Em casa
10 de Maio de 2020, por Regina Coelho 0
Circulando no mundo todo, a palavra do momento, certamente do ano também, é COVID-19, precisamente uma sigla que a Organização Mundial da Saúde passou a usar desde o início de fevereiro último para chamar oficialmente a doença causada pelo novo coronavírus – Corona Vírus Disease. O 19 se refere a 2019, quando os primeiros casos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente pelo governo chinês no final de dezembro. A partir de então, o que soava como um alerta global para o que se via na Ásia se confirmou pela OMS no dia 11 de março como pandemia (epidemia que se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa).
Num cenário de grande preocupação e de pânico até para muitos com a propagação do vírus e o crescente número de mortes, vivemos todos agora obrigados a seguir um novo normal neste período de isolamento social (ou distanciamento físico?). Como se sabe, essa é uma das medidas essenciais aplicadas no combate a esse inimigo que anda roubando nosso sossego. E a prática do “Fique em casa!” como forma de evitar aglomerações de pessoas pelas cidades instaurou outros hábitos no nosso dia a dia. Digna de registro aqui é a maneira como a comunicação vem sendo feita entre os distanciados pela pandemia, não exatamente envolvendo uma mudança, mas uma intensificação da rotina pelo uso das redes sociais.
Paralelamente ao que andei vendo, lendo e ouvindo de sério e importante sobre essa difícil situação, andei selecionando algumas boas frases de reflexão. Vejam: *Isolamento é ficar num hospital lutando pela vida. Ficar em casa é uma bênção! *O amor de sua vida é você. Cuide-se! *Bom dia! É só um tempo ruim. Vai passar! Força, foco e fé! *Daqui a pouco tudo isso passa. O beijo vai ser demorado; o abraço, apertado, e o valor à vida, redobrado. E pra gente dar uma descontraída: * Vontade de me jogar dentro da máquina de lavar só pra poder dar umas voltinhas. * Antes da quarentena eu já falava sozinho, agora isolado estou dando até palestra. * Não está sendo fácil (trecho da música Qualquer jeito, da cantora Kátia (anos 80), com foto dela em destaque). * Amanhã é feriado, vocês podem ficar em casa (no dia 20/4)! * Cada um na sua toca e a Paz na toca de todos. Feliz Páscoa! (com a ilustração de um coelhinho usando máscara) * Fiquei uma hora sem usar álcool gel e minhas mãos começaram a tremer. Acho que é abstinência. * Sou cardíaco, diabético e velho. O vírus que me pegar vai ganhar uma Tríplice Corona – Luís Fernando Veríssimo, escritor de 83 anos, que não perde uma piada. * Estou me cuidando isolada para ser uma coroaviva.
A frase final acima faz referência positiva ao grupo de risco dos idosos, mas nem sempre isso acontece. Característica associada aos mais velhos, a teimosia deles vem sendo explorada em brincadeiras sem graça alertando-os para o perigo a que se expõem insistindo em saírem às ruas nesta época. A necessidade de mantê-los em casa hoje é indiscutível. No início desse processo de reclusão, ouvi de um médico em um programa de TV considerações interessantes sobre essa questão. Segundo ele, perder a autonomia já é tão difícil em qualquer idade e, na velhice, muito mais. E sugeriu que o “está proibido” e o “você não pode” sejam substituídos por “deixa eu ajudar você”. Concluindo sua fala, observou que está sendo impedido a eles (idosos) neste momento tudo aquilo que a gerontologia recomenda que tenham: afeto daqueles com quem convivem, interatividade com as pessoas, atividades ao ar livre... Mais compreensão em relação a essa realidade é o que se espera.
Novidade boa foi ver Maurício de Sousa (criador da Turma da Mônica) colocar o Cascão, que não gosta de água, lavar as mãos em tempo de combate ao coronavírus. “Transportados” para o presente, Chicó, João Grilo e companhia também estão dando as caras por aí. A reedição de trechos da série global O auto da compadecida (1999), baseada na obra homônima de Ariano Suassuna, tem áudio que imita voz e sotaque desses personagens em diálogos que alertam sobre os perigos do corona, respeitando o perfil original de cada um. É a arte a serviço da vida.
Aqui e lá fora, um grande sucesso popular
12 de Abril de 2020, por Regina Coelho 0
Pouco se falou de José Mauro de Vasconcelos e seu centenário de nascimento em 26/2/2020. Romancista brasileiro cuja obra teve papel importante na formação de algumas gerações de leitores, com tradução em várias línguas e presença em muitos países, mesmo assim ele não teve o reconhecimento devido nos meios acadêmicos. “Talvez ele tenha sido assim uma espécie de ‘patinho feio’, ou um pouco injustiçado nas qualidades dele como escritor, como homem de cultura”, pondera João Ceccantini, professor de literatura (UNESP de Assis/ SP). Aclamado pelo público e marginalizado pela crítica, o carioca criado pelos tios em Natal (RN), devido às precárias condições econômicas da família, é responsável por largas tiragens com sucessivas reedições de seus romances. Um deles é a obra As confissões de Frei Abóbora, que conferiu a José Mauro em 1967 o Jabuti, tradicional prêmio literário brasileiro. Esse fato pode ser sinalizado como uma rara admissão do talento desse criador de tantas outras histórias por parte de uma entidade respeitada na área, no caso, a Câmara Brasileira do Livro (promotora da premiação).
Em se tratando de uma produção tão vasta ao longo de décadas, no entanto, pela popularidade e seu consequente sucesso editorial, o destaque absoluto atende pelo título de O meu pé de laranja lima (1968). Com edição comemorativa de 50 anos em 2018 pela Editora Melhoramentos, a história fortemente autobiográfica do menino Zezé tem números impressionantes, ou seja, venda de mais de 2 milhões de exemplares somente no Brasil, onde teve mais de 150 edições. No Japão e na Coreia do Sul, chegou a ganhar uma versão em forma de mangá (história em quadrinhos). E não para aí. As mesmas páginas que fizeram muita gente se emocionar com as aventuras e desventuras do garoto que “conversava” com “um certo pé de laranja lima” foram adaptadas para a televisão em três novelas: uma na hoje extinta Rede Tupi (1970) e duas na Rede Bandeirantes (1980 e 1988). E também mereceram adaptações para o teatro e em 1970 e 2012, para as telas do cinema.
Nunca me esqueci do dia em que eu e minha irmã Fátima fomos assistir em São João (del-Rei) àquele filme tão esperado por nós, uma vez que havia sido adaptado do livro que já tínhamos lido (e amado) e relido. Mas o impacto de ver na telona todas aquelas personagens que já conhecíamos da leitura do texto foi muito grande. Vê-las fisicamente com a voz e as feições de cada intérprete, é claro, foi inesquecível. Ver o Zezé sofrendo horrores, aí, foi demais para mim. E foi um chororô só! Conversando com a Fátima agora sobre isso, ela me disse que se lembra até do “vestidinho azul” que eu usava no dia, com certeza molhado pelas lágrimas que não consegui impedir que caíssem.
Para quem não conhece o livro, valem aqui algumas informações relevantes sobre ele. Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa (Zezé, personagem-narrador), um relato da vida humilde de uma família com problemas de violência doméstica, alcoolismo do pai e omissão submissa da mãe em relação ao comportamento agressivo desse mesmo pai/marido com os filhos e com ela mesma. Nesse conjunto de situações (atemporais, diga-se de passagem), transita o protagonista infantil em seus 5/6 anos. E três figuras são fundamentais em sua vidinha (uma mistura de inocência e travessuras): Glória, a irmã adolescente, sempre tentando defendê-lo das surras que levava; Minguinho (ou Xururuca), o seu amigo imaginário, isto é, o pequeno pé de laranja lima; e Portuga, um amigo adulto por quem Zezé se afeiçoa. Chama a atenção na caracterização dessa criança a hiperatividade, hoje reconhecida como tal, mas vista na história como coisa de quem “tinha o diabo no corpo”.
Isso posto e longe da questão envolvendo o embate entre sucesso comercial e legitimidade literária, lembro Djavan para sugerir a vocês neste outono inquietante e de reclusão em nossas casas em “um dia frio/ um bom lugar para ler um livro”.
Sob o disfarce de elogio
17 de Marco de 2020, por Regina Coelho 0
o machismo é uma forma de preconceito. Expresso por opiniões e atitudes, ele se opõe à igualdade de direitos entre os gêneros, sobrepondo o gênero masculino ao feminino. Na prática, ser machista implica relegar a mulher a uma posição secundária na sociedade, conduta determinada pela crença em uma infundada superioridade masculina. Sabe-se que o pensamento machista é cultural, tendo sido normatizado por muito tempo, mas há algumas décadas esse comportamento vem sendo combatido, especialmente pelos movimentos feministas, que atuam contra essa situação de desigualdade de direitos, em todos os seus sentidos, problema que ainda hoje atinge as mulheres em muitas partes do mundo.
No dia a dia, além do machismo explícito existente nas relações domésticas e de trabalho, há aquele velado, subentendido, escondido em comentários aparentemente sem importância que, direcionados à figura feminina, têm como propósito deixá-la inferiorizada. Tal postura caracteriza o que chamam de negging. Na verdade, trata-se de uma “estratégia de sedução” em que o homem ofende a mulher para desarmá-la. Ao lidar com a competição diante de mulheres bonitas – e que na teoria sabem disso –, o sedutor faz à pessoa-alvo de sua cantada uma crítica disfarçada de elogio para que ela fique atraída por ele, que aparenta não dar atenção à aparência dela, tentando rebaixá-la. No fundo, isso não deixa de ser um modo de ferir a autoestima de uma mulher e fazê-la acreditar que precisa da aprovação dele para ser feliz e se sentir amada.
Um tipo de negging muito comum pode ser encontrado nos comentários que sugerem que a pessoa deve mudar. Pode ser qualquer coisa: do corpo, do estilo de vida dela ou do seu grupo de amigos. De outra forma, há as frases ditas em tom de brincadeira, de zoeira, só que não são. Juntam-se a isso certos “elogios” que não passam de textos sexistas ou racistas, culturalmente ofensivos. A título de ilustração dessa prática, vejamos a lista abaixo:
- Seus cabelos são bonitos, é aplique? 2- Seus cabelos são bonitos, mas acho que você precisa hidratá-los. 3- Seus seios são de silicone? 4- Você não é tão bonita, mas tudo bem. 5- Você tem pés bonitos, pena que são tão grandes. 6-Você sempre usa tanto batom que não tenho vontade de te beijar. 7- Você poderia ser modelo se fosse mais magra ou mais alta. 8- Acho que não dá pra te reconhecer se te encontrar sem maquiagem. 9- Seu rosto é tão lindo! Imagina quando ficar mais magra e sarada! Vai ficar top! 10- Você nem parece muito com as fotos que vi de você. 11- Por que você pinta seu cabelo de vermelho? Eu gosto tanto do seu cabelo natural! 12- Você é muito bonita. Não achei que seria inteligente. 13- Nossa! Seu nariz mexe quando você ri. Que bonitinho! (com voz irônica) 14- Gostei dessa sua blusa. Parece que te deixa mais magra. 15- Eu estou realmente começando a gostar de você, mas é uma pena que você não seja o meu tipo. 16- Você é tão bonita, mas se alisasse o cabelo ficaria mais linda ainda.
Esses exemplos são uma amostra do vasto repertório usado por quem quer atingir a autoconfiança de mulheres que muitas vezes demoram a perceber os sinais do negging, um jogo barato de sedução seguida por uma desqualificação, semelhante ao famoso “morde e assopra”; nesse caso, quase sempre “morde depois”. Segundo especialistas da psicologia, isso pode ser o indício de uma futura relação abusiva.
Independentemente do tipo de relacionamento (amoroso, de trabalho, de amizade) em que esses comentários são feitos, vale lembrar a necessidade de que as pessoas exercitem a empatia e o cuidado com o outro, colocando-se no lugar dele.
E você, amiga, se tiver a infelicidade de ouvir daquele cara de quem “você fala muito” e ele lhe perguntar “onde é o seu botão do off?”, fazendo-se de engraçadinho, dê você um off nele. E se for o caso de ele lhe perguntar, antes de sair com você, “como é que a gente vai disfarçar a sua beleza hoje?”, nem disfarce e pule fora dessa!
E que bom que nem todos os homens são iguais!
Três vidas em plenitude
19 de Fevereiro de 2020, por Regina Coelho 0
Maria do Carmo mora em uma chácara no interior paulista. Mesmo beirando os 88 anos, leva uma vida ativa e nunca permitiu que a idade a impedisse de fazer qualquer coisa. Quando estava próxima de completar os 70, tirou carteira de habilitação, formou-se no Ensino Médio e aprendeu a tocar violão. Depois de sofrer algumas quedas enquanto ia visitar os filhos, que possuem sítios vizinhos, por recomendação médica ela teve que deixar de lado tanta agitação. Mas a vontade de retomar suas atividades era grande. Então Maria acionou a neta Thatiana com o seguinte pedido: “Conversa com seu pai e seus tios para eu poder ir à horta, nem que seja só para colher as mandiocas que plantei”. E assim foi. E mais. Fez também um dos filhos adaptar a horta para uma altura tal que agora ela não precisa se abaixar nos momentos em que cuida da plantação. E a neta ainda conta que, como a avó não gosta muito de tecnologia, um outro filho fez de uma caixa d’água no quintal da casa da família um lugar para que a mãe pudesse pescar e se divertir. A ideia foi um sucesso tão garantido que, depois de ter fisgado cinco peixes num só dia e, empolgada com a sexta próxima “vítima”, ela puxou o anzol com tanta força que caiu sentada. Felizmente, nada sério.
(Texto adaptado do R7 – Notícias boas – 14/1/2020).
Da mesma forma, Filomena Andrade é uma mulher cheia de disposição. E de compromisso também. A julgar por suas andanças pela cidade, Memena (como a chamo carinhosamente) é pura autossuficiência. Seja fazendo compras de supermercado ou atividades físicas com o grupo da Terceira Idade, seja participando de ensaios e apresentações do Coral Mater Dei ou visitando os mais chegados, ela é, de fato, uma pessoa incrível. Diante de seus recém-completados 90 anos, está em seus planos chegar aos 100. E condições para isso não lhe faltam, ainda que tenha passado por alguns problemas sérios de saúde. Sei de sua antiga paixão pelo vôlei dos tempos de jogadora (junto com minha mãe, minhas tias e outras moças) nas décadas de 1940/1950. Memena tem ainda o nome marcado na história do teatro amador de Resende Costa, nessa mesma época, com atuação em muitas peças. Há poucos anos ela se destacou numa performance idealizada por algumas alunas da E. E. Assis Resende como trabalho escolar. Em vídeo inspirado num clipe de Clarice Falcão (cantora) tendo como trilha sonora de fundo a música Survivor (Sobrevivente), mulheres de diferentes idades e vivências revelam força e resistência com gestos de encorajamento às demandas femininas. Conectada com a proposta defendida pelo grupo ali formado, Filomena simplesmente arrasou.
Padre espanhol naturalizado brasileiro, Dom Pedro Casaldáliga é bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), município escondido no interior brasileiro de onde emergiu nacionalmente a figura corajosa daquele que ainda hoje de lá não arreda pé. Acometido há algum tempo pelo Mal de Parkinson, chamado por ele de “irmão Parkinson”, Pedro, como gosta que o tratem, é um homem de muita luta. “Sempre pela defesa de um progresso que não mate índios, que não destrua a natureza, que preserve a vida, que não escravize o ser humano”, resume Ana Helena Tavares, sua primeira biógrafa brasileira, explicando as causas abraçadas por seu biografado. Dom Pedro já foi alvo de inúmeras ameaças de morte por contrariar certos interesses escusos e por cinco vezes, durante a ditadura militar, enfrentou processos de expulsão do Brasil. Como se não bastasse toda dedicação de pastor aos mais desvalidos, o bispo do povo (ou bispo “vermelho”, para seus desafetos) é poeta e autor de várias obras sobre antropologia, sociologia e ecologia.
Maria, que não conheço, não se entrega. Conta com o tratamento amoroso da família. Memena conheço desde sempre. É mãezona de seis, entre eles, da Ré, minha amiga xará. Conheço Dom Pedro, que completa 92 anos neste 16 de fevereiro, por acompanhar seus feitos de longe. Chegados à maturidade plena, os três são donos de admiráveis histórias de vida.
Medo de quê?
21 de Janeiro de 2020, por Regina Coelho 0
o medo é um sentimento inerente ao ser humano. Em maior ou menor grau, é natural e compreensível sentir medo diante de muita coisa: da perda por morte ou afastamento de alguém querido, da própria morte, da velhice, da solidão, das doenças, da violência, do desemprego... O medo também traz em si algo de autodefensivo porque funciona como o reconhecimento de limites físicos e psicológicos, impedindo que a gente se arrisque excessivamente. Ainda que isso varie de indivíduo para indivíduo, é senso comum dizer que a virtude está no centro. Melhor é não desafiar todos os nossos medos, ao mesmo tempo, não permitir que aqueles que atrapalham nossa vida nos paralisem, impedindo-nos de viver boas situações e alcançar objetivos planejados.
Certos tipos de medo são específicos. Por exemplo, aquele que acomete os que não viajam de avião de jeito nenhum. Ou, quando são obrigados a isso, saem do ar, praticamente dopados, e não veem a viagem passar. Um outro tipo atinge os que não dão conta de dirigir um carro, mesmo tendo passado por essa experiência antes (só Deus sabe como!) e até conseguido carteira de habilitação. Daí sair dirigindo por aí, com tanto carro nas ruas, perigo de acidente... A pessoa trava. Falar em público costuma ser um pesadelo para muitos, com suadeira nas mãos (onde colocá-las nessa hora?), voz trêmula e rosto pegando fogo. Encarar um elevador é sinônimo de falta de ar e desespero total para outros. E se aquilo cai ou para no meio do trajeto? Ou o problema pode estar ao ar livre, nas alturas, e vem aquela vertigem toda. Olhar para baixo, nem pensar!
Fobia, radical de origem grega – 1- Designação comum às diversas espécies de medo mórbido. 2- Horror instintivo a alguma coisa, aversão irreprimível (Dicionário Aurélio). Eis aí o que sente boa parcela da população diante dessas e de outras situações do dia a dia. Entre os famosos, como quaisquer criaturas sujeitas a essa espécie de vulnerabilidade humana, algumas fobias são de conhecimento público. Madonna já revelou que sofre de astrofobia, isto é, medo de raios e trovões, tendo até ataques de pânico em dias de tempestade. O ator Keanu Reeves encara todos os vilões e perigos do cinema, mas é incapaz de entrar em um lugar escuro. Ele tem nictofobia. Sofrem do mesmo mal as cantoras Anitta e Kate Perry. Já Johnny Depp admite que fica apavorado tendo um palhaço por perto. O que esse ator tem se chama coulrofobia e, como se vê, uma fobia extensiva a adultos. A maquiagem exagerada dos palhaços parece funcionar como um disfarce que mistura um sorriso forçado com intenções ocultas. É o que andei lendo sobre o assunto. De outra natureza é o medo exacerbado que o ex-jogador de futebol inglês David Beckham, a atriz Renata Sorrah e a também atriz Scarlet Johansson têm de pássaros, ou seja, a ornitofobia. No caso da atriz Nicole Kidman, o pavor que a acompanha desde criança, quando ainda vivia na Austrália, tem o nome de motefobia, que é o medo de borboletas.
São relativamente comuns a acrofobia (medo de lugares elevados), a agorafobia (de lugares públicos e grandes espaços abertos) e a claustrofobia (de lugares fechados e apertados), as duas últimas modalidades, curiosamente opostas. Nos três casos, a sensação deve ser pior do que simplesmente ficar sem lugar.
Por tudo que passo quando se aproxima de mim um cachorro, devo ter cinofobia, o que muitas vezes é considerado uma “bobagem” ou “frescura”. Sou muito grata ao Tião Melo, então meu colega de trabalho e vice-diretor da E.E. Assis Resende, por ter entendido minha aflição diante de um “inimigo” que, certa noite, achando aberto o portão da escola, veio correndo justamente em minha direção. Ao me dizer que o medo que eu sinto deve ser o mesmo que ele tem de dentista (odontofobia), o Tião me fez um bem enorme.
Não se deve tratar com deboche o medo alheio. Muito menos achar engraçada ou estranha a reação das pessoas perante esse sentimento negativo. Desafiar incômodos e desconfortos não é tarefa fácil. Submetê-los a análise ajuda a desvendar fantasmas que nos apavoram. Para tanto é preciso coragem.
Chega de falar em medo! Em 2020 coragem a todos!