Mais uma copa do mundo
15 de Junho de 2010, por Regina Coelho 0
Não tem jeito. O clima de Copa do Mundo paira por toda parte. As atenções se voltam para a África do Sul, o primeiro país do continente africano a sediar uma Copa. Também aqui no Brasil o espetáculo está montado. A mobilização da torcida em torno da performance da seleção brasileira é quase total. A economia vive momentos de pura satisfação com o aquecimento do mercado de trabalho. É muita gente consumindo, é muita gente faturando, e o Brasil se vestindo de verde-amarelo. Apenas uma minoria consegue se manter alheia ou pouco interessada em relação ao destino do país no mais importante torneio de futebol do mundo. E claro, há o pessoal do contra, aqueles que acham um absurdo tanto oba-oba por causa desse ou de outro esporte qualquer.
A bola começa a rolar. Os comandados, ou melhor, os guerreiros de Dunga estão prontos para o combate. Epa, mas isso é uma guerra? A julgar pelo técnico brasileiro e um dos patrocinadores da seleção, parece que sim. Que pena! E onde fica o fair play, o tal espírito esportivo? Bobagem! E a tão decantada confraternização entre os povos? Esquece!
No meio desse turbilhão de emoções e de nervos à flor da pele, destaca-se a figura do treinador da seleção brasileira. Seja ele quem for, como sofre o coitado! Quanta cobrança! E os palpites, então? Surgem de todos os lados. As críticas e as tiradas de humor também. Dunga, o alvo da vez, não consegue, evidentemente, passar incólume a tudo isso. Fico com o lado da brincadeira. As mais engraçadas se inspiram na história da Branca de Neve. Aqui vão duas delas:
“Não consigo entender por que estão criticando tanto as escolhas do Dunga. Afinal, pra convocar a seleção ele ouviu demoradamente sua principal conselheira: a Branca de Neve”. (Gerson Menezes)
“Será o Dengoso Dunga um Mestre em transformar o Feliz povo brasileiro em Zangado? Tenho medo de tirar uma Soneca ao ver a seleção ou de dar um espirro: Atchim!” (Rui Santos Paes)
Sem perder o embalo, selecionei pequenos textos relacionados ao mundo do futebol, a maioria deles objeto de legítima reflexão.
Armando Nogueira(jornalista e cronista esportivo)
Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.
Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio.
Os momentos de violência, os momentos de brutalidade são invariavelmente superados pelo gosto artístico de uma linda jogada (quando questionado sobre como encontrar beleza num esporte por vezes violento).
Garrincha(jogador brasileiro nas Copas de 58 e 62)
Eu não sou a alegria do povo, o povo é que a minha alegria.
Fui como Cristo, na vida particular e também no futebol. Já sei que, quando os dirigentes tentam passar os jogadores para trás, eles chiam e dizem: “vocês pensam que eu sou um Garrincha?” É isso aí, gente boa, virei um símbolo do que não se deve ser na vida (famoso por seus dribles desconcertantes, vida pessoal atribulada e fim de vida precoce).
Campeonatinho mixuruca, não tem nem segundo turno (durante a comemoração pela conquista da Copa do Mundo na Suécia, primeiro título mundial do Brasil/1958).
João Saldanha(jornalista e técnico de futebol)
Todo treinador de juvenis é meio homossexual. E todo treinador de qualquer categoria que defende a concentração é candidato a corno.
Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria imbatível.
Millôr Fernandes(escritor e desenhista)
O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia.
Nelson Rodrigues(jornalista e dramaturgo)
A conquista do Mundial de 1958 representa o fim do complexo de vira-lata do homem brasileiro.
Pelé(maior jogador da história)
A sensação de parar é péssima. Ainda sonho que estou driblando, fazendo gols (em 2001, referindo-se à sua despedida do futebol).
Se eu pudesse, me chamaria Edson Arantes do Nascimento Bola. Seria a única maneira de agradecer o que ela fez por mim.
Telê Santana(técnico brasileiro)
Decidiremos o jogo indo à frente, sem recuar nossa equipe. Somos melhores (explicando a tática que usaria contra a Itália, na Copa do Mundo de 1982).
Em Copa do Mundo, mais importante do que vencer é apresentar o melhor futebol. O que vale é o espetáculo.
Telmo Zanini(jornalista esportivo)
O dia mais duro na vida de todo atleta é quando ele percebe – ou é obrigado a perceber – que não tem mais condições para praticar a sua profissão, para jogar bola, encantar as plateias, levantar multidão nos estádios.
Torcida
Nem sempre vencem os melhores (faixa colocada no saguão do hotel da seleção brasileira, após a derrota para a Itália, na Copa de 1982).
Wanderley Luxemburgo(técnico)
O medo de perder tira a vontade de ganhar.
A bola começa a rolar. Os comandados, ou melhor, os guerreiros de Dunga estão prontos para o combate. Epa, mas isso é uma guerra? A julgar pelo técnico brasileiro e um dos patrocinadores da seleção, parece que sim. Que pena! E onde fica o fair play, o tal espírito esportivo? Bobagem! E a tão decantada confraternização entre os povos? Esquece!
No meio desse turbilhão de emoções e de nervos à flor da pele, destaca-se a figura do treinador da seleção brasileira. Seja ele quem for, como sofre o coitado! Quanta cobrança! E os palpites, então? Surgem de todos os lados. As críticas e as tiradas de humor também. Dunga, o alvo da vez, não consegue, evidentemente, passar incólume a tudo isso. Fico com o lado da brincadeira. As mais engraçadas se inspiram na história da Branca de Neve. Aqui vão duas delas:
“Não consigo entender por que estão criticando tanto as escolhas do Dunga. Afinal, pra convocar a seleção ele ouviu demoradamente sua principal conselheira: a Branca de Neve”. (Gerson Menezes)
“Será o Dengoso Dunga um Mestre em transformar o Feliz povo brasileiro em Zangado? Tenho medo de tirar uma Soneca ao ver a seleção ou de dar um espirro: Atchim!” (Rui Santos Paes)
Sem perder o embalo, selecionei pequenos textos relacionados ao mundo do futebol, a maioria deles objeto de legítima reflexão.
Armando Nogueira(jornalista e cronista esportivo)
Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.
Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio.
Os momentos de violência, os momentos de brutalidade são invariavelmente superados pelo gosto artístico de uma linda jogada (quando questionado sobre como encontrar beleza num esporte por vezes violento).
Garrincha(jogador brasileiro nas Copas de 58 e 62)
Eu não sou a alegria do povo, o povo é que a minha alegria.
Fui como Cristo, na vida particular e também no futebol. Já sei que, quando os dirigentes tentam passar os jogadores para trás, eles chiam e dizem: “vocês pensam que eu sou um Garrincha?” É isso aí, gente boa, virei um símbolo do que não se deve ser na vida (famoso por seus dribles desconcertantes, vida pessoal atribulada e fim de vida precoce).
Campeonatinho mixuruca, não tem nem segundo turno (durante a comemoração pela conquista da Copa do Mundo na Suécia, primeiro título mundial do Brasil/1958).
João Saldanha(jornalista e técnico de futebol)
Todo treinador de juvenis é meio homossexual. E todo treinador de qualquer categoria que defende a concentração é candidato a corno.
Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria imbatível.
Millôr Fernandes(escritor e desenhista)
O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia.
Nelson Rodrigues(jornalista e dramaturgo)
A conquista do Mundial de 1958 representa o fim do complexo de vira-lata do homem brasileiro.
Pelé(maior jogador da história)
A sensação de parar é péssima. Ainda sonho que estou driblando, fazendo gols (em 2001, referindo-se à sua despedida do futebol).
Se eu pudesse, me chamaria Edson Arantes do Nascimento Bola. Seria a única maneira de agradecer o que ela fez por mim.
Telê Santana(técnico brasileiro)
Decidiremos o jogo indo à frente, sem recuar nossa equipe. Somos melhores (explicando a tática que usaria contra a Itália, na Copa do Mundo de 1982).
Em Copa do Mundo, mais importante do que vencer é apresentar o melhor futebol. O que vale é o espetáculo.
Telmo Zanini(jornalista esportivo)
O dia mais duro na vida de todo atleta é quando ele percebe – ou é obrigado a perceber – que não tem mais condições para praticar a sua profissão, para jogar bola, encantar as plateias, levantar multidão nos estádios.
Torcida
Nem sempre vencem os melhores (faixa colocada no saguão do hotel da seleção brasileira, após a derrota para a Itália, na Copa de 1982).
Wanderley Luxemburgo(técnico)
O medo de perder tira a vontade de ganhar.
Procura-se
12 de Maio de 2010, por Regina Coelho 0
Procura-se um caderninho azul escrito a lápis e tinta e sangue, suor e lágrimas, com setenta por cento de endereços caducos e cancelados e telefones retirados e, portanto, absolutamente necessários e urgentes e irreconstituíveis. Procura-se, e talvez não se queira achar, um caderninho azul com um passado cinzento e confuso de um homem triste e vulgar... Procura-se, e talvez não se queira achar.(Rubem Braga)
Pois bem. Lembrei-me desse texto do nosso inesquecível capixaba, porque também eu procuro, não um caderninho azul, mas um livro, exatamente o Sagarana, de Guimarães Rosa. Diferentemente do cronista Braga, gostaria imensamente de achar meu exemplar de uma obra pela qual me tomei de amores há muito tempo.
Minha história com os livros vem da infância. Da mesma forma que frequentava a Biblioteca Pública da cidade, que funcionava no atual prédio da Câmara Municipal, passava tardes inteiras de férias na casa de minha avó materna só para ler aqueles pesados e atraentes volumes de coleções diversas, já naquela época, herança preciosa deixada pelo meu avô Alcides Lara, um leitor entusiasmado.
Fui passando pelas leituras obrigatórias de escola, enquanto lia por iniciativa própria tudo o que havia em casa. Chegando à fase adulta, comecei a comprar as obras que me interessavam. E também juntei livros que recebi em forma de presente.
O tempo agora é de sala de aula, a condição, de professora. E como fazer alguém entender literatura, “a arte da palavra”, sem a palavra? E onde estão as belas e necessárias palavras que foram escritas por aí? Vamos descobri-las especialmente nos livros. Então a situação se complica. É o preço do produto distante de muitos bolsos, é a falta de prioridade para esse tipo de aquisição, coisas do Brasil. Só que ficar sem ler certas obras, nem pensar! O jeito é sair procurando os possíveis emprestadores dos títulos indicados por mim e pelos colegas. Há ainda aquelas obras cobradas para o vestibular. Coloco-me à disposição dos alunos para os devidos empréstimos. Não se trata de bondade, é uma questão de coerência com a pregação de sala de aula em favor da leitura. E tem mais: sempre defendi a ideia, muito comum por sinal, de que os livros existem para serem lidos pelo maior número possível de pessoas. Vê-los esquecidos, abandonados ou simplesmente como objetos de enfeite em estantes me dá um dó danado.
Fiz esse rodeio todo para dizer que essa minha opção quase sempre me deu alegria. Só lamento pelos livros perdidos ou não entregues, entre eles o meu Sagarana, bem gasto pelo manuseio e trazendo em suas páginas mágicas nove contos. Destaco O burrinho pedrês, Sarapalha, Duelo, Corpo fechado eA hora e a vez de Augusto Matraga, como já o fizera na edição 26 do Jornal das Lajes (maio/junho de 2005), quando participei da seção Este eu recomendo (hoje extinta).
Como vocês podem ver, tenho razão em fazer esse Procura-se. Se obtiver êxito no meu anúncio, recebendo de volta meu livro, prometo deixá-lo disponível para quem dele precisar, desde que eu o tenha novamente para mim e outros leitores. Costuma-se dizer por aí que “bobo é quem empresta livro e mais bobo ainda é aquele que o devolve”. Prefiro ignorar esse pensamento de sentido egoísta e duvidoso. Ou então sou boba mesmo. E ponto final.
Passo a palavra agora para Frei Betto, que contou para seus leitores do Estado de Minas, em coluna do dia 17/09/09, o seguinte caso:
NÓS, OS BURROS
Aluno, em 1964, do curso de jornalismo, ficava a escola, no Rio, próxima ao aterro do Flamengo, então um canteiro de obras. Ali pastavam animais de carga.
Um grupo de colegas, no qual me incluía, não suportava o tom laudatório do professor Hélio Vianna ao se referir ao marechal Castelo Branco, seu cunhado, e primeiro a ocupar a Presidência em nome da ditadura. Decidimos pregar-lhe uma peça. Sequestramos um burro no aterro e o enfiamos na sala de aula.
No corredor do andar de cima, ficamos a observar a reação do professor de história. Hélio Vianna entrou na sala e, para a nossa decepção, ali permaneceu, em companhia do muar, durante 50 minutos. Dado o sinal, retirou-se impassível, sem demonstrar contrariedade ou queixar-se à direção. Deu mais trabalho fazer o burro descer do que subir os degraus da faculdade.
Na semana seguinte, o episódio parecia mergulhado no olvido. Hélio Vianna entrou em classe e – novo desaponto – não nos passou nenhuma reprimenda. Deu aula como se nada tivesse ocorrido. Nos últimos minutos, advertiu-nos: “Aviso aos senhores e senhoras que, semana próxima, haverá prova. Peguem os pontos com o único colega que, na aula passada, se encontrava em classe”. E mais não disse.
Como estudar para a prova sem a menor noção da matéria indicada? No dia fatídico, o professor pediu uma dissertação, por escrito, de como o tesouro da Holanda havia sido afetado pela invasão holandesa no Nordeste brasileiro. Zero geral.
Burros fomos nós.
Vida de canhoto
12 de Abril de 2010, por Regina Coelho 0
Nossa, você é canhoto? Nossa, como você escreve engraçado! Ah, eu acho tão legal quem é canhoto! Ah, eu queria tanto ser canhoto! Todo canhoto tem letra bonita. Com certeza, toda pessoa canhota já ouviu um desses comentários acima ou coisa parecida.
É, essa, digamos assim, preferência do pessoal que usa naturalmente a mão esquerda para suas atividades do dia a dia chama mesmo a atenção da maioria destra. E se os canhotos ficaram estigmatizados por muito tempo como pessoas, no mínimo, diferentes e esquisitas, isso já não é mais assim.
E felizmente também não são mais castigados ou convencidos a trocarem de mão. E se a mentalidade predominante na Idade Média ligava a pessoa que fazia suas tarefas com a mão esquerda a práticas de bruxaria ou a ter pacto com o demônio, isso hoje soa como uma piada. O que não se pode negar, no entanto, é a existência de uma certa discriminação, ainda que velada, contra o canhotismo.
Vejamos: levanta-se bem a cada manhã com o pé direito, cumprimenta-se alguém com a mão direita, corta-se o alimento com a faca posta na mão direita. Em compensação, o coração fica guardado no lado esquerdo do peito. Ocorre que até mesmo a religião oferece apelo de peso ao preconceito. Segundo a Bíblia, Jesus Cristo se sentava ao lado direito de Deus.
Quanto ao diabo, não apenas seria canhoto, como batizava seus seguidores com a mão esquerda, isso tudo de acordo com o pensamento do século XVII. Que chato, não é mesmo? Não sei se há fundamento nas informações de que os canhotos vivem menos e são sempre inteligentes.
Que consolo! E até mesmo o genial poeta Drummond deu uma mãozinha (suponho que tenha sido a direita) para reforçar essa ideia de desajeitamento esquerdista. Os versos iniciais do seu Poema de Sete Faces são a comprovação de tal pensamento. Observem:
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
NOTA: A palavra “gauche” tem origem francesa e significa lado esquerdo, errado, sinistro. Aplicada à dimensão humana, é o ser às avessas, o torto, aquele que não consegue se comunicar com a realidade que o rodeia. Além dessas questões de natureza conceitual, a verdade é que ser canhoto no mundo real é fazer um esforço a mais para realizar coisas tão banais que, na verdade, não deveriam exigir esforço algum.
Todo mundo sabe, por exemplo, que torneiras, maçanetas, tudo o que gira, gira para a direita, seguindo a ditadura dos destros. E como usar a mão esquerda abridores de lata, tesouras, mouses, colheres tortas para bebês e cadernos de espiral (caderno de arame), entre outros objetos? E aquelas carteiras escolares com a mesinha lateral à direita? E como tocar certos instrumentos musicais, como o violão ou a guitarra, reconhecendo a posição correta das cordas? É, não é fácil para os cerca de 10% dos canhotos existentes no mundo a adaptação aos padrões destros da sociedade.
Há um outro tipo de dificuldade que essas criaturas precisam enfrentar. As escritas alfabéticas, de modo geral, indiscutivelmente, favorecem os não canhotos porque correm da esquerda para a direita. Nessa direção, o canhoto cobre com a própria mão o que está escrevendo e suja os dedos, ao mesmo tempo que pode borrar o papel. Ou acaba torcendo o punho, segurando o lápis ou a caneta, ficando em forma de gancho a mão.
Hoje a ciência sabe que ser canhoto é mais uma tendência natural. Alguns cientistas até arriscam afirmar que o canhotismo pode ter causa genética. Sem dúvida, ele é determinado pelo cérebro, não pelas mãos. As respostas de cada mão aos estímulos são originadas no hemisfério cerebral oposto, ou seja, se a pessoa usa a mão direita, isso significa que a parte que está controlando suas atividades é o lado esquerdo do
cérebro e vice-versa.
Conheço muita gente que gostaria de ser ambidestra, isto é, utilizar as mãos direita e esquerda e/ou um ou outro pé com a mesma facilidade. Só que andei especulando sobre o assunto e dei de cara com uma curiosa teoria desfavorável ao ambidestrismo. Segundo a própria, se não houvesse preferência, os dois lados do corpo, igualmente capazes, poderiam entrar em disputa em momentos como alcançar a chave do carro, pegar o lápis e escrever, chutar a bola ou começar a andar.
Finalizando, apresento-lhes, por mera ilustração, uma breve listagem de nomes de famosos canhotos: Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Machado de Assis, Marilyn Monroe, Ayrton Senna, Pelé, Einstein, Picasso, Mozart, Maradona, Bill Gates, Paul Mc Cartney, Charlie Chaplin, Angelina Jolie, Barack Obama...
Em tempo, embora não seja famosa, eu também sou canhota.
É, essa, digamos assim, preferência do pessoal que usa naturalmente a mão esquerda para suas atividades do dia a dia chama mesmo a atenção da maioria destra. E se os canhotos ficaram estigmatizados por muito tempo como pessoas, no mínimo, diferentes e esquisitas, isso já não é mais assim.
E felizmente também não são mais castigados ou convencidos a trocarem de mão. E se a mentalidade predominante na Idade Média ligava a pessoa que fazia suas tarefas com a mão esquerda a práticas de bruxaria ou a ter pacto com o demônio, isso hoje soa como uma piada. O que não se pode negar, no entanto, é a existência de uma certa discriminação, ainda que velada, contra o canhotismo.
Vejamos: levanta-se bem a cada manhã com o pé direito, cumprimenta-se alguém com a mão direita, corta-se o alimento com a faca posta na mão direita. Em compensação, o coração fica guardado no lado esquerdo do peito. Ocorre que até mesmo a religião oferece apelo de peso ao preconceito. Segundo a Bíblia, Jesus Cristo se sentava ao lado direito de Deus.
Quanto ao diabo, não apenas seria canhoto, como batizava seus seguidores com a mão esquerda, isso tudo de acordo com o pensamento do século XVII. Que chato, não é mesmo? Não sei se há fundamento nas informações de que os canhotos vivem menos e são sempre inteligentes.
Que consolo! E até mesmo o genial poeta Drummond deu uma mãozinha (suponho que tenha sido a direita) para reforçar essa ideia de desajeitamento esquerdista. Os versos iniciais do seu Poema de Sete Faces são a comprovação de tal pensamento. Observem:
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
NOTA: A palavra “gauche” tem origem francesa e significa lado esquerdo, errado, sinistro. Aplicada à dimensão humana, é o ser às avessas, o torto, aquele que não consegue se comunicar com a realidade que o rodeia. Além dessas questões de natureza conceitual, a verdade é que ser canhoto no mundo real é fazer um esforço a mais para realizar coisas tão banais que, na verdade, não deveriam exigir esforço algum.
Todo mundo sabe, por exemplo, que torneiras, maçanetas, tudo o que gira, gira para a direita, seguindo a ditadura dos destros. E como usar a mão esquerda abridores de lata, tesouras, mouses, colheres tortas para bebês e cadernos de espiral (caderno de arame), entre outros objetos? E aquelas carteiras escolares com a mesinha lateral à direita? E como tocar certos instrumentos musicais, como o violão ou a guitarra, reconhecendo a posição correta das cordas? É, não é fácil para os cerca de 10% dos canhotos existentes no mundo a adaptação aos padrões destros da sociedade.
Há um outro tipo de dificuldade que essas criaturas precisam enfrentar. As escritas alfabéticas, de modo geral, indiscutivelmente, favorecem os não canhotos porque correm da esquerda para a direita. Nessa direção, o canhoto cobre com a própria mão o que está escrevendo e suja os dedos, ao mesmo tempo que pode borrar o papel. Ou acaba torcendo o punho, segurando o lápis ou a caneta, ficando em forma de gancho a mão.
Hoje a ciência sabe que ser canhoto é mais uma tendência natural. Alguns cientistas até arriscam afirmar que o canhotismo pode ter causa genética. Sem dúvida, ele é determinado pelo cérebro, não pelas mãos. As respostas de cada mão aos estímulos são originadas no hemisfério cerebral oposto, ou seja, se a pessoa usa a mão direita, isso significa que a parte que está controlando suas atividades é o lado esquerdo do
cérebro e vice-versa.
Conheço muita gente que gostaria de ser ambidestra, isto é, utilizar as mãos direita e esquerda e/ou um ou outro pé com a mesma facilidade. Só que andei especulando sobre o assunto e dei de cara com uma curiosa teoria desfavorável ao ambidestrismo. Segundo a própria, se não houvesse preferência, os dois lados do corpo, igualmente capazes, poderiam entrar em disputa em momentos como alcançar a chave do carro, pegar o lápis e escrever, chutar a bola ou começar a andar.
Finalizando, apresento-lhes, por mera ilustração, uma breve listagem de nomes de famosos canhotos: Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Machado de Assis, Marilyn Monroe, Ayrton Senna, Pelé, Einstein, Picasso, Mozart, Maradona, Bill Gates, Paul Mc Cartney, Charlie Chaplin, Angelina Jolie, Barack Obama...
Em tempo, embora não seja famosa, eu também sou canhota.
Dia internacional da mulher
14 de Marco de 2010, por Regina Coelho 0
Todos nós conhecemos de sobra a força do apelo comercial presente em certas datas do calendário. Por si próprios carregados de emoção e significado, esses momentos são explorados exaustivamente pelo sistema capitalista em que vivemos. De recente memória, o Natal não nos deixa mentir. Anunciado e propagado como festa maior da cristandade, ele mexe com o bolso e o coração de milhões de pessoas. Misturado a tantas compras, pode surgir um desejo de ser bom, algo como fazer alguma coisa bacana por alguém, ou então simplesmente cumprir uma função social. Não dá para esquecer também o 12 de outubro, que soa como mágica para as crianças, o que faz muitos olhinhos brilharem de alegria em razão dos brinquedos, guloseimas e brincadeiras a elas especialmente oferecidos nesse dia. E como ignorar o segundo domingo de maio, o das mães, lembram-se? Afinal de contas, ninguém merece mais agradecimento e respeito do que elas, as antigas rainhas do lar, hoje sufocadas no desempenho de múltiplos papéis na sociedade. Seja lá da maneira que for, o fato é que quase todo mundo se rende ao encanto ou mesmo à imposição dessas datas.
Diferentemente dos exemplos expostos acima, há aqueles casos que não rendem dinheiro, não envolvem necessariamente cifras astronômicas, mas rendem boa discussão, como ocorre com datas tidas como não comerciais (dia do índio, da árvore, do professor, da consciência negra...).
Curiosamente, há quem questione ter que haver uma data específica para isso ou para aquilo, quando o ideal seria que as causas embutidas nessas comemorações fossem motivações naturais, diárias ou constantes. Costumam não ser. E se isso não acontece ainda, é porque precisamos de ocasiões especiais para a reflexão sobre nossas ações cotidianas.
Tudo isso me veio a propósito do Dia Internacional da Mulher. Celebrado em oito de março, ele tem origem nas manifestações femininas por melhores condições de trabalho e direito de voto, no início do século XX, na Europa e nos Estados Unidos. A data foi instituída pelas Nações Unidas em 1975, para lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, como as discriminações e as formas de violência a que muitas delas ainda estão sujeitas em várias partes do mundo.
Em se tratando do Brasil, onde a presença das mulheres no mercado de trabalho é significativa e grande parte das famílias tem comando feminino, essa situação é ainda injusta, uma vez que nossas trabalhadoras, em relação aos homens, recebem salários menores, pelo mesmo serviço. Se as mulheres ocupam atualmente parte maior das vagas nas boas instituições públicas de ensino, inclusive em cursos antes praticamente restritos aos rapazes, ou se mostram competência ao serem aprovadas em muitos dos concursos mais concorridos do país, o mesmo não ocorre na política. Nessa área, a participação das mulheres não é condizente com o tamanho do eleitorado constituído por elas. Mesmo considerando possíveis candidaturas femininas para as eleições deste ano, incluindo a presidencial, o mundo político parece não ter seduzido ainda grande parte das eleitoras brasileiras.
Um outro aspecto dessa questão diz respeito a atitudes criminosas contra as mulheres, muitas delas vítimas eternas de companheiros truculentos e covardes, quando não são simplesmente assassinadas. Nem mesmo nossa pacata Resende Costa se salva nessa estatística. Que o diga o caso da moça Daniela, só para ficar no crime mais recente. E o que dizer dos maníacos sexuais agindo com requintes de crueldade e causando pânico a todos nos locais onde agem?
Mas voltemos ao lado bonito da vida, à convivência harmoniosa entre homens e mulheres, tão diferentes entre si, ao mesmo tempo iguais como seres humanos. Voltemos ao tempo da delicadeza!
Nas águas do Rio Santo Antônio
Não posso deixar passar a oportunidade de cumprimentar o compositor Wander Morais, autor do grande sucesso que embalou o Bloco Cabeção 2010. Apresentando um ritmo contagiante, sua música caiu no agrado geral. Quanto à letra, atualíssima.
Devo dizer apenas que não me surpreendi com o feito do Wander, pois já o conheço de outros carnavais, sendo assim, testemunha do seu grande talento musical.
Diferentemente dos exemplos expostos acima, há aqueles casos que não rendem dinheiro, não envolvem necessariamente cifras astronômicas, mas rendem boa discussão, como ocorre com datas tidas como não comerciais (dia do índio, da árvore, do professor, da consciência negra...).
Curiosamente, há quem questione ter que haver uma data específica para isso ou para aquilo, quando o ideal seria que as causas embutidas nessas comemorações fossem motivações naturais, diárias ou constantes. Costumam não ser. E se isso não acontece ainda, é porque precisamos de ocasiões especiais para a reflexão sobre nossas ações cotidianas.
Tudo isso me veio a propósito do Dia Internacional da Mulher. Celebrado em oito de março, ele tem origem nas manifestações femininas por melhores condições de trabalho e direito de voto, no início do século XX, na Europa e nos Estados Unidos. A data foi instituída pelas Nações Unidas em 1975, para lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, como as discriminações e as formas de violência a que muitas delas ainda estão sujeitas em várias partes do mundo.
Em se tratando do Brasil, onde a presença das mulheres no mercado de trabalho é significativa e grande parte das famílias tem comando feminino, essa situação é ainda injusta, uma vez que nossas trabalhadoras, em relação aos homens, recebem salários menores, pelo mesmo serviço. Se as mulheres ocupam atualmente parte maior das vagas nas boas instituições públicas de ensino, inclusive em cursos antes praticamente restritos aos rapazes, ou se mostram competência ao serem aprovadas em muitos dos concursos mais concorridos do país, o mesmo não ocorre na política. Nessa área, a participação das mulheres não é condizente com o tamanho do eleitorado constituído por elas. Mesmo considerando possíveis candidaturas femininas para as eleições deste ano, incluindo a presidencial, o mundo político parece não ter seduzido ainda grande parte das eleitoras brasileiras.
Um outro aspecto dessa questão diz respeito a atitudes criminosas contra as mulheres, muitas delas vítimas eternas de companheiros truculentos e covardes, quando não são simplesmente assassinadas. Nem mesmo nossa pacata Resende Costa se salva nessa estatística. Que o diga o caso da moça Daniela, só para ficar no crime mais recente. E o que dizer dos maníacos sexuais agindo com requintes de crueldade e causando pânico a todos nos locais onde agem?
Mas voltemos ao lado bonito da vida, à convivência harmoniosa entre homens e mulheres, tão diferentes entre si, ao mesmo tempo iguais como seres humanos. Voltemos ao tempo da delicadeza!
Nas águas do Rio Santo Antônio
Não posso deixar passar a oportunidade de cumprimentar o compositor Wander Morais, autor do grande sucesso que embalou o Bloco Cabeção 2010. Apresentando um ritmo contagiante, sua música caiu no agrado geral. Quanto à letra, atualíssima.
Devo dizer apenas que não me surpreendi com o feito do Wander, pois já o conheço de outros carnavais, sendo assim, testemunha do seu grande talento musical.
S.O.S. Saúde Pública
11 de Fevereiro de 2010, por Regina Coelho 0
Do inacabado e abandonado prédio do Cardiominas em Belo Horizonte, surgiu o moderno e imponente Centro de Especialidades Médicas, cenário de muitas histórias de vida que envolvem aqueles que para lá se dirigem em busca do mesmo objetivo: a recuperação da saúde ou parte dela.
O nosso destino agora é o setor de ortopedia, especificando melhor, o de joelho. Os corredores são amplos e funcionam como sala de espera. E que espera! Claro, há cadeiras para todos, inclusive para acompanhantes, minha situação naquele dia. Aliás, pela própria condição de quem aguarda pelo médico, é quase impossível chegar ao consultório sem a ajuda de alguém, o que faz crescer bastante o número de pessoas no local.
Iniciado o atendimento médico, cada um trata de se ajeitar em seu lugar da melhor maneira possível, enquanto aguarda sua vez de ser chamado pelo próprio especialista. Ao anunciar o nome da pessoa a ser contemplada com a consulta, ele surge à porta munido de uma lista e, verdade seja dita, de um sorriso e uma paciência constantes para todos. Isso e, evidentemente, sua competência profissional provavelmente expliquem os fartos elogios de muitos àquele médico que parece atender seus clientes por atacado, pelo menos ali, tal a quantidade de pacientes (alguns impacientes) padecendo de males tão parecidos.
Paciência é a palavra de ordem para um dia como aquele. E o que fazer para passar o tempo? Conversar é uma boa pedida, mesmo que não se conheça quem está sentado por perto. Fala-se de tudo, mas quase sempre a prosa é iniciada com o motivo de estarem ali aquelas pessoas. Aí ocorre, de lado a lado, uma série de informações sobre exames médicos, cirurgias, tratamentos e remédios do dia a dia. De repente, aquela estranha do começo da manhã virou uma velha conhecida em questão de horas. Confidências e números de celulares podem ser trocados. As pessoas mais cautelosas trocam singelas receitas culinárias. Há quem prefira contar para quem quiser ouvir os detalhes de um acidente, como o senhor que desmaiou dirigindo sua moto, que bateu no carro da frente. Os joelhos do pobre homem bateram numa boca de lobo e aí... Os prevenidos se distraem com a leitura de livros e jornais, que podem ser eventualmente emprestados. Há aqueles que simplesmente cochilam ou dormem mesmo e uma moça que faz bicos de crochê em panos de prato. A turma dos dependentes do celular marca presença. E tome falação! Lanches são trazidos da rua para os que não podem andar livremente. Um casal não se faz de rogado e reparte um almoço em marmitex que simplesmente eles abrem e pronto. Bom apetite!
Circulando entre as pessoas, as muletas e as cadeiras de rodas, uma mulher falante desfia também seus problemas ortopédicos. Espertinha, ela tira discretamente de uma sacola um creme que oferece como amostra e jura ser um alívio para dores no joelho, uma espécie do famoso “doutorzinho”. Não deu para saber se vendeu alguma coisa.
Finalmente dentro do consultório, após uma espera absurda de cinco horas e meia, eis o médico. Ainda sorridente, paciente e reservando o vocativo “minha princesa” para cada senhora atendida, ele mal consegue disfarçar um bocejo. Uma maratona que ainda não acabou. Para nós também não, porque o tratamento nem é para agora. É preciso aguardar um ano, talvez mais, o que é desumano.
A constatação parece óbvia. Nosso sistema público de saúde ainda é precário, de segunda categoria, resguardadas as devidas exceções. O cidadão brasileiro não espera um atendimento principesco, isso nem combina com a gente. Nobreza melhor é o respeito aos direitos básicos de todos nós. Saúde já!
Sobrenomes
A sociedade alemã sempre foi a mais estratificada do mundo. Desde a Idade Média, só tinham sobrenome as pessoas da nobreza, da classe militar, do clero e do alto escalão do governo. Os demais cidadãos adotavam sobrenomes indicativos das profissões que exerciam – costume passado de pai para filho. Atualmente, o exemplo mais conhecido é o de Michael Schumacher, ex-campeão mundial da Fórmula I, cujo nome quer dizer Miguel Sapateiro. Os sobrenomes alemães mais comuns são Schneider (alfaiate), Bauer (camponês), Schmidt (ferreiro), Mauer (pedreiro), Müller (moleiro) e Becker (padeiro). A referência, feita a título de curiosidade, foi provocada pelo sucesso da modelo brasileira Raquel Zimmermann, considerada a top model nº 1 ao lado de Gisele Bündchen. Zimmermann significa carpinteiro. Além de soar bem, a palavra ganha charme, força e encanto nas passarelas.
(Estado de Minas)
O nosso destino agora é o setor de ortopedia, especificando melhor, o de joelho. Os corredores são amplos e funcionam como sala de espera. E que espera! Claro, há cadeiras para todos, inclusive para acompanhantes, minha situação naquele dia. Aliás, pela própria condição de quem aguarda pelo médico, é quase impossível chegar ao consultório sem a ajuda de alguém, o que faz crescer bastante o número de pessoas no local.
Iniciado o atendimento médico, cada um trata de se ajeitar em seu lugar da melhor maneira possível, enquanto aguarda sua vez de ser chamado pelo próprio especialista. Ao anunciar o nome da pessoa a ser contemplada com a consulta, ele surge à porta munido de uma lista e, verdade seja dita, de um sorriso e uma paciência constantes para todos. Isso e, evidentemente, sua competência profissional provavelmente expliquem os fartos elogios de muitos àquele médico que parece atender seus clientes por atacado, pelo menos ali, tal a quantidade de pacientes (alguns impacientes) padecendo de males tão parecidos.
Paciência é a palavra de ordem para um dia como aquele. E o que fazer para passar o tempo? Conversar é uma boa pedida, mesmo que não se conheça quem está sentado por perto. Fala-se de tudo, mas quase sempre a prosa é iniciada com o motivo de estarem ali aquelas pessoas. Aí ocorre, de lado a lado, uma série de informações sobre exames médicos, cirurgias, tratamentos e remédios do dia a dia. De repente, aquela estranha do começo da manhã virou uma velha conhecida em questão de horas. Confidências e números de celulares podem ser trocados. As pessoas mais cautelosas trocam singelas receitas culinárias. Há quem prefira contar para quem quiser ouvir os detalhes de um acidente, como o senhor que desmaiou dirigindo sua moto, que bateu no carro da frente. Os joelhos do pobre homem bateram numa boca de lobo e aí... Os prevenidos se distraem com a leitura de livros e jornais, que podem ser eventualmente emprestados. Há aqueles que simplesmente cochilam ou dormem mesmo e uma moça que faz bicos de crochê em panos de prato. A turma dos dependentes do celular marca presença. E tome falação! Lanches são trazidos da rua para os que não podem andar livremente. Um casal não se faz de rogado e reparte um almoço em marmitex que simplesmente eles abrem e pronto. Bom apetite!
Circulando entre as pessoas, as muletas e as cadeiras de rodas, uma mulher falante desfia também seus problemas ortopédicos. Espertinha, ela tira discretamente de uma sacola um creme que oferece como amostra e jura ser um alívio para dores no joelho, uma espécie do famoso “doutorzinho”. Não deu para saber se vendeu alguma coisa.
Finalmente dentro do consultório, após uma espera absurda de cinco horas e meia, eis o médico. Ainda sorridente, paciente e reservando o vocativo “minha princesa” para cada senhora atendida, ele mal consegue disfarçar um bocejo. Uma maratona que ainda não acabou. Para nós também não, porque o tratamento nem é para agora. É preciso aguardar um ano, talvez mais, o que é desumano.
A constatação parece óbvia. Nosso sistema público de saúde ainda é precário, de segunda categoria, resguardadas as devidas exceções. O cidadão brasileiro não espera um atendimento principesco, isso nem combina com a gente. Nobreza melhor é o respeito aos direitos básicos de todos nós. Saúde já!
Sobrenomes
A sociedade alemã sempre foi a mais estratificada do mundo. Desde a Idade Média, só tinham sobrenome as pessoas da nobreza, da classe militar, do clero e do alto escalão do governo. Os demais cidadãos adotavam sobrenomes indicativos das profissões que exerciam – costume passado de pai para filho. Atualmente, o exemplo mais conhecido é o de Michael Schumacher, ex-campeão mundial da Fórmula I, cujo nome quer dizer Miguel Sapateiro. Os sobrenomes alemães mais comuns são Schneider (alfaiate), Bauer (camponês), Schmidt (ferreiro), Mauer (pedreiro), Müller (moleiro) e Becker (padeiro). A referência, feita a título de curiosidade, foi provocada pelo sucesso da modelo brasileira Raquel Zimmermann, considerada a top model nº 1 ao lado de Gisele Bündchen. Zimmermann significa carpinteiro. Além de soar bem, a palavra ganha charme, força e encanto nas passarelas.
(Estado de Minas)