Situação da ETE de Resende Costa
10 de Agosto de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0
Em reportagens anteriores já falamos sobre o esgotamento sanitário em Resende Costa, destacando seus problemas e desafios. Houve uma melhora na situação. A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) começou a operar no final de abril do corrente ano, mas várias questões ainda precisam ser melhoradas.
Primeiramente, convém destacar a situação não confortável do Brasil e de Minas Gerais no último diagnóstico realizado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento em 2015. Os índices de coleta e de tratamento do esgoto coletado são, respectivamente, 55,17% e 74,02%; 63,79% e 49,02%. A segunda questão refere-se à eficiência das ETEs em operação em Minas. Esse assunto foi discutido na 50ª reunião do Fórum Mineiro dos Comitês de Bacia, realizado em junho na capital Belo Horizonte. Muitas estações operam com nível baixo de eficiência, ou seja, o esgoto tratado deveria retornar ao curso d’água com melhor qualidade. No Fórum houve ainda palestra de representante da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgoto Sanitário do Estado de Minas – ARSAE, que afirmou a necessidade da separação legal entre fornecimento de água e tratamento de esgotos, inclusive prevendo maior aporte de recursos para esse último.
E sobre nossa cidade, como está a situação do esgoto sanitário? Conforme afirmado acima, o sistema de tratamento do esgoto já começou a funcionar. Trata-se de um reator anaeróbio, seguido por filtro e decantador, construído no final do bairro Bela Vista. O projeto inicial previa a construção de lagoas. Provavelmente para evitar vetores e mal cheiro, optou-se pela estrutura fechada, o reator. Atualmente, a coleta de esgoto cobre cerca de 20% da cidade, nos seguintes bairros: Nova Resende, Nova Brasília, Expedicionário, Bela Vista e partes do Centro e da Várzea. Nesses locais, a taxa cobrada pela Concessionária para coleta e tratamento é de 90% do valor pago pelo consumo de água tratada. Já nos locais onde há apenas rede coletora - construída e mantida pela Prefeitura, com apoio dos moradores, estando separada da drenagem pluvial - a empresa passou a cobrar o percentual de 50%. Um problema grave na cidade é que grande parte da rede coletora de água da chuva é usada por muitos moradores como rede de esgoto. Nesses locais, não pode haver cobrança pela coleta de esgoto, uma vez que não há separação dos mesmos. Destaca-se ainda que a ETE não foi projetada para receber a água de chuva de quintais ou das ruas.
Outra pergunta: o efluente (esgoto tratado) da ETE está sendo lançado no córrego do Tijuco dentro dos padrões? Cabe destacar que a estação ainda está no que é chamado de período de maturação, ou seja, após o início da operação, é necessário alguns meses para que as bactérias se estabilizem e sejam feitos ajustes no sistema. A eficiência de qualquer sistema de tratamento é indicada pelo monitoramento, realizado por meio de análises da qualidade do efluente. Os resultados são comparados com os padrões estabelecidos pela legislação, cita-se a Resolução CONAMA nº 357 de 2005 e a Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG nº 01 de 2008, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes. Por exemplo, como o córrego do Tijuco é classe 2 (previsto na Proposta de Enquadramento aprovada pelo Comitê de Bacia Vertentes do Rio Grande), o parâmetro Oxigênio Dissolvido no efluente não pode estar inferior a 5 mg/L. Esse é vital para a preservação da vida aquática, já que vários organismos (como os peixes) precisam de oxigênio para respirar.
Em ETEs alguns parâmetros mínimos devem ser monitorados periodicamente, a critério do órgão ambiental, tais como: OD, Demanda Bioquímica de Oxigênio, nitrogênio, fósforo, coliformes, cloreto, sólidos, pH, temperatura, óleos e graxas. Segundo informado, a Copasa só realizou análise de sólidos. Em visita ao local de lançamento do efluente, verificou-se que o mesmo ainda está alterando significativamente o aspecto visual do córrego do Tijuco. Por fim, ressalta-se que os resultados do monitoramento periódico e da eficiência do sistema devem ser cobrados pelo Ministério Público, Prefeitura e sociedade local.
A situação das pastagens em nossa região
13 de Julho de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0
É notório que o Brasil é o maior exportador mundial de produtos agropecuários. Somos um país continental, dotado de condições físicas e biológicas favoráveis às atividades do meio rural. O agronegócio representa 21% do PIB total brasileiro, alcançando R$1,26 trilhão em 2015. A pecuária responde por 30% desse, o que demonstra sua importância para a economia nacional. O rebanho bovino brasileiro é o segundo maior do mundo, com mais 226 milhões de cabeças em 2017, só perdendo para a Índia, país onde a vaca é o animal sagrado. Mato Grosso e Minas Gerais são os Estados com maiores efetivos, 13,6% (30,74 milhões); 11,0% (24,86 milhões), respectivamente. A macrorregião do Campo das Vertentes possui aproximadamente 252 mil cabeças. Diante desses dados cabe perguntar, como estão as pastagens para sustentar todo esse efetivo animal?
O último Censo Agropecuário Brasileiro realizado pelo IBGE foi em 2006. A previsão é de que outro seja realizado ainda em 2017. O Censo traz referências importantes para entender o estado de conservação das pastagens no Brasil e em Minas, apesar de sua defasagem. A primeira informação importante é a redução, ao longo dos anos, da área média de pastagem ocupada por cada cabeça bovina no país. Considerando os quatro últimos censos, essa área caiu de 1,48 ha (1980) para 1,1 ha (2006), queda de 25,7%. No entanto, o rebanho cresceu cerca de 50% no período. Isso demonstra a intensificação da pecuária e a melhoria das pastagens e da alimentação animal. Para Minas, a ocupação média à época era de 1,12 cabeça/ha (rebanho de 20.332.335 cabeças de bovinos e área total de pastagens de 18.217.880 hectares), índice um pouco acima da média nacional.
No Estado, ainda segundo o Censo, as pastagens ocupavam 55,1% da área dos estabelecimentos agropecuários, que perfazia um total de 33,1 milhões de hectares em 551 mil propriedades. Dentre as doze macrorregiões em que é subdividido o Estado, a do Campo das Vertentes, proporcionalmente, era a quinta com maior área de pastagem, 59% das terras eram ocupadas com pastagem. Destaca-se que cerca de 35% das áreas de pastagens estavam em propriedades da agricultura familiar. O Campo das Vertentes foi a única na qual a área de pastagens nos estabelecimentos de agricultura familiar superava a dos não familiares: respectivamente 171.300 e 149.915 hectares. Outro dado é que o Campo das Vertentes era a segunda macrorregião em pastagens naturais (perdendo só para a Zona da Mata), essas ocupavam 58%.
Segundo estudo mais recente (VILELA et al. Estado da arte das pastagens em Minas Gerais. 2015), a área de pastagens nos estabelecimentos agropecuários em Minas Gerais é de 25.893.018 hectares. Na mesorregião do Campo das Vertentes, do total de 1.230.441 ha, 63,7% (792.644 ha) são pastagens, 26,8% são áreas com cobertura vegetal rala, potencialmente degradada, ou com cobertura morta e 9,5% são áreas com boa cobertura vegetal não distinguível. Sobre as classes de qualidade dessas pastagens, 49,2% foram classificadas como fortemente degradadas e 27,9% como moderadamente degradados. A classe levemente degradada englobou 19,1% da área total de pastos, enquanto as pastagens não degradadas representaram apenas 3,8%. A título de comparação, para Minas as porcentagens são, respectivamente: 45,3%, 30,3%, 20,4% e 4,0%.
O processo de recuperação ambiental dessas áreas de pastagens é demorado e oneroso. Várias entidades públicas e privadas possuem conhecimentos avançados sobre a questão, a exemplo da Embrapa e da Emater. Cita-se o projeto Balde Cheio, desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sudeste e lançado em Minas Gerais, em 2007, pelo Sistema FAEMG. Dentre as várias ações do projeto, estão o manejo correto e a recuperação de pastagem degradadas.
Enfim, pelos dados apresentados, há um cenário crítico em relação ao estado atual das pastagens em Minas. A reversão desse quadro depende de um processo de assistência técnica e extensão rural estruturado, com disponibilização de recursos e capacitação de agentes, o que permitirá a transferência de tecnologias, de modo a adequar métodos e processos à realidade de cada produtor.
Fonte da Mina: em estado de abandono
16 de Junho de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Já falamos sobre a Fonte da Mina em reportagens e artigos anteriores no Jornal das Lajes. Localizada entre os bairros São José e Canela, antes da chegada da Copasa, era um dos principais locais onde se buscava água para consumo nas residências. Aos poucos, a beleza e a utilidade dessa e de outras minas que rodeiam Resende Costa foram se acabando.
Você já deve ter visto algumas ações realizadas pelo Projeto ReNascentes, fruto da parceria entre o IRIS e a Secretaria Municipal de Saúde, executado no biênio 2015/2016. A Fonte da Mina recebeu atenção especial por ser uma das mais tradicionais. Até sua água foi analisada em laboratório, estando potável, ou seja, não tinha contaminantes químicos ou bacteriológicos.
Infelizmente, depois de pouco mais de um ano da revitalização da Fonte da Mina, o estado de abandono que a mesma se encontra é lamentável. O local se tornou ainda ponto para uso de entorpecentes. Tanto o poder público, a Prefeitura Municipal, quanto a comunidade não tiveram os devidos cuidados em sua preservação. As manutenções iniciais foram realizadas pelo IRIS, no entanto, não temos condições operacionais para uma atuação periódica nessa e em outras fontes objetos do projeto. Dessa forma, quase todas as ações realizadas para recomposição paisagística local perderam seus efeitos. Por fim, ficamos com uma foto atual da Fonte da Mina, novamente no abandono.
Água e gênero
18 de Maio de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0
O conceito de gênero é comumente utilizado para se referir à questão da diferença sexual. Ele faz alusão à construção inteiramente social das atribuições dadas aos homens e às mulheres dentro de uma comunidade, em contraposição à sua aparente determinação físico-biológica. Dessa forma, falar de gênero é falar de mulheres, de homens e da relação entre ambos.
A conferência que marcou o início das discussões internacionais mais amplas sobre recursos hídricos foi a Conferência das Nações Unidas para a Água, realizada em Mar del Plata na Argentina, em 1977. O princípio mais importante estabelecido foi o do direito de todos ao acesso à água potável, em quantidade suficiente. Já na terceira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, a Rio+10, realizada na África do Sul em 2002, o documento intitulado “Metas do Milênio” apresentou algumas questões vinculando a mulher ao meio ambiente, fornecimento de água potável e acesso ao saneamento, principalmente entre as populações marginalizadas.
A ligação feminina com a água é laboral e biológica, uma vez que a mesma está presente em nossas vidas desde a gestação, a exemplo do líquido amniótico que envolve o filho no ventre da mãe. Curiosamente, cerca de 70% do corpo humano é água. Historicamente, as mulheres são as principais gestoras dos recursos naturais em nível familiar, em especial da água. Em termos laborais, elas representam mais da metade da mão de obra agrícola do mundo, especialmente nas zonas rurais dos países em desenvolvimento. E nessas regiões, as mulheres ainda têm a responsabilidade de buscar água, gerenciar o saneamento em nível doméstico e educar as crianças em matérias higiênicas.
No Brasil, em áreas mais pobres, notadamente as rurais, as mulheres são responsáveis pelo gerenciamento da água dentro de casa e nas plantações próximas às residências, garantindo, assim, a sustentabilidade do recurso dentro do ambiente familiar. Cabe destacar também as comunidades indígenas, nas quais as mulheres exercem um papel central na questão hídrica. Dessa forma, o trabalho e o saber femininos são essenciais à preservação e utilização da água e à proteção da biodiversidade na agricultura e no meio ambiente.
Atualmente, a maioria absoluta das moradias urbanas possui rede pública de abastecimento de água, como é o caso de Resende Costa. Mas, há poucas décadas atrás, o privilégio de ter água encanada era só para os moradores do centro da cidade. No entanto, o volume, captado principalmente em um poço localizado na Fonte dos Cavalos, não era suficiente para atender à demanda. A distribuição era realizada pela Prefeitura, substituída pela Copasa no princípio dos anos 80.
E a residência que não era contemplada com a água encanada? E quando faltava água na rede? As fontes que rodeavam a cidade “salvavam a pátria”. Delas provinha a água para todos os afazeres: beber, lavar vasilhas, tomar banho. Algumas dessas fontes eram ainda utilizadas para lavar roupas. E aí entravam em cena as mulheres: as lavadeiras e as carregadeiras. Essas últimas carregavam as latas de água na cabeça, apoiadas em uma rodilha de pano. Particularmente, tenho lembranças de ver algumas lavadeiras na fonte Biquinha, situada nos fundos da Rua Moreira da Rocha. Lembro ainda dos bambuzais, da água limpa e das amoras que cresciam ao longo dos trilhos. Hoje, o local está totalmente deteriorado e sem acesso público. A água virou esgoto e a bica de pedra foi destruída. Realidade compartilhada também pelas outras fontes.
Tanto nas cidades quanto nas áreas rurais, muitos dos afazeres domésticos que envolvem água ainda são realizados predominantemente por mulheres. No entanto, com o empoderamento das mulheres, a situação vem se transformando. Cada vez mais elas têm se inserido na esfera pública, no mercado de trabalho e na gestão, participando de cooperativas, conselhos, Comitês de Bacia. Enfim, não só na área dos recursos hídricos, estamos caminhando para uma sociedade que almeja a participação equitativa de homens e de mulheres nas decisões, nas tarefas e nas responsabilidades.
Impactos ambientais no Parque da Capoeira
13 de Abril de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0
Continuando nossa conversa sobre impactos ambientais em Resende Costa, uma questão merece destaque: a situação socioambiental do nosso Parque Capoeira Nossa Senhora da Penha. O IRIS fez uma caminhada ecológica no local, no sábado 25, em comemoração ao dia mundial da água, 22 de março. O estado de conservação não é dos melhores, os problemas que assolam a unidade de conservação (UC) persistem ao longo de décadas.
Você certamente conhece a Capoeira Nossa Senhora da Penha, também conhecida como Fonte João de Deus ou Horto Florestal. O Parque, criado pela Lei Municipal 1.930 de 21/10/1992, ocupa uma área de 8,7369 ha ou 87.369 m². Ele circunda o Horto, que é uma propriedade de 3,0 ha doada pela Prefeitura ao Estado e administrada pelo IEF desde 1967. No interior da UC existem três nascentes. A área, coberta com vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, é habitat de vários animais, com destaque para uma família de bugio ou macaco barbado e 57 espécies de aves.
Dentre os impactos ambientais, o primeiro a ser mencionado são as invasões na área da Capoeira, o que acontece desde antes mesmo de ser criada a UC. Vários moradores do entorno aumentaram suas hortas incorporando partes do terreno público. Recentemente, foi construída uma casa incorporando parte do Parque. Uma situação crítica é a divisa da UC com a rua Antônio Carlos de Resende, onde há várias ocupações irregulares (construção de garagens, horta de couve, amontoado de tijolos) que foram autorizadas pela própria Prefeitura. Outra ocupação autorizada foi uma área do Parque na divisa entre a rua José de Resende Costa e a Travessa Marechal Deodoro. No local há criação de cavalo e até de porco.
Atualmente, a situação mais deplorável no Parque é a questão da drenagem pluvial e do esgoto doméstico, que infelizmente são direcionados para a Capoeira sem maiores cuidados. Alguns fatos já são conhecidos pelos resende-costenses: a rede pluvial, que foi construída para receber a água da chuva, se tornou praticamente uma rede de esgoto, recebendo água residual de pias, tanques, chuveiros e até mesmo de banheiro. Por ser uma área mais baixa, a UC recebe toda água da chuva (e junto com ela o esgoto doméstico) de quase toda parte oeste da cidade.
Quais são os resultados? Primeiro, o esgoto contamina a água que brota das nascentes. Segundo, quando chove, a enxurrada traz todo o lixo que fica nas ruas e nos fundos das hortas. O Parque está abarrotado de todo tipo de lixo (latas velhas, panos, sacolas plásticas, embalagens etc.). Terceiro, devido à força das águas da chuva, após as manilhas do sistema de drenagem, a enxurrada provoca buracos no solo. Assim, há deslocamento de argila, que dá a cor barrenta à água; de areia, que se acumula nas partes baixas (o que provocou o assoreamento da antiga bica na fonte João de Deus e atualmente entope os canais que levam água até o viveiro de mudas) e surgiu um processo erosivo enorme (voçoroca) dentro do Parque. Menciona-se ainda a recorrência de outra voçoroca dentro da área do Parque, na divisa com a Travessa Marechal Deodoro. O esgoto, aumentado pela água da chuva, proveniente da rua José de Resende Costa e jogado sem nenhum controle dentro do Parque, provocou novamente a formação do barranco. Se a Prefeitura não recuperar a área, no próximo período chuvoso, casas e a rua próxima serão afetadas.
Ainda sobre a Travessa Marechal Deodoro, moradores do entorno continuam jogando entulho dentro da área da UC, mesmo com o cercamento e a colocação de uma placa educativa no local. Inclusive, foi cortado o arame da cerca construída recentemente pelo IRIS.
Dentro da área do Horto também existem problemas: roubo de mudas e de mourões tratados (alguns eram do IRIS e seriam usados na continuação do cercamento da UC). E, acreditem, parte da cerca de divisa do Horto com o Parque, no meio da mata, foi destruída para retirada de mourões.
Mais uma vez o IRIS pede sua ajuda para revitalização e conservação desse patrimônio ambiental de Resende Costa. Visite e preserve o Parque Municipal da Capoeira.
Adriano Valério de Resende