), que provoca o arraste de sedimentos e de terras para os cursos d’água, causando assoreamento e diminuição de sua qualidade; a matéria orgânica (vegetação em decomposição) segura a água por mais tempo sobre o solo favorecendo a infiltração, que é um processo lento.
Bom, já falamos que os aquíferos da região de Resende Costa possuem pouca água armazenada, uma vez que essa ocupa fraturas e fendas abertas em rochas ígneas e metamórficas, que possuem baixíssima permeabilidade. Em outras palavras, nossos cursos d’águas dependem da pluviosidade (chuva), uma vez que temos pouca água armazenada no subsolo. Assim, destaca-se que a degradação da vegetação das áreas de recarga contribui ainda mais para essa dependência. Dessa forma, ratifica-se a importância da preservação das áreas de recargas, onde há infiltração e permanência de água no solo, sendo essas principalmente as áreas com cobertura florestal nativa.
Por fim, segundo Stela Goldenstein: “Outra questão distingue este bem (água enquanto recurso): a produção e acumulação de água são processos fortemente dependentes de condições meteorológicas e também da proteção de vastas florestas. A água não nasce em árvores, mas sem árvores, não há água, já se disse. O valor econômico das florestas (terra, árvores, biodiversidade) que garantem a presença de água onde nos organizamos para captar é objeto de grandes discussões, ainda a amadurecer. Como incluir essa importante variável, a criação e manutenção de florestas, na definição do valor da água, de forma a melhor formar seu preço? Ainda são incipientes os mecanismos de pagamento/retribuição aos proprietários rurais pela proteção que podem fazer às florestas.”