Contemplando as Palavras

Nos bares da vida

12 de Fevereiro de 2019, por Regina Coelho 1

no momento em que começo a escrever a presente matéria, tarde calorenta de uma quarta-feira já com a volta do futebol no país, grande parte dos brasileiros tem um destino certo depois do trabalho, antes do retorno para casa: chegar ao bar de alguém e ali passar um tempo ou muito tempo. O calor de agora e os jogos dos campeonatos estaduais pela TV são incentivos a mais para que esse quase ritual aconteça, mas, independentemente deles, quem frequenta esse tipo de lugar nem precisa de motivos para tal. Ou tem todos os motivos para isso. Encontrar velhos e novos conhecidos para tomar uma (ou umas). Claro! Uma cerveja ou pinguinha. Jogar uma sinuca é também uma boa pedida. Afogar as mágoas nem tanto. Reunir-se com os amigos para botar o papo em dia é programa certo. Molhando a palavra, há os que gostam de fazer divagações sobre a vida numa prosa mais ou menos séria, caracterizando a tal filosofia de botequim. Nesse cenário de levantamento de muitos copos e animada troca de ideias, todo mundo é um pouco filósofo destilando etílicas reflexões de toda ordem.

Dada a força de sua presença por todos os recantos brasileiros, o bar, o boteco e o botequim são uma “instituição” nacional. Bar pode ser o “balcão diante do qual as pessoas, de pé ou sentadas em bancos altos, consomem bebidas e iguarias leves” – Dicionário Aurélio. Boteco deriva de botequim, que é um “estabelecimento comercial onde se servem bebidas em geral (bebidas alcoólicas, refrigerantes, café, etc.) e pequenos lanches” (Aurélio). Indistintamente, as três denominações têm relação com o Brasil. Da mesma forma, a França tem seus cafés; a Inglaterra, seus pubs; a Itália, suas cantinas.

E se é para mostrar a consistência desse setor em terras tupiniquins, BH, a capital mundial dos botecos, comparece há 20 anos com o seu Comida di Buteco; assim mesmo, do jeito que o mineiro fala, usando um brasileirismo em sua forma mineirês. O evento, aliás, o concurso é um sucesso que vem se expandindo por outras cidades brasileiras, fortalecendo a cultura de “buteco” em todo o país.

Uma doce e particular lembrança, talvez de muitos resende-costenses, atende pelo nome de Bar do Nenê, situado na esquina onde atualmente está instalada a Drogaria Santo Antônio, nos “Quatro Cantos”. Não sei quanto tempo durou, nem quem exatamente o frequentava como adulto. Para a clientela infantil, a alegria se concentrava num baleiro cheio e todo colorido, nos canudos da Dinair, alguns chocolates em barra e irresistíveis (e proibidos em minha casa) chicletes PingPong. Igualmente lembrados e marcados por épocas distintas, muitos outros bares da cidade se destacaram em relação ao que se propuseram fazer, seja como negócio, seja como entretenimento, em sua versão copo-sujo (costumam ser imbatíveis) ou com visual todo bacana. Bar do Zé do Boqueirão, do Rubinho, do Bita, do Bieca, Scotch Bar, Cantoria, Taiobar e o despretensioso e original Presépio foram alguns desses lugares inesquecíveis para algumas gerações de frequentadores locais.

No passado, um reduto quase exclusivamente masculino, o bar hoje, abrangendo um público bem diversificado, é ponto de encontro. Nesse sentido, as pessoas se acham. E acham o que fazer, além de beber, é claro! E pedir também um tira-gosto no capricho. Dependendo do perfil do estabelecimento, pode rolar uma música, às vezes, ao vivo. De forma discreta ou ostensiva, o quase sempre presente aviso de alerta contra o fiado é uma tentativa da casa de evitar o pendura e pior, o calote. Isso porque a “dolorosa”, ou seja, a conta sempre vem, não sem o pedido de uma ou de várias saideiras até a saída propriamente dita da pessoa, sabe-se lá em que condições.

Bares e similares são pequenos ou grandes empreendimentos garantindo trabalho e sustento a muita gente, felizmente sem a marginalização imposta em outros tempos a esses ambientes de lazer, que podem ser simplesmente alegres, saudáveis e relaxantes, grande parte deles um misto de padaria e mercearia.

Vai uma cerveja aí?

 

Homenagem a todos os que se divertem e/ou trabalham nos bares de Resende Costa e da região.

Pequenas histórias de graça

15 de Janeiro de 2019, por Regina Coelho 0

Vinda de Jacarandira, Jandira (Epa! Até rimou.) trabalhava na casa de meus avós maternos ajudando minha avó nos afazeres domésticos. Guardo muitos casos contados em família sobre ela, que, entre outras particularidades, tinha uma certa implicância com o nome da minha mãe – Olga – e o do meu tio Otto. Dizia a Jandira que meu avô arrumava só nome esquisito para pôr nos filhos. Foi então que chegou a Resende Costa, provavelmente na década de 30 do século passado, o automóvel do Dr. Costa Pinto, médico residente na cidade. Naturalmente, aquilo repercutiu bastante entre os resende-costenses, com muitos comentando sobre o tal automóvel, um Ford Ramona, talvez o primeiro carro a aparecer e ficar por aqui. Então, a Jandira, num insight bem particular dela, saiu-se com esta: “Ah, já sei de onde o ‘sô Arcide’ arrumou o nome do Otto, foi do ‘otomove’”. Do lado paterno, meus avós puseram em todos os filhos nomes começados com A. Aliás, escolher uma certa letra para daí iniciar a série de nomes da prole era uma prática comum nas famílias.

Critérios, alguns questionáveis, é fato, não faltam na definição das palavras que nos acompanham ao longo da vida formando nosso nome completo, uma marca pessoal única. E é certo. Todo nome pode sugerir uma brincadeira. Eu mesma, numa mensagem recebida de um aluno pelo Dia do Professor, vi nas letras de meu último sobrenome o desenho de uma coelhinha. Uma homenagem dele. E juntando nomes próprios, há quem queira fazer graça criando ou copiando, é o meu caso, coisas como: Ana Lisa – psicanalista; Décio Machado – lenhador; Ema Thomas – traumatologista; Ester Elisa – enfermeira; Hélvio Lino – professor de música; H. Lopes – professor de hipismo; Inácio Filho – obstetra; Marcos Dias – fabricante de calendário; Oscar A. Melo – confeiteiro; Sara Vaz – mãe de santo.

Peguei leve ao escolher esses cacófatos, que são um vício de linguagem e, portanto, devem ser evitados. Isso porque há combinações de sons que geram termos ofensivos ou inconvenientes. Com essas últimas então todo cuidado é pouco. Apenas um exemplo: Décio Pinto. E quase deixando de lado os nomes propícios à prática de bullying, fica impossível não citar o cidadão Sincero Ramos de Morais, que ocupou há alguns meses as páginas policiais mineiras ao ser preso por matar a ex-namorada e o pai dela em maio do ano passado, em Peçanha, no Vale do Rio Doce (MG). Sem entrar no mérito da questão do feminicídio, sinceramente? Ninguém merece um nome desse!

 

Um caso interessante.

Um sujeito adora ouvir rádio. Sem muito o que fazer, participa de todos os programas de interação com os ouvintes. Outro dia, se interessou pela promoção da Rádio Comunitária de Sorocaba. Quem construísse uma frase com uma palavra que não existisse no dicionário ganharia duas entradas para o cinema. Ele não pensou duas vezes. Ligou:

Locutor: – Alô, quem fala?  

Ouvinte: – Sérgio, do Jardim Magnólia.

- Olá, Sérgio! Já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?

- A palavra é vaice.

- Vaice? Como se escreve?

- V-a-i-c-e.

- Espera um pouco. Me deixa consultar o dicionário. É... Realmente essa palavra não existe.

Agora faça uma frase com ela. Se fizer sentido e descobrirmos o que significa, você ganha.

- Ok, lá vai. Vaice coçar.

E desliga o telefone. O locutor não desanima. Vai em frente.

- Que é isso, pessoal? Vamos colaborar. Afinal, existem crianças ouvindo. Vamos tentar outra ligação. Alô, quem é?

- Joselito, do Peroba.

- Olá, Joselito Já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?

- Eudi.

- Eudi? Como se escreve?

- E-u-d-i.

- Espera um pouco. Me deixa consultar o dicionário. Eudesmano, eudesmol, eudésmia, eudiapneustia, eudiapnêustico... É... Realmente essa palavra não existe. Agora faça uma frase com ela. Se fizer sentido e descobrirmos o que significa, você ganha.

- Ok, lá vai. Sou eudi novo. Vaice coçar.

(Texto adaptado de Dad Squarisi)

 

   Um ótimo 2019 aos leitores do JL! E no desassossego dos dias infelizes, a graça das pequenas histórias cotidianas.

Por um bom abraço

12 de Dezembro de 2018, por Regina Coelho 0

“QUER UM ABRAÇO DE BOA PROVA?” Com esses dizeres em destaque num cartaz dependurado no pescoço, a professora de Matemática Denise Almeida, 29, marcou presença na entrada principal de uma universidade de BH nos dois dias de aplicação do ENEM/2018. Além do oferecimento do abraço, ela e um grupo de amigos fizeram uma vaquinha para a compra de lanchinhos, barras de cereais, chocolates, biscoitos e canetas pretas distribuídos a candidatos necessitados talvez desses mimos. “Minha ideia era ter um momento com esses estudantes para dizer palavras de motivação e que acredito neles”, explicou ela já no primeiro dia das provas.

Com variações de locais e personagens e de demonstrações de apoio aos participantes do ENEM, a cena descrita acima foi apenas uma entre muitas vistas pelo país nos dois domingos – 4 e 11 de novembro – que marcaram a vida escolar de milhões de jovens brasileiros. Segundo consta, a ação solidária do “abraço grátis” teve início em 2004, num aeroporto de Sydney, Austrália. Tudo aconteceu meio sem querer. Juan Mann, o criador do movimento dos Free hugs (abraços grátis), voltava para casa quando seu mundo virou de cabeça para baixo, em Londres. Não havia ninguém para recebê-lo e nenhum lar para voltar. Ao observar os outros passageiros que eram abraçados por suas famílias e por amigos, o australiano, que estava numa fase meio depressiva, sentiu necessidade de um abraço e então escreveu em um papel: “FREE HUGS”.

Abraçar alguém é tudo de bom. Ser abraçado também, desde que esse gesto não seja um “abraço de tamanduá”, expressão que se usa em referência ao abraço dado falsamente, sem a boa intenção e a espontaneidade de quem abraça. (A explicação do nome – Para se defender, o tamanduá se levanta sobre as patas traseiras e abre os braços mostrando as garras, como se fosse dar um “abraço”; na verdade, um golpe mortal, pois suas garras são muito fortes.) Aliás, o melhor mesmo é que esse entrelaçar de braços seja recíproco, ainda que seja o famoso “quebra-costela”, aquele abraço apertado. Aí vira até lugar, o melhor lugar do mundo, como canta o Jota Quest em Dentro de um abraço. A propósito, a letra dessa música foi inspirada na crônica homônima extraída do livro Feliz por nada (2011), da escritora gaúcha Martha Medeiros. Nas palavras da autora, tal como num abraço bom, o envolvimento dos abraçados é certo.

“(...) Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.

Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente no meio do paraíso. (...)”

Acontece, porém, que nas nossas relações cotidianas a gente costuma banalizar o abraço, que pode ser apenas uma maneira de nos despedir de uma pessoa, dizendo simplesmente “Um abraço”. Ou então a gente abraça o outro ou lhe manda um abraço por convenção ou obrigação no formalismo de algumas atitudes ditas sociais. Abraço de verdade é sentimento. É terapia. E que ótimo que hoje pais e filhos se abraçam amorosamente, diferentemente dos tempos em que manifestações físicas de amor e carinho entre eles eram praticamente inexistentes.

No embalo dos versos do Jota e de mais um final de ano, quando, tomados pelo espírito do Natal, julgamos ser pessoas melhores pela prática de nossas típicas boas ações da época, que estejamos de braços abertos para os verdadeiros abraços. E sintam-se vocês abraçados aqui.

 

“(...) Tudo que se espera ou sonha / Num abraço se encontra. / Na chegada ou na partida / Raio de sol ou noite fria / Na tristeza ou na alegria / Na tristeza ou na alegria.”

Nós, os mortais

13 de Novembro de 2018, por Regina Coelho 0

Como de costume diário, ia descendo a Rua Moreira da Rocha em direção à Escola Conjurados, onde trabalhava, quando ouvi alguém me chamar justamente no momento em que eu passava no ponto que dá início à Rua Pedro Chaves. Era o Vicente do Zé Brás, que, em frente à sua casa, misturando afirmação e indagação, de lá mesmo me falou: “E aí, Regina, o Magalhães Pinto (1909-1996) bateu mesmo as botas?” Respondi a ele que sim. O tradicional político mineiro, ex-governador do estado e ex-banqueiro, havia morrido naquele dia.

A cena descrita acima não tem nada de excepcional. Guardo-a na memória, não sei exatamente por que razão. Talvez seja pela informalidade da linguagem usada pelo Vicente para uma situação séria, mesmo quando não se conhece ou não se conhece pessoalmente, seria esse o caso dele, a pessoa que bateu as botas. Nosso saudoso conterrâneo não devia saber, mas, falando daquele jeito, usava um eufemismo, recurso linguístico de que se lança mão para suavizar uma ideia considerada cruel, chocante ou desagradável.

Na linguagem popular há muitas expressões eufemísticas que substituem o verbo morrer. Da já citada há variações com o verbo bater: a caçoleta, a canastra, a pacuera, o pacau, com a cola na cerca, o prego, o trinta-e-um, o trinta-e-um de roda, o bloco na rua. Há outras mais: ir para a terra dos pés juntos, vestir o terno (ou o pijama) de madeira, fechar (ou abotoar) o paletó, espichar a canela, ir para a Cucuia, ir pro beleléu, comer capim pela raiz, virar presunto. Há quem prefira simplesmente dizer que fulano empacotou. Pode-se falar sério também, eufemisticamente, só que sem o viés cômico tão ao gosto de muitos. Algumas construções extrapolam o simples sentido de morrer: adormecer no Senhor, dar (ou entregar) a alma a Deus (ou ao Criador), desaparecer, descansar, dar o último alento, despedir-se da vida, partir desta para uma melhor... Depreende-se dessas palavras um certo sentido de compreensão e aceitação da morte.

E sem morrer de verdade, a gente pode morrer de amor (es), de fome, de sede, de calor, de frio, de raiva, de medo, de cansaço, de rir, de trabalhar... E nem precisa saber que essa forma de expressão feita de exagero é uma hipérbole.

Assim como a entidade morte, certos ditos populares com esse termo são inevitáveis na comunicação do dia a dia. A saber: chorar a morte da bezerra = lastimar-se de um fato irremediável. Pensar na morte da bezerra = estar distraído (a), alheio (a) ao que se passa em torno. Ser de morte = ser impossível de suportar; ser levado do Diabo; ser desconcertante, excêntrico.

Partes indissociáveis de um processo natural, vida e morte justificam a existência da arte como recriação livre da realidade. Lembro os poetas do Romantismo brasileiro da segunda fase e sua poesia de obsessão pela morte, muitos deles mortos tão jovens. No Pré-Modernismo, Augusto dos Anjos é considerado “o poeta da morte” dada sua forte inclinação pelo tema. Sem o traço mórbido de seus colegas de ofício, Manuel Bandeira admite talvez sentir medo “quando a Indesejada das gentes chegar”. Lembro ainda Saramago e seu romance As intermitências da Morte, ela própria personagem do enredo. Deixando ela de cumprir seu papel, uma tragédia se anuncia tomando a história rumos imprevisíveis.

A mortalidade nos acompanha desde sempre. O que muda é a maneira como é encarada. Choramos pelos que se foram, rendendo-lhes homenagens, principalmente no Dia de Finados. Nem todos procedem assim. Os mexicanos, por exemplo, festejam o Dia dos Mortos e se fantasiam de Catrina, que é a representação do esqueleto de uma dama da alta sociedade, para lembrar que diante da morte não existem diferenças sociais. Desde 2008, essa festa é considerada pela Unesco Patrimônio Imaterial da Humanidade.

Diante da finitude, quando as pessoas ficam encantadas (vide Guimarães Rosa), marcas são deixadas por aqui. Nas inscrições de certos epitáfios, a expressão de uma existência:

Foi poeta, sonhou e amou na vida (Álvares de Azevedo, escritor brasileiro).

Foco total nos consumidores

17 de Outubro de 2018, por Regina Coelho 0

Mexendo em meus papéis, dei de cara com um texto tirado talvez da internet. Na época, deixei de registrar a fonte, isso é imperdoável. O título, um convite à leitura. Confiram!

 

Os segredos das lojas que fazem você gastar mais

Comprar ouvindo música lenta. 2- Ver produtos coloridos. 3- Produtos essenciais no fundo da loja. 4- Carrinhos grandes de compras. 5- Comida grátis (cortesia). A pessoa se sente especial. E se sente compelida a comprar o produto depois de experimentá-lo. 6- Produtos expostos no caixa (efeito dominador). 7- Alterações no layout da loja. 8- Produtos mais caros nas melhores prateleiras. 9- Cartões de fidelidade. 10- Acessórios sinalizados. 11- “Venda” em destaque. 12- Frete grátis. 13- Oferta de cadeiras para o cliente sentar. 14- Produtos colocados no final ou no início das prateleiras. 15- Poder tocar nos produtos. 16- Vendedores persuasivos. 17- Ofertas. 18- Iluminação inteligente. 19- Preços terminados em 9: 5,29. 20- Produtos agrupados.

“Segredo” revelado, é bom esclarecer que, no consumo, o ato de comprar está diretamente relacionado à necessidade ou à sobrevivência. Já quando se trata do consumismo, essa relação está rompida, ou seja, a pessoa não precisa daquilo que está adquirindo, mas, por alguma ou nenhuma razão, gasta comprando produtos sem utilidade imediata, ou supérfluos.

Nas duas situações, estudiosos no assunto enxergam diferentes tipos de consumidores. Idem os especialistas em marketing. E quem está envolvido no mundo dos negócios também sabe disso. Assim, é compreensível que as estratégias de venda sejam usadas de forma a levar em conta essas diferenças, de acordo com a personalidade dos clientes. Um estudo realizado pela empresa de pesquisa Euromonitor classifica os seguintes tipos de consumidores:

 

O QUE SÓ COMPRA O MELHOR – Média de idade: 35 anos. Grupo composto de pessoas autoconfiantes, bem-informadas e muito tecnológicas que compram só aquilo que lhes dá status, adquirindo coisas bonitas e caras, ainda que tenham que se contentar com menos produtos.

O IMPULSIVO – É o sonho de qualquer vendedor. Aquela pessoa que não resiste a uma “boa” compra. Palavra mágica para ela: OFERTA.

O OTIMISTA EQUILIBRADO – Principal característica: analisa bem suas compras e não se deixa levar pela primeira impressão. Só adquire algo quando encontra um real benefício nisso.

O ASPIRANTE LUTADOR – Tem hábitos de compra altamente emocionais, podendo comprar muito ou nada, dependendo de seu estado de humor.

O CASEIRO CONSERVADOR – O mais feminino. É detalhista e atento a tudo. Não lhe preocupa se está atrasado nas tendências do momento ou se não tem o telefone da moda. Compra só o que realmente precisa. É o menos manipulável de todos.

O CÉTICO INDEPENDENTE – O mais masculino. Desconfia de comércio em geral. Há algo de marcante nesse grupo: são pessoas que odeiam comprar. Só adquirem produtos quando isso é absolutamente indispensável.

O TRADICIONALISTA SEGURO – Outro grupo masculino. Formado por pessoas que se sentem bem com o que têm, não sentindo necessidade de adquirir o que quer que seja.

 

Comprar é bom. Às vezes é até irresistível. Se bem que, observando essa classificação, há quem odeie essa prática. O problema é a indução forçada à compra. Contra isso, olho vivo! O bolso também agradece.

Também dos meus guardados vem a calhar a crônica O consumo e a preguiça, do jornalista Mário Ribeiro. Nela, segundo o autor, os economistas alertam que o capitalismo, na sua ânsia do lucro sem medidas, aproveita-se de uma tendência consumista cada vez mais forte beirando ao caos. Na contramão dessa ideia, ele lembra um parente, ao comentar:

“Bem que tio João deu o aviso, antes da metade do século passado, quando, deitado no balcão de sua venda em Curvelo, para fazer a sesta, após o almoço teve seu sono interrompido por um rapaz que lhe pediu para retirar da última prateleira um modelo de chapéu em exposição. Olhos empapuçados, antes de descer do balcão e pegar a escada para alcançar o chapéu, soltou a frase que ficou famosa: ‘Cês também não podem ver nada que querem comprar!!!’ ”

Preguiça à parte, há um fundo de verdade nesse comentário.