Contemplando as Palavras

Mulheres ao volante (1)

12 de Novembro de 2010, por Regina Coelho 0

Um estudo americano põe por terra um velho clichê segundo o qual as mulheres não são boas motoristas, ao revelar que elas dirigem melhor que os homens e arriscam menos a vida na direção. De acordo com cálculo baseado no número de quilômetros percorridos e que consta dessa pesquisa, os homens motoristas correm 78% mais riscos que as mulheres de morrerem quando estão dirigindo. Estudos semelhantes a esse, que foi realizado pela Universidade Carnegie Mellon (conceituada instituição privada de ensino e pesquisa, localizada em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, Estados Unidos), já haviam provado por estatísticas a melhor conduta feminina ao volante.

No Brasil, a Braspress, empresa pioneira na abertura do mercado de trabalho do transporte de carga à mão de obra da mulher, prefere adotar a acertada filosofia de que “competência não tem sexo”. Daí a presença das mulheres também nesse competitivo ramo dos negócios. E que não se fale em privilégios, uma vez que a empresa realiza programa de treinamento específico para que elas se transformem em profissionais do volante, respeitadas em suas características próprias, mas sujeitas ao que é determinado a todos.

Os controles internos da Braspress mostram que as motoristas mulheres têm maiores cuidados operacionais com os veículos, colaborando para a conservação e, consequentemente, manutenção dos caminhões. Sabem ser educadas no relacionamento com os clientes e mantêm com eles um diálogo muito mais eficaz. No trânsito, são pacientes, o que levou à redução de batidas e de custos de manutenção dos carros, incluindo funilaria.

Em Resende Costa, como não poderia deixar de ser, mulheres em número bastante expressivo podem ser vistas na condução de grande parte da crescente frota de veículos da cidade. Dados do Centro de Formação de Condutores Lara comprovam o que já é visto na prática. Assim, em relação às matrículas de primeira habilitação, em 2008, 31% delas foram de mulheres; em 2009, 35% e em 2010, 40%. No exame de legislação, elas têm desempenho melhor, pois 95% são aprovadas de primeira (serão mais estudiosas?). No entanto, no exame de rua, os homens estão em vantagem, uma vez que levam menos tempo para tirar a carteira de habilitação.

Ao afirmar que 90% das mulheres chegam à autoescola para aprender a dirigir, Alexandre Lara Rodrigues, instrutor de legislação e proprietário da Autoescola Lara, esclarece que o mesmo não acontece com os rapazes. Segundo ele, a maioria deles chega sabendo alguma coisa ou quase tudo sobre como dirigir. Coisas da nossa cultura. É aquela velha história de que menino gosta é de carrinho, e logo, logo vai se interessar pelo carro do pai ou da mãe. E vai começar aprender a dirigir a partir daí. Isso talvez explique o fato de os homens serem mais rápidos na obtenção da tão sonhada habilitação.

Se, de um modo geral, a mulherada chega para aprender dirigir a partir dos 20 anos, muitos meninos mal aguentam esperar a idade mínima exigida por lei (18 anos) e cumprir o que é obrigatório, incluindo o que já é por eles dominado, isto é, as aulas práticas de direção.

Curiosamente, quando se trata de efetuar os pagamentos devidos à autoescola, as mulheres são mais rápidas, afirma Alexandre. Em bom e popular português, isso quer dizer que elas são “boas de conta”. Que os candidatos a motorista não se sintam ofendidos com essa constatação. Como sempre, há exceções, também entre as mulheres.

Uma informação final fornecida pelo CFC Lara dá bem a ideia de como as coisas mudaram, considerando-se o número de mulheres motoristas em Resende Costa até a década passada. Para o Curso Obrigatório de Reciclagem de motoristas habilitados em Minas antes de 1994 e em outros estados antes de 1998, as matrículas aqui na cidade não passaram de 10% entre as motoristas.

Como se pode ver, a realidade hoje é outra em Resende Costa e no Brasil todo, que tem, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), 33% de motoristas do sexo feminino, ou seja, 1/3 dos motoristas habilitados do país.

Trata-se de um contingente expressivo de brasileiras menos propensas à prática da conduta perigosa álcool e volante ou ao “esquecimento” no uso do cinto de segurança. E quanto à expressão que certas pessoas aplicam às mulheres: “mulheres ao volante, perigo constante”, evocando o conhecido ditado popular, seria mais verdadeiro chamar de necessária prudência o jeito feminino de dirigir (só faltou a rima).

Em tempo: na próxima edição, os leitores vão conhecer um pouco da história de algumas das primeiras mulheres motoristas de Resende Costa.

Amor pelos livros

11 de Outubro de 2010, por Regina Coelho 0

“Carro-Biblioteca comemora 50 anos com acervo de 12 mil obras literárias. Com parada obrigatória em cinco bairros carentes de BH, a iniciativa leva saber, cultura e diversão a mais de 15 mil pessoas por ano”.

Devo confessar a vocês que me surpreendi com a matéria “Conhecimento itinerante”, publicada no Estado de Minas, caderno Gerais (21 de setembro de 2010) e de onde extraí o trecho acima.

Campanhas de incentivo à leitura hoje em dia são até comuns em nosso meio, o que não as torna menos necessárias ou importantes. No presente caso, o detalhe que me chamou a atenção especialmente foi a longevidade vitoriosa do Carro-Biblioteca. Não há aqui nada de modismo ou de estar na onda do politicamente correto. Sustentar uma ideia por tanto tempo só se justifica por sua própria força e pelo acerto na sua condução.

Coordenado pela Superintendência de Bibliotecas Públicas da Secretaria de Estado da Cultura, o projeto itinerante abre as portas da literatura e do conhecimento para quem se aventura por entre prateleiras repletas de livros, revistas e periódicos. Portas abertas literalmente também, já que esse material todo é transportado por um caminhão-baú. “É onde o livro encontra o leitor. A iniciativa é uma forma de democratizar o acesso à leitura. A cada três anos, mudamos os bairros beneficiados e percebemos que o projeto ajuda a comunidade para criar bibliotecas e espaços de leitura próprios”, explica a diretora de Extensão e Ação Regionalizada da Superintendência, Márcia Caldas de Melo.

Muito interessante isso, não? No mês das crianças e dos professores, aproveito o embalo a fim de repassar 10 dicas valiosas do Instituto EcoFuturo (organização não governamental criada em 1999) para despertar, principalmente entre a criançada, o amor pelos livros. Confiram!

 

  • Leia em voz alta com as crianças. Explore com elas os livros e outros materiais de leitura: revistas, jornais, folhetos, almanaques, manuais de instruções, cartazes, placas. Todo material impresso pode ocasionar momento de troca centrado na leitura.

  • Ofereça a elas ambiente rico em termos de letramento: faça atividades com leitura, mesmo com bebês e crianças bem pequenas. Continue fazendo com as crianças e jovens que estão na escola.

  • Converse com elas e escute-as quando falam. O diálogo ajuda muito no desenvolvimento da linguagem oral.

  • Peça-lhes que recontem histórias ou informações que você leu em voz alta. Cuidado para que a atividade não acabe virando aula. Não é esse o espírito da proposta. O encontro precisa ser agradável e descontraído.

  • Incentive-as a desenhar e fazer de conta que escrevem histórias que ouviram. Peça, depois, que “leiam” em voz alta. Parece absurdo? Pois não é. Afinal, elas passam o tempo fazendo de conta que cozinham, que dirigem carros, que lutam com inimigos perigosos, que são médicos e professores. Não se esqueça: a ideia é brincar de ler.

  • Dê o exemplo: faça com que elas vejam você lendo e escrevendo. E, por favor, não faça a bobagem de dizer que elas devem aprender a ser diferentes de você, que não gosta de ler. O que conta não é o que você discursa sobre a leitura, escrita, estudo. É o que você oferece como exemplo.

  • Vá à biblioteca regularmente com as crianças. Se for uma biblioteca de empréstimo, é bom cada uma ter a própria ficha de inscrição.

  • Crie uma biblioteca em casa e uma biblioteca pessoal para a criança, onde ela se acostume a guardar os livros e a buscá-los. Na hora de comprar presentes para seu filho, lembre-se dos livros. De quebra, ele ganha competência para lidar com o mundo e abertura da imaginação.

  • Faça mistério para aguçar a curiosidade. Por exemplo: você tem três livros na mão e diz à criança que ela pode escolher entre dois. Ela certamente vai dizer que são três e não dois.

Na berlinda eleitoral

13 de Setembro de 2010, por Regina Coelho 0

Dizem por aí que “uma imagem vale por mil palavras”, certo? Em se tratando dos atuais candidatos às eleições de outubro, a máxima parece ser verdadeira. É lógico que “as aparências enganam”, levando-se em conta ainda as possíveis edições e montagens de imagens. Quanto à pessoa propriamente dita, a aparência que ela tem nem sempre revela o que ela é, mas uma “boa estampa” (eta expressão polêmica!) pode ajudar. Isso é fato comprovado e explorado pelos profissionais que coordenam as campanhas políticas. E a julgar pelo visual dos três principais concorrentes à cadeira de Lula, a ação dos marqueteiros já começou há um bom tempo.

Exemplo bem claro disso é o trabalho de transformação física pelo qual passou a candidata Dilma Rousseff ao longo, talvez, de um ano. O que foi feito com ela parece um daqueles famosos quadros de alguns programas de televisão em que a pessoa passa por uma metamorfose estética radical, tudo graças à intervenção de especialistas da beleza e da saúde. Quase sempre o resultado é altamente positivo. No caso da petista Dilma, quanta mudança! E para melhor, justiça seja feita. Cirurgia plástica e realinhamento dos dentes efetuados anteriormente, sem os pesados óculos de grau, produzidíssima, ela é hoje pura elegância. Os terninhos que usa atualmente são muito bem cortados, a maquiagem e os cabelos, impecáveis.

E não me venham dizer que isso é coisa de mulher. Conhecem o José Serra, agora chamado na propaganda eleitoral do rádio e da tevê de Zé? É aquele sujeito carrancudo? Não, isso é coisa do passado. O hoje sorridente candidato tucano arrisca até algumas brincadeiras com os repórteres que o abordam informalmente. Parece uma tentativa de obter uma imagem menos formal, mais descontraída. Quanto à silhueta, nada mudou. Serra continua magro. Nada de especial nas roupas, com uma forte preferência por ternos escuros e de ombros mais largos.

O trio se completa com Marina Silva. Simplesmente não dá para deixar de reparar na sua figura mirrada, de longos cabelos, geralmente presos em coque, e sobrancelhas fartas. O estilo despojado é mantido com as já tradicionais saias longas e batas ou casaquinhos mais sóbrios. Uma marca característica de Marina são os colares, os mais variados, sempre grandes, feitos com sementes ou materiais de artesanato, o que é facilmente associado à sua principal bandeira, a defesa do meio ambiente. Dos três, parece ser a que se produz de modo mais genuíno, menos sujeito aos palpites dos assessores de campanha.

Está tudo muito bom, muito bonito, mas ... e o discurso dos candidatos, as propostas de cada um? E como chegar até o povo e se fazer entender por ele? Aí a situação pode se complicar porque ninguém vive só de imagem, muito menos na conquista pelo voto dos eleitores. Os tropeços, nesse aspecto, costumam ser inevitáveis.

Em suas viagens pelo Brasil, principalmente por Minas, Goiás e Pernambuco, o candidato do PSDB não tem conseguido ouvir ou compreender o que dizem jornalistas da imprensa desses estados. A alegação? Segundo ele, o problema está no sotaque. Será? “Essa fala de vocês, eu não entendo. Eu tenho que prestar atenção”, chegou a afirmar publicamente Serra, em ato de campanha na capital dos mineiros. Uai, sô, e agora?

Quem também enfrenta dificuldades linguísticas é a representante do PT. Provavelmente, por inexperiência em falar de improviso publicamente, Dilma costuma usar frases desconexas ou incompletas. E tome ainda o achismo: “Eu acho que o Brasil...” “Eu acho que os cargos da administração pública...” “Eu acho que conseguimos...” Isso enfraquece o enunciado.

Do ponto de vista da clareza e da eficiência, sinal verde (com o perdão do trocadilho) para a candidata do PV. Sem muito jogo de cintura para brincadeirinhas com a imprensa e com alguns escorregões na gramática, Marina apresenta desempenho satisfatório no quesito comunicação.

Não se cobra, é óbvio, que os candidatos aqui superficialmente analisados e os demais postulantes a todos os cargos eletivos mostrem uma bela estampa aos olhos dos eleitores ou sejam exímios articulistas da palavra. Espera-se, acima de tudo e entre outras condições, que tenham postura e compostura compatíveis com o trato da missão pública.

Cultivando paixões (2)

10 de Agosto de 2010, por Regina Coelho 0

“Ser feliz é tudo o que se quer”, já dizia o poeta. E o que nos faz felizes? Que cada um descubra suas motivações para viver a vida com muito prazer. Sobre isso, confira o que disseram nossas entrevistadas.

“Falar de paixões? Ah!... Muito agradável! Quem não as tem? E... por que não dizer que são elas que nos movem a enfrentar o lado sério da vida?

Ousadamente lembro nosso grande Drummond em seu Poema de Sete Faces, transformado por mim:
 

Quando nasci, um anjo torto disse:
Vai, Stela! Gostar de vôlei na vida.
Penso, gostar seria pouco; é paixão mesmo!
 

Ainda menina, ia às “lajes de cima”, em época de férias. Ali estavam os adolescentes resende-costenses que estudavam em colégios internos a jogar seu vôlei. Sentada, à margem, acompanhava a bola completamente enamorada. Entendia pouco, mas sentia tudo. Que vontade danada de estar ali fazendo parte da equipe!

Só que a oportunidade viria. Eis que chega a nossa cidade e, felizmente pra ficar, uma pessoa que tão bem pratica o esporte: Valéria – a nossa Valéria do Dr. Paulo. Com a ajuda de Toninha Lara, exímia levantadora e amante do vôlei, elas se dispuseram a nos ensinar a jogá-lo.

Todas as tardes, íamos ao Lajes Clube e lá treinávamos. Quando chovia, descíamos munidas de puxador e panos de chão para secarmos a quadra. Organizávamos torneios e arrisco dizer que, se não foram os melhores momentos da vida, podem a eles ser comparados. Ali, meus filhos aprenderam a andar de bicicleta (com rodinhas) enquanto mamãe atleta jogava seu vôlei.

Certa vez, sofri uma torção feia no tornozelo. Dr. Paulo colocou gesso e suspendeu o esporte por quinze dias. Que fazer? Era urgente. Oito dias depois...treino. Contrariando o marido, eu mesma removi o gesso e ainda pude contar com a ajuda dele, pois estava impossível fazê-lo sozinha. Confesso que joguei; confesso que doeu e senti medo, mas também confesso que o faria de novo. É... a paixão é cega!

Hoje, somos uma turma mista em todos os sentidos. Não dá nem pra definir a faixa etária. Varia de quinze a sessenta e... Impressionante como dá para conviver tão bem!

A cada tombo... a cada esforço... a cada ponto perdido ou ganho, chego à conclusão: é bom ser apaixonada. Ali, também, sou feliz de verdade!”

(Stela Vale Lara)


“Desde os meus primeiros anos de vida, já ouvia sons de instrumento na minha casa. Meu pai era pistonista e participava da Banda Santa Cecília, que era regida pelo saudoso professor Geraldo Sebastião Chaves. Meu irmão mais velho, o Geraldo (Curinga), também fazia parte da banda como percussionista. Modéstia à parte, tocava muito bem. A Lourdes, que era mais velha que eu seis anos, participava do Coro Paroquial e fazia parte das coroações.

E fui crescendo gostando de ouvir os sons das notas musicais. Aos onze anos, ingressei nas aulas de música do professor Geraldo Chaves, o qual me ensinou a ler as primeiras notas. Com o passar do tempo, ele achou por bem que aprendêssemos a tocar um instrumento. Dona Naná, sua esposa, me convenceu a aprender tocar violino, que ela maravilhosamente tocava. E cantava como um rouxinol. Começamos com as aulas, sendo eu, Naná (do Hugo), Vera (do senhor Jesus), Maria Aleluia (atual maestrina do Coral Opus Mater Dei), Lilia Lara, Ieda Melo e Anísia (filha do senhor Valdemiro Coelho), as alunas. Éramos quatro no violino e três no acordeon.

Depois me casei, aos dezesseis anos. Morei na zona rural e passei duas décadas só cuidando da família. Em 1983, já morando em Resende Costa (na cidade), fui chamada para trabalhar na prefeitura como auxiliar de serviços gerais. Com isso, Aleluia me convidou novamente para participar do Coral. Aceitei o convite com muito amor e carinho. Fui participando dos ensaios para a Semana Santa e de todos os eventos católicos. Aleluia e Dona Terezinha Lara sempre nos ensinavam a cantar lindíssimas missas a quatro vozes e outras diversas peças.

Nos tempos do padre João Rodrigues de Paula no comando da nossa paróquia, pude me aperfeiçoar e aprender com mais facilidade as partituras de missa que padre João exigia que fossem cantadas em todas as celebrações, de acordo com a liturgia.

Na verdade, o meu canto é para louvar a Deus, a Santíssima Trindade e a Maria, mãe de Deus e nossa, a quem recorro nas minhas dificuldades como mãe de família, esposa e dona de casa. A música me faz muito bem, já que tem o poder de mudar o nosso humor e expressar os nossos sentimentos. É uma aliada de todos os momentos, mesmo os tristes, fazendo assim suportá-los com mais leveza.”

(Maria Penha de Souza, a Penha do Jair)

Cultivando paixões

13 de Julho de 2010, por Regina Coelho 0

Moldura com o quebra-cabeças retratando a tela da Criação

Por um feliz acaso, uma vez que não tenho o costume de ver o programa Estrelas, comandado pela apresentadora global Angélica, nas tardes de sábado, dei de cara com um quadro da atração em que o entrevistado era o mestre Armando Nogueira. Tratava-se de uma reprise, que foi ao ar no dia 3 de abril deste ano, na verdade uma homenagem ao brilhante jornalista falecido em março de 2010. Na matéria em questão, entre outras abordagens e sempre com a competência linguística e o bom humor que lhe eram característicos, Armando Nogueira falava entusiasmadamente de sua paixão pelos aviões. E vai mais longe, aliás, ele pilota sua aeronave levando Angélica a bordo. Voa radiante, sem quem lhe pesem os anos. E confirma o que já é sabido, porém muitas vezes esquecido: precisamos de bons projetos de vida que nos motivem a tornar realidade pequenos e grandes sonhos.
 
Incluo-me na legião de admiradores do velho Nogueira. Isso talvez explique a alegria que tive de ver, pleno de felicidade, aquele homem-menino, naquele voo. Daí veio a inspiração para buscar relatos reveladores de paixão por coisas até mesmo simples, nem por isso menos importantes para quem as cultiva. Confira!
 
“Já cometi muitas loucuras pelo Clube Atlético Mineiro, como deixar de ir a aulas importantes, de fazer provas e até de ir ao encontro da namorada. Tudo isso pelo futebol, tudo isso pelo Atlético.
 
Recém-saído de Resende Costa em 77, fui conhecer o Mineirão logo na estreia do Brasileirão, em que o Galo enfrentaria o Remo (PA). Não sabia nem em qual lado o estádio ficava, mas mesmo assim me aventurei. Segui por várias ruas um rapaz que usava a camisa do Atlético. Ele parava em muitos bares e eu lá, esperando por ele, até que vi um ônibus onde se lia ESTÁDIO, parado no sinal. Pedi ao motorista para entrar. Quando entrei no Mineirão, fiquei encantado, meio bobo, contemplando a vitória do Galo por 4x1 (um lindo gol do ídolo Reinaldo). Logo me vi fazendo parte daquela fanática nação alvinegra. Aquele era o início de uma grande equipe.
 
O campeonato de 77 foi frustrante para o Atlético. Para mim o time daquele ano foi o melhor, invicto e com 10 pontos na frente do segundo colocado, o São Paulo. No jogo da final, eu tinha comprado o ingresso da arquibancada, mas no caminho fui roubado e me sobrou apenas o ingresso, que tive de vender para comprar o de geral, que era mais barato. E sobraria algum dinheiro para a passagem de volta. O Mineirão estava lotado, mais de 100 mil torcedores. Reinaldo estava suspenso e fez muita falta. O jogo terminou empatado em 0x0 e nos pênaltis os jogadores do Galo pecaram nas cobranças e viram a taça de campeão se afastar.
 
Em outra ocasião, era final do Campeonato Brasileiro de 80, Atlético x Flamengo e estávamos (eu e um grande amigo atleticano, é claro) no Mineirão para a grande festa de mais tarde. Havíamos passado o dia todo picotando papéis. Só que, devido à má administração do estádio (como sempre) e à superlotação do Mineirão, houve muito tumulto. Os portões só foram abertos duas horas antes do jogo e acabamos por perder nosso confete, mas tudo aquilo valeu a pena. Reinaldo, o nosso Rei, fez o gol da vitória por 1x0 naquele jogo. Só que na outra partida no Maracanã, o Flamengo levou a melhor, 3x2 sobre nós.
 
Hoje faria tudo novamente, afinal de contas é o Atlético Mineiro, time da torcida mais vibrante e apaixonada do planeta.”
(Toninho Ribeiro)
 
“Minha paixão pelos quebra-cabeças começou quando, ainda criança, ganhei um conjunto com os mapas dos continentes. Eram cinco jogos com 50 peças cada. Ficava fascinado com o brinquedo, os quais montei e desmontei várias vezes. Brincava e aprendia ao mesmo tempo.
 
Muitos anos se passaram e esse encantamento pelos quebra-cabeças ficou meio que adormecido. Até que, em uma das minhas idas a Belo Horizonte, há cerca de seis anos, encontrei um de mil peças. A figura a ser formada era a Praça de Cibeles, em Madri. Resolvi me aventurar e tentar montá-lo. Foi aí que me lembrei de como era emocionante, como era prazeroso montar cada peça se encaixando noutra para formar uma obra maior.
 
Desde então segui montando vários outros, como ‘Natividade’, que representa o nascimento de Jesus (500 peças) e ‘A Santa Ceia’, de Leonardo Da Vinci (1000 peças). Todos devidamente colados e emoldurados. Minha última aventura foi montar ‘A Criação de Adão”, de Michelangelo, com 5000 peças. Eu, Clébia e Lucas, levamos exatos seis meses para fazê-lo, mas valeu a pena. Cada peça mede 2,00x1,00 cm e o quadro todo tem 97 x 137 cm. Encontra-se emoldurado e pendurado como decoração de nossa casa.
 
Acredito ser esta uma forma de lazer interessante, pois além de distrair e instruir, como disse antes, cada pequena peça encaixada é um desafio vencido. A família se une por um objetivo comum e se diverte. Prova disso é que o Lucas, meu filho, desde os oito anos, ama montar quebra-cabeças”.
 
(Fernando Victor Resende)
NOTA: A matéria continua na próxima edição.