Meio Ambiente

Impactos ambientais em Resende Costa

16 de Marco de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Primeiramente, devemos lembrar de que não há atividade humana sem transformações no meio natural. No entanto, algumas alterações são tão significativas que merecem maior controle. Se não é possível sanar todo o impacto negativo, deve-se mitigá-lo, ou seja, diminuir de tal forma as perturbações ambientais para que a natureza e a sociedade consigam absorvê-las. Nessa perspectiva, apontaremos a seguir os principais impactos ambientais em Resende Costa e as possíveis mitigações para os mesmos.

Uma das questões mais preocupantes é o esgotamento sanitário. Resende Costa é uma das cidades mineiras que mais utiliza fossa negra como destino do esgoto doméstico oriundo do banheiro, o que não é ambientalmente recomendado. Consiste em um buraco escavado no solo, às vezes revestido com tijolos, tampado com laje de cimento. Os efluentes de cozinhas, de banhos e de lavagem de roupas são geralmente direcionados para a rede pluvial (de captação de água da chuva), que literalmente se transformou em rede de esgoto. O correto seria tratar o esgoto antes de jogá-lo no solo ou nos cursos d’água. No entanto, a construção de fossa séptica em cada residência é inviável. A solução é construir e operar uma Estação de Tratamento de Esgoto. A Copasa recentemente construiu uma ETE, que ainda não está em operação. Parte da rede coletora está pronta e recebendo esgoto, com autorização da própria empresa. Resultado: estão jogando esgoto sem tratamento no córrego do Tijuco.

Outra questão é a poluição de nossas fontes, que tempos atrás eram locais onde várias famílias buscavam água para uso doméstico. Além de receberem esgoto, sofrem com invasões, acúmulo de lixo, desmatamento e destruição das antigas bicas. Incluímos aqui o Parque da Capoeira, que além de sofrer com tudo isso, ainda vê uma voçoroca surgir por causa de uma rede pluvial mal planejada.

Falando ainda de água, cabe mencionar as dificuldades que a Copasa vem enfrentando nos últimos anos para manter o abastecimento regular da cidade. Como a captação no córrego Tijuco não consegue sozinha suprir a demanda, foi preciso buscar água no córrego Vassouras. Mesmo assim, a situação não é confortável. Em nossa região há pouca água disponível no subsolo por estarmos sobre embasamento cristalino. E este é o quinto ano seguido com chuva abaixo da média. Para piorar, continuamos desmatando, principalmente áreas de recarga dos aquíferos: cabeceiras das nascentes, topos dos morros e áreas planas nas partes mais altas. Já estamos vivenciando as consequências.

O aterro controlado que havia no município se esgotou. Assim, estamos enviando nosso lixo para um aterro sanitário em Sabará, a 200 km de distância. A disposição final do lixo está ambientalmente correta, mas tal prática custa caro aos cofres públicos. Portanto, precisamos melhorar a coleta seletiva, visando diminuir a quantidade de resíduos levada pelos caminhões. Sobre os resíduos da construção civil (chamados de entulho), sempre foram jogados em voçorocas, o que é proibido. A mais recente área de bota-fora (área que recebe entulho) é o barranco do Tijuco.

Recentemente, acompanhamos o início da abertura de uma avenida para desafogar o trânsito na entrada da cidade. Além de cortar árvores, a movimentação de terras, sem a devida revegetação ou a finalização das obras, trouxe carreamento de sólidos para as cabeceiras do córrego Picada. Esse, que recebe esgoto e está desmatado, agora convive com terra e areia entupindo seu leito. Além disso, o impacto visual é gritante, ou seja, sem a finalização da obra o local está muito feio.

A mais recente polêmica ambiental em nossa cidade foi a arborização urbana. Lembro-me de uma frase da bióloga que veio fazer os estudos de fauna do Parque: “Resende Costa não tem árvores”. Cena curiosa foi ver três carros disputando, no meio da tarde, a sombra de uma jovem Sibipiruna em frente à prefeitura. Existem vários estudos sobre arborização urbana: tamanho de copas, tipos de raízes, flores, folhas etc.  Por fim, apesar das opiniões contrárias, a cidade também é lugar de árvores.

O lixo nas áreas públicas

16 de Fevereiro de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Lembro-me da primeira vez que cheguei ao Rio de Janeiro pela rodoviária. Eu nem acreditei que aquele era o Rio mostrado pela mídia e que é conhecido como Cidade Maravilhosa. Uma confusão de gente e de veículos, moradores de rua pelos cantos nas avenidas, vendedores ambulantes te parando, muita sujeira nas ruas, água podre na beira das calçadas, o cheiro forte da maresia vindo da área portuária, um córrego que virou esgoto a céu aberto. Era um lugar muito diferente da zona sul da cidade, como Ipanema e Copacabana, ou de outras cidades praianas, com suas belezas naturais e a organização rotineira para receber os turistas. Esse sim é o Rio que se mostra nas novelas e nas propagandas.

A história se repete nas proximidades da rodoviária de Belo Horizonte: lixo espalhado pelas ruas, até sendo queimado em alguns locais, drogados nas esquinas, montes de pedras que são usados como fogão, o Ribeirão Arrudas que mais parece um esgoto a céu aberto etc. Falando especificamente da questão do lixo, os garis limpam cotidianamente os logradouros públicos e até caminhões-pipa jogam água nos lugares mais sujos, mas a sujeira insiste em prevalecer. Realmente, nossa sociedade ainda não aprendeu a conviver com resíduos e sobras do nosso dia a dia.

Mas, curiosamente, a capital mineira foi construída na forma de um xadrez, avenidas e ruas retas, formando quarteirões quadrados. Algumas ruas que começam perto da rodoviária acabam na zona sul. Aí percebermos a diferença. Na parte nobre, como nos bairros Lourdes e Savassi, a história é outra. As ruas estão sempre limpas e as pessoas bem vestidas. Tempos atrás, um morador de rua montou sua barraca numa praça, no coração da Savassi. O fato virou notícia de televisão. Segundo alguns moradores, isso é um absurdo, estava atrapalhando a boa convivência do local.

Assim, percebe-se a organização das grandes cidades. Em alguns locais são permitidos certos convívios e movimentos. O centro que antes era local de residência das elites, o que ainda o é nas pequenas e médias cidades, se tornou moradia improvisada das pessoas que vivem nas ruas. Dessa forma, o poder público fecha os olhos e aceita, ou talvez seja obrigado a aceitar, práticas que desrespeitam as etiquetas da convivência social e do meio ambiente. Mas, o que nos interessa é afirmar que, certamente, a degradação socioambiental está associada à falta de informação/conhecimento e à pobreza.

Com relação ao quesito lixo, nas cidades pequenas, a situação do centro é diferente. As pracinhas geralmente são limpas e bem cuidadas. Por Minas afora, nas cidades do interior, sempre há uma pracinha como referência do centro. Nossa região é exemplo disso. No caso de Resende Costa, muitas vezes, nem percebemos que as ruas do centro e de seu entorno estão limpas. Isso é fruto do trabalho invisível, feito por funcionários da Prefeitura, que todos os dias, durante a madrugada, varrem ruas e praças. Mesmo assim, andando pela cidade, ao longo do dia, facilmente se encontra resíduos jogados pela população: bitucas de cigarro, pedaços de papéis, todos os tipos de plástico (papel de bala, restos de embalagens etc.). Certa vez, questionando um cidadão que lançou um pedaço de embalagem ao chão, a resposta que obtive foi que, se não tiver o que limpar os garis vão perder o emprego.

Recentemente, o IRIS contribuiu para a coleta do lixo gerado pelos transeuntes em nossa cidade. Confeccionamos e espalhamos pelo comércio várias lixeiras, feitas com bombonas devidamente pintadas. A Prefeitura, com verba do governo federal, também implantou várias lixeiras pela cidade. Mas isso só não basta, é preciso criar uma consciência coletiva sobre a questão socioambiental. Comportamentos básicos e simples devem ser incorporados em nossa rotina, como não danificar as plantas dos jardins; evitar cortar caminho pela grama; não agredir animais que foram abandonados ou estão transitando; colocar o lixo em lixeiras. Ou será que você joga papel ou resto de comida pelos cantos de sua casa?

Piracema

19 de Janeiro de 2017, por Instituto Rio Santo Antônio 0

É difícil uma criança do interior que nunca tenha gastado um tempinho na beira de algum córrego ou de uma represa em busca de peixes. E tem gente que se especializa nisso, mesmo depois de adulto, continua no ofício de pescador. Na verdade, pescar torna-se uma terapia.

Mas, será que nossa região ainda tem peixes como antigamente? Em conversa com algum pescador mais antigo facilmente se percebe que a quantidade de pescado diminuiu nas últimas décadas. Vários fatores contribuíram para isso: poluição de nossas águas, principalmente pelo lançamento de esgoto doméstico sem tratamento; introdução de peixes carnívoros e exóticos (que não são nativos); assoreamento do leito dos rios; pesca predatória com utilização de redes finas e de bombas; não respeito ao período da Piracema.

Então, você já ouviu falar em Piracema? É uma palavra indígena e significa “subida dos peixes para a desova”. O termo faz referência a algumas espécies, chamadas de migradoras (como o Dourado e o Curimba), que para se reproduzirem nadam até as cabeceiras dos rios, onde as águas são mais oxigenadas, quentes e calmas. Como geralmente nadam vários quilômetros, eles ficam exaustos e se tornam presas fáceis para os pescadores. No entanto, nem todos os peixes migram para se reproduzir. Oficialmente, o período da Piracema refere-se ao tempo necessário para a reprodução de todas as espécies da ictiofauna. A captura indiscriminada interfere no número de matrizes e consequentemente na quantidade de filhotes gerados.

Com relação às áreas de reprodução, além das cabeceiras dos córregos, cabe destacar o papel das lagoas marginais (que se formam ao longo das planícies de inundação dos rios) e dos alagadiços (áreas onde há acúmulo de água). Locais também apropriados para a desova, que são conhecidos como “berçários” dos peixes. A pressão antrópica sobre as áreas próximas aos cursos d’água tem interferido nessa dinâmica natural. Por exemplo, desmatamentos, queimadas para formação de pastagens e drenagens nas áreas brejosas. A preservação desses locais é fundamental para a perpetuação dos peixes.

Curiosamente, a fecundação dos peixes é externa, isto é, a fêmea coloca os óvulos na água e então o macho solta os espermatozoides. Os ovos possuem moderada reserva nutricional, o que garante a alimentação até o nascimento. Esses podem ser depositados em esconderijos ou em ninhos, locais quase sempre vigiados pelos pais. A taxa de mortalidade dos alevinos (filhotes) é muito alta, por isso na maioria das espécies, as fêmeas liberam uma grande quantidade de óvulos. Por exemplo, uma fêmea de Dourado, pesando 10 quilos, pode desovar quase 1,5 milhões de óvulos.

Em Minas Gerais, a Piracema tem início em 1º de novembro e se estende até 28 de fevereiro. As regras para a pesca nesse período estão definidas nas Portarias IEF 154 (bacia do rio São Francisco) e 156 (bacia do rio Grande) de 2011, que permitem apenas a pesca com limite de quantidade (3 kg por pescador) para espécies exóticas (de outros países), alóctones (de outras bacias brasileiras) e híbridos (espécies produzidas em laboratório). Ou seja, é expressamente proibida a pesca de peixes autóctones, ou seja, nativos das nossas bacias hidrográficas, tais como: Acará, Bagre, Cambeva, Curimba, Dourado, Lambari, Mandi, Pacu, Piaba, Piau, Sarapó etc. Algumas espécies liberadas são: Carpa, Tilápia, Truta, Tucunaré e Bagre-Africano. A introdução desse último nas águas brasileiras trouxe um problema, uma vez que é um carnívoro voraz e se alimenta de alevinos e peixes pequenos nativos. Cabe destacar que essa legislação não se aplica ao peixe nativo proveniente de piscicultura ou pesque-pague/pesqueiro, devidamente registrados nos órgãos ambientais competentes, e à pesca de caráter técnico ou científico.

Lembrando ainda que se você gosta de pescar, deve estar munido de uma carteira emitida pelo IEF. Ela é obrigatória para o exercício da pesca amadora, estando o pescador sem a licença sujeito à apreensão de seu material em caso de fiscalização. É um procedimento barato e pode ser feito pela internet.

Enfim, o respeito ao período da Piracema é uma das garantias de que teremos peixes em nossos córregos para a futura geração se divertir pescando.

As ações ambientais e culturais do IRIS em 2016

15 de Dezembro de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio 0

A Associação Instituto Rio Santo Antônio, conhecida como IRIS, é uma entidade de sociedade civil sem fins lucrativos. Somos uma ONG fundada em 2009 e temos como objetivo principal realizar ações voltadas para a promoção e a defesa da sustentabilidade ambiental e cultural da região de Resende Costa. Desde sua fundação, já realizamos muitas atividades. Especialmente em 2016 o IRIS concretizou vários eventos, alguns citados abaixo.

No início do ano, foi finalizado o projeto ReNascentes que contou com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde e teve como objetivo principal desenvolver ações de limpeza nas seis principais nascentes no entorno da área urbana da cidade. Especialmente na Fonte da Mina, além da reconstrução das estruturas físicas e da parte estética, o que potencializou a visitação, no mês de maio; foi feita ainda uma análise da qualidade da água que sai diretamente da bica. Ficou comprovado que não havia coliformes (Escherichia Coli), que é um contaminante bacteriológico. Assim, a água estava própria para o consumo. Infelizmente, no período seco desse ano, a fonte secou, assim como várias nascentes no município.

O Instituto tem um projeto de recolhimento de lixo eletrônico: computadores, impressoras, televisões e rádios velhos. Esses são desmanchados, as peças separadas e doadas ou vendidas para reciclagem. Foram recebidos objetos eletrônicos de Resende Costa e de São João del-Rei.

O IRIS participa também na gestão de recursos hídricos. Temos uma cadeira de conselheiro no Comitê de Bacia Hidrográfica Vertentes do Rio Grande – CBH GD2, que atua na bacia do Rio das Mortes. Participamos da diretoria do CBH, ocupando atualmente a função de presidente. Somos conselheiros ainda do CBH Grande Federal, membros da Câmara Institucional e Legal e da Câmara Técnica de Integração da bacia do Rio Grande, que envolve MG e SP.

No segundo semestre foi finalizado o estudo de Institucionalização do Parque Municipal Capoeira Nossa Senhora da Penha, coordenado pelo IRIS e financiado pela Prefeitura. Os objetivos foram: elaborar uma caracterização dos meios físico, biótico e socioeconômico da área; realizar uma reunião pública com a comunidade local e protocolar o relatório final na Diretoria de Áreas Protegidas do Instituto Estadual de Florestas. A intenção é cadastrar a Unidade de Conservação para que a Prefeitura receba o chamado ICMS Ecológico. Atualmente estamos aguardando o pronunciamento do IEF sobre os estudos apresentados. Destaca-se que vários profissionais participaram do estudo, a maioria de Resende Costa. Se você deseja conhecer o histórico e a situação socioambiental do nosso Parque, leia o relatório. Cópias estão disponíveis na Prefeitura e na estante ambiental que o IRIS tem na Biblioteca Municipal.

Na área do Horto Florestal, que está dentro do Parque, foi construído pela equipe do IRIS e entregue à comunidade local um parquinho ecológico, com brinquedos feitos a partir de pneus, cordas e eucaliptos. A grande frequência de crianças no local é gratificante para nós do IRIS.

Os movimentos culturais de iniciativa popular sempre fizeram parte da história de Resende Costa. Nesse sentido, entre vários eventos, cabe lembrar os Festivais de Inverno e de Calouros das décadas de 80 e 90. O projeto do Luau nas Lajes, munido com roupagens dos dias atuais, dá continuidade ao apelo cultural em nossa cidade. O movimento surgiu em 2007, fruto de uma parceria entre o MAC (Movimento Arena Cultural) e o IRIS. Desde então, as diversas edições serviram de palco para grupos e bandas locais e regionais se apresentarem no nosso belo Mirante das Lajes. A décima edição, realizada em outubro de 2016, trouxe uma singela homenagem ao saudoso J. Resende, que foi um dos organizadores de vários eventos culturais em Resende Costa. Mais de 20 shows musicais e workshops de gaita e yoga fizeram parte da programação. Novamente, a juventude resende-costense se envolveu e contribuiu para o sucesso do evento.

Para maiores informações sobre o IRIS, consulte o nosso site: http://www.portaliris.org.br. Por fim, o IRIS agradece a todas as pessoas que colaboraram nas ações socioambientais realizadas pela instituição. Junte-se a nós nos projetos desenvolvidos em nossa comunidade.


A tragédia em Mariana

17 de Novembro de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Agora em novembro, mais especificamente na tarde do dia cinco, fez um ano da tragédia em Mariana. O rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, da Samarco S/A, causou danos gigantescos ao meio ambiente e à população que vive ao longo do Rio Doce. O evento é considerado o maior desastre socioambiental da história brasileira e o maior do mundo sobre a questão. Mesmo passado um ano do sinistro, a maior parte dos problemas ainda não foi equacionada.

Como os minérios não estão puros na natureza, é necessário separá-los de outros elementos. No beneficiamento geralmente se utiliza água e a sobra (rejeito) vai para barragens, que são, na prática, imensas lagoas de lama, barro e água. Algumas são enormes, maiores até que cidades pequenas, como Resende Costa. Na área da Samarco havia três: Germano, Fundão e, mais abaixo, Santarém. Particularmente, conheci a barragem maior e que não estourou, a de Germano. Literalmente um mar de rejeitos, melhor, de lama.

Em 2014 o preço do ferro havia caído para quase 1/4, a empresa, para compensar, aumentou a produção em três vezes, chegando a 25 milhões de toneladas anuais. Sendo que mais de 60% do que é extraído vira rejeito, dá para se ter uma ideia do tanto de material que era jogado nas barragens e que desceu ao longo do Rio Doce. Como a barragem de Fundão estava ficando sem vida útil, ou seja, cheia de rejeito, ela foi alteada (elevação do aterro para aumentar sua capacidade) várias vezes. Essa foi a principal causa do rompimento. Claro, aliado a outros fatores, como falta de efetiva fiscalização dos órgãos competentes (FEAM e DNPM), omissão de informações técnicas, negligência.

Os danos à biodiversidade ao longo do rio Doce foram enormes. Fala-se que o rio demorará décadas para recuperar seu estado anterior ao desastre, o que já era lastimável. Passei na rodovia ao lado do rio duas semanas antes do evento, o que se via era pouca água, bancos de areia e, certamente, águas poluídas pelo esgoto. O rio que estava doente, com a enxurrada de lama, foi para a UTI.

Em termos socioambientais os danos à região são incalculáveis. Uma questão que não se fala mais na mídia é a influência causada pelo rejeito no mar. A partir da foz do rio, no Espírito Santo, a lama se espalhou 20 km pelo oceano adentro e 40 km em sentido norte. Mesmo os especialistas não sabiam direito qual seriam os impactos do fato, pois nunca na história tanto material havia chegado ao mar tão rápido.

O pior são os transtornos causados à população, dentre outros: paralisação ou problemas no abastecimento de água nas cidades situadas ao longo do rio, falta de trabalho para os antigos pescadores, danos à agropecuária familiar, destruição da comunidade de Bento Rodrigues e de outras casas, duas dezenas de mortos etc. Imagine o lugar onde você, seus pais e avós moram ficar destruído de um dia para outro. E você perder quase tudo: roupas, documentos, fotos antigas, móveis, animais domésticos.

O que mais salta aos olhos é ver que vidas humanas são menos importantes que minérios, que dinheiro, que lucro. Aqui cabe destacar que a Samarco é uma empresa criada pelas duas maiores mineradoras mundiais: a australiana BHP Billiton e a brasileira Vale S/A. Empresas controladas por acionistas (Fundos de pensão, grupos de investimentos, grandes empresários) que só querem o lucro de suas ações no final do ano, custe o que e a quem for. Para se ter uma ideia, em 2014 a Samarco teve um lucro líquido de quase R$ 3 bilhões. Mas, como sempre, o lucro é individualizado e o passivo (impactos socioambientais) é dividido com toda a população.

Passado um ano, o que fora acordado com a empresa vem sendo protelado: recuperação do rio, apoio à população afetada, obras de contenção e de estabilização na área da barragem, multas não pagas. Resultado: o novo período chuvoso está começando e a lama continuará escorrendo pelas veias do Doce.

Segundo o projeto Manuelzão, a tragédia em Mariana “mostrou a insustentabilidade da gestão ambiental demonstrando as falhas no processo de gestão, licenciamento, fiscalização, monitoramento e sistema de emergência.” Por fim, fico com as palavras de Márcio Borges, do Clube da Esquina: “Quem vai pagar pelo que não tem preço”.