Quanta majestade!
15 de Fevereiro de 2013, por Regina Coelho 0
O Brasil não teve uma nobreza tradicional à moda europeia, salvo pela presença da família imperial aqui instalada a partir de 1808, em razão da fuga empreendida por D. João VI, provocada pela iminência da invasão a Portugal por Napoleão Bonaparte. Não obstante nossa realidade sem realeza, temos cá nossos reis e rainhas coroados simbolicamente pelo povo. Reinando já há um bom tempo, estão aí mais soberanos do que nunca os Reis Roberto Carlos e Pelé. Este último, fora da atividade que o consagrou mundialmente, mas eternamente rei, faz valer aquela velha máxima de que “quem foi rei nunca perde a majestade”. Isso deve valer também para Reinaldo, um dos maiores jogadores de futebol que o país já teve. Da feliz combinação do talento que esbanjou nos gramados com a primeira sílaba de seu nome surgiu o “Rei, Rei, Rei, Reinaldo é o nosso Rei”, o grito de guerra da torcida atleticana exaltando seu ídolo maior nos anos 70 e 80.
“Rei morto, rei posto”, certo? Nem sempre. Como não considerar ainda hoje como o “Rei do baião” o nosso Luiz Gonzaga e os internacionais e para sempre lembrados Elvis Presley e Michael Jackson como os Reis do rock e do pop, respectivamente? Numa versão inteiramente tupiniquim, destaque para um certo “Rei do Cangaço”, o temido Lampião, que foi o principal e mais conhecido cangaceiro brasileiro.
Majestade, evidentemente, não é exclusividade masculina. Instituído em 1937, o concurso “Rainha do rádio” foi sucesso absoluto até o final dos anos 50 com a disputa acirrada de votos entre as fãs das cantoras candidatas. Marlene e Emilinha Borba foram algumas dessas cabeças coroadas. Hebe Camargo, enquanto viveu, reinou como a “Rainha da televisão brasileira”. É verdade que outras rainhas surgiram, como Hortência, a “Rainha do basquete”, hoje já afastada das quadras, ainda atuante no meio e sem sucessora que lhe roube o título. Ao que parece, outras majestades já não fazem mais jus ao reinado que um dia conquistaram. Gretchen, que se tornou conhecida como a “Rainha do bumbum” por dançar virando-se de costas para as câmeras de tevê e para a plateia, foi desbancada pelas popozudas da hora. Também soberana, Sula Miranda, cantora e irmã de Gretchen, já foi aclamada como a “Rainha dos caminhoneiros”. Convertida à igreja evangélica e gravando música gospel, sua estrada hoje é outra. E Xuxa, que por muito tempo reinou como a “Rainha dos baixinhos”, anda à procura de novos e pequenos súditos, provavelmente devotados a outras paixões.
Há reis e rainhas para todos os gostos e ocasiões. Ricardinho e Milene Domingues, Rei e Rainha das embaixadinhas. E tome título para os representantes das mais variadas festas realizadas no país: “Rei Momo”, “Rainha do Carnaval”, “Rainha das rosas”, “Rainha da uva”, “Rainha da pipoca”... Aqui mesmo em Resende Costa, temos por ocasião da Festa do Rosário, nossa corte real. E a mania se espalha em forma de nomes bem sugestivos para grande parte dos estabelecimentos comerciais Brasil afora: “O Rei das tintas”, “A Rainha das rendas”, “O Rei das frutas”, “O Império dos tecidos”. Em Resende Costa, “A princesa”. Novelas também não escapam. “Rainha da Sucata” e “O Rei do Gado” são exemplos disso.
Na linguagem do dia a dia, algumas construções relacionadas à nobreza são diretas. Assim, o sol é “o astro-rei”, o leão é “o rei dos animais”, o sabiá é majestade, o galo é “o rei do terreiro”, a rosa é “a rainha das flores” e a mãe, “a rainha do lar”. Outras referem-se a quem é esnobe como aquele que tem o “rei na barriga” ou ao convencido como o tal “rei da cocada preta”. Há ainda a “palavra de rei”, aquela que não volta atrás. E o cumprimento baianês “bom dia, meu rei”, que é a forma como os baianos se tratam e cumprimentam os de fora. No imaginário infantil, a menina vira “princesa”. A mocinha sonhadora se sente a própria, à espera talvez do príncipe encantado.
Transitando na hierarquia dos títulos de nobreza, é possível encontrar hoje no Brasil “o Imperador”, ou melhor, o quase ex-jogador Adriano, que, quando jogava na Itália, ganhou o apelido de L’Imperatore, em alusão ao imperador romano Adriano. E não é que até em Resende Costa temos “o Conde”, não é mesmo, Cláudio do Tião da Caixa? E tivemos “o Duque”, antigo comerciante da cidade e pai do Miguel do Duque, do Toninho do Duque e outros “do Duque”. Penso ser do desconhecimento quase geral o nome José da Mata e Sousa para o saudoso “Duque”, assim chamado desde a infância.
É verdade que o mundo da realeza desperta o interesse de muita gente pelo glamour que acompanha esse pessoal do chamado “sangue azul”. E como rende histórias a vida deles! Da Inglaterra vem o exemplo perfeito. Apesar de sua fleuma inglesa, a rainha Elizabeth II corta um dobrado para manter sob controle sua nobre descendência, sempre tão observada por todos. Eu, que de rainha tenho o nome, sou mais os meus semelhantes plebeus. E como plebe, que tenhamos “sangue bom”. Eles que são nobres que se entendam!
“Rei morto, rei posto”, certo? Nem sempre. Como não considerar ainda hoje como o “Rei do baião” o nosso Luiz Gonzaga e os internacionais e para sempre lembrados Elvis Presley e Michael Jackson como os Reis do rock e do pop, respectivamente? Numa versão inteiramente tupiniquim, destaque para um certo “Rei do Cangaço”, o temido Lampião, que foi o principal e mais conhecido cangaceiro brasileiro.
Majestade, evidentemente, não é exclusividade masculina. Instituído em 1937, o concurso “Rainha do rádio” foi sucesso absoluto até o final dos anos 50 com a disputa acirrada de votos entre as fãs das cantoras candidatas. Marlene e Emilinha Borba foram algumas dessas cabeças coroadas. Hebe Camargo, enquanto viveu, reinou como a “Rainha da televisão brasileira”. É verdade que outras rainhas surgiram, como Hortência, a “Rainha do basquete”, hoje já afastada das quadras, ainda atuante no meio e sem sucessora que lhe roube o título. Ao que parece, outras majestades já não fazem mais jus ao reinado que um dia conquistaram. Gretchen, que se tornou conhecida como a “Rainha do bumbum” por dançar virando-se de costas para as câmeras de tevê e para a plateia, foi desbancada pelas popozudas da hora. Também soberana, Sula Miranda, cantora e irmã de Gretchen, já foi aclamada como a “Rainha dos caminhoneiros”. Convertida à igreja evangélica e gravando música gospel, sua estrada hoje é outra. E Xuxa, que por muito tempo reinou como a “Rainha dos baixinhos”, anda à procura de novos e pequenos súditos, provavelmente devotados a outras paixões.
Há reis e rainhas para todos os gostos e ocasiões. Ricardinho e Milene Domingues, Rei e Rainha das embaixadinhas. E tome título para os representantes das mais variadas festas realizadas no país: “Rei Momo”, “Rainha do Carnaval”, “Rainha das rosas”, “Rainha da uva”, “Rainha da pipoca”... Aqui mesmo em Resende Costa, temos por ocasião da Festa do Rosário, nossa corte real. E a mania se espalha em forma de nomes bem sugestivos para grande parte dos estabelecimentos comerciais Brasil afora: “O Rei das tintas”, “A Rainha das rendas”, “O Rei das frutas”, “O Império dos tecidos”. Em Resende Costa, “A princesa”. Novelas também não escapam. “Rainha da Sucata” e “O Rei do Gado” são exemplos disso.
Na linguagem do dia a dia, algumas construções relacionadas à nobreza são diretas. Assim, o sol é “o astro-rei”, o leão é “o rei dos animais”, o sabiá é majestade, o galo é “o rei do terreiro”, a rosa é “a rainha das flores” e a mãe, “a rainha do lar”. Outras referem-se a quem é esnobe como aquele que tem o “rei na barriga” ou ao convencido como o tal “rei da cocada preta”. Há ainda a “palavra de rei”, aquela que não volta atrás. E o cumprimento baianês “bom dia, meu rei”, que é a forma como os baianos se tratam e cumprimentam os de fora. No imaginário infantil, a menina vira “princesa”. A mocinha sonhadora se sente a própria, à espera talvez do príncipe encantado.
Transitando na hierarquia dos títulos de nobreza, é possível encontrar hoje no Brasil “o Imperador”, ou melhor, o quase ex-jogador Adriano, que, quando jogava na Itália, ganhou o apelido de L’Imperatore, em alusão ao imperador romano Adriano. E não é que até em Resende Costa temos “o Conde”, não é mesmo, Cláudio do Tião da Caixa? E tivemos “o Duque”, antigo comerciante da cidade e pai do Miguel do Duque, do Toninho do Duque e outros “do Duque”. Penso ser do desconhecimento quase geral o nome José da Mata e Sousa para o saudoso “Duque”, assim chamado desde a infância.
É verdade que o mundo da realeza desperta o interesse de muita gente pelo glamour que acompanha esse pessoal do chamado “sangue azul”. E como rende histórias a vida deles! Da Inglaterra vem o exemplo perfeito. Apesar de sua fleuma inglesa, a rainha Elizabeth II corta um dobrado para manter sob controle sua nobre descendência, sempre tão observada por todos. Eu, que de rainha tenho o nome, sou mais os meus semelhantes plebeus. E como plebe, que tenhamos “sangue bom”. Eles que são nobres que se entendam!
De cara com 2013
16 de Janeiro de 2013, por Regina Coelho 0
“O tempo voa”. Essa talvez seja uma das frases mais batidas das muitas que se falam e se escutam por aí. Mais do que simplesmente um velho chavão, ela encerra uma verdade. E assim sendo, já é janeiro e estamos em 2013. “É a vida que segue”, diria o jornalista Chico Pinheiro ao final do “Bom dia, Brasil” de toda sexta-feira. E é fato, mas ando meio cismada com a velocidade que estamos imprimindo ao nosso dia a dia. E sem demora a agenda do ano aparece preenchida. É bem provável até que muita gente que esteja ainda curtindo as esticadas festivas da virada do ano já tenha se programado para o final deste ano. O Carnaval? Esse já está fechado. Para a Semana Santa, tudo pronto. Estou sabendo que não estamos muito bem de feriadões. Fazer o quê? O jeito é ficar com os feriados mesmo, até 2013 terminar. E por aí vai.
É lógico que não sou contra as festas e as comemorações, muito pelo contrário. Não entendo é essa urgência, essa correria para o que está lá na frente. Que canseira! E mais. Não entendo também essa obrigação de ser feliz, ou melhor, de estar feliz no réveillon. E depois disso? Sem os fogos de artifício, as ceias fartas e os votos de feliz ano praticamente obrigatórios de noite tão animada, volta-se ao normal. Claro, depois das férias de janeiro. Onde? Adivinhem! Na praia! Mas... tem o Carnaval logo depois. E aí? Sei lá!
Para ser coerente com o que disse e penso, vamos com calma. É janeiro e sei é que muita gente não sabe começar o ano sem fazer aquelas listinhas básicas e manjadas de promessas de mudança. Emagrecer, parar de fumar, evitar o estresse, gastar menos com bobagens e voltar a estudar, por exemplo, são itens que lideram o ranking do “eu prometo” dos que assim procedem.
Isso me remete a um artigo interessante da jornalista Anna Marina (do Estado de Minas) publicado no início do ano passado. Nele ela afirma ter recebido de uma leitora uma “tábua de mandamentos”, segundo a colunista, “cheia de dicas, mas sem aquela conversa mole tão típica da ocasião”. Concordo com ela e por julgar o texto também atual, repasso-o a vocês. O “Manual 2013” é o seguinte:
“Nada de coisas impossíveis, apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro”. Que assim seja, se a gente quiser. E que venha 2013!
É lógico que não sou contra as festas e as comemorações, muito pelo contrário. Não entendo é essa urgência, essa correria para o que está lá na frente. Que canseira! E mais. Não entendo também essa obrigação de ser feliz, ou melhor, de estar feliz no réveillon. E depois disso? Sem os fogos de artifício, as ceias fartas e os votos de feliz ano praticamente obrigatórios de noite tão animada, volta-se ao normal. Claro, depois das férias de janeiro. Onde? Adivinhem! Na praia! Mas... tem o Carnaval logo depois. E aí? Sei lá!
Para ser coerente com o que disse e penso, vamos com calma. É janeiro e sei é que muita gente não sabe começar o ano sem fazer aquelas listinhas básicas e manjadas de promessas de mudança. Emagrecer, parar de fumar, evitar o estresse, gastar menos com bobagens e voltar a estudar, por exemplo, são itens que lideram o ranking do “eu prometo” dos que assim procedem.
Isso me remete a um artigo interessante da jornalista Anna Marina (do Estado de Minas) publicado no início do ano passado. Nele ela afirma ter recebido de uma leitora uma “tábua de mandamentos”, segundo a colunista, “cheia de dicas, mas sem aquela conversa mole tão típica da ocasião”. Concordo com ela e por julgar o texto também atual, repasso-o a vocês. O “Manual 2013” é o seguinte:
- “Beba muita água.
- Coma no café da manhã como um rei, no almoço como um mendigo e no jantar como um pedinte.
- Viva com os três ‘e’: energia, entusiasmo e empatia.
- Arranje tempo para orar.
- Leia mais livros do que leu em 2012, para isso sente-se em silêncio pelo menos 10 minutos por dia.
- Durma 8 horas diariamente.
- Faça caminhadas de 20 a 60 minutos por dia. Procure sorrir enquanto caminha.
- Não compare a sua vida com a de ninguém, pois, na realidade, a gente não faz ideia de como é a caminhada dos outros.
- Não tenha pensamentos negativos, sobretudo a respeito de coisas sobre as quais não se tem controle.
- Não se exceda. Mantenha-se no seu limite.
- Não se torne demasiadamente sério(a).
- Não desperdice a sua energia preciosa com fofocas.
- Esqueça as questões do passado. Não lembre seu(sua) parceiro(a) dos erros do passado. Isso destruirá a felicidade presente.
- Viva sem ódio. A vida é curta demais para odiar alguém.
- Não tente ganhar todas as discussões. Aceite a discordância.
- Entre mais em contato com a sua família.
- Diariamente, dê algo de bom aos outros.
- Passe um tempo com maiores de 70 anos e menores de 6.
- Tente fazer pelo menos 3 pessoas sorrirem a cada dia.
- Relaxe. Não lhe diz respeito o que os outros pensam de você.
- O trabalho não tomará conta de você quando estiver doente. Os amigos o farão. Mantenha contato com eles.
- Desfaça-se do que não é útil, bonito ou alegre.
- Acredite. Por muito boa ou má que a situação seja... ela mudará.
- Não interessa como você se sente. Levante-se, arrume-se e apareça.
- Creia. O melhor ainda está por vir.
- Quando acordar vivo(a) de manhã, agradeça a Deus pela graça.”
“Nada de coisas impossíveis, apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro”. Que assim seja, se a gente quiser. E que venha 2013!
Honras ao talento brasileiro
11 de Dezembro de 2012, por Regina Coelho 0
O encerramento da VIII Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco) contou com a presença marcante de Ariano Suassuna, escritor paraibano, mas cidadão pernambucano, recifense e olindense. Durante aula-espetáculo ministrada em Olinda na noite do dia 18 de novembro próximo passado, Suassuna discorreu sobre a obra de Capiba, o mais conhecido compositor de frevos do Brasil. E como não poderia deixar de ser, encantou o público presente com o costumeiro vigor e a competência de sempre ao falar do músico homenageado e promover a discussão de questões interessantes ligadas ao país e à sua vida de acadêmico.
Logo no início do evento, Ariano sugeriu a troca do nome da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, por Avenida Nélson Rodrigues. “O que é que Pernambuco deve ao presidente Kennedy?”, questionou ele, sendo por isso muito aplaudido.
O escritor contou à plateia que deixou de usar terno e gravata em 1981 inspirado por um artigo de Mahatma Gandhi, líder da independência indiana. “Ele dizia que o indiano que amasse seu país e seu povo não devia nunca se vestir como os ingleses nem com a roupa feita pelos ingleses. Primeiro porque estaria virando cúmplice dos invasores. Depois porque ia tirar um dos poucos mercados de trabalho que as mulheres pobres da Índia tinham, que era a costura”, relatou. Desde então, a costureira Edite assumiu a missão de cuidar dos figurinos de Suassuna. “Comecei a ser barrado nos lugares por aí. Tenho vocação para ser barrado”, revelou.
Ariano também contou curiosidades sobre sua posse na Academia Brasileira de Letras. Depois de contratar Edite para costurar o fardão (veste simbólica dos membros da ABL) e uma bordadeira do Clube das Pás (um clube carnavalesco recifense) para cuidar dos adornos, ele foi chamado de jeca, mas não deixou por menos. “Bonito não tem ninguém ali, eu era o menos feio. Duas coisas que me impressionaram na Academia: uma foi a feiura. Ô imortais feios! E a outra foi a idade. Corri o olho e dava mais de três mil anos!”, brincou.
Defensor ferrenho da cultura popular do Nordeste, Suassuna lembrou sua velha implicância com Michael Jackson ao afirmar que o falecido astro “vivia aperreado por ser negro” e que “dançarino negro de verdade, orgulhoso de sua cor e de seu país é Mestre Meia-Noite!”, uma referência a Gílson Santana, artista atuante naquela noite. Referindo-se ao cangaço, qualificou-o como “um exemplo extraviado e errado de uma revolta social justa”. Eis aí uma ideia merecedora de reflexão.
Para falar do amigo Capiba, muitas brincadeiras. Entre elas, a seguinte. “Todo ano ele (Capiba) me dizia, falando sério: ‘Ariano, o melhor time é o Santa Cruz. Os jogadores dos outros times é que não deixam o Santa jogar!’”, contou Suassuna.
As informações aqui relatadas sobre a última noite da Fliporto 2012 eu obtive no G1(o portal de notícias da Globo) e julguei pertinentes ao momento atual. No ano em que o Brasil reverenciou a memória de notáveis como Mazzaroppi (09/04), Jorge Amado (10/08), Nélson Rodrigues (23/08 – aliás, o homenageado desta Fliporto) e Luiz Gonzaga (13/12), todos eles nascidos em 1912 e merecedores das homenagens que lhes foram prestadas, nada melhor do que exaltar também a figura brilhante e corajosa do brasileiríssimo e vivíssimo Ariano Suassuna, 85 anos. Autor de “O auto da compadecida”, ele verá sua mais famosa obra ser o tema da Escola de Samba Pérola Negra (de São Paulo) no Carnaval 2013. Justa homenagem a quem, entre outras coisas, faz do “não troco o meu ‘oxente’ pelo ok de ninguém” uma profissão de fé nas suas origens. Mais Ariano do que isso, impossível!
E entrando no clima natalino, recorro a uma canção de Natal composta por Capiba e Carlos Pena Filho para dedicá-la a todos os leitores do Jornal das Lajes.
Sino, claro sino
__ Sino, claro sino,
Tocas para quem?
__ Para o Deus menino,
Que, de longe vem.
Pois se O encontrares,
Traze-O ao meu amor.
__ E o que Lhe ofereces,
Velho pecador?
__ Minha fé cansada,
Meu vinho, meu pão,
Meu silêncio limpo,
Minha solidão.
Em tempo - Um presente para Resende Costa a conclusão dos trabalhos da reforma do Teatro Municipal. Parabéns ao prefeito Adilson Resende pela iniciativa. E que nosso principal espaço cultural seja devidamente administrado para os fins aos quais se destina.
Logo no início do evento, Ariano sugeriu a troca do nome da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, por Avenida Nélson Rodrigues. “O que é que Pernambuco deve ao presidente Kennedy?”, questionou ele, sendo por isso muito aplaudido.
O escritor contou à plateia que deixou de usar terno e gravata em 1981 inspirado por um artigo de Mahatma Gandhi, líder da independência indiana. “Ele dizia que o indiano que amasse seu país e seu povo não devia nunca se vestir como os ingleses nem com a roupa feita pelos ingleses. Primeiro porque estaria virando cúmplice dos invasores. Depois porque ia tirar um dos poucos mercados de trabalho que as mulheres pobres da Índia tinham, que era a costura”, relatou. Desde então, a costureira Edite assumiu a missão de cuidar dos figurinos de Suassuna. “Comecei a ser barrado nos lugares por aí. Tenho vocação para ser barrado”, revelou.
Ariano também contou curiosidades sobre sua posse na Academia Brasileira de Letras. Depois de contratar Edite para costurar o fardão (veste simbólica dos membros da ABL) e uma bordadeira do Clube das Pás (um clube carnavalesco recifense) para cuidar dos adornos, ele foi chamado de jeca, mas não deixou por menos. “Bonito não tem ninguém ali, eu era o menos feio. Duas coisas que me impressionaram na Academia: uma foi a feiura. Ô imortais feios! E a outra foi a idade. Corri o olho e dava mais de três mil anos!”, brincou.
Defensor ferrenho da cultura popular do Nordeste, Suassuna lembrou sua velha implicância com Michael Jackson ao afirmar que o falecido astro “vivia aperreado por ser negro” e que “dançarino negro de verdade, orgulhoso de sua cor e de seu país é Mestre Meia-Noite!”, uma referência a Gílson Santana, artista atuante naquela noite. Referindo-se ao cangaço, qualificou-o como “um exemplo extraviado e errado de uma revolta social justa”. Eis aí uma ideia merecedora de reflexão.
Para falar do amigo Capiba, muitas brincadeiras. Entre elas, a seguinte. “Todo ano ele (Capiba) me dizia, falando sério: ‘Ariano, o melhor time é o Santa Cruz. Os jogadores dos outros times é que não deixam o Santa jogar!’”, contou Suassuna.
As informações aqui relatadas sobre a última noite da Fliporto 2012 eu obtive no G1(o portal de notícias da Globo) e julguei pertinentes ao momento atual. No ano em que o Brasil reverenciou a memória de notáveis como Mazzaroppi (09/04), Jorge Amado (10/08), Nélson Rodrigues (23/08 – aliás, o homenageado desta Fliporto) e Luiz Gonzaga (13/12), todos eles nascidos em 1912 e merecedores das homenagens que lhes foram prestadas, nada melhor do que exaltar também a figura brilhante e corajosa do brasileiríssimo e vivíssimo Ariano Suassuna, 85 anos. Autor de “O auto da compadecida”, ele verá sua mais famosa obra ser o tema da Escola de Samba Pérola Negra (de São Paulo) no Carnaval 2013. Justa homenagem a quem, entre outras coisas, faz do “não troco o meu ‘oxente’ pelo ok de ninguém” uma profissão de fé nas suas origens. Mais Ariano do que isso, impossível!
E entrando no clima natalino, recorro a uma canção de Natal composta por Capiba e Carlos Pena Filho para dedicá-la a todos os leitores do Jornal das Lajes.
Sino, claro sino
__ Sino, claro sino,
Tocas para quem?
__ Para o Deus menino,
Que, de longe vem.
Pois se O encontrares,
Traze-O ao meu amor.
__ E o que Lhe ofereces,
Velho pecador?
__ Minha fé cansada,
Meu vinho, meu pão,
Meu silêncio limpo,
Minha solidão.
Em tempo - Um presente para Resende Costa a conclusão dos trabalhos da reforma do Teatro Municipal. Parabéns ao prefeito Adilson Resende pela iniciativa. E que nosso principal espaço cultural seja devidamente administrado para os fins aos quais se destina.
A voz do rádio em Resende Costa
13 de Novembro de 2012, por Regina Coelho 0
Você sabe o que o Edson Tancão, a Dora Silva e o Elmo Coelho têm em comum? Quem os conhece bem vai certamente dizer que os três são atleticanos fanáticos. Ok! Isso é público e notório, mas eles cultivam também uma outra paixão, talvez menos conhecida por muitos: são ouvintes assíduos de rádio. Indagados sobre a média de horas diárias passadas na companhia fiel de seus aparelhos em funcionamento, as respostas variam bastante. “Como estou aposentado, acho que ouço diariamente duas horas de rádio. Quando ainda trabalhava e morava em Belo Horizonte, ouvia o Jornal da Manhã e o das 12:30 horas da Rádio Itatiaia. Ouço também a Itatiaia pelo canal 411 da Sky e quando viajo para fora de Minas, ouço a emissora pela internet”, afirma Elmo. Já Dora garante passar “umas dez horas por dia” na escuta de um de seus cinco rádios. Surpreendente é a resposta que Tancão dá ao dizer que passa vinte horas diárias ouvindo rádio. Espera aí, não é muito não, Tancão? Dormir deixando o rádio ligado (são quatro aparelhos que ele tem) não vale. Verdade é que gosto é gosto. Isso deve explicar também os oito aparelhos que o Elmo tem em casa (cinco aqui em Resende Costa e três em B.H.) e a revelação de que não pode ver um rádio que logo se interessa em comprá-lo.
Mas como esses ouvintes tão cativos levam a vida antenados a seus inseparáveis aparelhos de rádio? Veja o que eles contam aqui.
O começo
- Ouço rádio desde os 15 anos. (Tancão)
- Ouço rádio desde pequena. Aprendi a gostar disso com minha mãe. (Dora)
- Ouço rádio desde pequeno em razão de dois motivos: primeiro, porque ia diariamente à residência de meu avô materno (Sr. Alcides Lara), que gostava muito de ouvir rádio. Em segundo lugar, porque o meu pai (senhor Adenor Coelho) era comerciante e vendia rádios. Ele nos orientava (filhos que o ajudavam no comércio) a saber localizar as emissoras mais importantes da época (Rádio Aparecida, Rádio Globo, Rádio Nacional e Rádio Inconfidência) para que as mostrássemos aos clientes interessados na compra dos referidos aparelhos. (Elmo)
As favoritas
- A Rádio Inconfidência, pois ela só toca música popular brasileira. O programa “Bazar Maravilha” é o meu preferido. Gosto também da Rádio Itatiaia. Além do esporte, seus jornais são completos. Tem o programa “Café com Notícia”, de madrugada, de que gosto muito. São notícias de política, esporte, dicas de saúde, previsão do tempo e manchetes dos grandes jornais do país. E cito também a Alvorada, uma boa rádio com muita música e notícias. Todas são de B.H. (Dora)
- Itatiaia, Inconfidência, Record, Tupi, São João e outras. (Tancão)
- Minha emissora preferida sempre foi a Itatiaia, com seus noticiários e programas esportivos. Outras emissoras de que também gosto: CBN, e Globo. (Elmo)
Dizendo-se ouvinte assíduo da Rádio Itatiaia pela credibilidade e imparcialidade que ela passa ao ouvinte em seus noticiários e nas brilhantes jornadas esportivas que empreende, Elmo resume a opinião dos dois colegas de entrevista, que elegem “esporte e notícia” nas palavras de Dora e “mais informação e entretenimento”, segundo Tancão, como as justificativas principais na preferência deles e de muita gente pela “rádio de Minas”, a poderosa Itatiaia, uma das maiores do Brasil.
O rádio e o futebol
- Quem gosta de rádio e entende de futebol sabe direitinho os lances de emoção ou desespero. E ouvindo a Itatiaia, você fica sabendo os resultados de outros jogos também em tempo real. (Tancão)
- Eu gosto mais de ouvir futebol do que assistir. Acho mais emocionante. (Dora)
- Acompanhar o futebol pelo rádio é, com certeza, mais emocionante. Basta você ouvir os narradores da televisão e o Mário Henrique (da Itatiaia) narrando um jogo. A diferença é gritante. Você se sente dentro do estádio, participando de tudo. (Elmo)
Considerando a importância que o rádio representa na vida de cada um dos nossos entrevistados, Dora e Tancão lembram que através dele tomam conhecimento do que acontece no mundo inteiro, ao mesmo tempo em que não deixam de lado seus afazeres do cotidiano. Já Elmo destaca o indispensável papel que esse veículo de comunicação desempenha como prestador de serviços de utilidade pública. E mais uma vez a Itatiaia é exaltada por ele, que, quando vai a Belo Horizonte e se o trânsito fica complicado na chegada, deixa-se orientar pelas informações precisas emitidas pelos repórteres da emissora mineira.
Com a atenção voltada agora para a radiofonia local, não posso deixar de ressaltar a atuação da Rádio Inconfidentes, fazendo-se presente na vida de tanta gente em Resende Costa, nas redondezas e longe daqui pela internet. Mesmo sem a estrutura e a tradição e, consequentemente, a força e o alcance das gigantes aqui mencionadas, a Inconfidentes cumpre com acerto os objetivos a que se propõe em adequada sintonia com a sua já consolidada audiência junto à comunidade em geral.
Mas como esses ouvintes tão cativos levam a vida antenados a seus inseparáveis aparelhos de rádio? Veja o que eles contam aqui.
O começo
- Ouço rádio desde os 15 anos. (Tancão)
- Ouço rádio desde pequena. Aprendi a gostar disso com minha mãe. (Dora)
- Ouço rádio desde pequeno em razão de dois motivos: primeiro, porque ia diariamente à residência de meu avô materno (Sr. Alcides Lara), que gostava muito de ouvir rádio. Em segundo lugar, porque o meu pai (senhor Adenor Coelho) era comerciante e vendia rádios. Ele nos orientava (filhos que o ajudavam no comércio) a saber localizar as emissoras mais importantes da época (Rádio Aparecida, Rádio Globo, Rádio Nacional e Rádio Inconfidência) para que as mostrássemos aos clientes interessados na compra dos referidos aparelhos. (Elmo)
As favoritas
- A Rádio Inconfidência, pois ela só toca música popular brasileira. O programa “Bazar Maravilha” é o meu preferido. Gosto também da Rádio Itatiaia. Além do esporte, seus jornais são completos. Tem o programa “Café com Notícia”, de madrugada, de que gosto muito. São notícias de política, esporte, dicas de saúde, previsão do tempo e manchetes dos grandes jornais do país. E cito também a Alvorada, uma boa rádio com muita música e notícias. Todas são de B.H. (Dora)
- Itatiaia, Inconfidência, Record, Tupi, São João e outras. (Tancão)
- Minha emissora preferida sempre foi a Itatiaia, com seus noticiários e programas esportivos. Outras emissoras de que também gosto: CBN, e Globo. (Elmo)
Dizendo-se ouvinte assíduo da Rádio Itatiaia pela credibilidade e imparcialidade que ela passa ao ouvinte em seus noticiários e nas brilhantes jornadas esportivas que empreende, Elmo resume a opinião dos dois colegas de entrevista, que elegem “esporte e notícia” nas palavras de Dora e “mais informação e entretenimento”, segundo Tancão, como as justificativas principais na preferência deles e de muita gente pela “rádio de Minas”, a poderosa Itatiaia, uma das maiores do Brasil.
O rádio e o futebol
- Quem gosta de rádio e entende de futebol sabe direitinho os lances de emoção ou desespero. E ouvindo a Itatiaia, você fica sabendo os resultados de outros jogos também em tempo real. (Tancão)
- Eu gosto mais de ouvir futebol do que assistir. Acho mais emocionante. (Dora)
- Acompanhar o futebol pelo rádio é, com certeza, mais emocionante. Basta você ouvir os narradores da televisão e o Mário Henrique (da Itatiaia) narrando um jogo. A diferença é gritante. Você se sente dentro do estádio, participando de tudo. (Elmo)
Considerando a importância que o rádio representa na vida de cada um dos nossos entrevistados, Dora e Tancão lembram que através dele tomam conhecimento do que acontece no mundo inteiro, ao mesmo tempo em que não deixam de lado seus afazeres do cotidiano. Já Elmo destaca o indispensável papel que esse veículo de comunicação desempenha como prestador de serviços de utilidade pública. E mais uma vez a Itatiaia é exaltada por ele, que, quando vai a Belo Horizonte e se o trânsito fica complicado na chegada, deixa-se orientar pelas informações precisas emitidas pelos repórteres da emissora mineira.
Com a atenção voltada agora para a radiofonia local, não posso deixar de ressaltar a atuação da Rádio Inconfidentes, fazendo-se presente na vida de tanta gente em Resende Costa, nas redondezas e longe daqui pela internet. Mesmo sem a estrutura e a tradição e, consequentemente, a força e o alcance das gigantes aqui mencionadas, a Inconfidentes cumpre com acerto os objetivos a que se propõe em adequada sintonia com a sua já consolidada audiência junto à comunidade em geral.
A voz do rádio no Brasil
16 de Outubro de 2012, por Regina Coelho 0
Pesquisas recentes revelam que o rádio está presente em 52,1 milhões de domicílios brasileiros. Isso representa 171,9 milhões de ouvintes domiciliares e 91,3% dos lares de todo o Brasil equipados com o praticamente indispensável aparelho que propaga informações sonoras por meio de ondas eletromagnéticas. Embora hoje tenha sido suplantado pela televisão aberta, que é vista por 178,8 milhões de pessoas abrigadas em 54,2 milhões de domicílios, num total de 95,1% deles, o rádio segue firme como o companheiro diário de muita gente. E tem mais. Segundo estimativas, cerca de 80% dos automóveis, caminhões, camionetes e furgões possuem rádio AM/FM. Os números aqui mencionados são impressionantes pelo que representam num país de proporções continentais como é o Brasil, que celebra no corrente ano seus 90 anos de rádio.
Numa volta ao tempo, o 7 de setembro de 1922 ficou registrado como o dia em que foi realizada a primeira transmissão radiofônica oficial no país como parte das comemorações do Centenário da Independência. Na ocasião, o discurso do presidente da república Epitácio Pessoa foi transmitido para receptores instalados em Niterói, Petrópolis e São Paulo, através de uma antena instalada no Corcovado, Rio de Janeiro, então capital da república. Na verdade, precisamente 80 aparelhos de rádio captaram a programação daquele dia histórico. Naquele mesmo dia, além da abertura da Exposição dos 100 anos de Brasil independente, à noite, a ópera “O Guarani” (de Carlos Gomes) foi transmitida do Teatro Municipal para alto-falantes instalados no local da exposição, assombrando o público lá presente. Era o começo da primeira estação de rádio do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Fundada por Edgar Roquete Pinto, a emissora foi doada ao governo federal em 1936, que a transformou na Rádio MEC.
O mesmo assombro diante daquela “caixa que falava” pôde ser observado aqui em Resende Costa anos depois. De acordo com meu primo Alair, um estudioso entusiasmado da história da cidade, os três primeiros rádios resende-costenses tiveram como proprietários o Abraão Hannas, o Alcides Lara (meu avô materno) e o Ozório Chaves. Tratava-se de um modelo chamado rádio-capela, de um metro de altura e um de largura, um móvel da casa, praticamente. Nos lares onde eles foram instalados, o povo fazia fila para conhecer aquela novidade. E havia o Pedro Maia, fazendeiro do Curralinho dos Paula, que, maravilhado com o aparelho e cético ao mesmo tempo, achava que tinha alguém dentro dele. Ressalte-se que, inicialmente, o preço de um aparelho e a demora na implantação de retransmissoras foram impedimento para que muitas famílias adquirissem um rádio.
Na trajetória histórica desse hoje poderoso meio de comunicação de massas (considerado agora como emissora), merece destaque a instituição, em 1935, do programa oficial do governo de Getúlio Vargas, “A Voz do Brasil”, transmitido até hoje em todo o país. Marcando época no rádio (e mais tarde na tevê), surgiu em 1941 o “Repórter Esso”, o primeiro radiojornal brasileiro. Sucesso total também tiveram os programas de auditório e seus ídolos da década de 40, a época de ouro, quando o rádio se tornou um veículo popular. Nesse cenário, as radionovelas foram um capítulo à parte, com adaptações de tramas internacionais, muitas vezes, como “O direito de nascer”, do cubano Félix Caignet, que ficou três anos no ar e chegou a ser chamada popularmente de “O direito de encher”. E bem antes de a televisão chegar ao país, o que ocorreu em 1950, o rádio já fazia suas transmissões esportivas levando o torcedor ao delírio com narrações antológicas, como as que marcaram os dois primeiros títulos mundiais para o Brasil, em 1958 (na Suécia) e 1962 (no Chile). Levar o torcedor a “ver” a partida pelo rádio é a mágica que os mestres da locução esportiva conseguem fazer.
É oportuno considerar que, apesar de ter sofrido um certo declínio em virtude do advento da televisão, o rádio no Brasil soube se adaptar aos novos tempos. E se nos seus primórdios as próprias características físicas do aparelho receptor faziam com que ele se mantivesse como um objeto de escuta coletiva em torno do qual a família se reunia, hoje ele pode ser levado facilmente a qualquer parte, até mesmo carregado no bolso do usuário. E se agora, em razão das muitas atribulações desta vida agitada, as pessoas já não se juntam mais para ouvir o rádio e conversar sobre as notícias do dia, elas o têm como a companhia fiel, seja para o trabalho, para o lazer ou para a solidão de certos momentos, especialmente o das madrugadas com seus insones ouvintes ou quase inevitáveis temores. E pensar que muitos decretaram o fim do rádio com a entrada da televisão no país, tornando-se também ela acessível à maioria dos brasileiros. Diferenças à parte ou por isso mesmo, o fato é que um não exclui a outra. Ainda bem!
Dando voz ao ouvinte, a presente matéria continua na edição de novembro próximo. Até lá!
Numa volta ao tempo, o 7 de setembro de 1922 ficou registrado como o dia em que foi realizada a primeira transmissão radiofônica oficial no país como parte das comemorações do Centenário da Independência. Na ocasião, o discurso do presidente da república Epitácio Pessoa foi transmitido para receptores instalados em Niterói, Petrópolis e São Paulo, através de uma antena instalada no Corcovado, Rio de Janeiro, então capital da república. Na verdade, precisamente 80 aparelhos de rádio captaram a programação daquele dia histórico. Naquele mesmo dia, além da abertura da Exposição dos 100 anos de Brasil independente, à noite, a ópera “O Guarani” (de Carlos Gomes) foi transmitida do Teatro Municipal para alto-falantes instalados no local da exposição, assombrando o público lá presente. Era o começo da primeira estação de rádio do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Fundada por Edgar Roquete Pinto, a emissora foi doada ao governo federal em 1936, que a transformou na Rádio MEC.
O mesmo assombro diante daquela “caixa que falava” pôde ser observado aqui em Resende Costa anos depois. De acordo com meu primo Alair, um estudioso entusiasmado da história da cidade, os três primeiros rádios resende-costenses tiveram como proprietários o Abraão Hannas, o Alcides Lara (meu avô materno) e o Ozório Chaves. Tratava-se de um modelo chamado rádio-capela, de um metro de altura e um de largura, um móvel da casa, praticamente. Nos lares onde eles foram instalados, o povo fazia fila para conhecer aquela novidade. E havia o Pedro Maia, fazendeiro do Curralinho dos Paula, que, maravilhado com o aparelho e cético ao mesmo tempo, achava que tinha alguém dentro dele. Ressalte-se que, inicialmente, o preço de um aparelho e a demora na implantação de retransmissoras foram impedimento para que muitas famílias adquirissem um rádio.
Na trajetória histórica desse hoje poderoso meio de comunicação de massas (considerado agora como emissora), merece destaque a instituição, em 1935, do programa oficial do governo de Getúlio Vargas, “A Voz do Brasil”, transmitido até hoje em todo o país. Marcando época no rádio (e mais tarde na tevê), surgiu em 1941 o “Repórter Esso”, o primeiro radiojornal brasileiro. Sucesso total também tiveram os programas de auditório e seus ídolos da década de 40, a época de ouro, quando o rádio se tornou um veículo popular. Nesse cenário, as radionovelas foram um capítulo à parte, com adaptações de tramas internacionais, muitas vezes, como “O direito de nascer”, do cubano Félix Caignet, que ficou três anos no ar e chegou a ser chamada popularmente de “O direito de encher”. E bem antes de a televisão chegar ao país, o que ocorreu em 1950, o rádio já fazia suas transmissões esportivas levando o torcedor ao delírio com narrações antológicas, como as que marcaram os dois primeiros títulos mundiais para o Brasil, em 1958 (na Suécia) e 1962 (no Chile). Levar o torcedor a “ver” a partida pelo rádio é a mágica que os mestres da locução esportiva conseguem fazer.
É oportuno considerar que, apesar de ter sofrido um certo declínio em virtude do advento da televisão, o rádio no Brasil soube se adaptar aos novos tempos. E se nos seus primórdios as próprias características físicas do aparelho receptor faziam com que ele se mantivesse como um objeto de escuta coletiva em torno do qual a família se reunia, hoje ele pode ser levado facilmente a qualquer parte, até mesmo carregado no bolso do usuário. E se agora, em razão das muitas atribulações desta vida agitada, as pessoas já não se juntam mais para ouvir o rádio e conversar sobre as notícias do dia, elas o têm como a companhia fiel, seja para o trabalho, para o lazer ou para a solidão de certos momentos, especialmente o das madrugadas com seus insones ouvintes ou quase inevitáveis temores. E pensar que muitos decretaram o fim do rádio com a entrada da televisão no país, tornando-se também ela acessível à maioria dos brasileiros. Diferenças à parte ou por isso mesmo, o fato é que um não exclui a outra. Ainda bem!
Dando voz ao ouvinte, a presente matéria continua na edição de novembro próximo. Até lá!